Hoje, Primeiro de Abril, comemoramos aqui, nas terras de Pindorama, o aniversário de uma revolução, mas não se espante com as idiossincrasias dela meu bom leitor: Ela foi uma revolução sem povo, mas como todos sabem, no nosso país, o povo é um mero detalhe. Aliás, essa revolução está completando hoje quarenta e cinco primaveras.
Pensei em escrever um texto sobre como essa revolução não foi tão revolucionária assim, pensei em escrever como o regime decorrente dela estagnou o país em tantos sentidos, pensei em escrever sobre o quanto esse regime foi covarde...ruminei, ruminei e ruminei até que desisti da empreitada.
Daí me ocorreu um insight: achei uns vídeos interessantes sobre como eram boas as coisas nos tempos da ditabranda que foi instaurada em virtude desse episódio. Imaginem, meus sapientíssimos leitores, que há algumas luas atrás – não muitas -, uma universidade incrustada no coração de nossa paulicéia ousou fazer vista grossa para o movimento estudantil e pagou caro por isso.
Imaginem mais que do isso: Que essa universidade tinha a ousadia de subverter o estado policialesco que reinava no país por meio da forma como funcionava sua comunidade, imaginem que ela tinha a ousadia de promover eleições para reitor enquanto não havia eleições para presidente – e em muitos casos nem para prefeitos -, imaginem que ela tinha a ousadia de trazer junto ao seu seio professores demitidos nas universidades estatais por desmandos políticos, imaginem que ela tinha a ousadia de estar a frente do tempo de seu país não por esnobismo ou por alguma síndrome vanguardista, mas sim porque se prestava a correr os riscos necessários para fazer seu povo perceber que não é um mero detalhe – até que ela cometeu o erro fatal de permitir um encontro de estudantes. Um encontro de estudantes. E essa foi a gota d'água.
Essa universidade foi violada. E como imagens falam mais do que palavras, aí vai:
(só peço, por obséquio, que tirem as crianças de perto do computador quando aparecerem as mensagens subversivas estampadas nos cartazes apreendidos)
http://www.youtube.com/watch?v=1QT94aSvF-k&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=P9AGedeSPu4&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=718T766fpQA&feature=related
O que me entristece é saber que hoje, ainda hoje, há quem escreva em editoriais que o que houve por aqui foi, na verdade, uma ditabranda - de uma maneira que dificulta compreender se foi em tom de saudosismo ou de projeto – e que essa mesma Universidade, há pouquíssimo tempo foi violada por si mesma - e continua o sendo, de certa maneira.
terça-feira, 31 de março de 2009
segunda-feira, 30 de março de 2009
Crise Mundial: Ato em São Paulo contra as demissões
Fotos: Laura Moraes
atualização das 20:20:Como vocês devem ter notado, eu reescrevi o último parágrafo, a versão original não parecia fazer sentido, deve ter sido o sol quente na testa ;-)
Hoje rolou um ato organizado pelas centrais sindicais e por uma série de movimentos sociais, contando ainda com a presença de PSOL e do PSTU. Assinaram a organização ASSEMBLÉIA POPULAR, CEBRAPAZ, CGTB, CMB-FDIM, CMS, CONAM, CONLUTAS, CONLUTE, CTB, CUT, FORÇA SINDICAL, INTERSINDICAL, MARCHA MUNDIAL DE MULHERES, MST, MTL, MTST, NCST, OCLAE, UBES, UBM, UGT, UNE, UNEGRO/COMEN, VIA CAMPESINA.
Basicamente a passeata começou na Paulista, desceu pela Consolação e desaguou no centro. Segundo a Polícia Militar duas mil pessoas participaram da passeata, mas a minha impressão é que o número foi bem maior do que isso.
Quanto ao seu desenrolar, é necessário ressaltar seu caráter altamente heterogêneo, quase fragmentário, dentro do universo dos movimentos sociais e das centrais sindicais e também do próprio universo dos partidos de esquerda.
Sua importância é de ter sido justamente o primeiro ato com mais visibilidade - e porte - no que toca as consequências da crise mundial no Brasil, mas é óbvio que ele difere de países que de fato quebraram como Islândia ou algum dos bálticos.
Cá as coisas rolam de modo não tão confortáveis quanto o governo gostaria - e precisa -, mas passa ao largo de ser tão incômoda como desejam muitos setores à esquerda e à direita do governo - que apostam no bom e velho catastrofismo.
Penso que é hora sim para manifestações e atos públicos, mas há que se manifestar contra as consequências reais dessa crise com sinceridade - como muitos, inclusive eu, ali fizeram - e não bater na velha tecla do quanto pior, melhor.
atualização das 20:20:Como vocês devem ter notado, eu reescrevi o último parágrafo, a versão original não parecia fazer sentido, deve ter sido o sol quente na testa ;-)
atualização de 31/03 às 15:30: Ontem, os portais de internet divulgavam a presença de duas mil pessoas no evento, hoje, na capa da própria Folha, estava estampado o número de dez mil participantes no ato. Em suma, a regra parece ser desmoralizar qualquer manifestação popular; ou é o velho factóide do trânsito ou o número de participantes é diminuído - ou ambos, como ontem. Lamentável.
domingo, 29 de março de 2009
Pernambucano 2º Turno
Hoje tem Santa Cruz x Náutico no Arruda. Com a vitória de ontem do Sport, o mesmo passa a ser obrigatório para as duas equipes. Os alvirubros possuem um time melhor, mas desde o início do campeonato, a instabilidade é lei por aqueles lados; o tricolor que surpreendeu no início do campeonato parece ter perdido o ritmo. ainda que o empate seja o mais provável, creio que o timbu tem uma ligeira vantagem para o seu lado.
atualização das 18:58: Pois é, o timbu não só levava como levou vantagem sobre o rival; 3x1 na cobra coral. Apesar da derrota para o Central, o time do Náutico parece melhor e mais leve nesse segundo turno. Está a apenas um ponto do Sport, apesar de que o rival hoje ainda esteja melhor - no entanto, é bem provável que o clássico nesse turno vá ser bem mais equilibrado do que o do turno anterior. Enfim, o estadual de Pernambuco ainda está em aberto.
atualização das 18:58: Pois é, o timbu não só levava como levou vantagem sobre o rival; 3x1 na cobra coral. Apesar da derrota para o Central, o time do Náutico parece melhor e mais leve nesse segundo turno. Está a apenas um ponto do Sport, apesar de que o rival hoje ainda esteja melhor - no entanto, é bem provável que o clássico nesse turno vá ser bem mais equilibrado do que o do turno anterior. Enfim, o estadual de Pernambuco ainda está em aberto.
São Paulo 1X0 Palmeiras - clássicos
E o São Paulo pôs fim a invencibilidade do Palmeiras no Campeonato Paulista. Tudo bem, pode ter sido outro clássico com poucos gols – exceção feita a Palmeiras 4x1 Santos, nenhum clássico entre grandes nesse torneio teve mais de dois gols -, mas o nível técnico foi melhor do que a média deles. O tricolor jogou sua melhor partida no torneio e lembrou o futebol pragmático do Brasileirão, matando o jogo numa falha da zaga Palmeirense aos 2 minutos de jogo.
O São Paulo entrou no 4/4/2 para dar liberdade para Hernanes e Jorge Vagner, enquanto Arouca e Jean marcavam e os laterais Zé Luis e Júnior Cesar ficavam mais presos. Do lado verde, desfalcado de Armero pela ala-esquerda e de Diego Souza na meia, Vanderlei Luxemburgo reeditou o 3/5/2 com Marcão na zaga e Sandro Silva e Marquinhos pelas alas. No meio, Cleiton Xavier tinha liberdade, mas com Keirrison e Willians jogando mal, pouco importava.
No lance do gol, mal o jogo começa e rola um bate e rebate, Hernanes, mal marcado pelo improvisado Marquinhos, olha e cruza bonito. Na área, Washington cabeceia no meio de Maurício Ramos e Sandro Silva para definir o jogo. Ao longo do primeiro tempo, segue o jogo modorrento, com o Palmeiras indo ao ataque muito mais na vontade do que na técnica enquanto o São Paulo dominava com elegância as ações e ditava o ritmo da partida.
Na segunda etapa, Luxemburgo modifica o esquema, colocando Evandro no lugar do obtuso Willians e Ortigoza no lugar do apagado Marquinhos. O Palmeiras melhora, mas Ortigoza se contunde tão logo e dá lugar para Lenny. O segundo tempo é do Palmeiras, mas ainda assim o time verde prossegue dando sustos na defesa. No finalzinho, com belo passe de Evandro, Cleiton Xavier arremata de fora de área e acerta a trave, Keirrison pega o rebote e conclui mal.
Com essa vitória, o tricolor entra na briga pelo título. Do lado verde, tornam a pairar desconfianças; novamente em um jogo decisivo o time sentiu o peso e se apequenou - com a defesa jogando mal e com uma dificuldade de reposição em algumas posição vitais.
