tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post3232835799090090463..comments2023-10-20T05:12:32.308-03:00Comments on O Descurvo: Sobre Futebol e Política e a lenda do Fla x Flu EleitoralHugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.comBlogger6125tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-30351776153897649812010-08-15T23:59:33.828-03:002010-08-15T23:59:33.828-03:00Quem sou eu para te convencer de algo, doutor ;-) ...Quem sou eu para te convencer de algo, doutor ;-) Mas reflitamos um pouco mais sobre a natureza do <b>ludopédio</b> e sua belicosidade castrada. <br /><br />abraçãoHugo Albuquerquehttps://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-30453506400235195712010-08-15T23:43:27.118-03:002010-08-15T23:43:27.118-03:00Você venceu o duelo e está com a verdade. Risos. N...Você venceu o duelo e está com a verdade. Risos. No geral, seu argumento é convincente. Na verdade, nem queria contestá-lo, só complicar um pouco as coisas, levantando a bola de uma esfera intermediária, a stasis, entre política e guerra. Em todo caso, ainda não estou convencido (ainda que seus argumentos sejam bons) da relação entre futebol e guerra. Ainda o vejo mais próximo do duelo, apesar do aspecto coletivo que muda tudo, de fato. AbraçoAlexandre Nodarihttp://www.culturaebarbarie.org/blognoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-85894978164077668062010-08-15T23:08:59.214-03:002010-08-15T23:08:59.214-03:00Alexandre,
Pois é, nesse ponto eu discordo mesmo:...<b>Alexandre</b>,<br /><br />Pois é, nesse ponto eu discordo mesmo: O futebol não é um duelo porque nele temos a figura de apenas dois sujeitos se confrontando. Isso muda tudo. No futebol - como nos esportes coletivos com bola, via de regra -, temos duas máquinas complexas compostas por vários sujeitos, todos dispostos em campo de forma sistemática - isto é, enquanto componentes voltados para exercer diversas funções que se entrelaçam num objetivo final de derrotar um adversário semelhante. Isso envolve organização estratégica e disposição tática semelhante a um exército. <br /><br />Isso é futebol, isso é guerra, não se trata de uma ritualização da política, portanto, "Fla x Flu" trata-se de um exemplo infeliz para simbolizar um fenômeno político. Mesmo esse eventual antecedente medieval, no máximo, influenciou certos aspectos do futebol, pois no nobre esporte bretão não se chuta uma bola e todos saem correndo atrás dela pura e simplesmente. Existe todo um jogo de divisão de tarefas, de movimentações no vazio - e em especulações para tanto - e de propositividade em direção à meta adversária. <br /><br />Fla x Flu não é um simples "confronto entre dois atores que decidirão, no embate a 'verdade'" isso daí é teoria geral de todo e qualquer confronto travado - ou enxergado - por uma ótica binarista. Isso não ilustra a questão porque, pela sua dinâmica, o futebol não pressupõe espaço compartilhado, mas espaço em disputa, esse é o foco. <br /><br />Num segundo momento, o maniqueísmo político segue mesmo a (i)lógica da statis (não do polemós, pois aí teria algo a ver com Futebol) - para a qual, reitero, o espaço pré-compartilhado é fundamental -, ainda que isso não negue o antagonismo próprio da política, que não raro se aproxima mesmo de uma zona cinzenta. <br /><br />Evidentemente, em meio a tais antagonismos, todos estão tomando alguma posição - não existe uma posição neutra mesmo -, mesmo no caso de uma posição de silêncio, por exemplo; a diferença é que não deve haver a condenação de tal silêncio - mas quando acontece estamos num cenário onde as (várias) partes estão tomadas por tal visão binarista que, aí sim, estamos diante da stasis, o que não necessariamente acontece nesse momento, seja na sociedade (não por motivos eleitorais, pelo menos) nem massivamente no debate político do mundinho intelectual que cabe numa kombi.<br /><br />Dessa maneira, a afirmação do Fla x Flu - errada na causa e no propósito - tem sido usada para mascarar o confronto - reitero, inerente à Política - e assim condenar quem assume a sua posição - mesmo que esteja longe de dividir o mundo em preto e branco. Seria, no fim das contas, uma má peça retórica que faz uso catastrófico do sentido da "guerra civil" tranferindo-o para o adversário, o que, por sua vez, serve a um determinado grupo a quem interessa o silêncio neste momento.<br /><br />abraçosHugo Albuquerquehttps://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-67419621962484422492010-08-15T22:05:51.035-03:002010-08-15T22:05:51.035-03:00Hugo: teu argumento é interessante, mas discordo d...<b>Hugo</b>: teu argumento é interessante, mas discordo das premissas. Por mais óbvia que <b>pareça</b>, a relação entre o futebol e a guerra não me convence. O futebol é a ritualização de um confronto - sim, mas não decorre daí que ele seja uma ritualização da guerra. O modelo do futebol, a meu ver, tem que ser buscado no duelo, também uma ritualização do confronto em que se busca decidir a verdade ou a honra (que hoje o futebol busque saber quem é "melhor", é apenas resultado de uma aparente neutralização moral). Lembremos do contexto no qual surge o futebol no seu formato atual: um jogo de <b>gentlemen</b>, de cavalheiros. Se formos cavucar mais fundo - ainda que eu não esteja exatamente convencido da importância de uma tal arqueologia pra entender o futebol moderno -, veremos que um dos antecedentes do futebol é um jogo/festa medieval