tag:blogger.com,1999:blog-56155811171745103452024-03-13T17:39:54.868-03:00O DescurvoO Descurvo de 2020 -- Voando com uma farol em meio à peste e à escuridão.Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.comBlogger910125tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-13437022669079224202020-08-23T21:58:00.003-03:002020-08-23T21:58:31.911-03:00Steve Bannon: o antagonista<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/wuXM3UFvcRo" width="320" youtube-src-id="wuXM3UFvcRo"></iframe></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Live de ontem que eu mediei no canal da Autonomia Literária sobre Steve Bannon: o estrategista e ideólogo de Trump.</div><p></p>Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-25381732425492220582020-08-22T12:02:00.003-03:002020-08-22T12:04:14.345-03:00Em Defesa do Livro! (Live da Rede Emancipa)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/RzHeTA5_6hc" width="320" youtube-src-id="RzHeTA5_6hc"></iframe></div><br /><p></p><p style="text-align: justify;">Ontem, em uma live em defesa do livro, contra o ataque Bolsonaro-Guediano ao mercado editorial, ao lado de Ivana Jinkings (editora Boitempo), Flávia Lago (Coletiva Virginia), Luana Alves (Rede Emancipa) e mediação de Dani Haj Mussi. </p>Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-86160850946981682032020-08-21T12:25:00.003-03:002020-08-21T12:34:11.491-03:00A Encruzilhada Bielorrussa<p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOAlnCIYqT3EH_jp4DBKMaMraH-DrTjo7Gq1Jyk9-EkIJTYhg3cbRF6p2JNEtFXRw48doKJy7HAIW4t33goolO1BD7CL5I_0AWEnodrxQSZVfXjmQ-7DH97P4nFELt5VP-MBp6xMkRHFY/s1587/Bielorr%25C3%25BAssia.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="690" data-original-width="1587" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOAlnCIYqT3EH_jp4DBKMaMraH-DrTjo7Gq1Jyk9-EkIJTYhg3cbRF6p2JNEtFXRw48doKJy7HAIW4t33goolO1BD7CL5I_0AWEnodrxQSZVfXjmQ-7DH97P4nFELt5VP-MBp6xMkRHFY/s640/Bielorr%25C3%25BAssia.jpg" width="640" /></a></div><span style="font-family: georgia;"><br /></span><p></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: georgia;"><span style="white-space: pre-wrap;">(</span><span style="background-color: white; font-size: 12px; text-align: left;">Foto: SERGEI GAPON / AFP)</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">O levante da Bielorrússia tem a ver com democracia e liberdade ou é apenas uma intervenção Ocidental? Isso não tem uma resposta simples, pois envolve questões internas e geopolíticas bastante dúbias e ambivalentes. Vamos a um fio grandinho (mas necessário)</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Das antigas repúblicas soviéticas de maioria eslava, A Bielorrússia era uma das mais pobres nos tempos da URSS. Detalhe: quando falo isso, me refiro à Rússia, com toda sua diversidade, e à Ucrânia. Lituanos e letões são apenas primos distantes que são, contudo, vizinhos.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Quando acabou a URSS, a Bielorrússia assim como a Ucrânia e a Rússia voltaram a adotar símbolos nacionais antigos e a preparar reformas neoliberais. Os comunistas se levantaram em todos os três, mas na Bielorrússia surgiu um movimento nacional-populista forte pelo meio.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Em suma, Lukashenko ganhou as eleições de 1994 e reverteu muitas das reformas neoliberais e travou todas que vinham em curso, retomou a bandeira dos tempos soviéticos e manteve o Estado forte na economia, contradizendo Moscou e Kiev.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Lukashenko era o típico dirigente de cooperativa agrícola soviética: um tipo secundário em qualquer parte da URSS, jamais politizado, mas talvez justamente por isso popular: um homem médio soviético, mas muito esperto politicamente a ponto de criar um movimento.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">O resultado é que, embora do ponto de vista econômico Minsk discordasse de Moscou, geopoliticamente ela inclusive se reaproximou do Kremlin -- ao contrário da Ucrânia, que seguia o mesmo modelo neoliberal, mas rifava a Rússia em prol de uma aproximação com o Ocidente.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Ao contrário de ex-repúblicas soviéticas que passaram a afirmar um nacionalismo antirrusso, que levou a desconsiderar os direitos das minorias russas em seus territórios, o governo de Lukashenko reconheceu a língua russa e o aspecto binacional do país.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Fontes ocidentais enxergam nisso uma "sujeição a Moscou", o que significa que eles esperam que um governo de Minsk deveria oprimir a minoria russa para ser "democrático".</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">O resultado do governo Lukashenko, 26 anos depois, é que o país cresceu proporcionalmente MUITO mais do que a Ucrânia e tem um IDH semelhante ao russo, mesmo sendo mais pobre do que a Rússia, embora junto tenha problemas da era soviética. </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Para falar a verdade, a Bielorrússia tem, hoje, mais do que o dobro do PIB per capta da Ucrânia, mas para os analistas ocidentais, certamente foram os ucranianos que fizeram "tudo certo" nas reformas e na geopolítica. A desigualdade na Bielorrússia é ínfima.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">A Bielorrússia, por sinal, é mais rica do que o Brasil e perde por pouco para Argentina e Uruguai. Tudo isso sem ter se quedado ao Ocidente, se desindustrializado, privatizado ou desnacionalizado suas empresas. A prova de que se pode funcionar de outra forma.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Isso é diferente da Rússia, mesmo sob Putin, onde ao contrário do que se pensa no país, a gestão da economia nunca deixou de ser neoliberal e austera -- ainda que autônoma nacionalmente.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Putin gosta de Lukashenko pela geopolítica alinhada, multilateral e não sujeita ao Ocidente, mas não gosta do fato de saber que, na medida das suas forças, Minsk adota uma linha bastante própria, vide seu modelo econômico.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Esse nacional-estatismo econômico cria problema, p.ex., para as empresas privadas russas adentrarem na Bielorrússia *na forma como elas gostariam* -- e, igualmente, faz de Minsk um agente autônomo para negociar com Pequim a Nova Rota da Seda.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Isso explica por que na última eleição Lukashenko deu declarações se diferenciando de Putin, que, imagino, se irritou. A Bielorrússia quer uma aliança com a Rússia, não ser englobada por Moscou novamente.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Lukashenko é um socialista? Evidentemente, não. Ele manteve coisas boas e ruins do modelo soviético e desenvolveu um mercado, criando um tipo híbrido entre o socialismo de mercado chinês e um capitalismo de Estado.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Igualmente, há restrições das liberdades e uma incapacidade do governo sequer imaginar uma hegemonia guiada para uma uma transformação radical. Lukashenko é o que os eleitores ingênuos de Bolsonaro pensam que "nosso" presidente é, mas que Jair nunca nem seria.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Lukashenko é isso, um líder comunitário, um paizão, fazendo às vezes de um líder nacional, incapaz de destruir os ganhos sociais soviéticos, mas igualmente incapaz de resolver o beco sem saída que, afinal, atravessou e colapsou a URSS.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Os bielorrussos o apoiaram todos esses anos, não por burrice, mas porque nunca caíram na cantilena de que seriam recebidos e desenvolvidos pela Europa, nem que reformas neoliberais iriam melhorar suas vidas, muito pelo contrário </span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Mas vejam, Lukashenko igualmente jamais criou um partido político organizado, sempre se cercando de uma miríade de políticos "independentes", todos unidos por um senso comum "nacional" e sob sua liderança.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">O movimento contestatório atual na Bielorrússia, obviamente, conta com apoio de operativos externos (é a geopolítica!), mas igualmente existe uma certa fúria popular pelo desgaste do governo e, possivelmente, a maneira como Lukashenko está lidando com a pandemia.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">Os gritos e as bandeiras lá não têm nada de revolucionário, apenas um nacionalismo fake e sujeito ao Ocidente. Lukashenko vai sofrer sim para se segurar e caso continue, dependerá mais do Kremlin do que gostaria.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">A questão é que a Bielorrúsia é central para Pequim na estratégia da Nova Rota da Seda, e por isso o Ocidente quer um líder seu no poder lá, mas Putin tampouco quer um Lukashenko fortalecido para negociar diretamente com Xi.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">O resultado disso será a queda de Lukashenko nas próximas semanas ou meses, *menos por falta de apoio e mais por falta de um partido organizado ainda que nacionalista*, ou sua manutenção com largas concessões a Moscou.</span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;"><br /></span></span></p><p style="text-align: justify;"><span color="" style="color: var(--primary-text); white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: georgia;">P.S.: Vou começar a postar essas coisas aqui, para não se perderem nas brumas do Face ou do Twitter. E trazer arquivos de outras mídias.</span></span></p><div style="font-family: inherit;"><div class="stjgntxs ni8dbmo4 l82x9zwi uo3d90p7 h905i5nu monazrh9" data-visualcompletion="ignore-dynamic" style="border-radius: 0px 0px 8px 8px; font-family: inherit; overflow: hidden;"><div style="font-family: inherit;"><div class="cwj9ozl2 tvmbv18p" style="color: #1c1e21; font-family: "segoe ui historic", "segoe ui", helvetica, arial, sans-serif; font-size: 12px; margin-bottom: 4px;"><span class="pmk7jnqg g0aa4cga q45zohi1" data-html2canvas-ignore="true" style="clip-path: polygon(0px 0px, 0px 0px, 0px 0px, 0px 0px); clip: rect(0px, 0px, 0px, 0px); font-family: inherit; position: absolute;"></span></div></div></div></div>Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-70892744920630649202018-08-02T14:26:00.003-03:002018-08-02T14:29:36.277-03:00Bolsonaro e o Discurso do Rei<div style="text-align: justify;">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggmp875eHXff5cW6M_Oo1YRgN0ZrkRC3FAQsRB1uqeWCiEl9JmOXeGAGuChlegBBP-98aqgR6Jz5upO3G7NzLo4-JJPQuEu3QqupfWwKaSHP_AAn5Ov2omTD7f1D1UGUbuIq65Q8zir7U/s1600/NaziBolsonaro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="504" data-original-width="960" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggmp875eHXff5cW6M_Oo1YRgN0ZrkRC3FAQsRB1uqeWCiEl9JmOXeGAGuChlegBBP-98aqgR6Jz5upO3G7NzLo4-JJPQuEu3QqupfWwKaSHP_AAn5Ov2omTD7f1D1UGUbuIq65Q8zir7U/s400/NaziBolsonaro.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Aroeira<br />
<br />
<div class="fr" itemprop="description" style="background-color: #fafafa; box-sizing: border-box; color: #333333; padding: 0px; text-align: left;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;"><i>Um homem só é rei porque os seus súditos se comportam perante ele como um rei -- Slavoj Zizek</i></span></div>
<div>
<br /></div>
</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A liderança de Bolsonaro causa choque e temor. Mas não só em seus antagonistas. Os seus próprios eleitores querem isso, sentem isso, pedem isso, mas no lado oposto, voto de protesto e fúria, sem razão e contra ela. </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Na segunda-feira, dia trinta de julho, ele, o </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">líder nas pesquisas eleitorais nas quais não constam o nome de Lula, <a href="https://www.youtube.com/watch?v=lDL59dkeTi0">foi ao Roda Viva da TV Cultura </a>repetindo uma</span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> série de barbaridades como de costume -- da defesa da ditadura e da tortura, passando pela negação do racismo, até chegar culpabilização da higiene das mulheres pela mortalidade infantil (!).</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Desta vez, contudo, Bolsonaro falou com mais autoridade do que costume para uma bancada passiva, fria, pouco ágil -- a qual no máximo esboçava algum absurdismo. </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Muitos apontaram a fragilidade dos entrevistadores. No entanto, a bem da verdade, o Roda Viva <a href="https://www.youtube.com/watch?v=GYBfJS-NMTI">que acossou Manuela D'Ávila</a>, <a href="https://www.youtube.com/watch?v=YWDOV0Nk_eU">foi antipática com Boulos</a>, <a href="https://www.youtube.com/watch?v=UwHGTQ4twqk">morna com Ciro</a> e <a href="https://www.youtube.com/watch?v=Yj9iwghRNKU">doce com Marina</a> e, sobretudo, <a href="https://www.youtube.com/watch?v=h6pdFNwECGE">com Alckmin</a> é aquela que, se utilizando de um discurso liberal, permitiu Bolsonaro falar à vontade. Todos os </span><i style="font-family: georgia, "times new roman", serif;">Roda Vivas</i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> com os (pré) candidatos constituem uma série coerente entre si. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A série que buscava inquirir os presidenciáveis brasileiros era, na ideologia e nos discurso, um uníssono que vê a esquerda como ameaça, renega normalizando a extrema-direita e aponta a direita do <i>establishment</i> como solução -- e a introdução da extrema-direita no debate serve tanto para colocar o bode na sala para se amenizar a direita tradicional como, ainda, para capturar o sentimento de indignação e catalisa-lo para um ponto inofensivo ao sistema, bem longe da esquerda -- ou pior: de uma esquerda extra-partidária.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A esquerda liberal -- se é que se pode dizer isso --, perdida na defesa da "liberdade de expressão de Bolsonaro", e a direita liberal, disposta a tudo para neutralizar qualquer esquerda, inclusive naturalizar a fala de um candidato de extrema-direita, de certa maneira se unem numa mesma estratégia impotente, cuja ação, direta e colateralmente, nos conduz, aqui no Brasil como em boa parte do mundo, ao avanço e a volta de variadas formas de extremas-direitas.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O projeto liberal de direita que comanda o país, contudo, produziu a própria sobrevida de Bolsonaro: <a href="https://www.poder360.com.br/pesquisas-de-opiniao/">até a intervenção militar do Rio</a>, a bolha de intenção de votos dele parecia ruir, indo para baixo dos 15%, mas depois dela, ele volta ao patamar dos 20%, ensaiando uma nova queda. Por sinal, a mesmíssima intervenção militar perante a qual Bolsonaro se diz contra, defendendo medidas de violência mais radicais, o que lhe faz se favorecer do clima de populismo punitivo sem se comprometer com os resultados da -- fracassada -- intervenção de Temer.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Bolsonaro que, por seu turno, é enfrentado por essa mesma esquerda liberal que lhe dá legitimidade de fala apenas no aspecto cultural e comportamental, o que em si é justamente o que o candidato quer. Ora, para além do fato se Bolsonaro deva ou não ser ouvido, não resta dúvidas de que seria absurdo alguém convidar o Maníaco do Parque para dar entrevistas na condição de patinador -- <i>embora ele o tenha sido de fato</i>, mas a operação ideológica que ocorre com Bolsonaro, no entanto, impede que nós o vejamos dessa forma. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Como então ouvir, e deixar falar, Bolsonaro defendendo crimes contra a humanidade explicitamente, em rede nacional, numa televisão pública e educativa?</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Não, Bolsonaro não oferece nenhuma resposta estrutural a nenhum problema sério do Brasil, mas catalisa na forma de violência, e de violência contra os mais fracos, os pobres, oprimidos, a indignação contra o sistema -- mas a violência de Bolsonaro é inofensiva ao Poder, à oligarquia nacional. </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Bolsonaro é, portanto, o freio de mão do sistema, ele não é o </span><i style="font-family: georgia, "times new roman", serif;">establishment</i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">, mas é também manobrado por ele. Tudo isso causa um bojo de normalização da sua presença no debate público.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Tampouco é o discurso liberal, ou uma vertente de esquerda sua, que irá derrotar Bolsonaro. Nem o liberalismo de direita, que critica greves e insatisfações, nem um liberalismo de esquerda que não ofende as estruturas econômicas ou institucionais de como se exerce o poder, repetindo um politicamente correto inócuo. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">As chances do ex-capitão do exército vencer realmente ainda são distantes, mas sua presença no segundo turno vai se tornando uma possibilidade cada vez mais crível, uma vez que nem o discurso ou a prática do <i>establishment </i>têm a capacidade de neutralizá-lo -- sua impotência é mais um problema interno de sua organização, não mérito de seus adversários --- e do outro lado tem interesse em mantê-lo no páreo, devido suas disputas interiores.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Sobre o último ponto, Bolsonaro é o bode na sala que normaliza Alckimin e, ao mesmo tempo, capta uma indignação que organizada seria revolucionária. Do outro, Bolsonaro é alguém que fustiga e a priori tira votos de Alckmin. Nesse jogo entre a direita e à esquerda do sistema, Bolsonaro é uma bomba prestes a explodir e que os concorrentes ficam jogando um para o outro, como num desenho animado -- e pode ser que exploda ambos.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Enfim, Bolsonaro é uma peça fraca no jogo, justamente por isso está onde está, mas as forças que o alavancam não são ocasionais. Assim, os riscos dessa tremenda, e subestimada, armadilha em que estamos caindo são enormes.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/10791535235384229349noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-62642365006501097972018-07-22T15:12:00.000-03:002018-07-22T15:12:15.416-03:00O Que diabos é o Centrão? <div style="text-align: justify;">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW0H-8oakOQBISczayEe-LM2cYEnyXSCiLpdwVzy-0eBXxTOqQeypxqDb0829DXJj4CQCbKehItRsEkqTBqd5RPTNH8xldlVC9Op52SVFi3YV0ZpLF66k-b9Bz0oYlcxJCYK80RtoUFcA/s1600/Abacaxi.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="366" data-original-width="366" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW0H-8oakOQBISczayEe-LM2cYEnyXSCiLpdwVzy-0eBXxTOqQeypxqDb0829DXJj4CQCbKehItRsEkqTBqd5RPTNH8xldlVC9Op52SVFi3YV0ZpLF66k-b9Bz0oYlcxJCYK80RtoUFcA/s320/Abacaxi.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O Abacaxi -- Margareth Mee</td></tr>
</tbody></table>
<i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Centrão</i>. É a expressão do momento às portas das eleições mais polêmicas da nossa -- <i>breve, ainda existente?</i> -- histórica democrática. O termo consiste no bloco de partidos que, a rigor, está servindo de fiel da balança nas eleições presidenciais vindouras. Mas será que o bloco é mesmo uma novidade? Olhando bem, ele coincide em grande parte com o bloco de nanicos que serviu de base de sustentação de Lula -- com exceção ao DEM, à época, o mais radical de oposição. Não à toa, o grupo se reuniu para escolher um "vice", e não um candidato à presidente:<a href="https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,com-pr-centrao-indica-josue-gomes-a-vice-nas-eleicoes-2018,70002407076" target="_blank"> <b>e o vice é Josué Alencar</b></a>, filho de José Alencar, o vice de Lula. É claro, há que se ponderar a diferença entre apoio parlamentar oportunista e a defesa da ruptura de direitos e sistemas de proteção social -- mas isso diz mais sobre o Centrão do que sobre Lula ou Temer.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Lembremos da década de 2000, lá estava <a href="http://g1.globo.com/politica/mensalao/noticia/2016/05/ministro-do-stf-concede-perdao-da-pena-valdemar-costa-neto.html" target="_blank"><b>Valdemar da Costa Neto, condenado no mensalão</b></a>, cá está <a href="https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2018/07/17/interna_politica,695374/preso-no-mensalao-valdemar-costa-neto-e-nome-mais-cortejado-para-alia.shtml" target="_blank"><b>Valdemar da Costa Neto articulador das presidenciais de 2018</b></a>. O que ocorre é que O Centrão se consolida como o que ele é hoje durante Dilma II, participando ativamente ao lado de PMDB e PSDB das articulações que levaram ao impeachment de Dilma Rousseff com a adesão do DEM, se tornou um grupo à parte e comandou a Câmara com Rodrigo Maia, <a href="https://www.campograndenews.com.br/politica/com-apoio-da-esquerda-rodrigo-maia-e-eleito-presidente-da-camara" target="_blank"><b>mas com a leniência de quase todos os partidos de esquerda.</b></a></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Outra lenda urbana</i> é apontar o Centrão como um bloco parlamentar <i><b>criado</b></i> por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o intuito de puxar o <i>impeachment </i>de Dilma e/ou iniciar as reformas de ruptura do Estado social a partir do Congresso: embora ele tenha se usado do mesmo bloco para seu governo <i>de facto</i>, Cunha cooptou o Centrão, não o criou -- no máximo a tônica das reformas que ele foi eleito pra imprimir ajudaram a aproximar o Centrão do DEM.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">No fim das contas, lembremos que Rodrigo Maia derrota Rogério Rosso, o "candidato de Cunha", quando Dilma já estava com a sorte (ou falta dela) definida e, por conseguinte, Cunha não era mais necessário e já estava preso.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Desde então, o Centrão é um entidade que tem dado sustentação a Temer, bloqueado pedidos de <i>impeachment </i>e, até, impedido pedidos de investigação por crime comum envolvendo o presidente -- embora não sem resmungos e sobressaltos. O Centrão não é o arranjo de governo Temer, mas ele é seu importantíssimo motor auxiliar -- como já foi nos anos 2000 com Lula, mas não era nos anos 1990, <b><a href="https://www.nexojornal.com.br/grafico/2018/05/16/Qual-a-presen%C3%A7a-dos-partidos-na-C%C3%A2mara-ao-longo-do-tempo">em virtude da alta fragmentação partidária verificada, sobretudo, a partir das eleições de 2002, o que só continuar a piorar.</a></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Assim o Centrão, para além de ser <i>o sindicato dos políticos</i>, reúne as figuras político-econômicas do capital nacional -- não confundam com nacionalista -- com os Alencar ou os Steinbruch, <a href="https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2112201034.htm" target="_blank"><b>os quais estavam lá com Lula</b></a>, com Dilma, mas que viraram de lado e puxaram o <i>impeachment</i>. Elas são, digamos, proprietários de grupos empresariais familiares não ligados (organicamente) ao mercado financeiro nem multinacionais. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Os setores de onde vêm os empresários-políticos são, todos, bastante sensíveis a variáveis econômicas como câmbio, juros ou grandes acordos multinacionais -- a siderurgia, ramo ao qual se dedica a Família Steinbruch, por exemplo,<a href="https://g1.globo.com/economia/noticia/eua-oficializam-imposicao-de-cotas-e-sobretaxas-a-importacao-de-aco-brasileiro-diz-governo.ghtml" target="_blank"> <b>foi acertada em cheio pelas medidas do governo Trump de aumentar os tributos sobre o aço importado</b></a><b>.</b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O Centrão, antes que eu me esqueça, também representa os interesses corporativos sindicais, o que não se estende apenas à Força Sindical de Paulinho (do Solidariedade), mas no momento é tocada por ele -- muitas vezes <i>não apenas </i>em seu nome, de seu partido ou de sua central sindical. Enfim, o Centrão é um grande sindicato que reúne o interesse corporativo-burocrático do capital nacional, dos sindicatos e dos políticos em si considerados -- não apenas os políticos profissionais e fisiológicos, que não têm ligação real com a sociedade e vivem da política, mas de todos os políticos no que diz respeito a seus interesses corporativos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Agora, o grupo se deu um nome, se assumiu publicamente e foi ao ataque em eleições particularmente tensas, sobretudo depois do colapso econômico causado pela política de Pedro Parente, sob as bençãos de Temer, para os preços da Petrobrás -- mas certamente ouviremos que a culpa pelo que estamos passando é da "greve dos caminhoneiros". Sim, a novidade é essa. Do grupo ter saído dos bastidores para não só ir ao palco como pretender algum protagonismo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Nada mais emblemático, da Lava Jato ao Impeachment, boa parte da ruptura dos acordos que mantinha a conciliação de classes gerida pelo Lulismo passava pela imposição de mudanças na Petrobrás. Dilma se negou a fazê-lo, Dilma caiu, Temer ascendeu, Temer o fez <b><a href="https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2018/07/12/internas_economia,694448/governo-preve-queda-do-pib-no-segundo-trimestre-de-2018.shtml" target="_blank">e agora estamos a registrar uma considerável queda do PIB</a> </b>-- Dilma errou muito, errou horrores, errou rude, mas esse erro ela não cometeu.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Por sinal, e este é um detalhe importante, é que a qualificação do grupo como "centrão", criticada em grande medida, não é errada: o grupo, em seus zigue-zagues pela política brasileira do século 21 <i>reedita como farsa trágica a tragédia farsesca dos primórdios</i> da política contemporânea; é na Revolução Francesa que se verá, pela primeira vez, a divisão da política em termos direcionais, direta, esquerda e centro, sendo<a href="https://fr.wikipedia.org/wiki/Marais_(R%C3%A9volution_fran%C3%A7aise)" target="_blank"><b> o centro -- ou o pântano ou planície</b></a> -- como o grupo mais numeroso e, ao mesmo tempo, mais fisiológico do Legislativo, disposto a defender interesses puros, antes de qualquer plano de ideias ou valores.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Nesse cenário, <a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/07/centrao-chega-a-acordo-para-apoiar-alckmin.shtml" target="_blank"><b>a decisão do Centrão por Alckmin</b> </a><i>é um manifesto pela continuidade do que Temer fez, ainda que de forma envergonhada e escamoteada</i>. Porque Temer nunca pretendeu exatamente se perpetuar, ou perpetuar o PMDB, na cabeça da chapa presidencial. Se ele removeu Dilma como removeu, isso o foi por conta do apoio público do PSDB -- e a ideia pressuposta era a de Temer passando a faixa para o PSDB, primeiro para Aécio, o qual teve o sonho presidencial alijado por graves denúncias, e agora para Alckmin.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ainda que se discuta a natureza do impeachment de Dilma, oficialmente um procedimento comum, para outros um golpe, não é possível negar que foi um procedimento normal: sequer o Senado cassou os direitos políticos da Presidente deposta -- pior ainda, o próprio procedimento foi iniciado por Cunha quando o então governo se negou a travar o processo de investigação contra ele na Câmara.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">E o que se seguiu foi um aprofundamento da concessão neoliberal de Dilma II, quando ela ressuscitou Joaquim Levy, passando de Temer em diante a haver uma ruptura com o sentido de democracia social da Constituição de 1988, ou até paradigmas anteriores e mais caros, como a proteção trabalhista. O Centrão, aliado oportunista do primeiro e único governo com tons progressistas, se tornou cúmplice da remoção do mesmo, sob forma duvidosa e com propósitos mais assombrosos ainda.