Todos os clássicos:
Palmeiras 4x1 Santos
São Paulo 1x1 Corinthians
Santos 1x0 São Paulo
Palmeiras 1x1 Corinthians
Corinthians 1x0 Santos
São Paulo 1x0 Palmeiras
Como se pode ver, o equilíbrio foi brutal, portanto, quem moder a primeira posição vai ter uma vantagem enorme.
O São Paulo entrou no 4/4/2 para dar liberdade para Hernanes e Jorge Vagner, enquanto Arouca e Jean marcavam e os laterais Zé Luis e Júnior Cesar ficavam mais presos. Do lado verde, desfalcado de Armero pela ala-esquerda e de Diego Souza na meia, Vanderlei Luxemburgo reeditou o 3/5/2 com Marcão na zaga e Sandro Silva e Marquinhos pelas alas. No meio, Cleiton Xavier tinha liberdade, mas com Keirrison e Willians jogando mal, pouco importava.
No lance do gol, mal o jogo começa e rola um bate e rebate, Hernanes, mal marcado pelo improvisado Marquinhos, olha e cruza bonito. Na área, Washington cabeceia no meio de Maurício Ramos e Sandro Silva para definir o jogo. Ao longo do primeiro tempo, segue o jogo modorrento, com o Palmeiras indo ao ataque muito mais na vontade do que na técnica enquanto o São Paulo dominava com elegância as ações e ditava o ritmo da partida.
Na segunda etapa, Luxemburgo modifica o esquema, colocando Evandro no lugar do obtuso Willians e Ortigoza no lugar do apagado Marquinhos. O Palmeiras melhora, mas Ortigoza se contunde tão logo e dá lugar para Lenny. O segundo tempo é do Palmeiras, mas ainda assim o time verde prossegue dando sustos na defesa. No finalzinho, com belo passe de Evandro, Cleiton Xavier arremata de fora de área e acerta a trave, Keirrison pega o rebote e conclui mal.
Com essa vitória, o tricolor entra na briga pelo título. Do lado verde, tornam a pairar desconfianças; novamente em um jogo decisivo o time sentiu o peso e se apequenou - com a defesa jogando mal e com uma dificuldade de reposição em algumas posição vitais.
Todos os clássicos:
Palmeiras 4x1 Santos
São Paulo 1x1 Corinthians
Santos 1x0 São Paulo
Palmeiras 1x1 Corinthians
Corinthians 1x0 Santos
São Paulo 1x0 Palmeiras
Como se pode ver, o equilíbrio foi brutal, portanto, quem moder a primeira posição vai ter uma vantagem enorme.
sábado, 28 de março de 2009
Crise Mundial: A moeda mundial e o fim do super dólar
Por mais que algumas figurinhas carimbadas não queiram admitir, a vida do super dólar está com os dias contados. Isso é um processo longo que começa lá atrás em Bretton Woods onde se deu a afirmação da moeda americana como moeda hegemônica no lugar da Libra Esterlina, passa pelo fim do padrão-ouro com Nixon, inclui o uso do dólar como saída para repassar os efeitos da crise dos anos 80 para a periferia do sistema com Reagan, toca seu uso salvaguardado por uma disciplina fiscal rígida para bancar o super consumo dos anos 90 com Clinton e, por fim, desemboca na farra do boi que foi o governo de Bushinho.
Como já foi debatido aqui, a administração Bush cometeu um erro muito grave que encontra um paralelo apenas nos erros de Brezhnev na URSS; enquanto o país passava a ter uma proporção cada vez menor da economia mundial - logo, poder de barganha político -, o governo passava a compensar tal queda com aumento de gastos militares para retomar o status quo ante. Enfim, uma infantilidade, que apenas piorou a situação da economia com mais gastos.
O poder do dólar residia na sensação de estabilidade decorrente do poder geopolítico americano. O fato é que tal ilusão era sustentável enquanto esse país possuía mais da metade do produto mundial, hoje, ele possui apenas um quinto dele. Mais que isso, possui uma economia que foi testada muito além dos seus limites pelo governo anterior; a percepção da instabilidade geopolítica americana somada à percepção de que a economia americana não é capaz de garantir a estabilidade do dólar joga a credibilidade - e consequentemente a força - dessa moeda para baixo.
Países como a China e a Rússia que após entrarem no jogo capitalista adotaram um modelo exportador somado a acumulação de reservas num nível brutal, sentem hoje suas reservas virarem pó - e mais ainda com uma eventual ajuste da economia americana que tendo em vista os deficits da balança comercial talvez resultem em mais desvalorização da moeda. Curiosamente, acontece aqui algo novo na história da humanidade: Duas potências econômicas e militares propondo uma moeda global.
Isso atesta mais do que a decadência do dólar, a decadência da própria ideia de moeda hegemônica. Mesmo que a China já seja um ator mundial de peso e chegue perto de possuir um sexto do produto mundial, ela não está nem um pouco preocupada em assumir o fardo de emitir uma moeda hegemônica, ao contrário, os líderes chineses estão percebendo aquilo que Obama não vê ou não quer ver: Que devaneios hegemonistas dão o seu lucro, mas que na hora da crise, eles cobram um preço demasiado alto; talvez Obama ache tal ideia desnecessária porque a intelligentsia de seu país ainda veja a possibilidade de descarregar os efeitos dessa crise para a periferia do sistema como fez Reagan nos anos 80. Ledo engano. Qualquer leitura da conjuntura atual, em especial da natureza dessa crise e do tamanho da economia americana comparada a economia mundial levam a crer que isso não é mais possível.
Não me canso em dizer: O bem-estar dos EUA nos próximos anos se assenta na criação de um sistema multilateral seguro tanto do ponto de vista econômico quanto militar. Os custos em insistir na hegemonia mundial serão altos demais para quem detém tão somente um quinto do produto mundial. Perder essa oportunidade em troca de ilusões de grandeza e do interesse de certos grupos é um erro grave demais - que a Rússia já experimentou e a China declina educadamente em cometer.
Como já foi debatido aqui, a administração Bush cometeu um erro muito grave que encontra um paralelo apenas nos erros de Brezhnev na URSS; enquanto o país passava a ter uma proporção cada vez menor da economia mundial - logo, poder de barganha político -, o governo passava a compensar tal queda com aumento de gastos militares para retomar o status quo ante. Enfim, uma infantilidade, que apenas piorou a situação da economia com mais gastos.
O poder do dólar residia na sensação de estabilidade decorrente do poder geopolítico americano. O fato é que tal ilusão era sustentável enquanto esse país possuía mais da metade do produto mundial, hoje, ele possui apenas um quinto dele. Mais que isso, possui uma economia que foi testada muito além dos seus limites pelo governo anterior; a percepção da instabilidade geopolítica americana somada à percepção de que a economia americana não é capaz de garantir a estabilidade do dólar joga a credibilidade - e consequentemente a força - dessa moeda para baixo.
Países como a China e a Rússia que após entrarem no jogo capitalista adotaram um modelo exportador somado a acumulação de reservas num nível brutal, sentem hoje suas reservas virarem pó - e mais ainda com uma eventual ajuste da economia americana que tendo em vista os deficits da balança comercial talvez resultem em mais desvalorização da moeda. Curiosamente, acontece aqui algo novo na história da humanidade: Duas potências econômicas e militares propondo uma moeda global.
Isso atesta mais do que a decadência do dólar, a decadência da própria ideia de moeda hegemônica. Mesmo que a China já seja um ator mundial de peso e chegue perto de possuir um sexto do produto mundial, ela não está nem um pouco preocupada em assumir o fardo de emitir uma moeda hegemônica, ao contrário, os líderes chineses estão percebendo aquilo que Obama não vê ou não quer ver: Que devaneios hegemonistas dão o seu lucro, mas que na hora da crise, eles cobram um preço demasiado alto; talvez Obama ache tal ideia desnecessária porque a intelligentsia de seu país ainda veja a possibilidade de descarregar os efeitos dessa crise para a periferia do sistema como fez Reagan nos anos 80. Ledo engano. Qualquer leitura da conjuntura atual, em especial da natureza dessa crise e do tamanho da economia americana comparada a economia mundial levam a crer que isso não é mais possível.
Não me canso em dizer: O bem-estar dos EUA nos próximos anos se assenta na criação de um sistema multilateral seguro tanto do ponto de vista econômico quanto militar. Os custos em insistir na hegemonia mundial serão altos demais para quem detém tão somente um quinto do produto mundial. Perder essa oportunidade em troca de ilusões de grandeza e do interesse de certos grupos é um erro grave demais - que a Rússia já experimentou e a China declina educadamente em cometer.
sexta-feira, 27 de março de 2009
Urbe et Orbe
Semana cansativa essa. Tanto física quanto mentalmente. O transporte público paulistano mata qualquer um. Mas não é só isso que me cansa, é essa vidinha que se tem no Brasil hoje. São Paulo, a maior cidade do país, é hoje uma cidade desinteressante, poluída, desumana e cada vez menos inteligente. É a São Paulo da Daslu, dos shopings frequentados por uma elite não muito sofisticada que toma a ironia por verdade e a polêmica por ofensa.
