tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post3773340351808356256..comments2023-10-20T05:12:32.308-03:00Comments on O Descurvo: Crise Mundial: Culpa e a Fé na Terra do CapitalHugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.comBlogger3125tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-11982339280638266112012-03-25T16:02:09.596-03:002012-03-25T16:02:09.596-03:00Hugo, excelentes ideias! Meu comentário crítico de...Hugo, excelentes ideias! Meu comentário crítico deve ser tomado como um elogio de quem leu e se interessou pelo texto.<br /><br />Concordo com você que a relação entre culpa e dívida é mais do que etimológica. Só acho que não se deve simplificar o processo a ponto de soar simples a emancipação do ser humano, como se dependesse apenas da vontade individual para libertar-se da culpa ou da dívida; existem contextos históricos que engendram esta situação. A satisfação dos prazeres e da vida por si só não é a cura da culpa, assim como gastar não é a única solução para o endividado.<br /><br />O que quero dizer com isso? A ideia do catolicismo medieval como um sem fim de culpa e repressão dos desejos é um pouco exagerada. Na verdade, oscilava-se muito em opostos de culpa, orgulho, penitência, prazer, bebedeira, violência, sexo, ódio, piedade, obediência, rebeldia etc. A religião e a culpa agiam como uma forma de administrar todos estes sentimentos. O protestantismo representou um recrusdescimento no controle da vida interior do indivíduo, de onde também decorreu uma maior relação entre culpa e dívida e de um maior controle do futuro e do dinheiro, se pensarmos sob a ótica da obra clássica de Max Weber.<br /><br />Até aí concordo com você, minha crítica é que "uma educação para o prazer e satisfação da vida" por si só não é uma saída para esta situação. Acredito que o capitalismo hoje seja menos protestante e mais medieval: gasta-se muito na boa maré, e quando a crise acontece acaba estourando uma bolha de culpa, desespero e incapacidade da sociedade em reagir e partilhar a culpa (dívida). Não me parece que a sociedade brasileira ou estadunidense tenha seu problema na sua incapacidade de gastar e aproveitar a vida, mas sim no desequilibrio na administração do presente e do futuro através da relação crédito/dívida.<br /><br />Acredito, então, que as pessoas gastam muito bem seu dinheiro. O problema é que não existe uma educação para gerir o tempo e as lutas políticas em torno dele. O indício que aponto disso é que na nossa educação básica é inexistente a Economia e o Direito. Como exigir que os cidadãos saibam administrar seu crédito/débito (isto é, administrar seu tempo de trabalho e de prazer)? Como exigir que os cidadãos conheçam seus direitos sociais, políticos e jurídicos? É como se os bancos e sacerdotes vivessem de explorar a incapacidade das pessoas de administrar seu tempo e seus sentimentos. A luta pela emancipação humana é, deste ponto de vista, constante e interminável.<br /><br />As filosofias antigas (peripatética, epicurista, hedonista, estoicista) tinham na felicidade o seu principal objetivo. E todas elas concordavam que o prazer e a felicidade só existiam na moderação, pois o prazer incontrolável é vício. Acredito que a mesma analogia pode ser tomada para o controle da dívida (culpa), é necessário ensinar a retomar o controle do passado e do futuro, pois o excesso de um ou de outro é sempre nocivo.<br /><br />Abraço, e parabéns pelo texto.tecnocaosnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-45226280644213912792012-03-24T22:59:18.690-03:002012-03-24T22:59:18.690-03:00Anônimo, não é de "alimentação etimológica&qu...<b>Anônimo</b>, não é de "alimentação etimológica" que eu falo, mas de como o uso de uma linguagem comum entre a teologia e o exercício do poder suscita, por <i>assinatura</i> [em um sentido foucaultiano], a persistência de sua presença como motor. <br /><br />E a economia está longe dessa diferenciação, embora alguns de seus teóricos gostem de afirmar isso - como os teóricos do direito, p.ex. -, basta ler um belo trabalho do próprio <b>Agamben</b>, <i>O Reino e a Glória</i> - possivelmente seu melhor livro - no qual ele disserta sobre o conceito de economia desde seus primórdios, em um tratado (pseudo?)aristotélico, até a Idade Média. <br /><br />A culpa entra como causa de uma cultura de autopunição, mas é uma construção muito mais complexa do que isso, que expõe, antes de mais nada, pela fratura exposta na qual se constitui na relação entre a esfera dita psicológica e o campo social. <br /><br />A culpa é uma dobra inserida no inconsciente que leva a uma perversão do desejo cujo efeito é, de forma sistemática, a busca por um perdão e por uma salvação permanente em relação a todos e a todas as coisas - um "sentimento de absolvição" é a própria expressão de que houve uma condenação ou acusação apriorística, de cunho transcendental, em relação à qual devemos correr atrás. <br /><br />É puro masoquismo na medida em que o prazer só é produzido no aqui-agora, pois o amanhã nunca chega: o culpado sente um gozo perverso com essa dor causada por um processo incessante, que adia o prazer - ou melhor, é processo fundado na fuga dos prazeres a todo momento - para um momento de êxtase completamente místico que é reconfigurado idealisticamente a todo momento. <br /><br />Nesse sentido, é quimérico dizer que "<i>ela é também baseada no prazer (futuro).</i>", uma vez que se esse prazer é colocado no futuro, logo, ele não é prazer, uma vez que não se sente numa hipótese, mas apenas no concreto - tanto que o catolicismo, até hoje, se funda na busca por um asceticismo inclemente, basta ver como ele busca, de uma forma politicamente insustentável, suprimir o desejo.Hugo Albuquerquehttps://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-53682725097407018432012-03-24T22:27:19.981-03:002012-03-24T22:27:19.981-03:00posso ser chato?...
ninguém me impediu então serei...posso ser chato?...<br />ninguém me impediu então serei.<br />muito legal seu insight das formas como a economia se alimenta etimologicamente, e talvez, extrai alguns sentidos do cristianismo. se não me engano o próprio Benjamin - que vc citou - uma vez disse que o capitalismo parasitva o cristianismo; ou algo assim. Louis Dumont tem um livro em que ele mostra com a disciplina Econômia se diferênciou dum amontoado de conhecimnetos antes tidos como uma mesma coisa, o livro é HOMO AEQUALIS. Porém, o que me incomodou mais profundamente foi sua tomada da idéia de culpa, assim, solitária, como um sentimento/emoção que faz sentido por si; o que a meu vê, não faz. eu poria na equação o sentimento de absolvição. esse par Culpa-Absolvição, ambos bastante concretos - ao menos para quem os vive -, me parecem ser um motor mais eficiente, não pela adoração do flagelo em si, mas pela redenção que se alcançaria atravéz dele. Não é masoquismo, é a promessa de uma vida de prazeres após o sofrimento. daí que uma educação para o prazer não bastaria, pois essa, a cristã, ela é também baseada no prazer (futuro). <br />de novo, desculpa pela chatice.Anonymousnoreply@blogger.com