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Alckmin apesar da falta de votos e a defesa de um modelo de gestão em crise, e nada diferente do que Temer executa, conseguiu o apoio do grupo, quando o Centrão cogitou apoiou Ciro Gomes, talvez sob a comoção de maio e de como a greve dos caminhoneiros assustou o pilar empresarial do bloco. Essa escolha não foi, contudo, ocasional.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ciro tentou negociar com o Centrão, mas recebeu a rejeição como resposta<a href="https://oglobo.globo.com/brasil/pt-acena-para-tentar-atrair-apoio-do-psb-do-pcdob-22762637" target="_blank">, <b>seja porque, pela esquerda, o PT buscou impedir que seus velhos aliados</b></a>, como PC do B e PSB, não fechassem com o candidato pedetista para lhe dar a imagem de viável, <a href="https://veja.abril.com.br/politica/pressao-do-planalto-fez-centrao-procurar-alckmin/" target="_blank"><b>seja porque, pela direita, Temer ameaçou o Centrão</b></a>, gastando boa parte do interregno da Copa do Mundo para forçar a manutenção do bloco no governo, mediante ameaças.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Se isso vai se mostrar vantajoso para o Centrão, não saberemos, mas não há nada que a atual agenda econômica faça que possa ajudar a indústria têxtil ou a siderurgia nacional. Alguns interesses, sindicais corporativos que veem no pacote podem nem ser atendidos -- <a href="https://istoe.com.br/apos-crise-com-centrao-alckmin-diz-aceitar-alternativa-ao-imposto-sindical/" target="_blank"><b>como a volta do imposto sindical</b></a>, a promessa que Alckmin fez para Paulinho da Força Sindical, num aceno para todas as centrais sindicais, o que já causou um abalo na recém-costurada aliança.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Assim, membros do Centrão que simpatizavam com a agenda de Ciro talvez tenham ido para Alckmin, porque temiam que Ciro não fosse viável pelo efeitos do espectro de Lula, e da ação do PT -- como dito pelo guru do DEM, <i><a href="https://www.valor.com.br/politica/5666723/bolsonaro-ja-esta-em-queda-diz-guru-do-dem" target="_blank"><b>de maneira mezzo real, mezzo dissuasória</b></a></i>, de que qualquer candidato apoiado por Lula conseguiria ir ao segundo turno. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A decisão do Centrão tem um efeito duplo, a de fortalecer Alckmin à direita do centro e a de enfraquecer, ou de conceder um apoio central, para Ciro na disputa à esquerda do centro. Ela não enfraquece Ciro em detrimento de Alckmin, mas enfraquece Ciro em relação ao candidato que o PT vier a apresentar, ou mesmo Marina, e fortalece Alckmin face a Bolsonaro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">E Bolsonaro lidera nas pesquisas sem Lula por uma simples razão: <i>performaticamente</i>, ele encarna o sincero desejo antissistema de pelo menos uma parte da população, ainda que numa versão de ódio -- mas Bolsonaro é um golem criado pelo PSDB, quando este não tinha lá muitos argumentos para neutralizar o Lulismo, só não esperava ver o experimento sair de controle e do seu comando.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Pelas bandas das esquerdas</i>, uma reunião já no primeiro turno seria necessária para evitar um segundo turno entre a extrema-direita e Marina. Lembrando que Marina, a rigor, disputa voto com todos os demais candidatos que, ao contrário dela, consideram como golpe a ruptura pela qual estamos passando -- sobretudo entre o eleitorado mais pobre, que pode deseja votar em Lula.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A aposta do PT, em manter o nome de Lula como candidato até o último instante, é o tipo da coisa que ou pode dar muito certo, ou pode dar muito errado. A julgar pela postura do judiciário, sua candidatura em si está praticamente barrada. Assim como dificilmente vão lhe permitir apoiar alguém, de qualquer forma, mas o PT poderá apresentar candidato. Como seu eleitor vai se comportar diante disso é a pergunta mais valiosa da eleição.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Se a estratégia der certo, teríamos um nome petista no segundo turno. Se der errado, podemos ter as demais candidaturas progressistas derrotadas em primeiro turno -- e, ironicamente, quem é a mais distante de Lula, isto é, Marina Silva nadará de braçadas para o segundo turno contra Alckmin ou Bolsonaro. <i>O custo do erro, convenhamos, seria maior do que os ganhos do acerto.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>Aí chegamos na disputa à direita</i>. Alckmin, cuja candidatura, em virtude da baixa adesão de apoios e votos, quase foi retirada, acabou fortalecido no tempo de TV e na captação de recursos, mas sua briga, neste momento, é contra Bolsonaro: ambos disputam a mesma base eleitoral. Se o maior tempo de televisão do tucano vai ser suficiente, não sabemos. Bolsonaro é um titã nas redes, muitas vezes movido por militância espontânea e um exército de robôs.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Levando em consideração que Alckmin e Bolsonaro disputam um eleitor do sul e sudeste, branco e de classe média, é possível que o fator televisão pese menos nesse cômputo. A correlação de forças entre internet e televisão no Brasil atual contará, sobretudo, para a disputa interior à direita -- cujo eleitorado desde 2006 está situado nas classes menos pobres e que, portanto, tem mais acesso à internet que a média da sociedade brasileira. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Tanto o peso da transferência dos votos de Lula quanto o peso atual da influência da internet contam bastante, sendo variáveis importantes e enigmáticas, mas o primeiro fator pesa mais para a esquerda e o segundo para a direita.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O fator de novos abalos sociais, e de movimentos subterrâneos está colocado, mas como não há uma organização capaz ou disposta de realmente organizar a indignação popular contra Temer -- que é fato social, mas não é fato político -- é difícil que isso chegue às urnas, salvo como aumento na abstenção -- o mesmo não se pode dizer quanto à governabilidade do governo eleito -- é por isso que o Centrão acaba ficando maior do que realmente é.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">No que realmente interessa, a maior parte dos candidatos, com um tom mais ou menos à direita, se volta para a manutenção de uma política social restritiva, manutenção do <i>establishment</i> político, a conservação da política econômica neoliberal e uma posição subalterna do Brasil nas relações internacionais. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Estaríamos entre o impasse da manutenção do quadro de Temer ou um governo que proporia, em algum grau, mudanças que enfrentariam uma reação intensa -- salvo um milagre nas eleições legislativas. </span><span style="font-family: georgia, "times new roman", serif;">A desunião das esquerdas não ajuda nada, embora ela tenha ideias e caminhos. A direita tampouco tem um plano de funcionalidade -- não há uma Thatcher, isto é, alguém capaz de criar um funcionalidade econômica ainda que socialmente injusta.</span><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: georgia, "times new roman", serif;">O fantástico fracasso de Temer e sua política econômica -- sobretudo em tentar reorganizar o Trabalho nos mesmos termos dos anos 1990 -- pode produzir resultados dramáticos já nessas eleições, mas se tudo for mantido, o pior virá em 2019, sobretudo com as incertezas grandiosas, assombrosas e apocalípticas no plano internacional. Se vamos conseguir ou não </span><i style="font-family: georgia, "times new roman", serif;">cruzar o Cabo da Boa Esperança</i><span style="font-family: georgia, "times new roman", serif;">, isso fica para os futurólogos, mas a missão será essa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-66419943663589542882018-07-15T19:57:00.000-03:002018-07-15T19:57:05.123-03:00O Adeus da Copa da Rússia e a França campeã<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoKahenU0Otiub4FvJTEy3m8Ue_vuMcLi47aDo5GfjqKn83crijk-Z2UkxeQW0g3rKbKDWT8Boerw88YcyGdQ67sDgArwH1IVQXZEQQ554WKY2n7GSPLbprFlRFtb-nguTcX5UpsOtK0Q/s1600/Fran%25C3%25A7a+Campe%25C3%25A3_+Namenov+Afp.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="512" data-original-width="768" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgoKahenU0Otiub4FvJTEy3m8Ue_vuMcLi47aDo5GfjqKn83crijk-Z2UkxeQW0g3rKbKDWT8Boerw88YcyGdQ67sDgArwH1IVQXZEQQ554WKY2n7GSPLbprFlRFtb-nguTcX5UpsOtK0Q/s400/Fran%25C3%25A7a+Campe%25C3%25A3_+Namenov+Afp.jpeg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A. Namenov (AFP_</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O término de Copas do Mundo nos fazem refletir sobre o tempo. É como se esses ciclos de quatro anos ativassem nossa memória afetiva -- ela sempre o é, mas eu digo a memória dos afetos mesmos, uma certa ternura que fica em cada momento. Onde estávamos há quatro anos ou oito anos, há doze? Que fazíamos? Como estávamos como indivíduos como estava o país? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Muito se passou, a idade começa a chegar, uma <i>certa nostalgia</i> de outros tempos irremediavelmente bate, sobretudo nesse nosso momento atual -- no qual mais do que presente, nos falta futuro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A Copa da Rússia, disputada em um momento terrível do Brasil e do Mundo, não deixa de ter sua importância simbólica: de um povo tão marcado pelas guerras, pelas agressões estrangeiras, por mais de cem anos de cerco das mesmíssimas potências e potestades ocidentais. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Para muito além do "grande evento", seus problemas e aporias, havia algo de um esforço russo em se mostra uma nação como qualquer uma outra, para além de uma demonização internacional, tanto premeditada como profissional -- a ponto de um comentário como este ser considerado "russófilo", quando o que ele pede é que russos e seus líderes, e seu povo, deveriam ser julgados, absolvidos ou condenados, com a mesma medida que americanos ou europeus são ou deveriam sê-lo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Tão previsível quanto dolorosa, a derrota brasileira ilustra o espírito do tempo nacional: entre a ansiedade crônica e uma certa presunção (que no fundo é uma resposta defensiva e infantil), somos um país que ou negamos nossas tradições ou as afirmamos como estereótipo de brasilidade da farsa global. O <i>Neymarismo</i> como vítima de si mesmo e, portanto, seu próprio algoz. Um país bipolar e não tratado: sempre da mania à depressão.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ganharam os franceses, multirraciais e multicoloridos, que mantém a tônica gaulesa desde os anos 1980: boas gerações, com hiatos generosos e reaparições gloriosas; da França de Platini para a França de Zidane ao bi mundial com Mbappé e Pogba. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E que não se diga a França dos imigrantes e refugiados, que o aparado pós-colonizador arregimentou e colocou para levar o país às glórias futebolísticas: ao contrário, o futebol como instância de representação nacional sempre tratou, não só na França como na Europa, de excluir árabes e negros e se abriu pela força deles. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Na França, onde Platini, um franco-italiano, era lido como um branco e, portanto, um nacional Zidane o era menos e Mbappé uma verdadeiro escândalo, por não ser apenas não branco como fruto da miscigenação entre imigrantes árabes e negros.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Nessa França, a polaridade racial é tão brutal que a inclusão à brasileira, cordial e malandramente opressora, nem é possível: lá ou seria inclusão à força pela luta ou seria exclusão pura e simples -- e inclusão contra um imaginário que inclusive cogitou instaurar cotas para limitar o acesso de crianças negras e árabes (sim, <a href="https://esportes.estadao.com.br/noticias/futebol,franca-quer-cota-para-jogadores-negros-revela-site,713000" target="_blank">isso aconteceu mesmo</a>, não é suposição) ao futebol e, por conseguinte, tornar o futebol francês "mais branco".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E que não se chamem os croatas puramente de "nazistas", embora a extrema-direita diga muito sobre como o país hoje, muitos jogadores de sua seleção e ao trágico desmonte da Iugoslávia, no qual a Croácia sob o comando de forças ocidentais ajudou a detonar um conflito horrendo -- que vitimou, a bem da verdade, mais bósnios e sérvios.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A Croácia, em si, seria nazista? Não, mas muitos jogadores seus simpatizam. E sua vitória era parte de uma estratégia de propaganda nacionalista de direita. Ao contrário da França, em que pese o paradoxo de ser a nação das luzes e, ao mesmo tempo, um país colonialista indômito -- que conserva sua violência via cosmopolitismo neoliberal --, mas não tem no seu time nacional, a sua maior expressão -- embora Macron, esperto como <i>o diabo de Bergman</i> saiba bem jogar com isso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Na bola e no campo, onde as coisas se decidem, um vareio de bola da França sob o comando de Griezmann, francês de origem luso-alemã, e com toques de talento do menino-prodígio Mbappé e do espetacular Pogba -- o que permitiu até erro crasso do bom goleiro Lloris.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Fica a memória. Onde estaremos daqui a quatro anos, como fãs de futebol e brasileiros, é a grande incógnita.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-82764017418170939212018-03-25T21:25:00.000-03:002018-03-25T21:25:10.545-03:00Putin, Mais uma Vez<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWb7JW_My_54qHrROTIQ82gUAWhQUYNYc87klGux33IK7sWOBjqCYbeOU-LcDJTMF6jdCiwcAxbCboPniSaBWeuOB8zWfZsONljhcqKIA1GjtQXJ6-2TKgIo5CeeAjjCS1cnyP3EzzlyY/s1600/Putin.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="205" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWb7JW_My_54qHrROTIQ82gUAWhQUYNYc87klGux33IK7sWOBjqCYbeOU-LcDJTMF6jdCiwcAxbCboPniSaBWeuOB8zWfZsONljhcqKIA1GjtQXJ6-2TKgIo5CeeAjjCS1cnyP3EzzlyY/s1600/Putin.jpg" /></span></a></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Russian_presidential_election,_2018" target="_blank">Vladmir Putin foi reeleito presidente da Russia</a>. Com 76% das preferêcias, um total de 56 milhões de votos, ele bateu o recorde tanto proporcional quanto em números absolutos de votos. Um fenômeno, em tempos de crises políticas pelo globo e, sobretudo, crise na representação, nos partidos clássicos e no <i>establishment</i> político, mesmo de países europeus desenvolvidos e dos EUA. Repetindo a lição do polidor de lentes luso-holandês, antes de chorar ou rir, é preciso compreender um fenômeno -- ainda mais um tão complexo como do Putinismo, que está no poder há dezenove anos em um país gigantesco como a Rússia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Frequentemente apresentado como um líder de direita conservadora, um tirano, ou coisa que o valha, Putin, evidentemente, se vale no plano interno da manutenção do cerco à Rússia -- uma tragédia contígua que já dura cem anos --, da russofobia deslavada -- sobretudo de alguns anos para cá --, mas igualmente apresenta resultados relevantes para uma nação que enfrentou um dificílimo fim de século 20º.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em tempos de neoliberalismo e capitalismo financeiro, as noções de modernidade parecem derrogadas, a História chegou ao Fim e <i>Deus morreu para se tornar o Mercado</i> -- não apenas "dinheiro" como diria Agamben --; líderes mundiais, inclusive à esquerda, parecem entregar seus governos à Divina Providência do Mercado Global. Mas Putin não.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O Putinismo resiste por fazer uma objeção de fundamento do discurso de seus rivais e, sejam os liberais ocidentalistas no interior da Rússia ou as potências ocidentais, e, também, por apresentar resultados tanto na econômica quanto no aproveitamento social disso.<a href="https://www.terra.com.br/economia/como-a-vida-mudou-na-russia-de-vladimir-putin-explicado-em-10-graficos,ad28448e85b1590705ef3ba59909e9eb3sgua9v6.html" target="_blank"> Sim, a vida na Rússia é hoje melhor do que em 1999</a>, quando Putin era o número dois do país, então governado por Yeltsin.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Para além da propaganda ideológica, o fato é que a Rússia era um país feudal e estagnado antes da Primeira Guerra, que de tão trágica para o país serviu para abrir caminho para uma Revolução. O impacto dos anos 1920 na Rússia, com o nascimento da União Soviética, representou um desenvolvimento ímpar no país; primeiramente de forma libertária, depois, com uma retomada do autoritarismo de Estado tradicional do país.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Fato é que os russos, às expensas de muito sofrimento, conseguiram, em décadas, dar saltos que os europeus ocidentais levaram séculos. E resistiram e venceram a invasão nazista, que deixou dezenas de milhões de mortos, algo impensável mesmo para um país violentíssimo como o Brasil. A União Soviética sobreviveu à guerra, embora às custas de perder quase uma geração inteira. E se reconstruiu e modernizou.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O misto da burocratização deflagrada já nos 1920, somado com a perda do movimento revolucionário, fecharam as portas para o desenvolvimento do país. Dos anos 1960 para os 1980, a União Soviética está estagnada, o jovem Putin, um oficial da KGB de família vermelha, embora fortemente influenciado pela intelectualidade branca, e antissoviética da Universidade de Leningrado, era um dos defensores da grande mudança no país.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Com a decadência do projeto voluntarista de reforma conduzido por Mikhail Gorbatchiov, Yeltsin, que havia assumido o poder na Rússia, é peça central para o desmantelamento da União Soviética. A reconstrução do capitalismo, por bases absolutamente neoliberais, tornam a Rússia dos anos 1920 em um assustador laboratório humano a exemplo do Chile dos anos 1970.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O mundo se lembrará de Yeltsin, contudo, como um senhor bonachão, cujo alcoolismo apenas ajudaria a ampliar o seu carisma. Mas isso tinha muito mais a ver com a aliança de Yeltsin com o Ocidente do que com qualquer traço democrático seu; o mundo se lembra do golpe de 1993 como a "crise constitucional" russa e assim por diante.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O jovem Putin, já ali uma estrela ascendente da política, estava convencido de que as forças anticomunistas na Rússia tinham razão, mas que não deveriam ter permitido a fragmentação do país. Nem que seria possível manter as coisas naquele patamar, com o Estado russo sendo loteado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Velhos burocratas soviéticos se tornaram proprietários donos das velhas empresas soviéticas, quase todos por métodos absolutamente ilegais de privatização. Esses oligarcas queriam o que qualquer elite periférica deseja, ser aceita como parte da elite global, frequentar os mesmos clubes, esquiar junto. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Mas o que esses oligarcas não contavam é que, ao não abrirem plenamente a Rússia para o capital global, eles teriam o seu ingresso no clube dos ricos postergado, não importando quantos bilhões pudessem ganhar.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E, enquanto isso, a sociedade russa agonizava com a estagnação dos anos 1960-80 se tornando depressão, queda nos rendimentos e na qualidade de vida. Eis que a ampla coalização que governava a Rússia com Yeltsin se realinha, Putin é alçado a primeiro-ministro, mostra competência e é, praticamente, imposto como sucessor.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O plano Putin era simplesmente retirar da vida política russa os oligarcas mais selvagens, enquadrar os que ficassem, fortalecer as forças armadas e o Estado e, por outro lado, impor uma política social e econômica que permitisse, ao menos em parte, que a população em geral deveria usufruiu dos ganhos econômicos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O estamento que colocou Putin no poder, o Rússia Unida, era um "partido" que só poderia existir em um país pós-socialista, era tanto mais um ajuntamento de militares, ex-membros da inteligência e, também de diplomatas que nem desejavam a volta do "comunismo", mas tampouco lhes interessava a hegemonia dos neoliberais radicais.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os oligarcas recém-enriquecidos precisavam do Estado. E Putin sempre gostou de se ver como um ser Hobbesiano, pronto a colocar fim no estado de natureza dos primeiros anos do capitalismo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Eleito com pouco mais de 50% em 2000, Putin ganha com 71% em 2004, mas não lhe é permitido uma nova recondução. Medvedev, seu imediato, concorre e ganha, representando uma figura mais liberal no arranjo do Rússia Unida. Se havia alguma expectativa de que Putin sairia de cena, isso caiu por terra com os efeitos da crise de 2008-09 e o uso da Geórgia pelo Ocidente, com fins de desestabilizar o Cáucaso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">As controversas eleições de 2011 foram o maior teste ao Putinismo. Mas as manifestações massivas, causadas por suspeitas de fraude que teriam ajudado o Rússia Unida, servem para que Putin seja candidato presidencial novamente, inclusive mais fortalecido.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Mas Putin só vence 2012 com 63%. O que se instala a partir dali é uma verdadeira blitz, na qual Obama muda de posição e passa a investir duramente contra a Rússia, com os EUA tomando posição contra a Rússia fosse na Ucrânia ou na Síria, a aplicação de sanções, a desvalorização do preço do petróleo e tanto mais.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A Rússia iria tomar um xeque-mate, mas não tomou. Putin nem entregou a Crimeia nem permitiu a remoção do regime sírio, seu aliado, contra quem os governos ocidentais não hesitaram de achar, inclusive, uma solução "afegã" -- o emprego de fundamentalistas islâmicos crúeis e altamente violentos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Com as forças armadas em suas mãos, com a nomeação de seu aliado Sergei Shoigu para a defesa, a Rússia mostrou destreza e uma eficiência impensável na Síria. A propaganda antirrusa criou uma coesão interna em relação a Putin impensável. O presidente se torna uma unanimidade.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">De outro lado, a política conservadora em matéria comportamental causa controvérsias dentro e fora da Rússia; de um lado, o presidente espera agradar à maioria silenciosa do país. Do outro, cria desavenças e é duramente criticado.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Putin, de todo modo, é um ser estranho, exótico, que se movimenta com desenvoltura pela polaridade do nosso tempo, para além do que se pode chamar de populismo de direita e populismo de esquerda, sem deixar de ser uma espécie populista, ou ser um pós-populista.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Operando no limiar entre o que seria o <i>establishment</i>, de direita ou de esquerda, e do neopopulismo, igualmente de direita ou de esquerda, Putin consegue responder menos do que os velhos enxadristas da direção soviética ou os jogadores de pôquer americanos; é na política como na vida um judoca, pronto a aplicar golpes usando contra seus adversários sua própria força.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Na verdade, Putin preside um grande partido-ônibus nacional, com as características mui peculiares de um país que passou por uma experiência socialistas, sendo um grande enigma para as forças políticas do século 20º e suas estratégias em frangalhos. Como também o é para as novas forças políticas, que tentam reinventar um sentido para o político no século 21º.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Putin está além do arranjo político que preside e comanda, isso faz parte de jogo, mas lança sombras sobre o que será da Rússia sem ele. O avanço da melhora da vida na Rússia mantém essa legitimidade, um certo equilíbrio entre as classes, nos quais a oligarquia se comporta minimamente e participa do jogo nacional, o qual gera dividendo para o resto da sociedade. O grande pacto que ruiu no Brasil não ruiu na Rússia.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">No ano 2000, quando Putin entrou na presidência, a Rússia estava no mesmo patamar do Brasil em matéria de desenvolvimento humano, mas hoje está trinta posições à frente do nosso país. Se a melhora da renda foi o destaque dos anos 2000, a manutenção da boa educação e melhora da saúde são os destaques da Rússia dos sofridos anos 2010.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Simplesmente exclamar, histericamente, sobre o autoritarismo de Putin, certamente muito menos autoritário do que Yeltsin, é um erro. Desvendar o enigma político, não de Putin, mas do seu Putinismo, é essencial: decodifica-lo e readequa-lo é tarefa essencial e urgente. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-63239664191873012192018-03-15T21:08:00.001-03:002018-03-19T22:32:36.236-03:00A Execução de Marielle: Os Idos de Março e o Brasil<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUOKGWbHIhlJrJN5L9_xkyDDNgGTxXUSvrtl4eVCd2-cE6vpjhCrRdt-3aSMrQrEFhRt14KmyHqYXoHllXaIe21hEBfwnmVsd-ulszVpnD6cjCRv35NajxCEIbbjuLpovmcm0KlqCQbh4/s1600/Marielle.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiUOKGWbHIhlJrJN5L9_xkyDDNgGTxXUSvrtl4eVCd2-cE6vpjhCrRdt-3aSMrQrEFhRt14KmyHqYXoHllXaIe21hEBfwnmVsd-ulszVpnD6cjCRv35NajxCEIbbjuLpovmcm0KlqCQbh4/s1600/Marielle.jpg" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;"><a href="https://www.blogger.com/null" name="1.2.21" style="background-color: white; font-family: "Times New Roman"; text-align: start;"><i><br /></i></a></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;"><a href="https://www.blogger.com/null" name="1.2.21" style="background-color: white; font-family: "Times New Roman"; text-align: start;"><i>Acautelai-vos com os Idos de Março (Beware the ides of March)</i></a></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;"><a href="https://www.blogger.com/null" name="1.2.21" style="background-color: white; font-family: "Times New Roman"; text-align: start;"><i><br /></i></a></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;"><i>Cena II, Ato I de <a href="http://shakespeare.mit.edu/julius_caesar/full.html" target="_blank">Julio Cesar</a> de William Shakespeare</i></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="https://www.blogger.com/null" name="1.2.21" style="background-color: white; font-family: "Times New Roman"; text-align: start;"><i><br /></i></a></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Este artigo estava sendo gestado durante o Carnaval, à espera das movimentações eleitorais, mas ele acabou postergado, tantas e tantas vezes diante dos fatos que se atropelavam: o último, a execução fria, brutal e abjeta da vereadora carioca pelo PSOL Marielle Franco -- mulher, negra, favelada e defensora dos direitos humanos -- em pleno centro do Rio, contudo, me obriga a reedita-lo mais uma vez e, finalmente, a publica-lo. Foram quatro tiros na cabeça, além dos tiros que alvejaram e também mataram o motorista.