Uma cidade de desiguais, onde o porteiro do prédio, o zelador, enfim, todos aqueles que dão substancia à cidade estão relegados a viver em bairros periféricos decrépitos nos quais a revolta e a violência viscejam enquanto apenas a vã ilusão mantém as pessoas de pé; é a cidade do ganhar dinheiro, dos universitários que aos muxoxos se perguntam qual o motivo de terem aulas de Filosofia - nos raros momentos em que se preocupam em criticar algo, diga-se.
Embora São Paulo encarne muito do mal de nossa época, por outro lado, há muito de idiossincrático nessa crise. Veja você, meu caro leitor, que para os gregos antigos, a Pólis era ao mesmo tempo um mundo em escala reduzida (microcosmos) e um homem em proporções gigantescas (macroantropos); convenhamos, era um paradoxo interessante: A cidade enquanto mundo em miniatura e enquanto gigante - em relação ao qual éramos células -simultaneamente; nesse sentido, a São Paulo contemporânea expressa ao mesmo tempo os males do mundo em sua escala ao mesmo tempo em que acusa uma doença - que antige muitas de suas células, diga-se - e que corrói feroz e rapidamente seu tecido conjuntivo.
O horizonte tem uma coloração meio púpura, o ar é carregado e seco, a sensação é de anestesia. Nada é real, tudo é casual e fugaz. Todos concorrem contra todos e contra si mesmos - será que eles tem noção do suicídio que cometem ou no fundo será que o desejam?
Uma cidade de desiguais, onde o porteiro do prédio, o zelador, enfim, todos aqueles que dão substancia à cidade estão relegados a viver em bairros periféricos decrépitos nos quais a revolta e a violência viscejam enquanto apenas a vã ilusão mantém as pessoas de pé; é a cidade do ganhar dinheiro, dos universitários que aos muxoxos se perguntam qual o motivo de terem aulas de Filosofia - nos raros momentos em que se preocupam em criticar algo, diga-se.
Embora São Paulo encarne muito do mal de nossa época, por outro lado, há muito de idiossincrático nessa crise. Veja você, meu caro leitor, que para os gregos antigos, a Pólis era ao mesmo tempo um mundo em escala reduzida (microcosmos) e um homem em proporções gigantescas (macroantropos); convenhamos, era um paradoxo interessante: A cidade enquanto mundo em miniatura e enquanto gigante - em relação ao qual éramos células -simultaneamente; nesse sentido, a São Paulo contemporânea expressa ao mesmo tempo os males do mundo em sua escala ao mesmo tempo em que acusa uma doença - que antige muitas de suas células, diga-se - e que corrói feroz e rapidamente seu tecido conjuntivo.
O horizonte tem uma coloração meio púpura, o ar é carregado e seco, a sensação é de anestesia. Nada é real, tudo é casual e fugaz. Todos concorrem contra todos e contra si mesmos - será que eles tem noção do suicídio que cometem ou no fundo será que o desejam?
quinta-feira, 26 de março de 2009
Futebol Nacional
Depois de uns dias sem comentar sobre futebol - tanto pela falta de tempo quanto pela necessidade de escrever sobre coisas mais tensas urgentes -, faço um comentário rápido sobre os estaduais que se aproximam de sua reta final.
Em São Paulo,
O Palmeiras, matematicamente classificado e praticamente garantido em primeiro lugar ainda não encontrou adversário que lhe fizesse frente. Venceu todos os jogos em que foi bem ou razoável e mesmo quando foi muito mal, empatou. É o mesmo time que está às vias de uma desclassificação na primeira fase na Libertadores, o que é bem curioso - aliás, garantir o primeiro lugar é meio caminho andado para vencer esse Paulistão.
O Corinthians encontrou em Ronaldo a inspiração para seguir adiante. É um time operário que tem um grande craque e uma torcida apaixonada, lembra em algo o Brasil do tetracampeão. Mano Menezes, aliás, é técnico para se ter cuidado, fez um grande trabalho no Grêmio e tem tudo para fazer história no alvinegro.
O São Paulo, sem muito brilho esse ano, tem um jogo contra o Palmeiras que pode ser o divisor de águas da equipe nesse torneio; mesmo que as chances de desclassificação sejam baixas, se o time não for bem, ficará patente que ele não terá vida longa nesse torneio. Enfim, derrota no clássico vai ser uma ducha de água fria. Por ora, ainda resta a esperança, não obstante o futebol apático.
O Santos, que passa por um campeonato de altos e baixos vai ser o grande com mais dificuldades para se classificar e no máximo atacha um quarto lugar - mas nas finais teria mais chances de crescer do que o São Paulo.
A Portuguesa, que há muito não fazia frente aos grandes, esse ano está mais incômoda e pode morder uma vaga, apesar da tradicional intempestividade das coisas no Canindé - e sobre isso, o igualmente intempestivo Mário Sérgio há de concordar comigo.
Barueri e Santo André não têm time nem estrutura para jogar a Série A e correm o sério risco de bater e voltar.
No Rio,
O Vasco deve voltar para Série A, não com a mesma facilidade do Corinthians 08, mas volta - agora, o estadual, esqueçam.
Até quando durará a passagem de Cuca pelo Flamengo? Não creio que muito.
O Fluminense com Fred e Parreira melhorou bastante e tem boas chances para chegar à final.
O Botafogo é o melhor time no cômputo geral, mas tem matar o campeonato tão logo, senão pode acabar surpreendido pela ascensão do tricolor das laranjeiras.
Em Minas,
O ritmo do Cruzeiro arrefeceu, mas a prioridade, claro, é a Libertadores. O Galo de 09, pouco a pouco, sob a batuta de Leão vem se tornando um time bem melhor do que o do ano passado e pode surpreender positivamente.
Em Pernambuco,
O Sport mantém a hegemonia e o meu querido Náutico vai sofrer esse ano de novo.
No Rio Grande do Sul,
O Inter é bem melhor do que o Grêmio, o caso aqui é saber se ele não vai atolar como vem sendo recorrente nos últimos anos.
Em São Paulo,
O Palmeiras, matematicamente classificado e praticamente garantido em primeiro lugar ainda não encontrou adversário que lhe fizesse frente. Venceu todos os jogos em que foi bem ou razoável e mesmo quando foi muito mal, empatou. É o mesmo time que está às vias de uma desclassificação na primeira fase na Libertadores, o que é bem curioso - aliás, garantir o primeiro lugar é meio caminho andado para vencer esse Paulistão.
O Corinthians encontrou em Ronaldo a inspiração para seguir adiante. É um time operário que tem um grande craque e uma torcida apaixonada, lembra em algo o Brasil do tetracampeão. Mano Menezes, aliás, é técnico para se ter cuidado, fez um grande trabalho no Grêmio e tem tudo para fazer história no alvinegro.
O São Paulo, sem muito brilho esse ano, tem um jogo contra o Palmeiras que pode ser o divisor de águas da equipe nesse torneio; mesmo que as chances de desclassificação sejam baixas, se o time não for bem, ficará patente que ele não terá vida longa nesse torneio. Enfim, derrota no clássico vai ser uma ducha de água fria. Por ora, ainda resta a esperança, não obstante o futebol apático.
O Santos, que passa por um campeonato de altos e baixos vai ser o grande com mais dificuldades para se classificar e no máximo atacha um quarto lugar - mas nas finais teria mais chances de crescer do que o São Paulo.
A Portuguesa, que há muito não fazia frente aos grandes, esse ano está mais incômoda e pode morder uma vaga, apesar da tradicional intempestividade das coisas no Canindé - e sobre isso, o igualmente intempestivo Mário Sérgio há de concordar comigo.
Barueri e Santo André não têm time nem estrutura para jogar a Série A e correm o sério risco de bater e voltar.
No Rio,
O Vasco deve voltar para Série A, não com a mesma facilidade do Corinthians 08, mas volta - agora, o estadual, esqueçam.
Até quando durará a passagem de Cuca pelo Flamengo? Não creio que muito.
O Fluminense com Fred e Parreira melhorou bastante e tem boas chances para chegar à final.
O Botafogo é o melhor time no cômputo geral, mas tem matar o campeonato tão logo, senão pode acabar surpreendido pela ascensão do tricolor das laranjeiras.
Em Minas,
O ritmo do Cruzeiro arrefeceu, mas a prioridade, claro, é a Libertadores. O Galo de 09, pouco a pouco, sob a batuta de Leão vem se tornando um time bem melhor do que o do ano passado e pode surpreender positivamente.
Em Pernambuco,
O Sport mantém a hegemonia e o meu querido Náutico vai sofrer esse ano de novo.
No Rio Grande do Sul,
O Inter é bem melhor do que o Grêmio, o caso aqui é saber se ele não vai atolar como vem sendo recorrente nos últimos anos.
terça-feira, 24 de março de 2009
Democratização da Mídia: Perspectivas
Um assunto recorrente nesse humilde blog é o constante questionamento sobre as ações da chamada "grande mídia" nacional - a reunião dos grupos hegemônicos desse poderoso setor - e a permanente investigação sobre qual será o futuro da Mídia em escala global. Não resta dúvida que a relação entre difusão de informação e poder é cada vez mais imediata - iria até mais longe: Por ora, apenas o sistema financeiro mundial consegue se apresentar como um ator político de peso superior, mas com essa Crise Mundial e a forma como ela se desenrola, talvez isso mude.