pagão em que um sujeito chutava uma bola, todo mundo saia correndo atrás, e isso só terminava meses depois, com dezenas ou centenas de mortos, a centenas de quilômetros de distância - aqui estamos longe da guerra, mas de uma festa que ameaça aniquilar a própria sociedade, e que, ao mesmo tempo, é expressão de um desejo utópico de felicidade e anomia (nesse sentido, pode ser equiparado à Antropofagia ritual). Dito isso, a metáfora do Fla-Flu (que não sei se endosso, ou não endosso completamente, e especialmente não endosso quando, como mostrou o Idelber num post antigo, quem reclama desse Fla X Flu joga no time tricolor) ou a idéia de um "maniqueísmo petucano" aponta para o reducionismo da política a um confronto entre dois atores que decidirão, no embate, a "verdade" - e, mais do que isso, e aqui a importância da stasis, de que quem não toma lado nesse confronto ou o está fazendo indiretamente ou deve ser condenado. AbraçoAlexandre Nodarihttp://www.culturaebarbarie.org/blognoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-27726175334896363372010-08-15T20:36:48.490-03:002010-08-15T20:36:48.490-03:00Alexandre,
Eu deixei a questão da "Guerra Ci...<b>Alexandre</b>,<br /><br />Eu deixei a questão da "Guerra Civil" - um termo péssimo, se raciocinarmos etimologicamente - propositalmente de fora. O que me interessa aqui - e o que está exposto no argumento central - é como Política e Guerra (ou uma versão sublimada sua, o Futebol) obedecem lógicas intrínsecas tão próprias, que o simples fato de recorrer a exemplo futebolísticos - <i>sub-bélicos</i>, portanto - para descrever um possível desvio no debate político não faz sentido algum. <br /><br />Veja só, estamos falando do mesmo, se eu afirmasse que a Guerra é a maior ameaça a Política, logo, não estaria discordando da tese da possibilidade de existir um Fla x Flu eleitoral. <br /><br />A ideia de <i>stasis</i> aparece no post de forma implícita no trecho no qual eu coloco que "<i>A Política - isto é, Politké - seria a técnica (ou arte) de viver em grupo - cujo domínio era essencial para a convivência humana, tendo em vista a incompletude do Homem, como bem nos narra Protágoras pela boca de um certo Platão</i>".<br /><br />Em suma, no mito de <b>Protágoras</b>, se os homens não tivessem o domínio da <i>politiké</i> - ou o tivessem, mas o usassem mal - a consequência seria a degeneração do grupo, a auto-aniquilação, isto é, a <i>stasis</i> - um termo certamente mais preciso do que "guerra civil" que, na verdade, de guerra mesmo só tem a a maneira como a violência é usada como instrumento, mas que evidentemente não coincide na <b>causa</b> (pois a ideia do espaço comum é tomada aprioristicamente) nem na <b>finalidade</b> (aqui falamos de conquista da hegemonia, enquanto na Guerra a questão é a tomada das próprias estruturas hegemônicas do <b>outro</b> ou sua simples destruição). <br /><br />A relação entre Guerra - polemós - e Política só acontece quando uma deliberação interna produz um conflito externo - quando a Política falha, uma das consequência <i>eventuais</i> é a guerra, mas em regra é a "guerra civil" (argh) mesmo. Guerra civil, a rigor, não é uma espécie de Guerra, mas um conflito armado chamado de guerra de forma imprópria. A organização da política na disputa entre partidos, de fato, é uma tentativa de capturar a exceção da <i>stasis</i>, mas não da Guerra - e reitero: nem poderia ser.<br /><br />abraçosHugo Albuquerquehttps://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-80157538441180142772010-08-15T19:13:24.621-03:002010-08-15T19:13:24.621-03:00Hugo, meu caro: teu argumento é bom; porém, falta ...<b>Hugo</b>, meu caro: teu argumento é bom; porém, falta um conceito grego nele, o de <i>stasis</i> - que hoje significaria a guerra civil. Era a idéia de stasis (divisão interna) que se opunha à de política (bem comum), daí o consenso dos pensadores gregos em condenar o que podemos chamar de partidos ou facções: a formação de partidos (partes que querem ser o todo e, para isso, negam outras partes) era a maior ameaça à política, pois obliterava, ou deixava em segundo lugar, o comum, a política. Em última instância, a política acaba se tornando a eterna luta contra a stasis, contra a guerra civil (o modelo da formação do Estado moderno, absolutista, vem daí, na medida em cria uma instância "comum" que neutraliza as diversas facções religiosas - o pulo do gato, porém, é a equação (nova) política = Estado). Todavia, em um aparente paradoxo, a Constituição feita por Solon dizia que, em um caso de stasis, de guerra civil, aquele que não tomasse parte (aquele que, portanto, fosse indiferente), perderia os direitos políticos. O paradoxo é só aparente, pois o que está em jogo é tentar integrar a stasis à lógica da política, fazer com que a stasis/guerra civil seja política (comum, de todos). Por isso, as anistias que sempre eram concedidas depois das guerras civis àqueles que foram derrotados; eram uma forma de reintegrá-los ao comum, ao todo. Essas duas disposições (proibição da indiferença e anistia) foram modos de integrar a stasis à política, capturar a exceção. Os modernos partidos (partes, facções) também são uma dessas formas. De algum modo, vivemos sim no regime de uma stasis, de uma guerra civil. Quando a política quer capturar o que lhe é externo, acaba arriscando confundir-se com ele.<br /><br />AbraçoAlexandre Nodarihttp://www.culturaebarbarie.org/blognoreply@blogger.com