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Se até o Carnaval o que se esperava era o andamento da funesta reforma previdenciária e a resposta de Luciano Huck se iria aceitar sua indicação como candidato presidencial do "centro" -- o nome que a direita liberal traducional se deu --, o fato é que as coisas se aceleram mais uma vez, dessa vez em uma velocidade e sentido perigosíssimos. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Sem votos para aprovar a reforma da previdência, Temer, de maneira autocrática e inconstitucional, decidiu por uma intervenção federal no Rio, o que impediria a própria reforma -- uma vez que emendas à Constituição são proibidas durante a vigência de intervenções -- embora tivesse causas obscuras.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A intervenção, comandada pelas forças armadas e sem implicar na remoção do governador, feita sem consultar os conselhos da República e de Defesa, já anunciada de pronto é mais do que uma jabuticaba constitucional, mas sim uma medida de exceção legítima: e<i>stado de sítio não declarado e disfarçado na embalagem de uma mera intervenção federal</i>, a medida nem foi a sonhada e necessária intervenção para corrigir o grave estado de coisas no Rio, e ainda atua de maneira mascarada como a reintrodução do elemento militar na vida política nacional <i>para fazer o que não lhe compete</i>.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Sim, passamos 21 anos de ditadura militar, e isso foi recentíssimo, no qual não apenas violações aos direitos humanos aconteceram, como a desigualidade social ainda por cima piorou enquanto as forças armadas funcionaram como um partido político único, se confundindo com a burocracia de Estado. Que não se venha dizer que vivíamos tempos mais tranquilos, pois foi justamente no regime militar que as grandes cidades foram desorganizadas, junto com a já precária estrutura socioeconômica nacional, gerando o terreno propício para a escalada de violência que se viu depois.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Voltemos a Marielle: negra, mulher, favelada. Um tipo de pessoa que, a duras penas, só poderia ter ascendido ao parlamento da segunda maior cidade do país durante a nossa tentativa democrática. A mesma experiência que Temer está disposto a cessar pela caneta e pelas armas. A violência que vitimou Marielle é semelhante àquela que ele cansou de denunciou na comunidade de onde veio, a mesma que assola os rincões do país, no campo e nas florestas, mas que não chegava como violência política nos grandes centros. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Essa violência ter chegado aos grandes centros, contra representantes políticos eleitos e com atuação oposta a tais violações, significa que ninguém está a salvo, que não só os desamparados estão na mira como seus defensores são, igualmente, matáveis. Algo parecido aconteceu na Ditadura Militar quando o deputado Rubens Paiva, opositor do regime, foi morto em 1971, sete anos depois do golpe e três depois de seu endurecimento, em um movimento de calar qualquer dissidência institucional. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Até agora, o processo ilegítimo de impeachment, bem como o (ab)uso dos tribunais como forma de tirar políticos indesejáveis do jogo parecia ser o máximo a que chegávamos, embora grampos ilegais e a participação da polícia federal no jogo, bem como a violência policial contra manifestações populares, já insinuassem o pior. Pois bem, cruzamos essa linha e, possivelmente, <i>cruzamos o Rubicão</i> -- como se diz do célebre episódio no qual Julio Cesar atravessou o referido rio italiano com trajes militares, algo proibido em respeito à natureza civil da república romana, para dar um golpe de Estado.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A referência a César tamanha ganha uma outra dimensão, na farsa da maldição de Março: como demonstra a célebre frase do <i>Advinho</i> na clássica peça de Shakespeare, é sempre precisar se acautelar com os Idos de Março, uma frase que vale a pena ser lembrada no Brasil, um lugar onde muita coisa ruim se gesta neste mês -- talvez porque a oligarquia tenha um particular gosto de maquinar entre o final do ano e durante o Carnaval. Vide o golpe militar, concluído em 1º de abril de 1964, mas maquinado ativamente durante todo o mês de março de 1964.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Sim, poderia ser um giro populista de Temer, mas isso parece improvável. </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Alguns dirão que Temer buscou uma desculpa para não levar a cabo a </span><i style="font-family: georgia, "times new roman", serif;">natimorta</i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> reforma da previdência, outros dirão que pode ter sido uma busca desesperada por popularidade, alguns defenderão que se trata de ambos. No entanto, isso é mais complexo: o que fez Temer ter medo, </span><i style="font-family: georgia, "times new roman", serif;">com o perdão do cacófato</i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">, nunca foi impopularidade, mas que a impopularidade pudesse ser mais do que um fato social, um fato político, o que nunca ocorreu por diversos fatores, inclusive por culpa da esquerda e sua estratégia eleitoral.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Os movimentos de Temer miram a governabilidade, e sua sobrevivência política e pessoal, não a legitimidade. A indignação social não lhe interessa, preocupa ou comove: se isso não tiver efeitos políticos é inofensivo. E por um jogo institucional, Temer tem conseguido manipular suas peças, enquanto as ruas estavam indecisas e dispersas. Pelo menos até hoje, quando largas manifestações tomaram o país em memória e homenagem a Marielle, sobretudo em São Paulo, onde isso se junto a uma massiva manifestação de professores e servidores municipais -- os quais foram duramente reprimidos ontem, quando da votação da pífia reforma previdenciária municipal.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">As massas, por outro lado, não vão perdoar Temer ou o (P)MDB por conta dessa medida, talvez se choque que a militarização da segurança não produza tantos efeitos assim -- o México e a Colômbia são bons um exemplo disso, e é um fracasso --, mas seu desejo se explica: o Rio era mesmo o caso de uma intervenção federal, só que civil, democrática, com o afastamento do governador e a aplicação de um profundo plano de resgate financeiro e social, com a regularização do pagamento dos funcionários público e normalização do serviço público. Na falta de nenhuma intervenção, que a esquerda não concebeu ou faria, veio alguma intervenção, e entre nada e alguma coisa, a população embarcou.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Falando em México e Colômbia, por sinal, são modelos que a oligarquia brasileira deseja para o país: economicamente austeras, politicamente autoritárias e possuidoras de uma estranha relação entre crime organizado e Estado, basicamente quase toda dissidência política ou social é dizimada enquanto um jogo e contentes entre as frações da elite disputa o poder -- na Colômbia, o candidato de esquerda com chances de vencer <a href="http://www.colombiainforma.info/atentado-a-gustavo-petro-cronica-de-una-muerte-anunciada/" target="_blank">quase foi executado num atentado</a>, no México, a esquerda periga ganhar, embora uma série de crimes bárbaros continue a acontecer sob o comando de cartéis de tráfico como, por exemplo, o <a href="http://descurvo.blogspot.com.br/2014/11/os-43-do-mexico-memoria-das-lutas-da.html" target="_blank">caso de 43 estudantes ativistas "desaparecidos"</a>, há pouco mais de três anos, em uma ação de cartéis junto com oligarquias políticas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">No Brasil, a fé que o processo eleitoral vá funcionar, contudo, ainda está em alta. Na melhor das hipóteses podemos estar no meio dos anos 1950, quando o JK ganhou e o Marechal Lott conseguiu garantir sua posse. Mas pode ser que não. A Nova República, apesar de sua mediocridade econômica, conseguiu fazer do Brasil um país mais estável do que a média das nações no mesmo patamar, agora aquele pacto parece que realmente acabou. A falta de estratégia entre os setores democráticos pode levar a um colapso, que vem em ondas, aos poucos.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Marielle, talvez não ironicamente relatora da Comissão Parlamentar sobre a Intervenção "federal" do Rio, é uma vítima de crime político estranhíssimo. Ate agora, a junta fisiológica que governa o Brasil prefere se apropriar do crime como se isso provasse a "necessidade da intervenção", mas há sem sombra de dúvida muito mais escondido por detrás disso. Realinhar os setores progressistas, superar divergências pueris, e ter clareza na ação são essenciais para os meses -- decisivos -- que nos aguardam. Vamos à luta.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
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Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-35964566404178890302018-01-30T16:08:00.000-02:002018-01-30T16:08:53.697-02:00O Enigma das Eleições de 2018<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCKoM0DNLYv1i8zhpPpCHhhVHEj_09NgnwtZysaUysCqGsZImG1wMxCf3meNjRgt98HNd6ftVnbfwRXHNpZVU2qh35Pu_39n-5ynWZcXhUNg3xK-nOwIAxsFQqRjzNJ_CvK-uiFoG3w9s/s1600/Elei%25C3%25A7%25C3%25B5es+2018.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="407" data-original-width="610" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCKoM0DNLYv1i8zhpPpCHhhVHEj_09NgnwtZysaUysCqGsZImG1wMxCf3meNjRgt98HNd6ftVnbfwRXHNpZVU2qh35Pu_39n-5ynWZcXhUNg3xK-nOwIAxsFQqRjzNJ_CvK-uiFoG3w9s/s400/Elei%25C3%25A7%25C3%25B5es+2018.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O ano de 1988 matizou o tradicional autoritarismo brasileiro. Se a participação popular não se tornou plena como o esperado, ao menos com eleições a cada dois anos, com as disputas municipais intercaladas com as gerais (nacionais/estaduais) traziam um suspiro: agora, trinta depois, o que espera do momento em que vivemos?</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Isso não é só sobre "Lula condenado", mas de uma lógica na qual a política deve estar debaixo do que diz o "mercado" e, mais precisamente, da oligarquia dominante do país. Nenhuma razão real maior do que o "<a href="http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,dia-normal-diz-temer-sobre-impacto-de-julgamento-de-lula-nos-mercados,70002163141" target="_blank">porque o mercado quis</a>" aparece, embora discurso e memes sejam produzidos. Discute-se abertamente a retirada de candidatos, ou como se fecha as portas para a ou b e como se elegerá o candidato "do centro" -- que, a bem da verdade, é o candidato da direita espiritualmente alinhado a isso que está aí nas ruas.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A depuração eleitoral pouco tem a ver com a democracia, mas com o alinhamento com os interesses mais elementares das grandes corporações econômicas, em escala nacional e internacional.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Vejamos bem, as pessoas comuns jamais se enganaram por completo, mas sabiam que em alguma medida, aquele brecha lhes permitia influir um pouco nas assimétricas relações de poder do país -- para muito além do ceticismo ou do encantamento absoluto dos intelectuais --, mas o que se desenha aqui é muito complicado.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">E é justamente essa esperança nas urnas, mesmo em um momento conturbado como este, que faz com que as ações políticas, em um país com nervos à flor da pele, seja postergados em intenções de voto -- que não agradam aos novos donos do poder, o que não se restringe à liderança de Lula, mas a impopularidade crônica e profunda dos candidatos que apoiam o estado de coisas.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ironicamente, essa esperança resguardada não se materializa em grandes mobilizações espontâneas, nem muito menos grandes eventos organizados, pois os grandes sindicatos ou movimentos preferem, no máximo, fazer paralisações programadas e com duração certa. E em dados momentos, nem parece o caso de desconfiar de conluio, porque a falta de luta é causa do definhamento sobretudo dos sindicatos.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Esse messianismo eleitoral, de tão comportado, se torna terrivelmente perigoso no momento atual, no qual uma espécie de hobbesianismo de mercado toma conta do Brasil pós-2016: uma declaração pública de que eleições podem atrapalhar a economia, o que seria um escândalo inadmissível há dez anos no Brasil. Essa racionalidade mágica dos economistas de mercado sobre as paixões da plebe, que nem sabe o seu próprio bem -- em argumentos infantilistas que lembram a colonização -- é sim uma forma de hobbesianismo, embora o projeto em si seja caótico.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">É como se o Leviatã de Hobbes tomasse vida e resolvesse realizar o estado de natureza que -- e como -- o pensador inglês imaginava. A desagregação do país, com aumento dos problemas sociais, pestidades variadas (até de febre amarela) e a violência ao estilo mexicano já estão postas, mas isso não é falta do avanço do projeto que está agora no poder, mas consequências imediatas de sua breve hegemonia. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A <a href="http://jovempan.uol.com.br/noticias/fhc-defende-politica-la-macron-e-ironiza-joao-doria.html" target="_blank">grande cereja do bolo na opinião de FHC</a>, como <a href="http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,nada-fora-da-constituicao,70001891239" target="_blank">repete o comandante do exército general Villas-Bôas</a>, e outros políticos do establishment, seria o "Macron brasileiro", isto é, qualquer figura anódina ideologicamente e com um aparato capaz de convencer o povo brasileiro a suportar o arrocho eternamente, tudo em nome de uma razão maior. Mas esse campo não tem consenso nem votos. Até o Macron real vive às turras com <a href="https://www.washingtonpost.com/world/europe/why-does-emmanuel-macrons-presidential-approval-rating-keep-falling/2017/08/19/c48a069a-82a4-11e7-9e7a-20fa8d7a0db6_story.html" target="_blank">sua queda de popularidade</a>. </span><span style="font-family: georgia, "times new roman", serif;">Gerir medidas não democráticas sob uma aparência democrática tem limites. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">É a partir dessa constatação que República fica a perigo: enquanto a plebe espera poder, realmente, exprimir seu modesto poderio político, hoje mais do que nunca, as elites, absolutamente hegemônicas esperam não mudar nada. É essa aceleração que veremos até o final do ano, com as eleições, ou antes, sobretudo se Temer cometer a estultice de por em votação a derrocada da previdência social, amplamente rejeitada entre a população.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Na Rússia, o mito da bondade quase divina do Czar só se desfez em 1905, quando uma multidão de apoiadores marchou até o Palácio de Inverno para clamar por melhores condições de vida -- e foi recebida à bala pela guarda imperial, era o <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Domingo_Sangrento_(1905)" target="_blank"><i>Domingo Sangrento</i></a>. Até então, as massas acreditavam que os conselheiros do Czar o enganavam ou lhe omitiam a realidade do povo russo, mas ao mesmo tempo jamais haviam tentando falar diretamente com ele, coisa que só aconteceu mediante a extrema necessidade.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">No Brasil, o enigma da democracia com freio de mão puxado pode vir à tona, justamente em outubro, quando as massas vão apostar todas as suas fichas. Até aqui, o povo sempre se resignou numa cidadania quase circunscrita ao voto quadrienal, justamente por isso, espera que suas preces sejam atendidas mais do que nunca, seja pela obediência, seja pela necessidade de anos duros como estes. Essa desconexão entre expectativas, da massa e do mercado divorciado da democracia, pode produzir uma enorme fricção entre o segundo semestre deste ano e o começo do ano que vem.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">São dois trens em alta velocidade vindo um em direção ao outro no mesmo trilho. A questão é que estamos observando atônitos, e até aqui ainda é possível evitar o desastre.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
</div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-20429839499046439362018-01-26T16:22:00.001-02:002018-01-26T16:22:36.152-02:00Lula Condenado e uma Direita "Marxista"<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMuip1vGYplh1WWEtuM52cRVZfrvjR0PdRfXXXt-_y0wSClbg7iSZ2dGkDVjKdehfA-mf91r2p1thkhyphenhyphenv71n5dU34uPdABza8HT-dJ_40bR1YIE8V8XM0UrFmiTJuaAZa1yV9QgLEPulo/s1600/salgado_os+Trabalhadores.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="414" data-original-width="620" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMuip1vGYplh1WWEtuM52cRVZfrvjR0PdRfXXXt-_y0wSClbg7iSZ2dGkDVjKdehfA-mf91r2p1thkhyphenhyphenv71n5dU34uPdABza8HT-dJ_40bR1YIE8V8XM0UrFmiTJuaAZa1yV9QgLEPulo/s400/salgado_os+Trabalhadores.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Sebastião Salgado -- Trabalhadores</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Lula foi condenado, o que não é surpresa alguma, salvo para quem desconhece como funciona o judiciário ou nutre alguma ingenuidade politica sobre o quadro brasileiro atual: Lula teve a condenação confirmada, com muito rigor e poucas provas do que ele alegadamente teria feito -- os desembargadores sulistas blindaram a decisão de Moro e atacaram Lula, seja por um exercício de corporativismo ou por convicção ideológica.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A questão não é essa, mas de como a direita se lançou à luta contra o PT e Lula, no custe o que custar, enquanto os mesmos insistiram na mesma, e já decodificada estratégia: a conciliação e a tentativa de compor, e agir exclusivamente institucionalmente. o Brasil, portanto, vive o paradoxo de ter uma esquerda conciliadora e institucionalista e uma direita que, representando os interesses de uma elite cada vez mais rica, faz enfrentamento direto e sem meias palavras.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Uma vez no governo, e sobretudo no que diz respeito à sua sucessão, Lula caminhou cada vez mais para uma estratégia de conciliação, distanciamento dos movimentos sociais e transformando o PT, cada vez mais, naquilo que chama na ciência política de <i>big tent </i>-- grande barraca ou tenda, vertido ao português no prosaico "partido-ônibus" (uma tradução não literal de outro termo, na verdade, o <i>catch-all party</i>, partido pega-tudo), isto é, um partido mais e mais capaz de aglutinar setores variados ao centro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O combo era a aliança com o PMDB, para ter anteparo institucional nos termos do jogo tradicional da política nacional, política de conciliação entre empresários "nacionais" e trabalhadores pelo <i>desenvolvimentismo</i> -- política de fomento ao capital via BNDES, grandes fusões gerando empresas nacionais com atuação internacional, compromisso de empregabilidade e aumento salarial, tudo junto e andando junto, mas sem uma análise ou plano de garantia da produtividade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Isso deu errado logo, sobretudo com a escolha lulista de encabeçar isso com sua figura pessoal e sucessores técnicos designados, todos sem experiência eleitoral e na política propriamente dita. A estrategia falhou, também, pela incapacidade da "burguesia nacional" funcional enquanto tal, ou mesmo como classe, e não ter garantia nenhuma que ela poderia jogar essa aliança pela janela ao menor sinal de perigo, o mesmo valendo para o PMDB -- sem esquecer de que a distância da sociedade civil, seus ativistas e movimentos, alijava o PT daquilo que em poucos anos o transformou num partido grande em um país continental.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Do ponto de vista da corrupção ou da ilegalidade, fatalmente o desenvolvimentismo, enquanto relação sistematizada do capitalismo de Estado brasileiro, não inovou, incrementou ou diminuiu os nossos problemas históricos. Políticos e, acima de tudo, operadores de empresas privadas, lobbistas e doleiros ganharam muito dinheiro, mas os políticos foram rifados por eles enquanto os operadores se salvaram com as delações premiadas. Não há provas de que Lula tenha se beneficiado pessoalmente, mas isso não parece importar para quem o acusa ou apóia a acusação.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Lula é culpado politicamente e merecedor de sua condenação então? Não. O processo como foi conduzido foi péssimo para a história jurídica do país, sobretudo. Uma medida radical e desarrazoada sem fundamento racional. Mas o que eu estou dizendo é justamente o contrário: isso só aconteceu por uma fantástica soma de erros estratégicos na política, os quais se assentam numa premissa de que todos os agentes no jogo iriam agir racionalmente conforme seus interesses.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">É verdade que uma pequena minoria se beneficiou muito do <i>impeachment</i>, mas a grande maioria de quem apoiava a remoção de Dilma a qualquer custo não se beneficiou até agora. O mesmo vale para a condenação de Lula, que avizinha inclusive a possível proscrição do PT enquanto legenda, caso ele seja capaz de sobreviver ao dilúvio.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A questão é que uma pequena oligarquia, em aliança com a oligarquia ocidental, sai ganhando de todo esse processo e, a rigor, é capaz de se blindar dos seus efeitos nocivos, inclusive construindo novos bodes expiatórios e cortinas de fumaça ao longo dos próximos anos. E basta olhar a história recente do Oriente Médio e da África para saber que países podem piorar muito e com uma rapidez incrível.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O Brasil, contudo, sempre termina sendo comparado com a Europa e os Estados Unidos sempre que processos históricos ocorrem aqui, o que este blogueiro tem dito desde 2013 que não é bem assim: talvez tivéssemos nos saído melhor naquela ocasião se estudássemos a revolução iraniana em vez do maio de 68 francês, seja para conseguir fazer as potencialidades de 2013 se realizarem ou para enfrentar os impasses que, romanticamente, parte da esquerda não queria admitir que já estavam presentes ali.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">No mais, é preciso entender que a grande aliança das esquerdas com o sindical-populismo brasileiro se esgotou, posto que está esgotada e decodificada, seja porque a oligarquia brasileira, sob a máscara neutral do "mercado", adotou uma estratégia marxista contra o espelho: fazer lutar de classes, disputar a hegemonia cultural (à la Gramsci) e construir intelectuais orgânicos para direcionar, acima de qualquer suspeito, o Estado a partir de seu interior.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Isso pode ser o resultado justamente da falta de combatividade da esquerda, o temor das elites em verem os pobres ascendendo, o medo de perder seus privilégios depois de 2008, ou mesmo pela enorme quantidade de ex-esquerdistas nas fileiras da direita partidária brasileira. Diante da impossibilidade de diálogo, Lula e o PT não sabem como agir. E talvez não saibam ou estejam em rejeição sobre os próprios passos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Há quem, diante dos erros do PT, responda o bom e velho "não é comigo" diante da condenação de Lula há quem, diante do quadro grave, pense que não é hora para mudar estratégia e pensar em autocrítica. Não, o futuro da luta social, da ansiada melhora dos nossos parcos índices sociais, não passa pela estratégia petista, mas isso não implica em permitir injustiças contra Lula ou o PT, injustiças que podem se reproduzir contra um futuro presidente mais razoável de qualquer partido -- vide que Lula não é o primeiro, e pode nem ser o último líder político popular e eleito pelo voto a ter sua vida desgraçada no Brasil.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Entre o petismo e anti-petismo, inclusive de esquerda, é preciso pensar além, sem deixar de abordar questões sensíveis ao esgotamento do PT -- sem recorrer ao raciocínio do realismo mágico de achar que deixar Lula e o PT à própria sorte é bom ou que essa situação não é fruto de erros estratégicos crassos, e que o PT tem reais dificuldades para implementar um plano b. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">No curto prazo, reverter minimamente o destino da política econômica atual, baseada no divórcio definitivo do "mercado" com a sociedade, e frear e reverter as contrarreformas é uma tarefa essencial. Menos é mais. A estratégia de defesa judicial, colateralmente, sempre dependeu disso, embora talvez o próprio não entendesse isso. O fato é quem optou, e pratica, a luta de classes é a direita e a oligarquia brasileira, ainda capazes de mobilizar as classes médias e usar de mecanismos morais para comandar o país.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-29428712651600782362018-01-24T00:40:00.002-02:002018-01-24T00:43:57.179-02:00O Que Será de e o Que nos Importa Lula?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi49gLD-TvjCCBg8jqFhvjK-9a1GCo_UnlqN767UpBwPSALKBXVx_EDogQiEhnq8XK_Km3yrzSo3_SwfniQXSNQuSbs6c8BemNgGozzZHYWCiSLasaSjABe1kXAYzSDg2vwlWuhCo-E4e8/s1600/Lula.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="929" height="247" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi49gLD-TvjCCBg8jqFhvjK-9a1GCo_UnlqN767UpBwPSALKBXVx_EDogQiEhnq8XK_Km3yrzSo3_SwfniQXSNQuSbs6c8BemNgGozzZHYWCiSLasaSjABe1kXAYzSDg2vwlWuhCo-E4e8/s320/Lula.png" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Hoje, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, será julgado em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Será o mais retumbante julgamento de um político na história brasileira. E como não poderiam faltar ingredientes dramáticos, as provas que pesam contra o ex-presidente são frágeis. É convenhamos algo <i>sui generis</i> na história nacional e, talvez, universal.</span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A própria sentença de primeiro grau, proferida pelo célebre juiz Moro, em si já aponta que não se sabe o que teria feito Lula para dar em troca ao apartamento que teria recebido como propina e, ao final, ocultado -- sendo que a rocambolesca história do <i>triplex</i> tampouco consegue ser definitiva a ponto de comprovar que, realmente, que o ex-presidente tinha a posse efetivo daquele imóvel.</span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Lula não será o primeiro presidente acusado de algo do tipo, Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas também foram atacados. Nenhum deles se viu, contudo, às voltas com um processo judicial por esse motivo. Um foi levado ao suicídio. O outro, teve seus direitos políticos cassados pela Ditadura Militar e, no fim das contas, faleceu em um acidente hoje contestado. A novidade é, portanto, a solução judicial, algo que atende às exigências de legitimidade e normalidade atuais, tanto que isso virou uma coqueluche na última década.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Sim, o Direito na modernidade, impregnado com laicização de inúmeros elementos teológicos, confirma o julgamento como seu ato final e decisivo. <b>Nem sempre foi assim na história do Direito</b>. O julgamento não era propriamente o momento culminante, quase como um fim e o meio necessário e onipresente, à esfera jurídica. O livro do bíblico do Apocalipse e sua apreensão na esfera política foram, sem sombra de dúvidas, essenciais. Ainda assim, não faltam célebres julgamentos ao longo da história que ajudaram, quase sempre na sua desdita, a moldar o mundo em que vivemos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Do julgamento se tornar o momento por excelência do Direito, portanto, não é novidade, mas do julgamento começar a engolfar a política é algo mais recente, mas no Brasil ela adquiriu uma gradual e impressionante importância. Mudar o regime de coisas sai de cena para tirar de cena, mediante punição, os atores que não dançam conforme a música na nossa sereníssima ordem.