Isso não só pode como já está causando mudanças significativas: Se antes as forças clássicas, isto é, o Estado, o capital industrial, os partidos, o povo e os intelectuais formavam, mediante seu perene confronto, a narrativa histórica, hoje são as grandes corporações midiáticas que estão assumindo essa função, não apenas como algo que é movido, mas como algo que se move - e o faz cada vez mais autonomamente.
Em seu estado de desenvolvimento inicial, o sistema midiático acabou se desenhando primeiramente em um modelo que se materializava em inúmeras pubicações escritas à serviço de partidos, sindicatos, movimentos sociais, universidades e afins - e algumas empresas destinadas apenas a esse fim. Nos fins do século dezenove e início do século vinte, surgem as novas tecnologias que maximizam a potencialidade de difusão da informação: O rádio, o cinema e a televisão. É também uma época de grandes narrativas que disputaram a consciência da humanidade e que nesse caminho criaram modelos totalitários de difusão de informação: As empresas privadas e profissionais de difusão no mundo capitalista que seguem uma lógica de concentração e oligopolização e, do outro lado da cortina de ferro, as gigantes estatais empenhadas em fazer propaganda do partido único - e, talvez, um meio-termo na Europa Ocidental com tipo sistemas mistos e a existência de concessões públicas, o que se enveredou para o Brasil de maneira levemente distorcida.
Hoje, com o fim do bloco socialista e a globalização capitalista, o que vemos é o predomínio das grandes corporações midiáticas globais que trespassam o tecido da comunidade internacional e concentram cada vez mais poder. É nesse tempo e nesse mundo que a necessidade de se criar estruturas que permitam o controle público e democrático - não estatal ou burocratóide - da difusão da informação nos é jogada na cara. É nesse tempo e nesse mundo que as corporações lutarão até a morte para evitar isso, usando desde sua capacidade ímpar de conquistar corações e mentes até argumentos manjados como "isso ameaça a liberdade de expressão" - como se a liberdade dos cidadãos do mundo de terem liberdade de informação não fosse relevante. É também nesse tempo e nesse mundo - só que mais precisamente na Argentina -, que surge uma raiozinho de sol nesse sentido: O Projeto de Lei de democratização da mídia da presidente Cristina Kirchner que visa, entre outras coisas, pôr fim aos oligopólios midiáticos assim como banir de vez certos ditames oriundos da época da ditadura militar daquele país.
É, como eu disse, apenas um raiozinho de sol, mas não podemos nos esquecer que mesmo o mais singelo feixe de luz - desde que devidamente refletido - pode gerar uma faísca com a qual podemos acender uma chama, quem sabe, a chama da Democracia. A esse respeito, é provável que tenhamos uma Conferência Nacional de Comunicação aqui no Brasil este ano. Será que não seria uma bela oportunidade para discutirmos esse tema tão caro à construção da Democracia no nosso país? Será que esse não é um belo exemplo?
PS: A esse respeito melhor escrevem o grande Idelber Avelar e mais alguns bons nomes cujos links constam em sua recente postagem.
Isso não só pode como já está causando mudanças significativas: Se antes as forças clássicas, isto é, o Estado, o capital industrial, os partidos, o povo e os intelectuais formavam, mediante seu perene confronto, a narrativa histórica, hoje são as grandes corporações midiáticas que estão assumindo essa função, não apenas como algo que é movido, mas como algo que se move - e o faz cada vez mais autonomamente.
Em seu estado de desenvolvimento inicial, o sistema midiático acabou se desenhando primeiramente em um modelo que se materializava em inúmeras pubicações escritas à serviço de partidos, sindicatos, movimentos sociais, universidades e afins - e algumas empresas destinadas apenas a esse fim. Nos fins do século dezenove e início do século vinte, surgem as novas tecnologias que maximizam a potencialidade de difusão da informação: O rádio, o cinema e a televisão. É também uma época de grandes narrativas que disputaram a consciência da humanidade e que nesse caminho criaram modelos totalitários de difusão de informação: As empresas privadas e profissionais de difusão no mundo capitalista que seguem uma lógica de concentração e oligopolização e, do outro lado da cortina de ferro, as gigantes estatais empenhadas em fazer propaganda do partido único - e, talvez, um meio-termo na Europa Ocidental com tipo sistemas mistos e a existência de concessões públicas, o que se enveredou para o Brasil de maneira levemente distorcida.
Hoje, com o fim do bloco socialista e a globalização capitalista, o que vemos é o predomínio das grandes corporações midiáticas globais que trespassam o tecido da comunidade internacional e concentram cada vez mais poder. É nesse tempo e nesse mundo que a necessidade de se criar estruturas que permitam o controle público e democrático - não estatal ou burocratóide - da difusão da informação nos é jogada na cara. É nesse tempo e nesse mundo que as corporações lutarão até a morte para evitar isso, usando desde sua capacidade ímpar de conquistar corações e mentes até argumentos manjados como "isso ameaça a liberdade de expressão" - como se a liberdade dos cidadãos do mundo de terem liberdade de informação não fosse relevante. É também nesse tempo e nesse mundo - só que mais precisamente na Argentina -, que surge uma raiozinho de sol nesse sentido: O Projeto de Lei de democratização da mídia da presidente Cristina Kirchner que visa, entre outras coisas, pôr fim aos oligopólios midiáticos assim como banir de vez certos ditames oriundos da época da ditadura militar daquele país.
É, como eu disse, apenas um raiozinho de sol, mas não podemos nos esquecer que mesmo o mais singelo feixe de luz - desde que devidamente refletido - pode gerar uma faísca com a qual podemos acender uma chama, quem sabe, a chama da Democracia. A esse respeito, é provável que tenhamos uma Conferência Nacional de Comunicação aqui no Brasil este ano. Será que não seria uma bela oportunidade para discutirmos esse tema tão caro à construção da Democracia no nosso país? Será que esse não é um belo exemplo?
PS: A esse respeito melhor escrevem o grande Idelber Avelar e mais alguns bons nomes cujos links constam em sua recente postagem.
sexta-feira, 20 de março de 2009
Panorâmica
Beleza de semana atribulada essa que eu tive. Aula de manhã e quase sempre algum compromisso à tarde que se estende pela noite e acaba me extenuando. As coisas, no entanto, continuam rolando no mesmo ritmo de alguns meses: Crise Mundial continua a avançar, Lula se encontrou com Obama, por outro lado, ainda não se sabe até onde a pressão contra Protógenes e De Sanctis vai parar e por aí vai.
É o rescaldo da Era Bush que, por sua vez, é uma consequência do lado escuro do século 20º que até aí nós fazíamos - e ainda podíamos fazer - questão de não enxergar; é o lamaçal da história, é o momento zero onde os limites do pensamento iluminista são jogados na nossa cara de maneira nua e crua.
Temos Obama e Lula, dois líderes improváveis em seus países; Obama é negro e preside um país no qual até bem pouco tempo havia segregação racial; por sua vez, o ex-operário e ex-sindicalista Lula preside um país onde a desigualdade social e o classismo sempre saltou aos olhos de qualquer um; ambos foram eleitos na esteira de governos fracassados que lhes legaram turbulências consideráveis assim como alguns ouvintes improváveis - além de gargalos suficientes para não reclamarem de falta de serviço.
Lula, há seis anos no poder, passou por altos e baixos, mas sempre se saiu das enrascadas que apareciam pelo caminho com boas doses de habilidade política, algumas políticas públicas bem funcionais e graças a uma base de comparação bem fraca, mas quando seu governo finalmente pegou ritmo, veio a Crise. Obama, por sua vez, já foi pego de cara pela crise logo de cara, aliás, é fruto do mesmo que a gerou e com ela estabelece uma relação paradoxal; nesse momento tem uma boa dose de gordura política pra queimar, mas não se sabe até onde isso vai durar - o Obama de hoje é o Lula de seis anos atrás com seis vezes mais riscos.
Nesse clima, aconteceu a visita de Lula à Casa Branca; Desde Bush, os americanos tem problemas demais pelo mundo e mesmo que governos de esquerda incomodem pela América Latina, governos mais moderados - seja lá o que isso signifique - merecem certas concessões; É aí que entram os governos do Chile e do Brasil, no entanto, é evidente, pelo tamanho dos dois, qual deles vai receber um tratamento preferencial - para servir como uma espécie de válvula~, bem ambigua diga-se, que Washington usa para não perder o controle definitivo da região e para a qual tem de abrir mão para certas concessões.
Do mesmo modo que Lula se mantém no Brasil sabendo se equilibrar como poucos no linha tênue e trêmula da política interna, a conjuntura mundial e continental vem lhe sendo favorável também. Entretanto, claro, os problemas nessa nossa época insistem em se agigantarem: A Crise Mundial insiste em virar uma bola de neve, o que não só pode como certamente será usado pelos adversários do PT ano que vem ao mesmo tempo em que instituições como o STF e o Senado, mais do que a média, acusam necrose e podem levar muita coisa junto no redomoinho.
Com efeito, é uma época de muitas incertezas...
É o rescaldo da Era Bush que, por sua vez, é uma consequência do lado escuro do século 20º que até aí nós fazíamos - e ainda podíamos fazer - questão de não enxergar; é o lamaçal da história, é o momento zero onde os limites do pensamento iluminista são jogados na nossa cara de maneira nua e crua.
Temos Obama e Lula, dois líderes improváveis em seus países; Obama é negro e preside um país no qual até bem pouco tempo havia segregação racial; por sua vez, o ex-operário e ex-sindicalista Lula preside um país onde a desigualdade social e o classismo sempre saltou aos olhos de qualquer um; ambos foram eleitos na esteira de governos fracassados que lhes legaram turbulências consideráveis assim como alguns ouvintes improváveis - além de gargalos suficientes para não reclamarem de falta de serviço.
Lula, há seis anos no poder, passou por altos e baixos, mas sempre se saiu das enrascadas que apareciam pelo caminho com boas doses de habilidade política, algumas políticas públicas bem funcionais e graças a uma base de comparação bem fraca, mas quando seu governo finalmente pegou ritmo, veio a Crise. Obama, por sua vez, já foi pego de cara pela crise logo de cara, aliás, é fruto do mesmo que a gerou e com ela estabelece uma relação paradoxal; nesse momento tem uma boa dose de gordura política pra queimar, mas não se sabe até onde isso vai durar - o Obama de hoje é o Lula de seis anos atrás com seis vezes mais riscos.
Nesse clima, aconteceu a visita de Lula à Casa Branca; Desde Bush, os americanos tem problemas demais pelo mundo e mesmo que governos de esquerda incomodem pela América Latina, governos mais moderados - seja lá o que isso signifique - merecem certas concessões; É aí que entram os governos do Chile e do Brasil, no entanto, é evidente, pelo tamanho dos dois, qual deles vai receber um tratamento preferencial - para servir como uma espécie de válvula~, bem ambigua diga-se, que Washington usa para não perder o controle definitivo da região e para a qual tem de abrir mão para certas concessões.
Do mesmo modo que Lula se mantém no Brasil sabendo se equilibrar como poucos no linha tênue e trêmula da política interna, a conjuntura mundial e continental vem lhe sendo favorável também. Entretanto, claro, os problemas nessa nossa época insistem em se agigantarem: A Crise Mundial insiste em virar uma bola de neve, o que não só pode como certamente será usado pelos adversários do PT ano que vem ao mesmo tempo em que instituições como o STF e o Senado, mais do que a média, acusam necrose e podem levar muita coisa junto no redomoinho.
Com efeito, é uma época de muitas incertezas...
segunda-feira, 16 de março de 2009
Para pensar
Chorus Sacerdotum
Oh, wearisome condition of humanity,
Born under one law, to another bound,
Vainly begot and yet forbidden vanity,
Created sick, commanded to be sound.
What meaneth nature by these diverse laws,
Passion and reason, self-division's cause?
Is it the mark or majesty of power
To make offenses that it may forgive?
Nature herself doth her own self deflower
To hate those errors she herself doth give.
For how should man think that he may not do,
If nature did not fail and punish, too?
Tyrant to others, to herself unjust,
Only commands things difficult and hard,
Forbids us all things which it knows is lust,
Makes easy pains, unpossible reward.
If nature did not take delight in blood,
She would have made more easy ways to good.
We that are bound by vows and by promotion,
With pomp of holy sacrifice and rites,
To teach belief in good and still devotion,
To preach of heaven's wonders and delights;
Yet when each of us in his own heart looks
He finds the God there, far unlike his books.
LORD FULKE GREVILLE
Oh, wearisome condition of humanity,
Born under one law, to another bound,
Vainly begot and yet forbidden vanity,
Created sick, commanded to be sound.
What meaneth nature by these diverse laws,
Passion and reason, self-division's cause?
Is it the mark or majesty of power
To make offenses that it may forgive?
Nature herself doth her own self deflower
To hate those errors she herself doth give.
For how should man think that he may not do,
If nature did not fail and punish, too?
Tyrant to others, to herself unjust,
Only commands things difficult and hard,
Forbids us all things which it knows is lust,
Makes easy pains, unpossible reward.
If nature did not take delight in blood,
She would have made more easy ways to good.
We that are bound by vows and by promotion,
With pomp of holy sacrifice and rites,
To teach belief in good and still devotion,
To preach of heaven's wonders and delights;
Yet when each of us in his own heart looks
He finds the God there, far unlike his books.
LORD FULKE GREVILLE
sábado, 14 de março de 2009
A maior ameaça ao discurso jornalístico
é, ao meu ver, a natureza dos próprios conglomerados midiáticos e os interesses que derivam disso - que os têm levado, como insisto em dizer, a subverter o discurso jornalístico de dentro pra fora tendo em vista estabelecer uma narrativa claramente política.
Antes de mais nada, convém esclarecer o que eu denomino "discurso jornalístico" : É aquele que visa explicar o que "foi" ou "é" algo em termos factuais, traçando hipóteses para o futuro apenas no caso em que haja profunda fundamentação nesses fatos apurados sobre alguma Coisa - usando como meio, claro, um meio de comunicação necessariamente não-interativo; por sua vez, "discurso político" é aquele que visa decidir o que "deverá, terá ou poderá ser feito" no espaço de habitação comum, portanto, encontra-se logicamente no passado do "discurso jurídico" (o "dever ser") que nada mais é que o seu efeito - cabe ressaltar que para realizar o "discurso jornalístico" é necessário explicar o passado por meio de uma narrativa (isto é desse jeito porque X aconteceu, logo poderá, deverá ou terá de ser como eu penso ).
A esse respeito pode-se afirmar que o discurso político divide-se entre o democrático e o aristocrático, sendo o primeiro aquele que busca explicar o passado amparado na Ética como forma para se chegar ao bem de todos, enquanto o segundo se vê obrigado a deixar a Ética de lado para contar a versão que seja favorável para se chegar ao bem de alguns ( como diria Heidegger defendendo Hitler em 1933: "a verdade é a revelação daquilo que torna um povo certo, claro e forte em sua ação e em seu conhecimento"). O discurso político, portanto, é uma narrativa que explica o passado para poder definir o que se passa no presente e, por conseguinte, para estabelecer o que deverá ser no futuro - sendo o último item concretizável pelo Direito.
O "discurso jornalístico", por sua vez, não possui o intento de definir o que deverá ser, mas sim e tão somente informar - "formar por dentro", isto é, construir um discurso empírico por meio da descrição de algo se posicionando no meio em que ele se insere, diferentemente do discurso especulativo, próprio da Filosofia ( e também da sofística).
Nesse sentido, tenho visto, não apenas pelo Brasil, mas pelo mundo inteiro, uma certa corrosão do discurso jornalístico, não por meio da censura estatal, mas sim por meio de uma subversão dele pelo discurso político que é feito pelas corporações midiáticas - nesse sentido, não custa lembrar a cobertura da Fox News em relação à guerra do Iraque ou mesmo o nosso conhecido caso da ditabranda.
Sobre o editorial da ditabranda, inclusive, surge a velha e vazia alegoria do "respeito a opinião alheia", o que cai num círculo vicioso manjado: Se a opinião alheia é inviolável, isso torna a minha opinião em relação a opinião alheia inviolável também - eis as limitações de um debate travado no plano da doxa. Um editorial de um jornal - ou de um periódico - contém aquilo equivocadamente chamado de "opinião jornalística", o que, na verdade, é uma análise jornalística panorâmica que expressa o espiríto da publicação, portanto, não é mera opinião - ou opinião no sentido lato -, muito menos política. Quando alegou ter existido no Brasil uma "ditabranda", o editorialista da Folha nada mais fez que um discurso político - na medida em que procurava explicar o passado para definir o presente e chegar na especulação do "deverá ser", no discurso ante-diretivo da política e não no discurso informativo do jornalismo.
Isso, claro, é apenas um espasmo. Um sintoma do que se vê no mundo contemporâneo onde, ainda sustentados pelos ideais há muito ultrapassados de imparcialidade e objetividade, os grupos de mídia corroem o próprio discurso jornalístico com um discurso político velado (ou nem tanto) que objetiva apenas justificar seus interesses, visões e, sobretudo, aspirações políticas. Mais que isso, tais interesses, visões e aspirações políticas são cada vez mais autonômas; os grupos de mídia se tornam na medida cada vez mais políticos na medida em que a relação entre difusão de dados e poder se estreita ; eles não vêm mais à reboque de interesses de outras forças políticas porque eles mesmos são forças políticas agora, logo, são possuidores do próprio discurso político.