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ora, vejamos, a jurisdição, e sobretudo a de natureza criminal, se torna uma espécie de panaceia, de cura de todos os males, referendada pela população, mas movida sobretudo pelo próprio estamento judicial que provém, salvo algum caso raro, das classes mais abastadas. Não há muitos juízes ou procuradores de origem pobre ou negra, há pouco, havia pouquíssimas mulheres.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Tudo isso culminar nessa penumbra do Brasil atual. Na qual interesses econômicos poderosos de dentro e fora do Brasil se unem pela mudança de modelo de Estado no país, às expensas dos mais humildes, à falência do sistema político nacional, uma consequência quase que esperada do arranjo do 88 que, contudo, tem a responsabilidade também de Lula e do PT, embora não apenas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O fato é, no que diz respeito ao julgamento de amanhã, Lula, pelas provas carreadas nos autos, dificilmente poderia ser condenado. Mas seus inimigos políticos não estão preocupados com isso, apenas querem um ritual que legitime sua prisão e, sobretudo, seu afastamento da política. Novamente, vemos banalidades jurídicas sendo repetidas talvez pela culpa ou pela vergonha, mas é certo que tudo que ninguém se atreve em dizer que este processo traz provas cabais contra o ex-presidente.</span></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Isso traz em si um conteúdo de enorme gravidade, já que Lula, ironicamente, lidera a corrida presidencial em todas as pesquisas. Lula sempre foi um conciliador, um sindicalista moderado, cuja carreira política se deu, paradoxalmente, junto à esquerda brasileira pela singela razão que um sempre dependeu do outro. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Mas o Lula político, e presidente, só poderia ser acusado de compôr demais, de se aliar demais, não de ser radical. Radicalismo, capaz de tirar o Brasil de vez do prumo, é a maneira como Lula é combatido à direita, seja por sua origem pobre ou pelo intento, aí sim, pouquíssimo razoável no âmbito conservador -- o que não é pouca coisa, já que estamos falando sobre e a partir do derradeiro país do hemisfério ocidental a abolir <i>formalmente</i> a escravidão.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O Lula que está sendo julgado não é o Lula real, bem concreto e conhecido depois de oito anos de governo, mas um Lula que está além do mesmo. Esse Lula que, com ou sem razão, ainda é a esperança dos desvalidos em um momento de grave crise é o réu de hoje. E sua condenação nesses termos, e nessas circunstâncias, pode nos conduzir ao agravamento da nossa crise, porque é um fato mais grave até do que Lula, mesmo depois de tanto tempo, ainda continua sendo a principal referência para aqueles que querem democracia e justiça social.</span></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ainda que não se ache nada disso de Lula, e que milhões estão simplesmente enganados, é de se ponderar que esse tipo de flexibilidade punitiva, quase sempre voltada para esquerdistas ou para a direitistas inúteis, não parece lá prenúncio de melhores dias, haja vista o impeachment de Dilma pelo "conjunto da obra" e suas consequências na nossa vida prática.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Mesmo que se diga que se prove que, politicamente, isso é a coisa certa a ser feita, o fato dela ser feita do modo errado e por meios inúteis, me desaconselham a apoiar a saída. E tudo piora quando dificilmente essa é a coisa certa a fazer para melhorar a sofrida política do país.</span></div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-70983836968680222562018-01-15T14:17:00.000-02:002018-01-15T14:22:58.528-02:00Tudo que é Bolsonaro Desmacha no Ar? <div style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEin23VboUCki5U-gAlIWDTsj9_CwrTyH0DJ80cFVnpcqpw-13ETXoa2O1HH90AlK84e_-du33Tzy8mOOUIurYsCi4JVZfgfumg0fqkzns39xowsAKAXimZKsRKKAibtEIZezPbrRzVC7a0/s1600/Bolsonaro_Outdoor+pintado.jpe" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="172" data-original-width="292" height="188" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEin23VboUCki5U-gAlIWDTsj9_CwrTyH0DJ80cFVnpcqpw-13ETXoa2O1HH90AlK84e_-du33Tzy8mOOUIurYsCi4JVZfgfumg0fqkzns39xowsAKAXimZKsRKKAibtEIZezPbrRzVC7a0/s320/Bolsonaro_Outdoor+pintado.jpe" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Outdoor simpático a Bsolnaro pichado em Lavras-MG (<a href="http://www.jornaldelavras.com.br/index.php?p=10&tc=4&c=17448&catn=1" target="_blank">retriado daqui</a>)</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"></span><br />
<table class="cquote" role="presentation" style="border-collapse: collapse; border: none; color: #222222; font-family: sans-serif; font-size: 14px; margin: auto; width: auto;"><tbody>
<tr><td style="border: none; padding: 4px 10px; vertical-align: top;"><div style="text-align: justify;">
<i style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; text-align: justify;">Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; text-align: justify;"><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; text-align: justify;">(</i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; text-align: justify;">Karl Marx e Friedrich Engels em <b>O Manifesto Comunista</b>, fazendo uma irônica referência à fala de Próspero na Cena I do </span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ato IV de <b> </b></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b><a href="http://shakespeare.mit.edu/tempest/full.html" target="_blank">A Tempestade</a> </b>de William Shakespeare:</span><i style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> </i><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: x-small;"><i><a href="https://www.blogger.com/null" name="4.1.161" style="color: black;">You do look, my son, in a moved sort,/</a><a href="https://www.blogger.com/null" name="4.1.162" style="color: black;">As if you were dismay'd: be cheerful, sir./</a><a href="https://www.blogger.com/null" name="4.1.163" style="color: black;">Our revels now are ended. These our actors,/</a><a href="https://www.blogger.com/null" name="4.1.164" style="color: black;"><b>As I foretold you, were all spirits and/</b></a><a href="https://www.blogger.com/null" name="4.1.165" style="color: black;"><b>Are melted into air, into thin air</b>:</a></i></span><i style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;">)</i></div>
</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>Bolsonaro</b>. O que dizer disso? Vivemos em tempos distópicos no mundo, e o Brasil não é uma ilha. A implosão da <i>ordem normal</i> das coisas cria uma vertigem, um efeito pelo qual o chão se desfaz, abalando nossas mais elementares crenças na realidade. Essa realidade, esse regime de símbolos que supúnhamos ser sólido como o chão sob os nossos pés, sempre foi isso: um dos muito sistemas, ou modos do sistema, possíveis, mas nem por isso a sensação deixa de ser menos nauseante, pois nem mesmo a consciência dessa abstração nos livra dos efeitos materiais e concretos desse processo. <i>Tudo que é sólido desmancha no ar</i>. E como desmancha. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A distopia vem quando esse rompimento não cria nem a liberdade nem um novo simulacro, uma nova <i>matrix</i>, dando vazão à incerteza e a emergência de seres apocalípticos. Jair Messias Bolsonaro expressa bem isso: para uns ele é o <i>messias</i> retornado e necessário enquanto juiz, ou possível, para outros ele é o <i>anticristo</i> -- duas fantasias apocalípticas recorrentes e, também, simétricas, que ilustram o esforço trascendente do velho mundo em encarar seu limiar, seu desmanche.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O que Marx e Engels inovaram, captando a fina ironia de um outro grande dialético, Shakespeare, sobre a insustentável leveza dos planos de representação é que o capitalismo, como qualquer sistema despótico, não só constrói seu planos ideológico e simbólico de realidade pela destruição do antigo como, igualmente, destrói o que cria progressivamente e como regra, instituindo novos planos e novos modos de planos. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A novidade capitalista é que seu funcionamento, e sua sobrevivência, gira em torno de uma norma na qual a excepcionalidade da ruptura se torna regra geral -- não à toa, o pensamento nazista girou em torno do aperfeiçoamento da destruição por meio de sua domesticação, da sua sujeição à praxe e à política de governo, de como fazer comandar racionalmente a destruição. Bolsonaro é esse ser que emerge -- no mundo que o novo não nasceu e o velho se encontra às turras com à sua morte, para recorrer à imagem clássica de Gramsci.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Mas as rupturas necessárias, são, ao mesmo tempo, brechas, mesmo na sua hipótese apocalíptica de distopia e crise profunda. Estamos em um desses momentos no Brasil. O vento é forte e a tempestade no horizonte se anuncia com nuvens escuras e densas. O sistema se esforça para uma recomposição de normalidade, um novo simulacro, que pode se utilizar da pulsão de morte, e suicídio, e precisa se esquivar das pulsões de vida. O risco sempre está presente.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A capacidade romper consigo mesmo, trair às suas criações sempre foi o mistério e a feitiçaria que permitiu ao capitalismo sobreviver, mas sempre foi a maldição que não o faz viver jamais em paz. Nenhum operador seu está seguro na sua tarefa: o perigo que ameaçava o senhor feudal ou os aristocratas do mundo antigo eram exteriores ao sistema que operavam.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Bolsonaro, como a maioria dos deputados brasileiros, atende ao <i>modelo de cidadão </i>do sistema moribundo, mas é quem mais violentamento o defende: é branco, homem, cisgênero, heterossexual, bem-sucedido. Essa constituição do discurso, e de imaginário, evidentemente é uma expressão tardia e sólida do velho fascismo, que apenas sistematizou chavões, superstições e distúrbios psicossociais da Europa do século 19º. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Em um primeiro lugar, Bolsonaro é visto paradoxalmente como alguém de fora da política tradicional e, por outro lado, como alguém próximo da nossa realidade social e de um desejo de restauração e conservação como forma de resistir ao estado de coisas atual -- seu discurso é bastante impressionante, em termos de agressividade, para um político, mas não para as pessoas, as pessoas sempre têm um tio, um pai ou um avô como ele. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">No mais, a onda de renascimento de um extrema-direita, por conseguinte, não é estranha a essas terras. Do mesmo modo que o fato da extrema-direita ter ficado hibernando, mas não morta, desde o final da Segunda Guerra Mundial também não nos é alheio. Bolsonaro é o símbolo desse ressurgimento no Brasil, para quem o ama, para quem o odeia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Bolsonaro, no entanto, vem de um tipo de direita radical que, por seu turno, não vingou exatamente pelo mundo. O atual <i>revival</i> da direita fundamentalista passa, também, por um pós-fascismo pelo qual lideranças incorporam uma estética pós-moderna conjugada com uma agenda semelhante a do velho fascismo; Bolsonaro, contudo, é um fio desencapado do neoliberalismo: se Pinochet foi o precursor disso, como "mal necessário" desse projeto, Bolsonaro é uma reprodução tardia, que aconteceu quando já estava velho.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A nova direita constitui seu imaginário sendo estaticamente (pós)moderna e politicamente retrô: voltamos aos anos 1920, na qual a resposta para o presente está num passado ideal e seguro, o que exige uma aliança contra minorias sociais, mas com um sistema de proteção social para as maiorias agrupadas na forma de nação -- é assim com Marine Le Pen e, também, com Trump, o Alternativa para a Alemanha ou o Partido Independentista Britânico.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Bolsonaro, torno a dizer, no fundo não têm isso a oferecer aos seus eleitores, talvez os mais crentes e engajados. Bolsonaro é o fundamentalismo de mercado associado ao Estado grande enquanto máquina de repressão, aprisionamento e morte. As dúvidas quanto isso giram em torno muito mais do que Bolsonaro poderia ser obrigado a se tornar em um governo do que, vejamos só, o que ele seja hoje.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">As três gerações de extrema-direita expressam, contudo, um mesmo desespero das oligarquias dominantes em sistema capitalistas. No frigir dos ovos, o que as une é a percepção das elites econômicas proprietárias capitalistas perderem o controle -- ou até mesmo terem um fim trágico, que elas supõem que as pessoas lhes dariam caso soubessem como o sistema funciona. O efeito geral da extrema-direita sobre a sociedade é de um suicídio coletivo como bem observam Deleuze e Guattari, começado pela prática de morte -- é como se o interesse em matar, e não só deixar morrer, para sobreviver escondesse um desejo suicida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Bolsonaro, entretanto, passou a sofrer ataques pesados da grande mídia. Por sinal, ele está sofrendo ataques como nunca. Denúncias de corrupção passaram a explodir depois que o deputado, finalmente, conseguiu partido para poder se candidatar. Até então, Bolsonaro era uma figura execrada porém tolerada. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A questão central é que a realização do fenômeno global do renascimento da extrema-direita no Brasil, ironicamente, vem acompanhada de um cruel paradoxo. Enquanto na Europa, o fenômeno se conecta à massa de trabalhadores da etnia majoritária, mas gradualmente excluídos do status que passaram a ter no século 20º pela decadência dos mecanismos do bem-estar social -- seja o salário ou os serviços públicos --, no Brasil, o fenômeno da extrema-direita é um fenômeno da elite ou, ao menos, da clientela da elite, dos estratos médios.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A contiguidade do desespero de uma parcela da elite e o elemento racial, mas também de gênero são comuns, mas no aspecto do substrato de classe, as pesquisas brasileiras surpreendem: é entre jovens e mais altamente escolarizados que Bolsonaro encontra seus eleitores. São as classes médias urbanas do sul que apoiam o radicalismo de direita, não trabalhadores pobres -- nem que fossem os trabalhadores pobres e brancos.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Em termos eleitorais, enquanto na Europa são setores que antes poderiam votar nos partidos à esquerda do centro que rumam para a extrema-direita, no Brasil, são eleitores que tenderiam a votar na centro-direita ou mesmo na direita clássica que cogitam em votar em Bolsonaro. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Nos EUA, digamos que o sistema praticamente bipartidário tenha ajudado a Trump crescer tomando espaço de políticos tradicionais de direita, mas os países europeus, multipartidários por natureza, tivessem um sistema como o americano, possivelmente, o mesmo teria acontecido por lá.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Seja na Alemanha, na França ou nos EUA, o eleitor da extrema-direita é da etnia majoritária, mas pertence aos setores excluídos da educação superior e acertado em cheio pela dinâmica de precarização econômica. Aqui não. É o branco que quase chegou lá se aliando com setores radicais da oligarquia e com o estamento militar, pronto a conservar seus privilégios.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A aliança, aqui, é entre a parte mais desesperada da oligarquia e setores médios, seja pelas peculiaridades do Brasil -- como a existência prologanda e massiva de uma escravidão colonial afetou a composição de classe -- ou, talvez, porque a possibilidade de adesão a esse discurso de extremista encontre repouso entre setores que sintam, por alguma razão, que estão a perder seu status social -- e se isso, no Brasil, vem de setores que não são os mais afetados pela crise ou pela pobreza do país, logo, voltamos à primeira questão: somos uma nação fragmentada pela herança colonial e escravagista não resolvida.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A isso se soma à radicalização discursiva que a direita moderada adotou nos últimos anos: desde as eleições e o confronto ao petismo, muitas vezes recorrendo a expedientes morais, seja no processo de destituição bárbaro de Dilma Rousseff, na qual setores radicais foram arregimentados, financiados e apoiados para tanto.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Se a queda de Dilma gerou uma volta da centro-direita ao poder, para executar um programa de austeridade radical ao sabor do mercado financeiro, ele não colocou esses grupos necessariamente no comando, embora lhes tenha cedido cargos e algum espaço. Todavia, as inúmeras redes com discurso de ódio acabaram por ganhar autonomia e relevância eleitoral ao apoiarem Bolsonaro. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A decepção com o governo Temer, em vez de gerar qualquer autocrítica, resultou em uma radicalização desses grupos a procura de uma solução autêntica e orgânica aos seus anseios. De repente, isso tornou um deputado de inúmeros mandatos em alguém de fora do jogo político -- a estratégia do establishment político brasileiro, de isolar e tolerar Bolsonaro, lhe deu, no nosso atual contexto, a visibilidade necessária para ser presidente, blindando-lhe da percepção negativa que se abate contra a classe dirigente.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Por outro lado, Bolsonaro não é líder de nada, não tem um entourage preparado, mas é apenas a face pública que se permitiu ser o pára-raio dessa onda grande -- apoiada, ainda, por estamentos como as forças armadas, em sua base e mesmo entre hierarcas. Em outras palavras, o número que Bolsonaro soma é relevante, embora não suficiente para vencer uma eleição.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Do ponto de vista dos grandes números, ele está simplesmente impedindo que um candidato da direita tradicional, encabeçada até segunda ordem pelo PSDB, vá ao segundo turno. A questão é: os grandes polos de apoio dessa direita estão nos grandes meios de comunicação e eles, por meio de denúncias de corrupção, esperam minar uma candidatura que eles julgavam ser, até outro dia, uma bolha bastante frágil.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Esses ataques podem minar Bolsonaro, mas não passarão uma borracha nas forças sociais que ele representa, uma onda poderosa que pode ser organizada dentro de alguns anos por figuras e organizações políticas mais sofisticadas e perigosas, caso a política tradicional ou transformadora não apresentem soluções.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">É um dilema que resta uma questão em aberto que é o fato das pessoas mais instruídas estarem dando vazão a essa "solução". Se as instituições que deveriam, minimamente, formar os cidadãos mais aptos a pensar estão falhando em sua missão, a profundidade e complexidade do problema brasileira é consideravelmente maior.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Se Bolsonaro também desmanchará no ar, tal e qual a ordem que lhe impedia de ser um político relevante, é algo ainda não definido embora provável. O movimento que lhe origina, no entanto, é mais complexo e difícil de combater. Retirar a antena que fez convergir esses setores não necessariamente evitará sua convergência em outra ocasião próxima, de forma mais agressiva e inteligente. A única certeza é que nossas certezas são vãos e se desfazem com muita facilidade.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
</div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-12968932035314557122018-01-07T23:47:00.002-02:002018-01-07T23:55:10.526-02:00Trump: sob fogo e fúria na América tardia<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgs7jCZ9FEvVHMXTEaX_ylgC4G4QTnftl0lb0FtIs44sM28U41A1ylrgcqSNHz-aRSmODnmpOT3swdiWdeoOUBDqF_pREgmEjRUSHzzV8tiLgETGKbnLJeNwHVvijOgBR_hRNzRdFQIYN4/s1600/blog_trump.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="681" data-original-width="537" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgs7jCZ9FEvVHMXTEaX_ylgC4G4QTnftl0lb0FtIs44sM28U41A1ylrgcqSNHz-aRSmODnmpOT3swdiWdeoOUBDqF_pREgmEjRUSHzzV8tiLgETGKbnLJeNwHVvijOgBR_hRNzRdFQIYN4/s400/blog_trump.jpg" width="315" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Ilma Gore -- Trump Nu (<a href="http://blogs.oglobo.globo.com/pagenotfound/post/quadro-com-trump-nu-e-leiloado-no-ebay.html" target="_blank">retirado daqui</a>)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="https://noticias.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/luiz-felipe-alencastro/2018/01/06/livro-pode-derrubar-trump-mas-vice-seria-ainda-mais-perigoso-no-poder.htm" target="_blank"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O lançamento de</span><i> Fire and Fury</i></a><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">, livro sobre os bastidores da Casa Branca de Trump é um belo exemplar de fogo amigo voltado a enfurecer o presidente mais impopular da história, só para fazer jus ao nome. E também é só mais capítulo na crise que corrói a América, incapaz de se reposicionar numa ordem global no qual o velho modelo de hegemonia americana não funciona mais.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Há, é claro, uma boa dose de calculada encenação no relato<i> insider</i> e em primeira mão, do mesmo modo que Trump, igualmente é um grande personagem, seja nos seus negócios ou na sua incursão da política -- um personagem que se tornou a voz de um setor da sociedade americana cuidadosamente azeitado pelos republicanos para servir (apenas) como massa de manobra.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Trump sempre se vendeu como um parvo para ser subestimado por rivais e concorrentes, além de atrair para si a simpatia do público médio americano do interior -- e a mesma lógica se aplica à sua incursão na política. Agora, a chave é retratar essa "verdade de homem comum" <a href="https://www.newyorker.com/magazine/2017/10/23/the-danger-of-president-pence" target="_blank">como debilidade e demência</a>. Talvez funcione.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O desastre Trump, <a href="https://en.wikipedia.org/wiki/United_States_presidential_approval_rating" target="_blank">o presidente americano mais impopular</a> desde que esse tipo de medição passou a ser feito nos anos 1930 pelo instituto Gallup, está além das aparências. Trump desagrada o establishment político americano, à esquerda e à direta, e também não oferece uma saída para os impasses da América, uma vez que governa de maneira compartilhada com um Congresso hostil, inclusive no que diz respeito a seu partido.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A receita é simples: se o grandioso plano Obama fracassou, de acelerar o processo de globalização como forma de permitir aos EUA manter e afirmar sua liderança, a tentativa de voltar a um passado glorioso, industrialista e isolacionista, encontrou a dura barreira da realidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Após Bush Jr. tentar tirar os EUA da estagnação com largo envolvimento em guerras, Obama operou a reconstrução econômica do país salvando antes de tudo o mercado financeiro. De um jeito ou de outro, o americano comum esteve órfão nos últimos dezesseis anos, depois de décadas paternidades relapsas, na qual o <i>american way of life </i>era desconstruído lenta e silenciosamente. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A vitória de Trump foi o gesto final de um processo no qual os republicanos retomaram a Casa Branca depois de, a rigor, assumirem a maioria política em todas as instâncias da política americana, desde o Congresso dos Estados Unidos, passando pelos congressos estaduais e governos estaduais. Tudo sob a era Obama, e seu fantástico fracasso em reconstruir a América -- pelo menos para além dos grandes grupos de interesse do Partido Democrata. Mas a cereja do bolo foi, também, uma vitória de pirro.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O pós-fascismo de Trump não funciona exatamente nos tempos atuais, reunir maiorias sociais sob a égide de um discurso abstrato de nação contra minorias não é o tipo de coisa que constrói coesão ou estabilidade nos dias atuais, mas sobretudo há falhas na condução da geopolítica, que representa muito em matéria de política interna nos EUA.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Os EUA assumiram a hegemonia mundial debaixo da decadência das potências europeias, pois preferiu dominar áreas estratégicas de comércio global em vez de administrar diretamente enormes populações. Depois, serviu como mecanismo do mercado global capitalista, criado no pós-guerra. Os EUA lutaram com dureza, e impuseram aos seus parceiros europeus, o encargo de servir como motor da economia capitalista, emitindo a moeda internacional e servindo como a cabeça de sua polícia global.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A enorme responsabilidade americana parecia ser uma tarefa fácil, gerando como retorno o <i>privilégio exorbitante</i> de emitir a moeda global. O sonho de fadas acaba no final dos anos 1990, quando a responsabilidade aumenta e, por outro lado, a ausência de uma guerra fria transforma a atividade da guerra em flagelo para o mercado capitalista global. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Ora, o mundo capitalista não sabia, mas a grande mola mestra da economia americana desde os anos 1950 era, de fato, o complexo bélico-industrial, isto é, investir em armas, usar as forças armadas como pólo de inovação tecnológica e inserir esses ganhos no mercado de consumo. O imperialismo de novo tipo americano guardava em si um arcaísmo, próprio dos velhos impérios e <i>gérmen</i> de sua decadência -- e a Guerra Fria permitia aos EUA mascarar isso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">É aí que nem Bush, nem Obama e, tampouco, Trump conseguem operar. Todos buscaram e buscam saídas de curto prazo para manter tudo como antes. Sem as velhas guerras indiretas nas bordas da Guerra Fria, o próprio sistema capitalista se assusta com essa bélico-dependência americana e ensaia migrar para novas zonas de consistência.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A resposta de Trump contra uma ordem global é uma mistificação louca. E pior, ela se deu, objetivamente, com um erro de geopolítica inverso ao de Obama. Se o ex-presidente acertou na maneira como conduziu a política no extremo-oriente, errou feio no Oriente Médio. Trump, por sua vez desfez os erros de Obama no Oriente Médio, embora tarde demais, enquanto errou na sua relação com a China.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Vejamos, Obama procurou interferir nas Primaveras Árabes. O terror com insurreições multitudinárias que abalavam uma ordem, tirânica, que favorecia aos EUA -- e foi decisiva para derrotar os soviéticos -- foi trocado pelos novos estrategistas americanos por uma vã esperança: interferir à distância e usar as revoltas como forma de aumentar ainda mais o poder.