É como se um sitiante vendesse os tomates que planta na beira da estrada. Até aí, ele depende de outras forças econômicas para ter dinheiro e a partir dele chegar ao poder. No entanto, surge um dia em que a economia se desmonetariza e o governo diz que os tomates passarão a ser base de troca de agora em diante. Esse é o dia em que esse sitiante experimenta uma relação direta com o poder, sem depender do intermédio de outros fatores e passa a ele ser em si uma força econômica autonôma. No que toca a mídia, vemos um caso parecido: O produto midiático se torna cada vez mais a grande moeda do mundo do século 21º, de tal maneira que isso altera por completo a relação de um grupo de mídia com os demais integrantes de sua comunidade graças à subversão que ele faz com o próprio discurso por meio do qual se dirige a eles. A morte do jornalismo, no fim das contas, poderá vir de onde menos se espera e pode ser mais sutil do que se imagina.
atualização (15/03/09 às 16:37): O que já estava ruim ficou pior e a Folha além de ter sectarizado o debate agora o está tornando algo pessoal, o que é inteiramente lamentável; direito de resposta não se viola. Sobre isso melhor escreve o Mauricio Caleiro em seu Cinema & Outras Artes.
atualização (16/03/09 às 19:20): alterei a redação do primeiro parágrafo para ficar mais claro o que eu queria dizer.
nova atualização em 18/06/09 às 20:24
Antes de mais nada, convém esclarecer o que eu denomino "discurso jornalístico" : É aquele que visa explicar o que "foi" ou "é" algo em termos factuais, traçando hipóteses para o futuro apenas no caso em que haja profunda fundamentação nesses fatos apurados sobre alguma Coisa - usando como meio, claro, um meio de comunicação necessariamente não-interativo; por sua vez, "discurso político" é aquele que visa decidir o que "deverá, terá ou poderá ser feito" no espaço de habitação comum, portanto, encontra-se logicamente no passado do "discurso jurídico" (o "dever ser") que nada mais é que o seu efeito - cabe ressaltar que para realizar o "discurso jornalístico" é necessário explicar o passado por meio de uma narrativa (isto é desse jeito porque X aconteceu, logo poderá, deverá ou terá de ser como eu penso ).
A esse respeito pode-se afirmar que o discurso político divide-se entre o democrático e o aristocrático, sendo o primeiro aquele que busca explicar o passado amparado na Ética como forma para se chegar ao bem de todos, enquanto o segundo se vê obrigado a deixar a Ética de lado para contar a versão que seja favorável para se chegar ao bem de alguns ( como diria Heidegger defendendo Hitler em 1933: "a verdade é a revelação daquilo que torna um povo certo, claro e forte em sua ação e em seu conhecimento"). O discurso político, portanto, é uma narrativa que explica o passado para poder definir o que se passa no presente e, por conseguinte, para estabelecer o que deverá ser no futuro - sendo o último item concretizável pelo Direito.
O "discurso jornalístico", por sua vez, não possui o intento de definir o que deverá ser, mas sim e tão somente informar - "formar por dentro", isto é, construir um discurso empírico por meio da descrição de algo se posicionando no meio em que ele se insere, diferentemente do discurso especulativo, próprio da Filosofia ( e também da sofística).
Nesse sentido, tenho visto, não apenas pelo Brasil, mas pelo mundo inteiro, uma certa corrosão do discurso jornalístico, não por meio da censura estatal, mas sim por meio de uma subversão dele pelo discurso político que é feito pelas corporações midiáticas - nesse sentido, não custa lembrar a cobertura da Fox News em relação à guerra do Iraque ou mesmo o nosso conhecido caso da ditabranda.
Sobre o editorial da ditabranda, inclusive, surge a velha e vazia alegoria do "respeito a opinião alheia", o que cai num círculo vicioso manjado: Se a opinião alheia é inviolável, isso torna a minha opinião em relação a opinião alheia inviolável também - eis as limitações de um debate travado no plano da doxa. Um editorial de um jornal - ou de um periódico - contém aquilo equivocadamente chamado de "opinião jornalística", o que, na verdade, é uma análise jornalística panorâmica que expressa o espiríto da publicação, portanto, não é mera opinião - ou opinião no sentido lato -, muito menos política. Quando alegou ter existido no Brasil uma "ditabranda", o editorialista da Folha nada mais fez que um discurso político - na medida em que procurava explicar o passado para definir o presente e chegar na especulação do "deverá ser", no discurso ante-diretivo da política e não no discurso informativo do jornalismo.
Isso, claro, é apenas um espasmo. Um sintoma do que se vê no mundo contemporâneo onde, ainda sustentados pelos ideais há muito ultrapassados de imparcialidade e objetividade, os grupos de mídia corroem o próprio discurso jornalístico com um discurso político velado (ou nem tanto) que objetiva apenas justificar seus interesses, visões e, sobretudo, aspirações políticas. Mais que isso, tais interesses, visões e aspirações políticas são cada vez mais autonômas; os grupos de mídia se tornam na medida cada vez mais políticos na medida em que a relação entre difusão de dados e poder se estreita ; eles não vêm mais à reboque de interesses de outras forças políticas porque eles mesmos são forças políticas agora, logo, são possuidores do próprio discurso político.
É como se um sitiante vendesse os tomates que planta na beira da estrada. Até aí, ele depende de outras forças econômicas para ter dinheiro e a partir dele chegar ao poder. No entanto, surge um dia em que a economia se desmonetariza e o governo diz que os tomates passarão a ser base de troca de agora em diante. Esse é o dia em que esse sitiante experimenta uma relação direta com o poder, sem depender do intermédio de outros fatores e passa a ele ser em si uma força econômica autonôma. No que toca a mídia, vemos um caso parecido: O produto midiático se torna cada vez mais a grande moeda do mundo do século 21º, de tal maneira que isso altera por completo a relação de um grupo de mídia com os demais integrantes de sua comunidade graças à subversão que ele faz com o próprio discurso por meio do qual se dirige a eles. A morte do jornalismo, no fim das contas, poderá vir de onde menos se espera e pode ser mais sutil do que se imagina.
atualização (15/03/09 às 16:37): O que já estava ruim ficou pior e a Folha além de ter sectarizado o debate agora o está tornando algo pessoal, o que é inteiramente lamentável; direito de resposta não se viola. Sobre isso melhor escreve o Mauricio Caleiro em seu Cinema & Outras Artes.
atualização (16/03/09 às 19:20): alterei a redação do primeiro parágrafo para ficar mais claro o que eu queria dizer.
nova atualização em 18/06/09 às 20:24
quinta-feira, 12 de março de 2009
A Crise Mundial e o Brasil
Nesses últimos dias, pipocam notícias do avanço da crise no Brasil. É sempre preciso ter muito cuidado, quando a crise atual ainda se formava no horizonte já havia que se animasse porque via nisso a possibilidade de fazer uso político dessa situação. É fato que a crise avança, ainda assim, o acumulado de doze meses permanece positivo ( 1,6% em termos de pessoal ocupado, 1,4% em tempo de hora paga e 5,6% em folha de pagamento real), mas claro, a situação se desenha preocupante desde dezembro, quando a crise chegou realmente por aqui. Janeiro e Fevereiro não foram meses bons, muito pelo contrário.
O fato é que não havia como o país não ser pego pelo turbilhão. Não creio que haja possibilidade de alguém não sê-lo hoje, todavia, faltou capacidade gerencial para se fazer uma redução radical da taxa de juros lá por outubro, o que, sem sombra de dúvida, teria feito muita diferença em dezembro, aquecendo a economia - e diminuiria os danos colaterais e inescapáveis.
Isso, claro, tem tudo a ver com o arranjo político entre governo e banqueiros, onde uma política monetária ortodoxa se mantinha de pé graças à enorme - e artificial - liquidez dos mercados, o que permitia manter altas taxas de juros que mantinham a inflação baixa e ao mesmo tempo não impediam o crescimento econômico, conseguindo, ainda, satisfazer o setor financeiro. Isso aí acabou. Qualquer país mais ou menos estável no mundo pratica taxas de juros básicas que giram em torno do crescimento especulado para os doze meses seguintes somado à inflação estimada para o mesmo período - partindo dessa premissa, mesmo que prever o ritmo da economia para os próximos doze meses seja um verdadeiro exercício profético, nada aponta que essa soma irá passar de 5%, enquanto a SELIC está na casa dos 11%.
O corte de 1,5% na SELIC ontem foi uma ação com quatro meses de atraso, ainda assim, foi positiva, mas só fará diferença se o viés de queda se mantiver estável e firme nos próximos meses e apontar para menos de dois digítos em um mês. Há que se pensar também em algum corte de impostos para os próximos meses principalmente no que toca o setor produtivo. Ainda assim, os efeitos dessa crise não serão nada agradáveis como não seriam de qualquer modo, no entanto, a reação do Governo a ela foi mais lenta do que deveria. Agora, fatalmente, não haverá como manter o arranjo que era tão favorável desde o início para Lula e desfazê-lo justo agora que 2010 foi antecipado não será nada agradável. Os desdobramentos dessa crise são totalmente imprevisíveis, mas a soma disso com a campanha presidencial nesse nossi Brasil varonil vai fazer com que as coisas sejam especialmente sujas por aqui.
O fato é que não havia como o país não ser pego pelo turbilhão. Não creio que haja possibilidade de alguém não sê-lo hoje, todavia, faltou capacidade gerencial para se fazer uma redução radical da taxa de juros lá por outubro, o que, sem sombra de dúvida, teria feito muita diferença em dezembro, aquecendo a economia - e diminuiria os danos colaterais e inescapáveis.