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Obama usou da derrubada do governo sírio <a href="https://www.statista.com/statistics/262858/change-in-opec-crude-oil-prices-since-1960/" target="_blank">como forma de derrubar os preços internacionais do petróleo</a> e, assim, valorizar o dólar sem precisar praticar uma política econômica restritiva, isto é, diminuir emissões ou aumentar os juros. Mas ao afiançar uma coisa na outra, dependia da queda do regime para as expectativas virarem realidade. Só que seus apoiadores dentro e fora da Síria não eram capazes de agir juntos, uma vez que não desejavam a mesma coisa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Turcos, israelenses e sauditas não tinham interesses convergentes, poderiam derrubar o regime sírio, mas não tinham, nem têm, acordo sobre o que colocar no lugar. A oposição laica da Síria foi rapidamente suplantada por radicais islâmicos, primeiramente tolerados e depois causadores de mais dor e mortes. O resultado da guerra, com centenas de milhares de mortos e milhões de refugiados chegou rapidamente à Europa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Os russos, para piorar a situação de Obama, encontraram a deixa ideal para intervir no conflito e defender seus interesses, obtendo um êxito militar que Washington supunha que Moscou não tivesse mais, ou não tivesse ainda. <a href="https://theintercept.com/2016/10/29/the-u-s-and-russia-ensure-a-balance-of-terror-in-syria/" target="_blank">A Rússia, viu, veio e venceu, voltando a ser um peça importante no Oriente Médio</a>, algo que não acontecia desde o começo dos anos 1970.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Trump estava certo em se unir a Moscou e cessar a estratégia louca de Obama para a Síria, inclusive porque um petróleo barato não interessa tanto assim à economia americana, não tanto quanto possa parecer. Mas já era tarde.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O problema de Trump foi elevar o tom contra a China, que buscou ficar silente, apoiando o grande plano global de Obama em tantos momentos. Ora, os chineses arcaram com os ganhos sem ter o ônus, da desvalorização do barril de petróleo e da valorização do dólar. E estavam lá, funcionando como recicladores do capital americano, exportando mercadorias baratas e comprando títulos americanos com os excedentes comerciais.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Trump não tinha motivo para mexer com os chineses, mas mexeu, julgando ser uma prioridade travar a China comercialmente para reindustrializar a América. O resultado das tensões, de declarações burras até pressão militar -- a Coreia do Norte pouco importa econômica e politicamente, se ela virou alvo, o alvo real só poderia ser a China, que depende da sua vizinha para a segurança nacional.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>O ponto é</b>: seja por esforço de guerra ou por ajuda dos chineses e russos, os norte-coreanos terminaram seu projeto de rearmamento com mísseis com ogivas nucleares capazes de atingir o solo americano. A invasão da Coreia do Norte fez água diante da impossibilidade militar de sua invasão. Trump fez de Kim Jong-Un virar um <i>player</i> internacional.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Com isso, os chineses se reaproximaram da Rússia e mais ainda da Eurásia: o grande projeto chinês é reciclar capitais cuidando do déficit infraestrutura da Ásia, sobretudo no que diz respeito à ligação por terra com a Europa. É a<a href="https://g1.globo.com/economia/noticia/china-apresenta-nova-rota-da-seda-com-investimento-bilionario.ghtml" target="_blank"> <i>Nova Rota da Seda</i></a>, um projeto que custava a sair do papel enquanto os chineses estavam tranquilos com o comércio do Pacífico. Ironicamente, isso interessa aos sul-coreanos, enquanto habilmente a Coreia do Norte buscou aproximação com sua rival do sul.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Sem garantias dos americanos de um livre comércio, sem tranquilidade nem mesmo nas suas águas territoriais, os chineses se lançam para dentro da Ásia, o que favorece a Rússia -- ou duplamente a Rússia, haja vista que a valorização do barril ajuda a economia local. Moscou, acusada de fazer Trump ganhar, acabou favorecida pelos erros e os acertos da Washington de Trump.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Voltamos à política externa americana. Trump, sem criar meios de voltar ao passado, sem criar meios de fazer os EUA saberem viver em paz ou criar novos meios para guerra, sem ser capaz de lidar com tensões sociais, sejam elas econômicas, raciais ou de gênero, sem agradar o velho establishment ou a nova política, se torna o cordeiro a ser sacrificado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Mas a aparente estupidez de Trump não tornará uma volta do establishment em uma tarefa fácil. Primeiramente, <a href="https://www.newyorker.com/magazine/2017/10/23/the-danger-of-president-pence" target="_blank">porque o vice Mike Pence não é confiável</a>. Depois porque remover presidente e vice seria uma situação inédita na história americana, e como a experiência brasileira ensina, um país de proporções continentais não é capaz de funcionar bem com uma solução tampão. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Novas eleições seriam uma boa saída, mas isso dependeria das grandes máquinas políticas concordarem. Inclusive porque não há garantia de que a velha política ganhe. <i>Como a burocracia americana lidaria com a eleição de um Bernie Sanders</i>? Os impasses corroem a América e a ausência de soluções leva a um quadro de agonia, de morte ou, com alguma sorte, de dores do parto de um novo mundo que não necessariamente será bom ou belo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">P.S.: <i>agradeço ao Edu pelas ideias trocadas sobre a América tardia e a Vera pelo estímulo a voltar a escrever. O blog precisou de um sabático, mas escrever é importante e terapêutico. Sempre bom voltar à ativa.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-37208858725930611332016-04-13T15:11:00.003-03:002016-04-13T15:11:59.405-03:00Na Era do Impeachment: Estar em Minoria<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih6qwlmDbXHgpYEg3tnHr6bGwTEVCMXY4MojiK22bykcRi5jeR6RcYQhIu2exxj3BYPKZV3MoLqGd9dD1Vi_o0gsVv9pCsTcY3Swzv3QXIGqUhjUAuwE6F2i9QjqwoFjxnGssuWlpbtwU/s1600/Arte+pela+Democracia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEih6qwlmDbXHgpYEg3tnHr6bGwTEVCMXY4MojiK22bykcRi5jeR6RcYQhIu2exxj3BYPKZV3MoLqGd9dD1Vi_o0gsVv9pCsTcY3Swzv3QXIGqUhjUAuwE6F2i9QjqwoFjxnGssuWlpbtwU/s400/Arte+pela+Democracia.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">(Da esquerda para a direita: Paulo Arantes, eu, Laís Bodanzky e Cibele Forjaz/foto Mídia Ninja)<br /><br /><br /></td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i>Texto base da minha fala apresentada na mesa <span style="font-size: 12.8px; text-align: center;"> <span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Arte pela Democracia</span></span><span style="font-size: 12.8px; text-align: center;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> do Ocupe a Democracia.</span></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="font-size: 12.8px; text-align: center;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Retomar a Arte Política & Performance Democrática<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Boa noite a todas e a todos, agradeço
ao convite da Rosana e me sinto muito honrado em comparecer a este evento neste
momento crucial da nossa História, cumprimento também os demais integrantes da
mesa<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Esta fala é sobre a dimensão sim
artística da política como forma de produzir democracia e construir saídas, mas
é, para começo de conversa, sobre estar em minoria e a sensação de assombro que
isso gera – sobretudo quando uma minoria não é democrática. É um pouco da minha
pesquisa de mestrado, recentemente aprovada na PUC, sobre as tensões entre
maiorias e minorias em uma democracia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Em um primeiro momento, é preciso
considerar o seguinte: não é digno de qualquer espanto o fato de estarmos em
minoria quando o assunto é a democracia. São as minorias que tomam a iniciativa
de mudar o mundo ou de conservar o que nele é importante para o bem comum.
Sempre. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O movimento da maioria é de manada ou
de matilha, ele ignora o que precisa mudar ou se conserva ou quais as
consequências disso. Pegue qualquer revolução ou reforma e não raro estaremos
diante inclusive da tragédia de sonhadores. Só que como bem sabemos mais vale
uma boa morte do que uma má vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Diante disso, é perfeitamente normal
que a maioria esteja a favor de um impeachment que, por sinal, se configura
como um golpe. Mesmo em uma democracia. A democracia não é o estado de coisas
em que estamos, mas o movimento real que permite antagoniza-lo para criar uma
vida melhor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas não seria a democracia o governo da maioria? E o desejo da maioria
não seria o mais justo? </span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A verdade, a dura verdade, é que não. A democracia convoca
instrumentalmente maiorias apenas naquilo que lhes pertinente, o sufrágio
universal, por sinal, serve para equiparar o voto dos fracos e dos fortes, dos
ricos e dos pobres, não para gerar qualquer linchamento. Do mesmo modo que
naquilo que diz respeito às minorias ou aos indivíduos valem as instituições.
Maiorias não podem deliberar sobre o interesse de minorias ou dos indivíduos, sua
deliberação minorias étnicas, pessoas com orientação sexual fora dos “padrões”.
Para isso existem as instituições. Um processo de impeachment, como um processo
penal, não pode ser guiado pelo instinto de linchamento. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não é pela decisão da maioria que
podemos ser ou não inocentados ou multados, mas pelo direito. Por isso,
decisões do júri assim como aquelas referentes ao impeachment podem ser
anuladas judicialmente. Mas nem sempre essas instituições garantidoras
funcionam, a única coisa que pode fazer garantia os próprios garantidores é
sempre a multidão – a multidão insolente
de Negri e Hardt, que não se confunde com a massa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A democracia é o regime das minorias,
a bem da verdade, um antigoverno ou o governo do qualquer um à moda de Rancière.
A Maioria é que existe enquanto quantidade e padrão, a minoria é o que existe
por si mesmo, como nos lembram Deleuze & Guattari.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Contudo, mas não precisaríamos de votos para deter um processo de
impeachment, vencer eleições, aprovar leis? Ou como contornar isso?<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A história universal é sobretudo
irônica. Entre ser uma obviedade dize que a terra é redonda e gira em torno do
Sol e ser linchado por dizer isso, houve um longo caminho. Ninguém cogitaria
pôr em votação uma discussão sobre a terra ser ou não quadrada ou sobre quem
gira em torno de quem, o Sol ou a Terra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O caminho entre um e outro é a
produção de uma narrativa que naturalize na vida comum as coisas como elas são.
Não foi nem a ciência, em seu aspecto teórico ou empírico, que fez tal verdade
prosperar sobre as superstições. Uma narrativa que conseguiu fazer tais
verdades não apenas parecerem verdade, como realizarem o desejo humano: de
conhecer, de navegar, de atravessar o mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">É, retornando à Rancière, no momento
em que se produz um regime estético e narrativas ancoradas nisso que se é
possível contar certas histórias. É a mesma fórmula, só que às avessas, do que
fizeram déspotas ao longo de toda história humana: aqueles, mediante narrativas
fantasiosas que serviam à criação de superstições, sempre nos dominaram. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Antes da verdade, produziram
narrativas fantásticas, usaram a imaginação humana contra a própria humanidade.
Mentiram várias vezes até que tais mentiras se tornassem a verdade da sua
dominação. Eles mentem hoje da mesma forma. Mentem copiosa ao naturalizarem um
processo golpista como um impeachment.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Fazer e retomar a arte política –
como propõe Zé Celso Martinez Corrêa – é urgente. É construir narrativas capazes
de neutralizar aqueles que usam a democracia contra ela própria. Fazer, como
está sendo feito, movimentos, redes, produzir polifonia, fazer carnaval. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Só isso é que começou a reverter a
morte por definhamento da nossa jovem democracia, que permite sonharmos em
impedir a derrota no impeachment ou a viabilizar desde já uma resistência
democrática.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não faremos maioria no Congresso. A
maioria é sempre do poder. Mesmo que o impeachment seja barrado foi, sem
dúvida, por termos produzido verdades comuns que possibilitaram a resposta – e só
assim podemos mudar isso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mesmo que seja uma vitória em número
de votos será uma vitória da naturalização da democracia na sociedade. O tempo,
contudo, conta contra a democracia. O que exige nosso esforço máximo, sem
perder de vista que ocorra o que ocorrer, não podemos esmorecer por qualquer um
dos cenários.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; tab-stops: 139.5pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-58413162162493609492015-09-08T14:52:00.001-03:002015-09-08T21:39:06.844-03:00Os Refugiados do Império: Entre Anjos Sacrificados e o Êxodo<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD1TKkyIy1ldf6b-qbKBXqaFKX-2e2sCTBPuEBbEGKFvxypFkkALChO6R2mRnBX9rR1KlLcQg2Rv5cte9LL7zqxSsSgvrz_vReMlFTKHsVu7csOLC26dlAWBcvfHUVk9P3TQVVI60-404/s1600/Menino+Curdo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgD1TKkyIy1ldf6b-qbKBXqaFKX-2e2sCTBPuEBbEGKFvxypFkkALChO6R2mRnBX9rR1KlLcQg2Rv5cte9LL7zqxSsSgvrz_vReMlFTKHsVu7csOLC26dlAWBcvfHUVk9P3TQVVI60-404/s320/Menino+Curdo.jpg" width="320"></a></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">A foto do <i>anjo-refugiado</i>, morto às portas do Paraíso, chocou o mundo. O menino Aylan Kurdi repousava de forma sublime sobre as areias de uma praia turca: ele morreu junto com o irmão e a mãe na tentativa de travessia. A foto da turca </span><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span class="st">Nilufer Demir</span> choca não apenas por<a href="http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/imagem-retrata-grito-de-um-corpo-silencioso-diz-autora-de-foto-do-menino-sirio/" target="_blank"> capturar o sublime da dor</a>, mas pela maneira quase onírica que se compõe: em dois instantes, o primeiro de uma estranheza com a posição do menino deitado na praia, o segundo da certeza que ele só poderia estar morto -- é o mesmo ritmo do pesadelo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O inferno da guerra devora a entranhas do Oriente Médio, inclusive a Síria de onde a família de Aylan vinha. No Iraque, vizinho, a situação não é nada diferente, como era de se supor que ocorreria após a desastrosa invasão americana de 2003. Ocidentais e seus aliados na região são igualmente culpados pela situação, sendo todos lenientes com organizações terroristas francamente insanas como O <i>Estado Islâmico</i> -- coisa que só é rompida por poucas vozes, como a de um <a href="http://www.independent.co.uk/voices/comment/isis-blinds-journalists-with-its-barbarity-but-we-must-continue-to-report-10468294.html" target="_blank">Robert Fisk </a></span><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">ou de um<a href="http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/09/1677657-livro-explica-como-eua-criaram-espaco-para-estado-islamico.shtml" target="_blank"> Patrick Cockburn.</a></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">A Europa, destino mais óbvio da multidão de refugiados, fica entre um misto de fechar as portas, e a impossibilidade de se assumir definitivamente fascista, e manter as aparências "democráticas": a morte do menino mostra que (ainda) não é possível, simplesmente, condenar à morte os refugiados que bravamente cortam o Mediterrâneo, o<i> Mare Nostrum</i> dos romanos. Enquanto as coisas se mantêm <i>distantes</i>, tudo bem, mas tão perto é impossível. </span><br>
<br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Quando o deixar morrer se torna matar por omissão, o próprio discurso liberal-democrata entra em curto-circuito: para se livrar da acusação de matar, o neoliberalimo articula a imagem liberal-democrata, a qual, dentre outras coisas, vende a mentira que matar só é possível quando algo ou alguém fez morrer, que o deixar morrer não existe, é como se dissesse que o mal é apenas e tão somente o nazista de Hollywood, que pertence ao passado, ou os regimes inimigos pelo mundo (como Assad). </span><br>
<br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Mas quando esse discurso corre o risco de aproximar seus profetas da pecha que criam para se defenderem, o cão termina por morder a própria calda: deixar morrer desse jeito, pouco sutil e abrupto, soa como fazer morrer. Se as mortes no Oriente Médio ou na África são diluídas no fatalismo ("lá é assim mesmo"), o mesmo não se pode dizer quando elas acontecem perto e por uma omissão dos poderes europeus.</span><br>
<br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">A grande narrativa -- invisível, inodora e incolor -- pode apagar causas, relações e conexões. Tentar a História. Mas quando essas mortes batem à porta e é preciso admitir a natureza mortífera da ordem atual ou capitular, o sistema prefere disfarçar, recompor e ceder. Seu ativo mais preciso é monopólio da bondade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Da esquerdista Grécia, que não tem dinheiro para receber os refugiados, mas tem para permanecer na Otan, à extremo-direitista Hungria -- laboratório de um futuro neofascismo, a exemplo do que foi o Chile de Pinochet para o neoliberalismo -- a obediência aos poderes europeus, com a impossibilidade ética do escândalo, é patente. </span><br>
<br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">A Hungria, <a href="http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/41501/hungria+impede+que+refugiados+acessem+estacao+de+trem+e+sigam+viagem+para+alemanha.shtml" target="_blank">depois de proibir a entrada dos refugiados</a>, "cedeu" e <a href="http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/41552/hungria+cede+e+oferece+transporte+a+refugiados+em+direcao+a+austria+europa+busca+acordo.shtml" target="_blank">abriu as fronteiras</a>, sendo o show de entrada para o espetáculo dos poderes europeus, que, com a morte do menino, "puderam se dar conta". Nada mais cínico.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">A Europa, a Grande Prússia sob o comando de Fräu Merkel, e o Reino Unido de Cameron buscam reprocessar o discurso: da negação "forte" a entrada dos imigrantes -- em nome do mito da prudência e da sensatez, um mitolegema que tem funcionado bem para quase tudo -- passou para o discurso da abertura -- acompanhado da narrativa melodramática de assimilação caridosa dos pobres coitados, com o compadrio da mídia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O Papa Francisco, em outro gesto de inteligência política, voltou a reforçar a necessidade de recepção dos refugiados, <a href="http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2015/09/1678461-papa-abre-vaticano-para-refugiados-e-pede-que-paroquias-da-europa-facam-o-mesmo.shtml" target="_blank">determinou a abertura do Vaticano e exigiu que as paróquias de toda a Europa recepcionem pelo menos uma família refugiada</a>. </span><br>
<br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">A <i>teologia popular</i> do Papa Bergoglio consegue ser na prática, mais uma vez, mais ético e "moderno" -- no sentido que se emprega usualmente o termo -- do que a moderníssima Europa: não que Francisco não seja ele também político e arguto, mas a Igreja, depois de décadas bancando o mais franco neoliberalismo, pulou do barco. Por uma razão bastante simples: o plano proselitista de João Paulo 2º, continuado por Bento 16 e seu carisma de poste, fracassou.</span><br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br></span>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Semente da noção de tecnocracia que cria o Estado (moderno), a Igreja, um agente estatal e, ao mesmo tempo, multinacional -- político e religioso -- é paradoxalmente um elemento hoje contraditório não apenas na sua estrutura como, também, na sua direção à fantástica aliança entre estrutura estatal alemã, sistema financeiro internacional e tecnocracia "europeia", aquilo que damos o nome de "União Europeia" -- e é, afinal, um dos pilares do sistema global. Essa peculiar forma que o catolicismo se reinsere nas disputas globais, por sinal, merece ser alvo de futuras análises.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Mas o fenômeno atual dos refugiados não se limita à rota do Mundo Islâmico em chamas para a Europa</span>. E<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">videntemente, refugiados e imigrantes de toda sorte aportam em todas as partes do mundo, inclusive no Brasil-- que além de receber mais refugiados dessa guerra, tem recebido um enorme trânsito de africanos, sul-americanos, chineses etc.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">A radicalização do movimento dos fluxos de refugiados e imigrantes pelo mundo marca o acirramento das contradições no <i>Império Global</i> concebido por Negri e Hardt. Eis aí um dos dogmas globais: a relação entre a hipermobilidade do capital e o controle de trânsito -- pela proibição ou regulação ostensiva -- do livre trânsito de pessoas pelo mundo; a hipermobilidade (e hipervolatilidade) do capital, do jeito mais moderno possível, exige na outra ponta a fixação da forma mais arcaica dos contingentes humanos, os quais servem de reservas fixas e previsíveis de mão de obra.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O êxodo global, ao marcar o rompimento dos cercados nacionais -- e esta talvez seja das poucas serventias que os Estados-nação ainda tenham --, põe em curto-circuito essa política de regulação dos corpos e dos corpos coletivos, criando imprevisibilidade onde não deveria haver -- mesmo ponderando que a fuga dos desesperados pela guerra não signifique um nomadismo, mas um ato praticado na necessidade extrema, isto ainda assim escapa às coordenadas sistema.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Ainda, como boa parte dos conflitos que causam esse fluxo são diretamente causados, apoiados ou permitidos pelos potentados globais, como é o caso da Síria, o sistema-mundo se vê diante de uma situação emergencial: os conflitos deflagrados passam a ter consequências que saem do <i>script </i>e estas vêm bater à porta, literalmente, de forma inesperada. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Quase como o <i>Isso</i> freudiano, o recalcado em escala coletiva -- política e socioeconômica -- emerge de outras maneiras imprevisíveis. A incapacidade do sistema-mundo operar sínteses perfeitas, que eliminassem esses resíduos o põe num pânico momentâneo, mas já enseja seu passo posterior que é a readequação da estratégia de intervenção e exploração no Oriente Médio e Norte da África e, também, uma nova forma de processamento dos fluxos de migração para que estes sejam domesticados no destino que eles venham a se estabelecer. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">A
impossibilidade de praticar a eliminação direta como no início do século
20º obriga a recuos e a tentativa de assimilação desses contingentes, o que não é uma tarefa fácil e dificilmente seria perfeitamente efetiva. Talvez se tenha em vista uma migração controlada, a exemplo das políticas dos Estado nação
europeus, sobretudo os nascentes, no século 19º com os países do
continente americano: exportar excedentes humanos para onde faltaria
gente (ou gente branca, conforme o projeto eugenista inclusive do
Brasil).</span><br>
<br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Mesmo assim, a quantidade de problemas que uma migração planejada traz, por si só, já é assombrosa -- o movimento operário anarcossindical nasce no Brasil por conta disso --, imagine o acolhimento de refugiados de guerra que vêm em massa para, não raro, países que deflagram ou foram lenientes com os conflitos que causaram a confusão. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">A imagem do Livro Bíblico do <i>Êxodo</i>, afinal, emerge: quando um Império se vê diante de uma rebelião dos fluxos humanos que lhe dão força e vitalidade, e não consegue gerar uma nova síntese em resposta, a migração se torna inevitável; tal partida gera um novo campo de possibilidades: a itinerância, a errância, o nomadismo, ou a busca por ser aceito em um outro Estado ou, por fim, a construção de um novo Estado (ou proto-Estado). </span><br>
<br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O destino do povo hebreu, como é sabido, foi a derradeira hipótese. Como foi a dos perseguidos na península itálica do século 8º a.C. ou dos religiosos nos domínios ingleses do século 17º. Com hebreus, tanto se consolidou assim, que temos o Livro do Êxodo, o qual se chama em hebraico, não à toa, Livro dos Nomes (<i>Shemot</i>), pois inicia pelo clássico "estes são os filhos de Israel": trata-se da narrativa de uma história que terminou com uma refundação, o que exige, desde sempre uma nova hierarquia, uma nova ordem, novas leis, as quais sempre demandam previamente nomes. </span><br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"> </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O problema do refúgio e da imigração é desde sempre como uma sístole-diástole, segundo à qual o enrijecimento de uma ordem enseja a fuga, mas esta termina novamente enquadrada em um novo Estado (O Reino de Israel, Roma ou mesmo os Estados Unidos)<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">. </span></span><br>
<br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Isso consiste, afinal </span></span><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">de contas, no objeto sobre o qual Spinoza se debruça na <i>Teologia-Política</i></span>: o</span> problema da fuga da fundação fundada acaba sendo, no espaço, o mesmo da revolução no tempo: será que toda ela não estaria destinada a forjar um novo Estado? A conclusão disso, em Spinoza, como se sabe, é de uma tragicidade sublime com a conformação irônica -- mas em aberto -- diante da nova ordem e da nova Lei.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Contudo, o problema do refúgio no Império Global, sem sombra de dúvida, é maior: com a impossibilidade de criar um espaço propriamente novo em um mundo absolutamente desbravado e colonizado, a questão é saber se é possível reordenar esses fluxos de uma nova forma -- e como --, uma vez que as pessoas fogem do mundo para o mundo; tal questão, na verdade, pode ser vista ao inverso, por sua outra ponta: como o sistema fará, em último caso, para manter a guerra se não há contra quem lutar exceto contra si mesmo e a consequência disso seja insustentável? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">[e uma <i>guerra civil</i>, digamos, "global", não é propriamente uma <i>guerra</i>, como o suicídio ou a automutilação não são homicídio ou lesão contra outrem, tanto que para os gregos antigos elas eram expressadas por palavras muito distintas,<i> stasis</i> e <i>polemós</i>, respectivamente]</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Trata-se do dilema derradeiro da projeção marxista: como em uma economia globalizada e unida pelo e sob o capitalismo, será possível manter as relações capitalistas, uma vez que estas dependem do desbravamento, da colonização e da guerra? Em sendo o mundo um só, não só eticamente, mas agora socioeconomicamente, o que acontecerá quando o capitalismo se tornar impossível? </span><br>