Isso, claro, tem tudo a ver com o arranjo político entre governo e banqueiros, onde uma política monetária ortodoxa se mantinha de pé graças à enorme - e artificial - liquidez dos mercados, o que permitia manter altas taxas de juros que mantinham a inflação baixa e ao mesmo tempo não impediam o crescimento econômico, conseguindo, ainda, satisfazer o setor financeiro. Isso aí acabou. Qualquer país mais ou menos estável no mundo pratica taxas de juros básicas que giram em torno do crescimento especulado para os doze meses seguintes somado à inflação estimada para o mesmo período - partindo dessa premissa, mesmo que prever o ritmo da economia para os próximos doze meses seja um verdadeiro exercício profético, nada aponta que essa soma irá passar de 5%, enquanto a SELIC está na casa dos 11%.
O corte de 1,5% na SELIC ontem foi uma ação com quatro meses de atraso, ainda assim, foi positiva, mas só fará diferença se o viés de queda se mantiver estável e firme nos próximos meses e apontar para menos de dois digítos em um mês. Há que se pensar também em algum corte de impostos para os próximos meses principalmente no que toca o setor produtivo. Ainda assim, os efeitos dessa crise não serão nada agradáveis como não seriam de qualquer modo, no entanto, a reação do Governo a ela foi mais lenta do que deveria. Agora, fatalmente, não haverá como manter o arranjo que era tão favorável desde o início para Lula e desfazê-lo justo agora que 2010 foi antecipado não será nada agradável. Os desdobramentos dessa crise são totalmente imprevisíveis, mas a soma disso com a campanha presidencial nesse nossi Brasil varonil vai fazer com que as coisas sejam especialmente sujas por aqui.
segunda-feira, 9 de março de 2009
Estupro, Aborto e Excomunhão
Gostaria de comentar temas mais leves, coisas mais amenas, mas o momento não vem ajudando. Nesse exato momento, estou consternado com o fato da Igreja ter excomungado a equipe médica que interrompeu a gravidez da menina de nove anos em Alagoinha-PE - como se ainda não fosse suficientemente chocante, tal gravidez era decorrente de sucessivos estupros que ela sofria desde os seis anos de idade pelo padrasto. Grávida de gêmeos e fadada a morrer no parto, ela sofreu o aborto por meio de um processo perfeitamente legal previsto em nosso Código Penal:
Há quem argumente sobre a questão da "punição apenas simbólica", que 'ninguém levará em consideração', no entanto, as pessoas esquecem que os símbolos, esses curiosos conceitos mutuamente relacionais e inteligíveis, base de nossa linguagem e da nossa interpretação de mundo são tudo. Com isso a Igreja pretendeu intimidar médicos e enfermeiros católicos que um dia pensem em praticar aborto legal para salvar a vida de uma menininha vítima de estupro. Se as tentativas obscurantistas da Igreja em mudar a Lei não tem obtido êxito, que se apele à intimidação religiosa então.
Claro, há que se ressaltar aqui a altivez e a coragem do Dr. Moraes, católico não praticante - por que será que isso tem se tornado tão comum, hein? -, excomungado e que reagiu com a elegância de um homem racional e superior com a consciência limpa de quem fez a coisa certa - e de que talvez possa levar uns séculos, mas certamente tirarão sua alma do inferno. Todavia, será que é possível esperar isso de todos os católicos? Creio que não. Por mais que a Igreja tem perdido fiéis, o Brasil ainda é de maioria católica e se até mesmo esse humanista, laico desde que passou a se entender por gente, está discutindo esse assunto, pense então sobre a comunidade que bem ou mal é religiosa.
Mas o que se esconderia por detrás disso? A que deve essa ação espetaculosa capaz de chocar direitistas e esquerdistas - ou de qualquer um que se julgue vivente do século 21º? Pensa esse humilde escrevinhador que isso pode ter a ver com a questão dos anencéfalos. Se nessa questão, também contra a vontade da Igreja, a norma em relação ao aborto pode acabar sendo reinterpretada à luz da Constituição atual implicando na legalização da interrupção da gravidez também nesse caso, eu penso que a reação da Igreja por meio de sanção religiosa - que felizmente não tem mais força vinculante no nosso Direito - no caso de Alagoinha justamente em relação a esse dispostivo não é um mero ponto fora da curva, mas parte de um jogo de forças, onde a Igreja Católica procura se impôr duramente, não obstante a laicidade do Estado. Temo que isso vá agravar a crise no catolicismo nacional mais ainda.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por
médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da
gestante;Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento
dagestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
O caso, como os senhores podem perceber contempla não apenas uma, mas sim duas das situações previstas no art.128 do CP. Processo perfeitamente legal, no entanto, o que aconteceu em seguida? O Arcebispo de Recife e Olinda, Dom José Cardoso Sobrinho excomungou a mãe da menina e a equipe médica que realizou o aborto legal se baseando no Código Canônico, o mesmo que absolveu o pérfido estuprador e que fatalmente condenaria a menina à morte. Uma vergonha imensa.
médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da
gestante;Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento
dagestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
O caso, como os senhores podem perceber contempla não apenas uma, mas sim duas das situações previstas no art.128 do CP. Processo perfeitamente legal, no entanto, o que aconteceu em seguida? O Arcebispo de Recife e Olinda, Dom José Cardoso Sobrinho excomungou a mãe da menina e a equipe médica que realizou o aborto legal se baseando no Código Canônico, o mesmo que absolveu o pérfido estuprador e que fatalmente condenaria a menina à morte. Uma vergonha imensa.
Há quem argumente sobre a questão da "punição apenas simbólica", que 'ninguém levará em consideração', no entanto, as pessoas esquecem que os símbolos, esses curiosos conceitos mutuamente relacionais e inteligíveis, base de nossa linguagem e da nossa interpretação de mundo são tudo. Com isso a Igreja pretendeu intimidar médicos e enfermeiros católicos que um dia pensem em praticar aborto legal para salvar a vida de uma menininha vítima de estupro. Se as tentativas obscurantistas da Igreja em mudar a Lei não tem obtido êxito, que se apele à intimidação religiosa então.
Claro, há que se ressaltar aqui a altivez e a coragem do Dr. Moraes, católico não praticante - por que será que isso tem se tornado tão comum, hein? -, excomungado e que reagiu com a elegância de um homem racional e superior com a consciência limpa de quem fez a coisa certa - e de que talvez possa levar uns séculos, mas certamente tirarão sua alma do inferno. Todavia, será que é possível esperar isso de todos os católicos? Creio que não. Por mais que a Igreja tem perdido fiéis, o Brasil ainda é de maioria católica e se até mesmo esse humanista, laico desde que passou a se entender por gente, está discutindo esse assunto, pense então sobre a comunidade que bem ou mal é religiosa.
Mas o que se esconderia por detrás disso? A que deve essa ação espetaculosa capaz de chocar direitistas e esquerdistas - ou de qualquer um que se julgue vivente do século 21º? Pensa esse humilde escrevinhador que isso pode ter a ver com a questão dos anencéfalos. Se nessa questão, também contra a vontade da Igreja, a norma em relação ao aborto pode acabar sendo reinterpretada à luz da Constituição atual implicando na legalização da interrupção da gravidez também nesse caso, eu penso que a reação da Igreja por meio de sanção religiosa - que felizmente não tem mais força vinculante no nosso Direito - no caso de Alagoinha justamente em relação a esse dispostivo não é um mero ponto fora da curva, mas parte de um jogo de forças, onde a Igreja Católica procura se impôr duramente, não obstante a laicidade do Estado. Temo que isso vá agravar a crise no catolicismo nacional mais ainda.
domingo, 8 de março de 2009
Eis o Brasil, o país do eterno Primeiro de Abril
O diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, divulgou ontem as seguintes declarações:
"O uso da expressão "ditabranda" em editorial de 17 de fevereiro passado foi um erro. O termo tem uma conotação leviana que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis.
Do ponto de vista histórico, porém, é um fato que a ditadura militar brasileira, com toda a sua truculência, foi menos repressiva que as congêneres argentina, uruguaia e chilena -ou que a ditadura cubana, de esquerda.
A nota publicada juntamente com as mensagens dos professores Comparato e Benevides na edição de 20 de fevereiro reagiu com rispidez a uma imprecação ríspida: que os responsáveis pelo editorial fossem forçados, "de joelhos", a uma autocrítica em praça pública.
Para se arvorar em tutores do comportamento democrático alheio, falta a esses democratas de fachada mostrar que repudiam, com o mesmo furor inquisitorial, os métodos das ditaduras de esquerda com as quais simpatizam."
Otavio Frias Filho"
Nem ia escrever nada hoje, mas não podia ter deixado passar: Otavinho acusou o golpe, do contrário não teríamos chegado até aqui. A não retratação em relação à ofensa aos professores é só um modo de não dar o braço totalmente a torcer, só isso. Não foi apenas o pequeno e barulhento protesto de ontem. Não foi apenas a reação na Internet. Não foi apenas a reação no Painel de Leitores. Não foi apenas a reação que houve em meio à sociedade. Foi o conjunto da obra.