<br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="background-color: white;">O gasto de energia com a guerra civil global é suicida. Seja a guerra em si ou algumas de suas consequências. A única possibilidade de lidar Mas o sistema não tem mais a opção do outro para combater, no máximo, destruir ou domesticar minorias e dissidências aqui ou acolá, mas a guerra devém impossível, ou melhor, <i>quase</i> impossível: é preciso notar que a guerra, hoje, ainda existe parcialmente enquanto disputa entre tecnocracias nacionais por hegemonia no sistema-mundo, que é uma estrutura fundada por uma costura entre elas.</span></span><br>
<br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="background-color: white;">Essa é a condição que permite dizer que não há mais a guerra própria, mas sim uma guerra civil global que, no entanto, é temperada também por guerras usuais num sentido impróprio: não mais entre Estados-nação que constituem uma ordem global, mas por uma ordem global que os utiliza parcialmente como arcaísmo necessário. E um dos efeitos dessa <i>guerra civil</i> é, precisamente, a possibilidade do contemporâneo refugiado: alguém cujas condições fáticas demandam que tivesse uma cidadania global, mas cuja cidadania nacional é insuficiente.</span></span><br>
<br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="background-color: white;">O Império Global, composto por uma rede tecnocrática e o tecido conjuntivo do mercado, se amarra por laços comerciais e, quando muito, por tratados e acordos internacionais, nunca por lei constitucional -- o que conferiria a globalização inclusive como universalização da cidadania, para além da tentativa, bem-intencionada mas voluntarista, da "pessoa humana". Eis o desafio: mesmo neste período intermediário, abolir a guerra, por sua inutilidade mesmo "utilitária", e efetivar uma noção (jurídica) de cidadania global -- sem perder de vista uma ciência do poder que não nos afaste do terrível e do horrendo: no limite, sim, a decisão do sistema-mundo diante da sua morte pode, e deverá, ser pela autodestruição, o que nos inclui diretamente.</span></span><br>
<br>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="background-color: white;"> </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-7065990560833605142015-07-22T00:56:00.000-03:002015-07-22T01:29:47.092-03:00O Syriza Traiu ou Não? Ou Capitu na Ática<div style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7d7RMpiCSWNw28dM8RQVl9aGrziMw7TAmDb0Xv9bglRs87XTEKwyWsGz10V8_RhzqdNGZHbdsYvjqEjEKJgbQYYoMhoypoez9y4NvAAmNWxZWtdgfuvl4EhQFSkh8eT7yePFpFRClIUQ/s1600/O+Vampiro_1853_Charle+N%25C3%25A8gre.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7d7RMpiCSWNw28dM8RQVl9aGrziMw7TAmDb0Xv9bglRs87XTEKwyWsGz10V8_RhzqdNGZHbdsYvjqEjEKJgbQYYoMhoypoez9y4NvAAmNWxZWtdgfuvl4EhQFSkh8eT7yePFpFRClIUQ/s400/O+Vampiro_1853_Charle+N%25C3%25A8gre.jpg" width="285" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Charles Nègre -- o Vampiro (1853)</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">As últimas semanas foram intensas na Grécia: o Syriza, partido governista, lançou um plebiscito contra os desmandos europeus -- e não só o realizou como o venceu, por larga vantagem, contra tudo e contra todos; contudo, logo após a vitória, o ministro das finanças do país renunciou estranhamente e, em seguida, o governo sinalizou favorável a um acordo horrível com o Eurobloco, o qual contradizia frontalmente o resultado da consulta pública. Um movimento de 180º graus foi feito, resultando em um acordo vergonhoso com a Europa e a votação no Parlamento de mais medidas de austeridade -- com a rebeldia de mais de sessenta parlamentares do próprio Syriza, <a href="http://www.thepressproject.gr/details_en.php?aid=79355" target="_blank">inclusive do ex-ministro das finanças, Yanis Varoufakis</a>; enquanto isso manifestações tomavam as ruas de Atenas com dura repressão policial. Tudo rápido demais. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A pergunta que surge, nos meios intelectuais engajados do Brasil, é: o Syriza traiu ou não traiu a esquerda global? Traiu ou não traiu os nossos sonhos, expectativas e fetiches? Uns garantem que não, que é impossível ter havido esta traição. Outros a pranteiam e a dão como certa. A situação mais parece o velho clichê sobre <i>Dom Casmurro</i>, obra imortal do nosso Machado de Assis -- bastaria trocar <i>Syriza</i> por <i>Capitu</i> e lá estaríamos nós.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
O debate é colocado nos termos do olhar do paranoico: e por paranoico não tomemos necessariamente aquele que desconfia insistentemente, mas sim aquele que em vez de tentar entender a realidade, a julga, estabelecendo postulados dogmáticos de confiança ou desconfiança. A vida do paranoico é sempre crise, é sempre julgamento, sobre si, sobre o outro e sobre o mundo -- que é sempre mundo-aquém-do-mundo.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
Não à toa, a crítica literária contemporânea sobre <i>Dom Casmurro</i> -- de Cândido a Schwarz, passando pelos mais recentes ditos e escritos -- contemplam o que Machado, antecipando na arte a Psicanálise, queria dizer: naquela obra, o que interessa não é a verdade sobre o mundo exterior, que supostamente deveria ser decifrada da narrativa onisciente falha, mas como aquele formidável delírio paranoico conta mais sobre o narrador do que sobre o mundo, ou melhor, como aquilo expressa o seu (mal?) estar-no-mundo. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">O sentimento de traição fala mais sobre uma esquerda global -- e brasileira! -- em crise do que sobre o fato da (suposta) fidelidade/traição. Na medida em que o mundo se torna objeto de permanente crise, o próprio sujeito se põe, dialeticamente, em julgamento, pois o "mundo" nada mais é aquilo que se vive como experiência. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
A esquerda, presa entre a realidade ideal e o ideal de realidade, se escraviza em suas próprias angústias -- naquilo que se expressa nos extremos entre o sectarismo niilista e o pragmatismo vão.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Há um algo muito particular no experimento grego, algo tão particular que se tornar comum: O Syriza, um instrumento político que chega ao poder depois de manifestações de multidão, que enfrenta a direita, os bancos, a esquerda falida é...<i>tudo o que sonhamos</i>, tudo o que precisamos no Brasil de hoje -- e em qualquer lugar! </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
De repente, no entanto, Tsipras termina o processo utópico, dá um (aparente) giro na sua estratégia e, aí, temos de julgar qual é a nossa posição; e ela é expressada como nossa crítica em relação ao Syriza, mas é sobre nós e a fidelidade que deveremos ter (e agora precisará ser redobrada) ou não sobre aquele movimento.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
O fato é que, não, o Syriza -- ou, melhor, o governo do Syriza -- não traiu ou foi infiel em relação aos seus apoiadores, ao contrário, ele foi fiel até o fim a uma<i> ideia</i>. Pois a fidelidade absoluta, autêntica e pura só pode ser a uma ideia. E as ideias não choram suas vítimas. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
Do mesmo modo, a fidelidade absoluta é sempre em relação ao Um, isto é: importa na traição a todo resto (e a muitas outras coisas). Eis o momento em que fidelidade e traição se confundem e, então, perdem o significado. O governo das ideias, como platonicamente a esquerda sonha, pode não se revelar da melhor maneira -- aliás, ele se realiza muito frequentemente, com resultados muito distantes do que se sonhava.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: normal; orphans: auto; text-align: justify; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 1; word-spacing: 0px;">
</div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Podemos discutir idealisticamente se vale ou não a pena ainda defendermos o governo do Syriza, mas materialmente as coisas são inquestionáveis: quem pode dizer que os funcionários públicos gregos, os trabalhadores ou aposentados, que estão prestes a ser mais dilacerados ainda, estão errados em se mobilizar contra o acordo de Tsipras? Ou que </span><a href="http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=4692228" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;" target="_blank">os deputados rebeldes estão errados em se opor a tudo isso</a><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">? </span><br />
<div style="-webkit-text-stroke-width: 0px; color: black; font-family: 'Times New Roman'; font-size: medium; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: normal; orphans: auto; text-align: justify; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; widows: 1; word-spacing: 0px;">
<div style="margin: 0px;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="margin: 0px;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Por favor, o Syriza é um instrumento político. Ou funciona ou não funciona sob o prisma das lutas materiais -- não de uma grande estratégia, plano ou ideia.</span></div>
</div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
Mas o Syriza precisou aceitar todas as condições que seu próprio povo rejeitou em plebiscito, afinal, entre a dignidade e a Europa, é preciso prevalecer a Europa, pois é a unificação europeia o nome pós-moderno do velho internacionalismo -- e só com a concretização desses ideais poderemos chegar a uma sociedade absoluta e definitivamente digna.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
A máquina estatal alemã fez uma aposta infinita e venceu. Enquanto isso, se ouve a risada das hienas europeias. A Europa se unifica na forma não de um internacionalismo, mas de um estatismo bem Europeu -- como na unificação de todos os modernos Estados modernos, quando uma potência regional subsumiu as unidades políticas menores, como fez a própria Prússia em relação aos pequenos Estados germânicos para, em torno de si, fundar o Império Germânico.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
A Europa unificada nascerá não-democrática -- em oposição à realidade conquistada (nem que seja parcial e relativamente) nos planos dos atuais Estados europeus. A Europa, esta Europa, nada tem a ver com democracia <a href="http://blogdaboitempo.com.br/2013/03/28/um-imperio-latino-contra-a-hiper-potencia-alema/" target="_blank">como observou com imensa lucidez Giorgio Agamben</a>.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />
O realismo cínico da direita -- e de burocratas apáticos e apolíticos de bancos e da Europa -- faz com que seu projeto avance, sobretudo quando as forças de oposição colaboram consigo sem querer, movidos a ideias.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i>Um cadáver insepulto ronda a Europa, é o cadáver de Hegel</i>. Eis a atualização correta para a célebre fala de Marx e Engels neste 2015 -- ano 8 ou 9 da Crise --, quando a bandeira europeia trêmula sobre as ruínas da economia grega. No Brasil, a síndrome de Bentinho nos toma de assalto e nos imobiliza: se não basta apenas entender o mundo, mas muda-lo, antes é preciso deixar de julga-lo, abandonando a mania de fazer da multidão uma pilha de absolvidos e condenados.</span><br />
<br /></div>
</div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-20641410548901041912015-07-18T18:10:00.002-03:002015-07-18T18:14:57.117-03:00Momento Poesia: E Isso que eu Sonhei, Eu Sonho<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://lh6.googleusercontent.com/cRRec25err9MSrUiSZv8__fakKeOJcyYh2u-yDbB_EzLCgqfyi7737442-9I2wKcDmUsx7MAr0rgmeExiiBvqOmOe5zq2tKvwnAHFun1rBJhpUl5b4kmXelmkmqyu20akfrKgGI" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://lh6.googleusercontent.com/cRRec25err9MSrUiSZv8__fakKeOJcyYh2u-yDbB_EzLCgqfyi7737442-9I2wKcDmUsx7MAr0rgmeExiiBvqOmOe5zq2tKvwnAHFun1rBJhpUl5b4kmXelmkmqyu20akfrKgGI" style="-webkit-transform: rotate(0rad); border: none; transform: rotate(0rad);" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Chavannes -<a href="https://fr.wikipedia.org/wiki/Pierre_Puvis_de_Chavannes#/media/File:Pierre-C%C3%A9cile_Puvis_de_Chavannes_003.jpg" target="_blank">-Le Rêve (1883</a>)</td></tr>
</tbody></table>
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E ISSO QUE EU SONHEI, EU SONHO*.</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">(</span><a href="http://www.stihi-rus.ru/1/Tarkovskiy/" style="text-decoration: none;"><span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: underline; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">Arseny Tarkovsky</span></a><span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">)</span></span></div>
<b id="docs-internal-guid-d2f67285-a2ff-1ebf-ae27-860d85577f3a" style="font-weight: normal;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E isso que eu sonhei, eu sonho,</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E isso algum dia novamente eu sonharei,</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.62; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E se repetirá tudo, e tudo reencarnará</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.62; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E vós sonhareis com tudo que eu vi em sonho.</span></span></div>
<b style="font-weight: normal;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.62; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Lá, além de nós, até do mundo além</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.62; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Onda após onda quebra na costa</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.62; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E sobre cada onda uma estrela, um homem, um pássaro</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.62; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Uma realidade, um sonho, uma morte -- onda após onda.</span></span></div>
<b style="font-weight: normal;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.62; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não preciso de números: eu era, sou e serei,</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.62; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A Vida -- milagre dos milagres, de joelhos um milagre</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.62; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Sozinho, como um órfão, eu mesmo me coloco</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.62; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Sozinho, entre os espelhos, cercado por reflexos</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.62; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Mares e cidades, incandescência em torpor</span></span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E a mãe em lágrimas leva seu rebento no colo.</span></span></div>
<b style="font-weight: normal;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></b>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">(*</span><a href="http://www.stihi-rus.ru/1/Tarkovskiy/37.htm" style="text-decoration: none;"><span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: underline; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">И это снилось мне, и это снится мне</span></a><span style="background-color: white; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; text-decoration: none; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;">...)</span></span></div>
<span style="background-color: white; vertical-align: baseline; white-space: pre-wrap;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(Tradução do russo em confronto com a tradução em inglês)</span></span>Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-35021676664091573212015-07-06T13:19:00.001-03:002015-07-22T11:56:59.942-03:00Grécia: A Vitória do Não, a Renúncia de Varoufakis e a Falácia Europeia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrarfBpRWutF2VohRpzq0n0qRZK2NXiOsgtkoIRBx6gHtisCgXa_ECI1y55LS3S6H9Ci3DR9rK9nDPdeO9auim-Z8tP-4N1gs0V5YVDMvl44M4Bm95Pc-g4jcKHX9tnygYlEsWGW6zpxg/s1600/Syntagma+festa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhrarfBpRWutF2VohRpzq0n0qRZK2NXiOsgtkoIRBx6gHtisCgXa_ECI1y55LS3S6H9Ci3DR9rK9nDPdeO9auim-Z8tP-4N1gs0V5YVDMvl44M4Bm95Pc-g4jcKHX9tnygYlEsWGW6zpxg/s400/Syntagma+festa.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Manifestantes comemoram a vitória na Praça Syntagma (<a href="https://twitter.com/pmarsupia/status/617793468337909760" target="_blank">Via Principa Marsupia</a>)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Durante todo dia de ontem, o mundo manteve os olhos fixos no plebiscito grego. Os gregos diriam <i>Oxi</i> (Não) ou <i>Nai</i> (Sim) para a "proposta" da Europa -- na verdade, uma ordem transformada em proposta quando os líderes gregos, em um momento de inspiração, resolveram, fazer desta objeto de uma consulta popular.<a href="http://migre.me/qEYTk" target="_blank"> E o <i>Não</i> ganhou por larga margem, mais de 61%,</a> em um pleito cuja participação foi semelhante à das eleições parlamentares do início do ano.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Pois bem, mal foram abertas as urnas e a suposta vitória do Sim, apontada pelos principais institutos de pesquisa gregos ao longo da semana, se desmanchou no ar; antes, os mesmos institutos já falavam, em "vitória apertada" do Não nas suas pesquisas de boca de urna, algo entre 54% e 52%, coisa que não se confirmou. Depois de uma semana de blitz midiática, terror bancário e pesquisas no mínimo falhas, os gregos deram um retumbante não contra a opressão Europeia. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYL0FyyK05iQWzNwOJBDeKUHkaDQgNs2QI0neqVEFj_udWjeExoz1odSr9KvtrZzBM89_qj1Irwa2mkC0rmE6V-AauL3jnDFgapJLtvxm2S0s4iBD0h9CXeMZ7K0Yxtm6h5c4-o3V7RVY/s1600/OXI_Resultado.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="156" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYL0FyyK05iQWzNwOJBDeKUHkaDQgNs2QI0neqVEFj_udWjeExoz1odSr9KvtrZzBM89_qj1Irwa2mkC0rmE6V-AauL3jnDFgapJLtvxm2S0s4iBD0h9CXeMZ7K0Yxtm6h5c4-o3V7RVY/s320/OXI_Resultado.png" width="320" /></a><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">A vitória, apurada às 2:51 desta segunda-feira em Atenas (21:51 de domingo no horário de Brasília), está muito além dos 36% de votos que o Syriza obteve nas eleições de Janeiro ou dos pouco mais de 40% que sua coalizão recebeu. Mesmo somados os votos obtidos em Janeiro por todos os partidos que apoiaram o Não, eles não chegam a 50%, o que determina que houve um acréscimo substancial de apoio popular à causa antiausteridade -- tanto que Antonis Samaras, ex-premiê e líder da oposição, renunciou ao seu posto.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Ocorre que pela manhã de hoje em Atenas, madrugada no Brasil, surge uma novidade quando os partidário do Não mal haviam se retirado das comemorações na <i>Praça Syntagma</i>, um fato surpreendente aconteceu: <a href="http://outraspalavras.net/blog/2015/07/06/vitorioso-varoufakis-deixa-governo-grego/" target="_blank">Yanis Varoufakis, o superministro da economia do Syriza, renunciou</a>. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Varoufakis, <i>literalmente um grego entre romanos</i>, perturbava os euroburocratas, seja por sua formação mais próxima da heresia anglo-americana de esquerda (e seus <i>think tanks</i>) ou por sua figura protagonista na mídia. Há pouco mais de uma semana, ele foi expulso pelos seus pares da reunião dos ministros da economia do bloco, quando as normas costumeiras determinam que deve haver unanimidade sobre certas decisões e presença de todos os pares, gerando assim parte do imbróglio que motivou a convocação de consulta popular.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Trata-se, pois, de uma renúncia bastante estranha e inesperada, uma vez que segundo o agora ex-ministro -- que chegou a dar coletiva de imprensa depois da vitória do Não -- sua decisão se deu porque o premiê grego, Alex Tsipras, aceitou que ele não estaria presente na reabertura das negociações, uma vez que havia indisposição com seu nome. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Na prática, o "gesto de boa vontade" para com a Europa de Tsipras parece ilógico: depois de ter vencido o plebiscito, ele aceitou um dos vetos europeus que causaram a própria convocação da consulta.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Será que o gesto de Tsipras dará certo? Ou melhor, a forma como o Syriza significa a importância dessa atual União Europeia faz sentido? Será que a negociação que Tsipras imagina irá mesmo ocorrer? Será que diante da vitória de ontem, não sustentar seu corpo ministerial, sobretudo seu principal ministro, faz algum sentido?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O ponto é que o Syriza supõe que venceu o plebiscito de ontem -- com uma votação muito acima da que o levou ao poder em Janeiro -- com uma promessa de reforma da Europa, promessa da qual não pode se desvencilhar, o que é mais uma autoilusão do que uma ilusão que o eleitorado nutre a respeito dele: as pessoas querem emprego, dinheiro para se alimentar etc. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Se existe alguma preferência pelo Euro e pela ideia de europeísmo, isto se dá pragmaticamente pela forma como isso poderia melhorar a vida dos gregos. Se hoje a Grécia abrisse mão do Euro e as coisas melhorassem, obviamente, ninguém iria se opor a isso. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Entre a Europa ideal e o que é a Europa hoje há, pois, um profundo abismo. </span>E a crise econômica, que levou os governos a gastarem o que não tinham para resgatar os bancos sem garantias, apenas revelou, e não transformou, o rosto verdadeiro do comando europeu: tecnocrático, desumano e implacável. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Se com o tempo, os Estados nação europeus foram democratizados à força -- e muitas instituições multitudinárias e se cristalizaram no funcionamento da máquina --, quando o "sonho europeu" foi edificado, com sua bela bandeira e seu lindo hino, tomando aos poucos atribuições nacionais, as novas instituições europeias já nasceram imunizadas das reivindicação plebeia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Se para um Rancière, os nossos sistemas são um misto de democracia com oligarquia, a estrutura de Estado europeia, ao contrário do que as lutas determinaram nos planos nacionais, já nascia com sobrepeso para as castas burocráticas, financeiras e afins. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O processo desencadeado na Europa ruma, pois, não para um pós-Estado, mas para uma forma de Estado plurinacional, coisa que a Espanha, Bélgica ou Reino Unido já são, mas certamente dando mais voz às suas sociedades civis e às suas minorias nacionais. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Não há novidade alguma nesse "projeto europeu" -- e menos ainda quando os tecnocratas continentais se aliam com banqueiros para se retroalimentarem, fazendo com que o futuro Estado europeu se pareça mais com uma União Soviética, só que sem qualquer conteúdo revolucionário.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O gesto de Varoufakis sobre Tsipras é mais simples, embora potente: fora do governo, depois de sair de cena em uma condição vitoriosa, ele joga luz e peso sobre a decisão pragmática de seu premiê. Varoufakis sai fortalecido e Tsipras resta sob pressão do que ele está disposto a fazer nessas negociações -- e já <a href="http://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/27/internacional/1430146229_713615.html" target="_blank">não é a primeira vez que Tsipras se mostra pronto a vacilar.</a> Existe aí uma disputa sobre métodos e formas para se chegar ao mesmo objetivo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Varoufakis, como um cavalheiro, abre espaço em prol do coletivo, mas também obriga que essa mesma coletividade assuma seus compromissos. Um gesto de (auto)entrega sacrificial semelhante ao da proposição do plebiscito. E de fato, até agora, o Syriza ganha de 7x1 no desmonte dos mitos construídos pelos oligarcas europeus.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">De todo modo, entre a posição de um e outro, existe a armadilha entre a Europa que é, a que deveria ser e a que é possível. Todos os gestos éticos do governo grego são golpes duros contra uma estrutura de poder que, contudo, ciente da derrota nesse âmbito, aposta na estratégia do medo quase que exclusivamente para atender propósitos transcendentais -- ou menos até do que isso, interesses pequenos que vão desde um cargo até o pequeno poder.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Como já alertou o Nobel de Economia Joseph Stiglitz, <a href="http://outraspalavras.net/destaques/stiglitz-encoraja-grecia-ha-vida-depois-da-ruptura/" target="_blank">há vida se houver ruptura com o Euro</a>, fato que é muito mais um tabu para o próprio Syriza do que para a população grega ou para a ciência econômica. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Se o Syriza se mantiver forte, usar com sabedoria a vitória de ontem e souber que a Europa unificada é um meio, e não o fim, das lutas democráticas, ele poderá vencer ou, no seu sacrifício, reverter um quadro que parecia certo -- mas para isso precisará adotar planos de contingência certamente muito mais duros do que os atuais. Os próximos dias serão decisivos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-25153543880136622132015-07-04T13:12:00.001-03:002015-07-04T13:12:53.836-03:00Grécia: Quando o Não Afirma<div style="text-align: left;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRaBLzyUn9CxmW8pbnfv1HfbuPZZAUqpJptMO-uq2_JklKRH-Rj2jPAHfOs4K2fc6RmWrfeDBLee5Br_npe4NKOS9IVlfr2y4hwrOyow2qNdKer_OJK8JiK1DWoXPSNv9yO5JEe27TJeA/s1600/varoufakis2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRaBLzyUn9CxmW8pbnfv1HfbuPZZAUqpJptMO-uq2_JklKRH-Rj2jPAHfOs4K2fc6RmWrfeDBLee5Br_npe4NKOS9IVlfr2y4hwrOyow2qNdKer_OJK8JiK1DWoXPSNv9yO5JEe27TJeA/s400/varoufakis2.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">foto estilizada do ministro grego Varoufakis <a href="https://www.facebook.com/VforVaroufakis?pnref=story" target="_blank">em página em sua homenagem</a></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">No domingo, <a href="http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/a-grecia-poe-na-mesa-a-carta-da-democracia-5291.html" target="_blank">será realizado um <i>plebiscito</i> na Grécia</a>, após convocação do próprio governo e votação do parlamento, no qual será avaliada a proposta da Troika (FMI, União Europeia e Banco Central Europeu) de aprofundamento da política de austeridade, com mais cortes sociais. Trata-se, pois, do capítulo decisivo de uma novela que se estende há anos -- e que temos acompanhado aqui desde seus primórdios.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O governo do Syriza, encabeçado por Alex Tsipras e seu superministro da economia, Yanis Varoufakis (qual ministro da economia do mundo é capaz de andar no meio <a href="https://www.facebook.com/hugo.albuquerque/posts/10205779172857674?pnref=story" target="_blank">deste jeito</a>?), se elegeu com uma agenda moderada e serena questionando um "plano de resgate" que, na verdade, não só não teve nenhum resultado econômico algum como, ainda, agravou a situação com graves consequências para a sociedade e a política da Grécia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Ainda assim, o poder europeu, depois de conceder alguns meses para a Grécia, não recuou em nada e, não só, ainda voltou com a carga toda. Com <a href="http://www.infogrecia.net/2015/06/como-o-eurogrupo-expulsou-varoufakis-da-reuniao/" target="_blank">a expulsão de Varoufakis</a> da reunião entre os ministros da economia do bloco, a situação chegou ao limite. Os líderes gregos, pois, não aceitaram a imposição e propuseram uma surpreendente consulta popular, à qual as autoridades europeias se opuseram de pronto, dizendo-se "traídas" (como <a href="http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=4650855" target="_blank">um Juncker</a>).</span><br /><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Eis que consulta popular foi convocada pelo próprio governo, nos termos do art. 44 da <a href="http://www.hri.org/docs/syntagma/" target="_blank"><i>Constituição da Grécia</i></a>, apesar de protestos da oposição que não consideraram a atual situação como "matéria social relevante" ou "questão crucial para a nação", mas sim uma mera questão fiscal -- matéria cuja proposição de consultas populares é vedada por aquela Lei Maior. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">A declaração dos partidos pró Europa -- que hoje equivale simplesmente a se dizer pró Troika -- revelou não apenas o tamanho, mas o exato tipo da perversidade que os domina -- e, por extensão, seus pares em cargos no Eurobloco --; é preciso normalizar a situação, o que se parece uma grave crise deve parecer uma questão fiscal -- ao mesmo tempo que vendem o caos como resultado do plebiscito.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">No fim, o Syriza fez valer sua maioria parlamentar, <a href="http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/06/parlamento-grego-aprova-convocacao-de-referendo/" target="_blank">aprovou a consulta no parlamento </a>-- contra os partidos europeístas e, ainda, sem a ajuda dos comunistas -- e, depois,<a href="http://www.theguardian.com/business/live/2015/jul/03/greek-debt-crisis-council-of-state-to-rule-on-referendum-live" target="_blank"> a tentativa de barrar na justiça a sua realização foi rejeitada</a>. </span><br /><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Erradamente chamado de "referendo" pela mídia brasileira, o termo técnico correto para a votação que ocorrerá é <i>plebiscito</i>, uma vez que o povo grego tomará a decisão -- e não ratificará ou vetará uma decisão ou lei já tomada ou feita, o que seria um referendo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Em grego, sublinhe-se, o termo é δημοψήφισμα (<i>demopsifisma</i>, literalmente, "resolução popular"), o que serve tanto para plebiscito quanto para referendo, muito embora não haja hipóteses de referendo na Lei Maior da Grécia (no sentido da Constituição brasileira). </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Se a oposição pró Europa tentou normalizar a ebulição, e dilui-la em boas doses de medo, por outro lado, o Syriza conseguiu transformar uma imposição europeia em uma escolha para os gregos. Mesmo que responder sim -- no caso concordar com o "plano europeu" -- venha a ser a decisão autônoma de cometer suicídio.</span><br /><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7M3Ol25iqi73TKMZLu5JgjXXjx7XT5dkxmxjgR4xaviMviOKMYq85LQ8q080SoXtdGPweoja4L9WtU84NQU6vFVjE2pddXrfIj5BwaXNbxIQW0sGUAapuMmCOsP8EQzhior97IFNIqLU/s1600/OXI_Gr%25C3%25A9cia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7M3Ol25iqi73TKMZLu5JgjXXjx7XT5dkxmxjgR4xaviMviOKMYq85LQ8q080SoXtdGPweoja4L9WtU84NQU6vFVjE2pddXrfIj5BwaXNbxIQW0sGUAapuMmCOsP8EQzhior97IFNIqLU/s400/OXI_Gr%25C3%25A9cia.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Multidão se aglomera na frente do parlamento grego para apoiar o Syriza</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Nada disso, é óbvio, interessa aos líderes europeus, que esperavam cooptar ou obrigar o <i>Syriza</i> a aplicar seu maravilhoso plano. Na falta disso, parecem dispostos a simplesmente pôr o governo grego de joelhos e, assim, forçar uma mudança de governo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Não à toa, uma vez convocado o plebiscito, a Europa produziu uma blitz sobre os bancos gregos, o que forçou o governo a decretar uma semana inteira de feriados bancários, na qual os gregos só poderiam sacar, de forma igualitária, 60 euros por dia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Assombrar os gregos com um colapso bancário, às vésperas da votação, obviamente é quase um ato de guerra. E, assim, se joga um peso enorme sobre a decisão grega. Em resumo, o gesto acrobático de Tsipras foi duramente retaliado. A Troika não é feita de amadores.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Agora, o Syriza terá de tocar uma campanha à base do corpo a copo, do sacrifício e da entrega. A seu favor, ele tem a desmoralização dos líderes pró-Europa e de seus partidos na Grécia, contra, o medo que toma a população grega.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Votar <i>Oxí</i> (não) é assumir, a partir da negação, um começo de afirmação de si mesmo.O "não" como sombra ontológica da afirmação das diferenças pode ser, ao menos, um começo, um começo que sempre vem com dificuldade: nestes momentos, ele se torna um potencial sim à outra coisa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Para os gregos, a exclamação político <i>Não</i>, inclusive, tem um significado histórico salutar, tendo a data comemorativa. <a href="https://aceofgreece.wordpress.com/2013/10/25/october-28-the-anniversary-of-oxi-day/" target="_blank">28 de Outubro é Dia do Não na Grécia</a> em referência a um célebre episódio da Segunda Guerra Mundial, quando o ditador grego <b>Ioánnis Metaxás</b> se negou a abrir suas fronteiras para as tropas fascistas de Mussolini. A resposta ao pedido indecente foi um lacônico<i> não</i>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O resto da história se sabe: Os italianos tentaram invadir a Grécia, foram surpreendentemente rechaçados, e só depois, com envolvimento direto das tropas alemãs, as forças do Eixo conseguiram se estabelecer na península grega -- não sem enfrentar a resistência de destemidos <i>partisans</i>. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Aquele episódio serviu para ilustrar uma certa constância na história do atual Estado grego, um país com quase a mesma idade do Brasil desde sua independência do Império Otomano: Se o povo e românticos como Byron lutaram pela independência grega face aos turcos, depois só se repetiu, por parte da Europa e seus aliados nas elites gregas, o misto de covardia e intervenção. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Monarcas estranhos aos gregos foram nomeados, golpes foram dados, guerras civis deflagradas e, hoje, estamos diante de um sufocamento de novo tipo. A civilizada Europa se repete: entre a covardia e um instinto muito suspeito de destruição contra o que é, aliás, seu berço cultural -- o que se esconderia sob a vontade de arrasar justo a Grécia? O vazio histórico dos líderes europeístas se revela com tal gesto nada sutil.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O fato é que há uma união dos interesses do setor financeiro, e sua fome insaciável, a pior geração de líderes políticos europeus desde os anos 1930 e a afirmação, cada vez mais acentuada, de que a União Europeia é só um arranjo tecnocrático; tal união está minando mais do que economias, mas sim a própria possibilidade de democracia no continente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Ainda que a superação do Estado nação seja devida e esperada, e o <i>idea</i>l de Europa belíssimo, o fato é que, na prática, a estrutura europeia <b>real</b> não é democrática como, ainda, é refratária a esta ideia fantástica. O que há de democrático está nos Estados de cada país europeu, em virtude do que a larga tradição de lutas impôs a cada Estado europeu, sobretudo no seu oeste. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">A União Europeia já nasce, entretanto, livre de tudo isso. Caso a Europa se tornasse hoje uma federação em torno da estrutura de poder de Bruxelas, o resultado seria um regime muito mais fechado do que o americano e, por certo, socialmente mais inclemente do que o chinês ou o russo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">De
todo modo, não é só sobre a Grécia ou a Europa que este processo trata,
mas sobre o mundo. A capitulação grega -- que se vier, virá sublime na
forma de um sereníssimo suicídio -- diz respeito ao mundo todo, a uma
intrincada rede global erigida, inclusive, sobre muitos paradigmas,
termos e invenções gregas. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Não à toa, a Europa <a href="https://www.facebook.com/solidaritywithgreece?pnref=story" target="_blank">se organiza a favor do não grego</a> bem como intelectuais do porte dos<a href="http://www.publico.pt/mundo/noticia/krugman-e-stiglitz-defendem-que-gregos-votem-nao-no-referendo-1700523" target="_blank"> Prêmio de Nobel de economia Paul Krugman e Joseph Stiglitz</a> e, pasmem, até um Habermas, o eterno cândido do europeísmo também classificou a política europeia para a Grécia <a href="http://www.sul21.com.br/jornal/a-escandalosa-politica-grega-da-europa-por-juergen-habermas/" target="_blank">como escandalosa</a>.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Se faltou realismo para o Syriza para, desde o início de seu governo adotar uma estratégia mais dura, que concebesse a possibilidade de saída do Euro, ou se sobrou ingenuidade e voluntarismo em propor esse plebiscito não sabemos, mas hoje o futuro de todos nós está lá.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">A crise, termo jurídico para julgamento em grego clássico, foi incorporado como metáfora na medicina: a hora em que o médico pode, ou deve, saber se o paciente vai morrer -- e como intervir. E essas metáforas, dando voltas, se fazem verdadeiras agora.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Quis o destino que o caminhar das coisas não só se agravasse como, ainda, caminhasse para uma trilha de variadas formas de sacrifício cristão (em sua potência forte e sua potência fraca): o da entrega da carne à multidão, como fez o Syriza, ou da mortificação pura e simples como propõem seus adversários. Mas como já dizia <a href="http://www.stihi-rus.ru/1/Tarkovskiy/69.htm" target="_blank">um poeta russo:</a></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><i>Enquanto isso, o destino seguia nossa trilha <br /> Como um louco com uma navalha na mão.</i> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-18277689642190241542015-04-17T13:32:00.003-03:002015-04-17T13:32:59.270-03:00A Democracia Brasileira e as Crises Gêmeas<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxpodtJkm-19dflS6aVUc386SEr9OvoHO1zgZV1LeWJ8JAhWnnHr7sSN1JBw9UbVx7nKsms5x8QCaP8IVhHJwOAAyl-NIZUdL4wd2j2j-SqOqyuS8DSW5CnIBeLh9pPG_K4z7OyePec2k/s1600/Largo+da+Batata_Contra+a+Terceririza%C3%A7%C3%A3o.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxpodtJkm-19dflS6aVUc386SEr9OvoHO1zgZV1LeWJ8JAhWnnHr7sSN1JBw9UbVx7nKsms5x8QCaP8IVhHJwOAAyl-NIZUdL4wd2j2j-SqOqyuS8DSW5CnIBeLh9pPG_K4z7OyePec2k/s1600/Largo+da+Batata_Contra+a+Terceririza%C3%A7%C3%A3o.jpg" height="300" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Manifestação contra a Tercerirização em São Paulo: a Hipótese da saída pela Praça Pública<br />(Tiago Queiroz/Estadão)</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Participação minha no programa</span><i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Melhor e Mais Justo</i><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> da </span><a href="http://www.tvt.org.br/" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Rede TVT</a><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">: debate que contou com a participação do</span><b style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Aldo Fornazieri</b><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> sobre as crises gêmeas que afetam o Brasil, na economia e na política, a conjuntura, possíveis saídas etc.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Bloco 1:</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/nVSxu24DXjc" width="560"></iframe></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Bloco 2:</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/i2HcqsJesSs" width="560"></iframe></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Bloco 3:</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/ZXppCaFiU2I" width="560"></iframe></span></div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-85971217075879569022015-03-13T12:00:00.000-03:002015-03-13T12:00:02.903-03:00As Marchas de Março: o Brasil precisa de Liberdade, não de Salvação<div style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPaJlXo27Vrn3dBO0rtpJ3YBNIMXkmrboPpCTFNq0aQi2iOtftAy6SZ9Zgj18oT664jPd8-LrsG-a6jyUMxvUT5tzapX7ocEjj_q9IqGrKNbqUP36Q7jR2tdciCShv5DZ9pGbEoCEmF74/s1600/Laerte+2015.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPaJlXo27Vrn3dBO0rtpJ3YBNIMXkmrboPpCTFNq0aQi2iOtftAy6SZ9Zgj18oT664jPd8-LrsG-a6jyUMxvUT5tzapX7ocEjj_q9IqGrKNbqUP36Q7jR2tdciCShv5DZ9pGbEoCEmF74/s1600/Laerte+2015.jpg" height="195" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Laerte</td></tr>
</tbody></table>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Enquanto as águas de Março fecham o Verão, estamos às portas de duas manifestações massivas: a desta sexta-feira 13, puxada pelas centrais sindicais reivindicando o fim do arrocho, e a do dia 15, uma marcha conservadora articulada pela mídia tradicional e grupos <i>pró-impeachment</i> de Dilma.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A primeira é uma manifestação sindical tradicional contra o arrocho; a segunda é só uma versão 2.0 das velhas marchas "cívicas" que antecederam o golpe de 64, mas desapareceram gradualmente com a desmoralização da ditadura que foi gerada em virtude daquilo. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Ambas as marchas pertencem ao século 20º e não se comparam a Junho de 2013. Basta ver a leniência prévia do oligopólio midiático com a "mobilização popular".</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Evidentemente, a marcha que se planeja para hoje é constituinte de direitos, ainda que seja questionável na forma -- e talvez por poder ser taticamente inoportuna. A de domingo 15, que já tem cobertura privilegiada da mídia, é apenas uma exploração de uma justa indignação com fins de manipula-la.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">A crise, sem dúvida, é feia. O governo Dilma travou não por fatores técnico-formais, mas por sua própria engenharia subjetiva -- e projetiva: Dilma errou ao buscar criar um país de classe média, não de cidadãos. Ficou presa em um economicismo, brigou com aliados nas instituições, mas não se contrapôs a eles realmente: certamente lhe falta vocação de se voltar para a sociedade civil.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">O desenvolvimentismo, na verdade, acabou sendo uma estranha e inesperada reação ao processo de ascensão social iniciada em Lula. Um jeito de "moralizar" e "racionalizar" o processo que deu certo. Na verdade, a tentativa de organizar a ascensão social é que comprometeu tudo, fazendo se perder o que realmente havia de original e singular no Lulismo.</span><br />
<br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Em meio aos impasses do desenvolvimentismo, Dilma resolveu apelar para política de austeridade, a qual combateu na campanha eleitoral. A metáfora de que <a href="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/201768-o-planalto-de-kafka.shtml">ela serrou o próprio galho</a>, de André Singer, não poderia ser mais verdadeiro. E a fala de domingo último, sem dúvida, foi um desastre: vaiada pelas elites que, no fim das contas, s<a href="http://outraspalavras.net/brasil/quatro-hipoteses-sobre-um-discurso-desastroso/">e beneficiaram pelos ajustes</a>, Dilma ficou só. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Só que Dilma, dentre todos os principais candidatos, é a única que não poderia ter aplicado a austeridade (e é o lado colateralmente bom dela ter sido eleita: a austeridade nela aparece como traição, enquanto nos outros seria "remédio amargo").</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">O ajuste econômico conduzido pelo homem forte do novo ministério, Joaquim Levy, cortou direitos sociais e aumentou tributos sobre as pessoas comuns. Nada diferente do que propunham os adversários de Dilma, mas que ela, justo ela, não poderia concordar.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />Não que nada não devesse ser feito, mas que antes de cortar direitos e aumentar tributos, talvez arrochar a sonegação e a evasão de tributos dos mais ricos, tal como tributa-los mais, seria um bom caminho -- só em virtude das principais ilicitudes tributárias, <a href="http://www.valor.com.br/brasil/3333552/no-mundo-brasil-so-perde-para-russia-em-sonegacao-fiscal-diz-estudo">o Brasil chega a perder, ironicamente, 13% do PIB em arrecadação</a> (!), segundo avaliações internacionais.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Enfim, o impasse atual é tão grave que ele ainda acorda velhas doenças. O ato do dia 15 é uma clara manipulação, movida por setores ultraconservadores, pouco afeitos à democratização do país. Mas de tanto o governo bater de frente com manifestações espontâneas, muitas vezes as acusando de serem manipuladas, agora ele colheu <a href="http://outraspalavras.net/brasil/quem-esta-por-tras-do-protesto-no-dia-15/">uma agenda realmente fabricada</a>.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Evidentemente, nem todas as indignações que se catalizarão dia 15 serão movidas por elitismo e autoritarismo, embora estes sejam componentes óbvios do processo e, sobretudo, sua direção; há uma sincera insatisfação, mas sinceras insatisfações de massa bem manipuladas geram cenários perigosos.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Hoje, a esquerda precisa se organizar a despeito do governo: contra o impeachment falso das elites -- e suas manifestações oportunistas --, contra os oportunistas do Congresso, mas também contra sua política econômica e sua gestão política. A disputa, contudo, passa antes pela sociedade do que pelo Governo, o qual, nas condições atuais, é irreformável por dentro.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Diante do salvacionismo, do messianismo e quetais, precisamos de liberdade e é isto que precisa ser oposto a todos os inimigos da sociedade. Verter a "indignação popular" em indignidade multitudinária.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-29158482309497883272015-03-07T03:49:00.000-03:002015-03-07T03:49:02.875-03:00Birdman -- e Triunfo Fracassante dos Anos 2010<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeWTWUwdtw1cjgYE6aFZawS7ODIzjz8gK9fb0bA2kA4KqIIswV1R8YChKBstxu8lgy096g-bzEq5moMF-grlhboRuQhpwWzhIqBGebwvQmrcSltjf38h8y_KszVSOrZI15AH41ywveyGY/s1600/birdman500.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeWTWUwdtw1cjgYE6aFZawS7ODIzjz8gK9fb0bA2kA4KqIIswV1R8YChKBstxu8lgy096g-bzEq5moMF-grlhboRuQhpwWzhIqBGebwvQmrcSltjf38h8y_KszVSOrZI15AH41ywveyGY/s1600/birdman500.jpg" height="400" width="281" /></a></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Birdman (ou a Inesperada Virtude da Ignorância) </i>do talentosíssimo diretor <i>Alejandro González Iñarritu</i> ganhou três estatuetas do Oscar merecendo ganhar -- e levou, inclusive, a de melhor filme. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Além de bem escrito, <i>Birdman</i> é muito bem dirigido e tem excelentes atuações -- de Edward Norton mais até do que Michael Keaton, embora sem o último o filme não pudesse existir. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Keaton faz Riggan Thomson, um ator famoso pelos filmes de super-herói da série "Birdman", da qual ele desistiu de dar continuidade não sem ficar mortalmente identificado com o personagem. Agora, ele espera realizar uma continuidade "séria" para a carreira, realizando uma peça na Broadway na qual ele também atua.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Nada disso importa para o público, seu agente, sua filha ou seus companheiros de teatro: n</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">inguém imagina que o velho astro é um maníaco depressivo, todos o julgam a partir da imagem vitoriosa que ele construiu de si mesmo -- ou no máximo alguém o julga por não ser o que parece. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Enquanto isso, o público só quer tirar fotos com o "Birdman" e</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> a crítica teatral aguarda o dia da estreia da peça para destruí-la, numa ação para salvar a </span><i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Broadway </i><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">das celebridades que ousam brincar de atores "de verdade". </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Thomson quebra a cabeça para acertar a peça na qual apostou tudo mas que, no entanto, ruma para o fracasso. </span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Em meio aos seus delírios, e a obsessão em realizar sua obra, Thomson ganha o reforço de Mike Shiner (Norton) para o elenco, um ator de teatro louco e brilhante que resolve a peça, mas traz mil outros problemas para a trupe.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">A trama se desenrola num misto de imaginação e realidade, no qual a realização da peça passa a cruzar as fronteiras da ficção -- assim como os delírios de Keaton/Thomson.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">...</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Enfim, <i>Birdman</i> é uma conversa que está para além de "uma fábula sobre o fracasso" ou de "um confronto da arte verdadeira contra sua versão farisaica, o entretenimento de massa". É uma tragicomédia sobre uma época na qual nos convertemos em personagens públicas perfeitas, superestimadas e infalíveis -- mas não só: nós convencemos os outros dessa insanidade.</span></div>
<div>
<br /></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">De um jeito ou de outro, nos tornamos escravos do personagem que fizemos de nós mesmos: somos odiados ou amados por conta da máscara triunfante e gloriosa, nunca por aquilo que está abaixo e além dela.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Quem supõe conhecer a verdade decadente da nossa vida privada, o faz do mesmo modo, às avessas: somos fracassados egoístas, pois descobrir que não somos perfeitos nos converte em farsantes, jamais em humanos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">É como Shiner/Norton que perde a namorada ao dizer que queria transar, de verdade, com ela no palco numa cena de sexo. Ela, que se sentia preterida por ele há meses, o rejeita sobretudo por julgar aquilo uma brincadeira jocosa dele. Se ela pudesse imaginar que ele realmente é impotente fora dos palcos...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Thomson/Keaton, que tampouco é entendido, mas não entende sua companheira atual enquanto reivindica amor e compreensão. Ou seus constantes delírios, quando ele imagina o </span><i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Birdman</i><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> falando na sua cabeça, ou ele próprio, com os poderes do seu ex-personagem, "fazendo as coisas acontecerem" na vida real.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Todos queremos ser amados, mas não correspondemos ninguém na medida que desejamos ser correspondidos. </span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Seríamos calhordas se conseguíssemos ser o que aparentamos, mas estamos além e aquém disso, somos humanos. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">A figura do super-herói a qual Iñarritu recorre não é bem um super-herói. O <i><b>tipo</b> </i>sobre o qual Birdman fala talvez seja apresentado assim para expressar o gigantismo como nosso alter-ego se perfaz hoje em dia, m</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">as o filme, na verdade, fala de monstros: criaturas fora de qualquer métrica real que, no fim das contas, se movem pela carência; </span><i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">imploramos para ser amados</i><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> como diz Thomson no palco (e na vida real).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">O que nos resta é uma dor solitária, incomunicável, que nos deixa sozinhos com nossos demônios internos -- numa jornada rumo a uma incontornável decadência. A nossa máscara não permite que as pessoas sequer percebam o quanto vamos mal.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Na era das redes sociais, da necessidade de "ser" feliz, bonito e bem-sucedido, o que nos resta é um triunfo fracassante. Um glória tal que nos desertifica subjetivamente. Fingimos um força sobre-humana que só serve para impedir o nosso resgate, afinal, nós não precisamos, não é mesmo?</span><br />
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-65519362224538740642015-03-02T01:32:00.000-03:002015-03-02T01:34:49.393-03:00Fatumbi Verger & as 300, 350 máscaras de Exú (Por Lucas Jerzy Portela)<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<i style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: small;"><br /></i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2HUEq5Wdgoxwh9JiLFDHBkdFdA5wn1v5NWXHyaOhMuATkCl_zm82MEf0EOI_hYZ6lVdhRfdekq09901pcCSKxuVZB11VEfiQllQmXOnEc-fPOHZ430KlsAXEDSxXFnTI8RnDTnhO2JlM/s1600/verger+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2HUEq5Wdgoxwh9JiLFDHBkdFdA5wn1v5NWXHyaOhMuATkCl_zm82MEf0EOI_hYZ6lVdhRfdekq09901pcCSKxuVZB11VEfiQllQmXOnEc-fPOHZ430KlsAXEDSxXFnTI8RnDTnhO2JlM/s1600/verger+1.jpg" height="480" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<i style="font-size: small;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">(Legenda: Verger, Jorge Amado e Carybé – os Três Mosqueteiros da Avant-Gard Bahiana)</span></i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<div style="font-size: medium; text-align: start;">
</div>
</div>
</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<i style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: small;"><br /></i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">É
com axé, modupé e agô que se deve receber a notícia de </span><span style="color: blue; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><u><a href="http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/02/1593341-mostra-em-sp-joga-luz-sobre-visao-homoerotica-de-pierre-verger.shtml?cmpid=comptw">uma
exposição da obra fotografia de Pierre Verger focando o caráter
homoerótico de sua lente</a></u></span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">
– urgia tirar o Babalaô de Orunmilá do armário! Não que o
Ifá-Tumbi alguma vez tenha sido encubado; nem era do desconhecimento
geral que ele nunca casou e sempre viveu sozinho, em parte por sua
vida ao mesmo tempo nômade e monástica (dedicada ao triplo credo do
jogo sagrado das sementes de mafulo, da <i>Rolleiflex</i> e do diário de
campo etnográfico), mas porque discretamente preferia rapazes.</span></div>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0.35cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O
problema está em que uma mostra como esta, em São Paulo, reduza
Verger a um “fotógrafo gay” – o que ele não era; Verger está
sempre além disso, e é muitos, muitas outras coisas: tão francês
quanto baiano, tão negro quanto branco, tão ateu quanto sacerdote
de Exú, tão fotógrafo quanto etnólogo, tão historiador econômico
quanto <span style="color: blue;"><u><a href="http://lelivros.link/book/download-lendas-africanas-dos-orixas-pierre-fatumbi-verger-em-epub-mobi-e-pdf/">rapsodo
poético infantil</a></u></span>,
<span style="color: blue;"><u><a href="http://www.orelhadelivro.com.br/livros/595524/ewe/">jardineiro
e cozinheiro</a></u></span>.
Homossexual sim, mas não “no sentido de vocês” (como dizia Jean
Genet) – e sobretudo não apenas nem primeiro.
</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Como
tal mostra também pode reduzir Verger a um fotógrafo de temática
afro-brasileira – quando sua fase anterior, na Polinésia, já o
colocaria ao lado de Nadar, Cartier-Bresson, Man Ray e Mapplethorpe.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-31di3c8deZr30gPnzK4STmje0MHty9bNV63ny76OZKmpILkO3UzB4oFlVz_212jrQb1cIqYVq586pcvEkyv-2_Cxcjvzmr56vvIjZ2VYdFTjKeCDGXqjqlfPcJ61LbnQeZUqakwztjc/s1600/verger+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-31di3c8deZr30gPnzK4STmje0MHty9bNV63ny76OZKmpILkO3UzB4oFlVz_212jrQb1cIqYVq586pcvEkyv-2_Cxcjvzmr56vvIjZ2VYdFTjKeCDGXqjqlfPcJ61LbnQeZUqakwztjc/s1600/verger+2.jpg" height="320" width="231" /></a></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" lang="en-US" style="margin-bottom: 0.35cm;">
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ou
como apenas um retratista de rostos e pessoas, quando suas cenas e
paisagens também são de tirar o fôlego, como na cena abaixo, do
içamento de velas de saveiros da rampa do antigo Mercado Modelo em
Salvador, quase um Turner de cabotagem.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6XcKg3_a2UqvSb48q7e68Y_DPUsa1C0EGovjmK_ioaMr32O_luPyEeyJ1UCqnCutfeOfol7Ftc_mcVySxd4cyau1lDTFZ0T4iWW9msIi07rWjvV-NJ0kWc4J1727jd4NO1LBvFNMzv7I/s1600/Verger+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6XcKg3_a2UqvSb48q7e68Y_DPUsa1C0EGovjmK_ioaMr32O_luPyEeyJ1UCqnCutfeOfol7Ftc_mcVySxd4cyau1lDTFZ0T4iWW9msIi07rWjvV-NJ0kWc4J1727jd4NO1LBvFNMzv7I/s1600/Verger+3.jpg" height="320" width="300" /></a></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" lang="en-US" style="margin-bottom: 0.35cm;">
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Por
outro lado, corre-se sempre o risco de reduzi-lo a condição de
repórter fotográfico (tal qual como quando se o coloca na posição
de “etnógrafo”, o braço-de-campo de Roger Bastide – “este
sim, um antropólogo, teorizador!” – e esquece-se que sua grande
obra em prosa é um estudo da economia política transatlântica dos
anos de abolição da escravatura: <span style="color: blue;"><u><a href="http://www.estantevirtual.com.br/armazemdolivrousado/Pierre-Verger-Fluxo-e-Refluxo-Trafico-de-Escravos-Entre-o-Golfo-do-Benin-e-a-Bahia-135490057">Fluxo
& Refluxo do Tráfico Negreiro entre O Golfo do Benin e a Baía
de Todos os Santos</a></u></span>),
quando sua obra tem óbvia concepção estética, a exemplo da foto
do rosto deste vaqueiro em Feira de Santana, onde o traço desenhado
pela sombra do chapéu é crucial para criar um efeito erótico e
cubista na disparidade do olhar de cada olho do retratado.
</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisTPTyAGU1xCV0e3GYauB65g0fCBWL3hPkZR91qR5LdHPZHIqiVBSUgDbeiZEwPR0Pax7pwT9vDaDgFotINLTGzPxIy8g8_cvh9uFLDXm3d0OrfXCmepVQLhIcBcE7LzdiLiTF1-ELG90/s1600/Verger+4.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisTPTyAGU1xCV0e3GYauB65g0fCBWL3hPkZR91qR5LdHPZHIqiVBSUgDbeiZEwPR0Pax7pwT9vDaDgFotINLTGzPxIy8g8_cvh9uFLDXm3d0OrfXCmepVQLhIcBcE7LzdiLiTF1-ELG90/s1600/Verger+4.jpeg" height="640" width="602" /></a></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" lang="en-US" style="margin-bottom: 0.35cm;">
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Verger
sempre está lá onde não se espera que ele esteja, e já não está
onde se o mira, na semovência sofisticada dos raros filhos de
Exú-Elegbó.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Que
mais esta face de Verger seja explicitada no ano em que <span style="color: blue;"><u><a href="http://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,nos-70-anos-de-morte-de-mario-de-andrade-ainda-e-tempo-de-estudar-sua-obra,1637275">a
obra de Mario de Andrade entra em domínio público</a></u></span>,
aláfia! Mario, mais do que Oswald, foi o grande consolidador e
propagador do Modernismo no Brasil; Oswald, que muito viajou para
fora, foi bem mais estático do que Mario; Mario, sem nunca ter
pisado fora do país, nunca deixou de vaguear nômade.</span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E,
não da mesma forma de Verger, é preciso tirar também Mario de
Andrade do armário – coisa já em parte feita por <span style="color: blue;"><u><a href="http://www.saraiva.com.br/devassos-no-paraiso-homossexualidade-brasil-447314.html">João
Silvério Trevisan no seu monumental Devassos No Paraíso</a></u></span>
– não apenas no tocante a sua subjetividade privada (esta sim,
ainda carola e burguesa, bastante encubada), mas também numa leitura
de sua obra neste sentido. Por exemplo: poucas vezes se aponta que um
dos males que o amor de Fraulein Helga visa previnir em Carlinhos é
uma possível homossexualidade; reconhecendo isso, o Brasil terá
feito um dos primeiros, e melhores, romances não sobre a
homossexualidade, mas sobre o temor da mesma (<span style="color: blue;"><u><a href="http://www.ultimobaile.com/?p=3412">homofobia
no sentido radical do termo que nada tem a ver com a bradação da
militância que eu chamo de Viadagem Institucional</a></u></span>).</span></div>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0.35cm;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Fazer
Mário de Andrade voltar a ser, de fato, como Verger, 300, 350. </span>
</div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-91537742294032902442015-02-18T16:09:00.000-02:002015-02-19T09:52:20.331-02:00O Cerco à Grécia<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbl4s0guKzULGH-0G-ZcQalo3HUXrfIDxBHrx4D-neVXXZYBDCfT1ANMHDsZmwvF20MpjoTg1fRoriymXqtbm_nQ2DaRk965Dj12WXU4Db-D8O187TbJmS1tNGnAeqMwXz-FuhLQ2JDdU/s1600/The_sortie_of_Messologhi_by_Theodore_Vryzakis.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbl4s0guKzULGH-0G-ZcQalo3HUXrfIDxBHrx4D-neVXXZYBDCfT1ANMHDsZmwvF20MpjoTg1fRoriymXqtbm_nQ2DaRk965Dj12WXU4Db-D8O187TbJmS1tNGnAeqMwXz-FuhLQ2JDdU/s1600/The_sortie_of_Messologhi_by_Theodore_Vryzakis.jpg" height="400" width="280" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i>A Manobra de Missolonghi</i> -- <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Theodoros_Vryzakis">Vryzakis</a></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O recém-eleito governo grego liderado pelo<i> Syriza</i> surpreende, pior, ele chega a nos chocar. Essa estranha comoção é resultante do que deveria ser praxe, mas não é: o governo do jovem premiê Alex Tsipras, segure-se firme na poltrona meu bom leitor, <i>resolveu cumprir suas promessas eleitorais. </i>E tais promessas não são nada banais. A Grécia está simplesmente soterrada pelas condições de pagamento de sua dívida, o que exige uma firme resistência, coisa que o governo atual está disposto a levar adiante.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A chamada <i>Troika</i> -- a reunião do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do Fundo Montário Internacional -- insiste em impor condições austeras, quase sobre-humanas para que a dívida seja paga. É preciso cortar a verba dos serviços públicos, demitir funcionários do Estado, arrecadar mais, privatizar o patrimônio público. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não importa, para a Troika, se o povo fique sem emprego ou <a href="http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/2015/01/1580923-luzes-enfim.shtml">sem luz elétrica em casa</a>. Tudo isso com o poderoso Estado alemão à frente. É a dívida infinita de Nietzsche bem diante dos nossos olhos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">É de uma crueldade -- e de uma burrice! -- semelhante ao que se viu no <i>Tratado de Versalhes</i>, como bem observou o nobel de economia Paul Krugman <a href="http://www.nytimes.com/2015/02/16/opinion/paul-krugman-weimar-on-the-aegean.html">em sua coluna </a>no <i>The New York Times</i>: na ocasião, não eram os gregos, mas, ironicamente, os alemães os obrigados a pagar uma dívida sem fim, uma vez que foram derrotados na Primeira Guerra e, por isso, foram responsabilizados por todo o custo do conflito pelos "vencedores".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Se a comunidade internacional errou ao impôr um ônus, na verdade, punitivo e irracional à Alemanha após a Primeira Guerra, por outro lado, os governos locais, muitos dos quais de esquerda, erraram ao abaixar a cabeça e sacrificar seus compatriotas pagando o que impagável.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Adentrando um pouco mais a oportuna lembrança de Krugman, é preciso frisar que quando os gabinetes social-democratas germânicos usaram de medidas de exceção para silenciar revoltas populares ou trabalhistas nos anos 20, eles se desmoralizaram diante da opinião pública de tal modo que abriram a janela para o nazismo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Para os desesperados, desempregados e esfomeados alemães não parecia mais haver diferença entre seus antigos "defensores" e a direita ou qualquer solução bisonha. Não é que votar naquele contexto era questão de sobrevivência, mas que os próprios símbolos e compromissos haviam sido rompidos. Tudo parecia "mais do mesmo" e os nazistas surgiram como a diferença nisso tudo para, daí, executar seu projeto assassino.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">As condições estabelecidas pela Troika são tão, ou menos, viáveis que as de Versalhes. Se cumpridas, mais fácil a Grécia sumir do mapa do que pagar a dívida. Hoje, depois de anos de política de austeridade, a economia grega mirrou, as pessoas empobreceram e, justamente por isso, a dívida só aumentou.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Que não se fale em irresponsabilidade dos gregos. A crise foi precipitada pela crise econômica mundial, mas cedo ou tarde aconteceria pelos problemas sistêmicos do Euro. Moeda comum à maior dos países europeus, o Euro significa uma unidade monetária transnacional, mas do ponto de vista fiscal, cada país ainda funciona separadamente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Vista globalmente, a Zona do Euro tem superávits. Mas pelo desnível das economias compartilhando a mesma moeda, o que favorece as mais fortes e competitivas, que passam a exportar bastante para dentro do bloco. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Enquanto uns tem déficits comerciais, outros não, o que faz com que uns tenham déficits fiscais e outros não -- e as dívidas públicas de uns, como a Alemanha, são pagáveis enquanto as da Grécia, não em condições reais.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ter uma unidade fiscal seria um elemento central de estabilidade do Euro, pois tornaria as dívidas públicas coletivamente geradas em dívidas europeias, não mais gregas ou portuguesas. </span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">As dívidas geradas pela existência do Euro seriam, pois, europeias. Nada mais justo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">É exatamente isto que o Syriza, na voz firme e grave de seu ministro das finanças, Yanis Varoufakis, está propondo, em consonância com propostas razoáveis de figuras do mercado financeiro <a href="http://www.publico.pt/economia/noticia/george-soros-propoe-sete-medidaschave-para-salvar-a-zona-euro-1518150">como George Soros</a>. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os gregos, portanto, não querem um calote nem o fim do Euro ou da União Europeia, mas uma negociação internacional para que ambos, a moeda e a união continental, possam ser viáveis.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A postura de Berlim, e do neurastênico gabinete de Angela Merkel, é de insistir numa via que levará a Grécia a optar por sair da Zona do Euro por opção ou por uma hecatombe social. O efeito dominó, aliás, implode a moeda única e prejudica a Alemanha, enormemente favorecida com o comércio livre da Europa. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O punitivismo alemão se assemelha, ironicamente, ao dos países vencedores da Primeira Guerra Mundial, os quais acabaram pagando em dobro por terem semeado as condições para uma Segunda Guerra estourar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Agora, enquanto pressionam de todas as formas Atenas, Berlim ameaça cortar o financiamento aos bancos gregos. Se asfixiarem mesmo o sistema financeiro grego, a quem interessa isto? Na Europa, a ninguém.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Como sublinhou Varoufakis, também ao NYT, não há escolha para o Syriza e <a href="http://www.nytimes.com/2015/02/17/opinion/yanis-varoufakis-no-time-for-games-in-europe.html?_r=1">nenhuma pressão os fará recuar</a>. É uma questão ética como ele bem demonstrou, muito embora seja pragmática também: se o gabinete de Tsipras fizer tal loucura, os membros do governo grego ficarão desmoralizados de tal modo a permitir a ascensão em seu país de, por exemplo, partidos nazistas locais como o <i>Aurora Dourada</i>. Qualquer semelhança com os anos 20 não é mera coincidência.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Mas o Syriza, para o bem da Grécia e da humanidade, não parece ser a social-democracia alemã dos anos 1920, embora os social-democracias alemães e europeus parecem não ter aprendido nada com o episódio e continuem a apoiar as medidas de "austeridade" em nível continental -- inclusive a partir da Alemanha, onde o Partido Social-Democrata faz parte da coalizão de Merkel com 6 dos 15 membros do gabinete ministerial. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5615581117174510345.post-17003634915846504952015-01-25T22:08:00.000-02:002015-01-26T09:56:25.515-02:00Grécia: A Vitória do Syriza será o Fim da Austeridade?<div style="text-align: left;">
</div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN05vyq5-VTNZLfAETcrb0HO-X6HuEm78tT6jNE91IFxWJzThZ0Vfun8W3unRYQ-Mmsw1r6QviwYvH7Nv4otrYYRonByWpgjRNaSaL5m0S8wgVcs2Oshs6gM84WAiypkGu-lKxxj7gSdA/s1600/Syriza+vit%C3%B3ria.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjN05vyq5-VTNZLfAETcrb0HO-X6HuEm78tT6jNE91IFxWJzThZ0Vfun8W3unRYQ-Mmsw1r6QviwYvH7Nv4otrYYRonByWpgjRNaSaL5m0S8wgVcs2Oshs6gM84WAiypkGu-lKxxj7gSdA/s1600/Syriza+vit%C3%B3ria.jpeg" height="240" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">"Mantenha a Calma e Vá para o Inferno" (o amor dos gregos à Troika):<br />
<span style="background-color: white; color: #666666; font-family: arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 15.0064191818237px; text-align: start;">Aris Messinis/AFP/Getty Images</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Há pouco, <a href="http://www.nytimes.com/2013/06/24/opinion/only-syriza-can-save-greece.html?_r=0">o <b>Syriza</b></a>, <i>Coalizão de Esquerda Radical</i>, venceu as eleições parlamentares gregas. </span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Embora a Grécia atual esteja longe de ser uma economia relevante na</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> </span><i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Zona da Euro</i><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">, sua mais recente eleição é o tipo de pequena batalha que pode fazer toda a diferença numa guerra: ela manda um recado claro para todas as outras partes do</span><i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> front</i><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">, uma mensagem que mostra como vencer a guerra. É como a<i><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Stalingrado"> batalha de S</a></i></span><i style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Stalingrado">talingrado</a></i><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">, quando o exército vermelho despachou as hordas nazistas: parecia impossível derrota-los até, mas só até ali.</span></div>
<div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O discurso dos vitoriosos gregos, sob o comando de <a href="http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/quem-e-alexis-tsipras-o-lider-grego-que-tem-uma-foto-de-che-no-gabinete/">Alex Tsipras</a>, é simples: resistência absoluta contra a austeridade, isto é, as medidas que a <i>Troika </i>-- FMI, Banco Central Europeu e a Comissão Europeia -- impuseram restritivas aos países da periferia da Europa na presente crise.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A velha fórmula da <i>Troika</i>, segundo a qual as contas públicas só serão salvas pela redução de direitos sociais, arrocho salarial e desemprego, virou dogma. A realidade grega atual, portanto, não é muito diferente daquela vista no Brasil dos anos 90, ou da que, bisonhamente, começa a se desenhar de novo por aqui.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Na Europa, para além de todas as variáveis da explosão global de um sistema financeiro desregulado -- de normas democráticas, obviamente --, além de dinheiro público ter sido usado aos montes para salvar bancos privados, a sanidade das economias menores foi duramente afetada pela inviabilidade do Euro. </span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Países como Grécia, Portugal e Espanha já tomavam empréstimos pesados para fecharem suas contas, uma vez que acumulavam déficits monumentais por conta de uma balança comercial desfavorável. A coisa piorou quando seus déficits públicos pioraram com os resgates e com a secura do crédito europeu. </span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Com uma literal hemorragia monetária, esses países dependeram da concessão de empréstimos sob condições mefistofélicas: sua vida renovada em troca da sua alma. </span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em toda a periferia da Europa, em troca de empréstimos, direitos foram esmagados: pensões ou aposentadorias cortadas ou diminuídas, o funcionalismo e o serviço público público arrochados, política de desemprego em massa. Uma multidão de desempregados e desamparados foi criada para pagar uma dívida infinita. </span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Esse empobrecimento planejado, ao contrário do que ele prometia, não teria fim. Os gregos continuariam correndo como um cão atrás de sua cauda, sem jamais sair do lugar -- a exemplo do Brasil dos anos 1980 e 90.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Essas políticas tiveram o apoio tanto da centro-direita quanto, vejamos nós, dos partidos da centro-esquerda socialista. A degradação social europeia tinha a mão de sua "esquerda". </span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">O equilíbrio político europeu ocidental do pós-guerra teria de ser posto abaixo. </span></div>
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<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">A velha disputa mais ou menos previsível entre partidos democratas cristãos/populares, de direita moderada, e social-democratas chegava ao seu grau zero: com eles juntos para executar um sistema de exploração social, algum força deveria surgir. </span></div>
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<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">A direita moderada, que colaborou com a civilização enquanto existiu o bloco soviético, se degenerou. A esquerda social-democrata, com um horizonte de reformismo socioeconômico cada vez mais achatado se esvaiu. Assim, por óbvio, o espaço para uma nova geração de partidos surgiu.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O Syriza, a rigor montado entre dissidentes pouco ouvidos das bases das esquerdas tradicionais, incorpora um discurso renovado que incorpora a questão ambiental, os direitos civis e, sobretudo, a busca por uma alternativa à estrutura socioeconômica capitalista -- algo que a esquerda europeia, a rigor, não ousa fazer desde os anos 1980.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A exemplo dele, temos também o Podemos, favorito a vencer as eleições parlamentares espanholas que se avizinham em 2015. Não é estranho que tenham surgido onde, precisamente, as políticas da velha Europa mais foram mais cruéis nos últimos anos.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A vitória de Tsiripas, a despeito de seus inegáveis méritos, não terá um caminho fácil. Seu discurso de adequação da Europa à Grécia, com a racionalização da dívida pública, ou saída da Zona do Euro, é forte, mas encontrará reação.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O desafio não é só resistir à reação dos perpetradores da política de austeridade como, também, a constituição de novas saídas. Menos do que vítima de políticas pontuais, o fato é que o Euro não funciona e isto consiste em um problema sistêmico. </span></div>
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<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Como ensinam as experiência de dolarização das economias latino-americanas -- inclusive a política de paridade com dólar, vista no Brasil dos anos 1990 --, jamais a adesão de uma economia pobre a uma moeda forte irá produzir prosperidade: ao contrário, as importações explodem, as contas se degeneram.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Por outro lado, se a união da Europa nos termos atuais é um horror, qualquer medida que a enfraqueça também tem seus riscos -- como bem o sabe Tsipras e seu partido.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Não há dúvidas de que a receita de bolo vendida para a Grécia, nos últimos tempos, não era saída, mas ao mesmo tempo é preciso pensar que ela era uma má resposta para um problema objetivo.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ainda que a realidade não seja propriamente dialética, os processos econômicos capitalistas são sim: a objetividade da crise do Euro gera efeitos subjetivos, nos quais se incluem as políticas de austeridade, e, assim, surge uma nova problemática também com dimensão objetiva, a degeneração social.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Hoje, reinventar uma subjetividade é fundamental, pois é preciso fugir à ideia da "culpa sem fim dos gregos", aquela que justifica o sujeito suicidário da austeridade para, em seu lugar, constituir o sujeito da praça pública [e, por que não, comum]; contudo, é preciso também uma dose de objetividade -- o que vulgarmente se diz "realismo" -- nas reformas, sobretudo em uma atuação continental para a necessária reconstrução do sistema monetário europeu.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">P.S.: pelas regras do sistema eleitoral grego, 250 das 300 cadeiras do parlamento se dividem proporcionalmente entre os partidos que tiveram mais de 3% dos votos, enquanto as outras 50 cadeiras são dadas ao partido vencedor. Com isso, um partido governa sozinho se tiver 40% dos votos. Nesse sentido, ainda não se o Syriza governará sozinho ou precisará de algum parceiro para governar. De todo modo, será por muito pouco.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">P.S. 2: A vitória da esquerda grega manda um recado para a Europa, mas também ao Brasil e sua recente inflexão na política econômica.</span></div>
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Hugo Albuquerquehttp://www.blogger.com/profile/13976272751425853150noreply@blogger.com0