Há quem ache que a Folha transgrediu certas linhas que não poderiam de modo algum serem ultrapassadas. Eu, cá no meu cantinho, penso que o desditoso editorial apenas demostrou que houve a transgressão porque, claro, ela aconteceu muito, muito antes disso. No entanto, ao fazê-lo nessa ocasião, ele explicitou e gritou bem alto: Olhem pra mim, estou aqui bem além dos limites da sensatez há décadas!
Pelo menos alguns setores se deram conta de que foi praticado um ato indefensável - e os que se deram ao luxo de defendê-lo, tentaram fazê-lo por meio da desqualificação pessoal dos críticos, do uso de factóides, enfim, do desfoque do debate, o que apenas acusava mais ainda o golpe, com o perdão do infeliz trocadilho. O protesto foi válido porque externou que isso não pode ser aceito pelo povo brasileiro, que os desejos e feitiches doentios dessa gente deve ficar lá, dentro da cabecinha deles, em meio às vozes que ficam brigando o tempo inteiro e de sua falecida e putrefada consciência
Pode até existir quem ache que há volta para o que foi escrito, mas não há quem acredite que isso possa acontecer sem manchas - que os cândidos acreditam que podem e devem ser perdoadas e que os cínicos procurarão, por certo, esconder. Eu, pessoalmente, não creio. Penso que as linhas que foram transgredidas não agora, mas há muito, não mais permitem retorno de modo algum. Há quem diga que os anos 70 da Itália insistem em não terminar, cá, no nosso Brasil varonil, houve um Primeiro de Abril que insiste em não acabar.
"O uso da expressão "ditabranda" em editorial de 17 de fevereiro passado foi um erro. O termo tem uma conotação leviana que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis.
Do ponto de vista histórico, porém, é um fato que a ditadura militar brasileira, com toda a sua truculência, foi menos repressiva que as congêneres argentina, uruguaia e chilena -ou que a ditadura cubana, de esquerda.
A nota publicada juntamente com as mensagens dos professores Comparato e Benevides na edição de 20 de fevereiro reagiu com rispidez a uma imprecação ríspida: que os responsáveis pelo editorial fossem forçados, "de joelhos", a uma autocrítica em praça pública.
Para se arvorar em tutores do comportamento democrático alheio, falta a esses democratas de fachada mostrar que repudiam, com o mesmo furor inquisitorial, os métodos das ditaduras de esquerda com as quais simpatizam."
Otavio Frias Filho"
Nem ia escrever nada hoje, mas não podia ter deixado passar: Otavinho acusou o golpe, do contrário não teríamos chegado até aqui. A não retratação em relação à ofensa aos professores é só um modo de não dar o braço totalmente a torcer, só isso. Não foi apenas o pequeno e barulhento protesto de ontem. Não foi apenas a reação na Internet. Não foi apenas a reação no Painel de Leitores. Não foi apenas a reação que houve em meio à sociedade. Foi o conjunto da obra.
Há quem ache que a Folha transgrediu certas linhas que não poderiam de modo algum serem ultrapassadas. Eu, cá no meu cantinho, penso que o desditoso editorial apenas demostrou que houve a transgressão porque, claro, ela aconteceu muito, muito antes disso. No entanto, ao fazê-lo nessa ocasião, ele explicitou e gritou bem alto: Olhem pra mim, estou aqui bem além dos limites da sensatez há décadas!
Pelo menos alguns setores se deram conta de que foi praticado um ato indefensável - e os que se deram ao luxo de defendê-lo, tentaram fazê-lo por meio da desqualificação pessoal dos críticos, do uso de factóides, enfim, do desfoque do debate, o que apenas acusava mais ainda o golpe, com o perdão do infeliz trocadilho. O protesto foi válido porque externou que isso não pode ser aceito pelo povo brasileiro, que os desejos e feitiches doentios dessa gente deve ficar lá, dentro da cabecinha deles, em meio às vozes que ficam brigando o tempo inteiro e de sua falecida e putrefada consciência
Pode até existir quem ache que há volta para o que foi escrito, mas não há quem acredite que isso possa acontecer sem manchas - que os cândidos acreditam que podem e devem ser perdoadas e que os cínicos procurarão, por certo, esconder. Eu, pessoalmente, não creio. Penso que as linhas que foram transgredidas não agora, mas há muito, não mais permitem retorno de modo algum. Há quem diga que os anos 70 da Itália insistem em não terminar, cá, no nosso Brasil varonil, houve um Primeiro de Abril que insiste em não acabar.
sábado, 7 de março de 2009
O protesto contra a Ditabranda
Hoje, acordei cedo, comi rápido e tomei o bom e velho transporte público (trem de subúrbio mais metrô) para encontrar com a minha querida amiga - e fotógrafa amadora devidamente celularizada - Laura Moraes. Nos encontramos na catraca da estação Marechal Deodoro do metrô e rumamos para a gloriosa - ou nem tanto - Alameda Barão de Limeira, onde a fica a sede da inefável Folha de São Paulo. Lá, topamos com um amigo nosso estudante de jornalismo, o grande Valério e com muito mais gente do que eu esperava.
Parentes e amigos de vítimas da ditadura, alguns velhos conhecidos da Internet - como Eduardo Guimarães e Luis Carlos Azenha -, jornalistas como meu amigo Antonio Barbosa, a oposição e a situação do sindicatos dos jornalistas - juntos -, estudantes além de figuras como o Padre Júlio Lancelotti e Celso Lungaretti estavam lá. Foi bonito. Nesse exato momento que eu estou escrevendo esse post, não sei ao certo quantos foram, talvez uns 200 ou mais. Foi bonito. Em alguns momentos, como na fala do Padre Júlio e do senhor Toshio que discursou sobre os seus amigos mortos pela ditadura ( foto 4), foi emocionante.
Foi interessante sentir um pouco dessa letargia que domina o nosso país e, num nível acima da média, essa nossa paulicéia desvairada ser ligeiramente rompido. Ver também como o poder de mobilização de massas da Internet está aumentando e outras coisas mais. A ditabranda, foi sem dúvida, o tipo da coisa que se voltou contra a Folha, um jornal que foi alçado à liderança das vendas em SP e no Brasil devido a criação da alegoria do "Jornal das Diretas", até fevereiro dessa ano, a maior e mais bem sucedida obra de engenharia lógica da história do jornalismo nacional. Obra construída por Otávio Frias. Obra implodida pelo genial Otavinho. Caiu uma boa mentira, encaremos a verdade.
Parentes e amigos de vítimas da ditadura, alguns velhos conhecidos da Internet - como Eduardo Guimarães e Luis Carlos Azenha -, jornalistas como meu amigo Antonio Barbosa, a oposição e a situação do sindicatos dos jornalistas - juntos -, estudantes além de figuras como o Padre Júlio Lancelotti e Celso Lungaretti estavam lá. Foi bonito. Nesse exato momento que eu estou escrevendo esse post, não sei ao certo quantos foram, talvez uns 200 ou mais. Foi bonito. Em alguns momentos, como na fala do Padre Júlio e do senhor Toshio que discursou sobre os seus amigos mortos pela ditadura ( foto 4), foi emocionante.
Foi interessante sentir um pouco dessa letargia que domina o nosso país e, num nível acima da média, essa nossa paulicéia desvairada ser ligeiramente rompido. Ver também como o poder de mobilização de massas da Internet está aumentando e outras coisas mais. A ditabranda, foi sem dúvida, o tipo da coisa que se voltou contra a Folha, um jornal que foi alçado à liderança das vendas em SP e no Brasil devido a criação da alegoria do "Jornal das Diretas", até fevereiro dessa ano, a maior e mais bem sucedida obra de engenharia lógica da história do jornalismo nacional. Obra construída por Otávio Frias. Obra implodida pelo genial Otavinho. Caiu uma boa mentira, encaremos a verdade.
Fotos do protesto contra a ditabranda
Antonio Barbosa e presidente do sindicato dos jornalistas.
Toshio: "Se fosse uma ditabranda nossos amigos estariam aqui conosco"
O Povo
Lungaretti
Eduardo Guimarães e a charge definitiva sobre a "ditabranda"
Edu Guim, Lungaretti e o Estado policialesco.
Edu Guim, sua filha e Azenha durante a fala do Padre Júlio
Fotos: Laura Moraes. Para ver mais entre aqui.
Toshio: "Se fosse uma ditabranda nossos amigos estariam aqui conosco"
O Povo
Lungaretti
Eduardo Guimarães e a charge definitiva sobre a "ditabranda"
Edu Guim, Lungaretti e o Estado policialesco.
Edu Guim, sua filha e Azenha durante a fala do Padre Júlio
Fotos: Laura Moraes. Para ver mais entre aqui.
sexta-feira, 6 de março de 2009
Sobre Liberdade e Igualdade
Um dos debates mais recorrentes - e falsos - que vemos ser travado pelos botecos sujos e infovias da vida é aquele que procura estabelecer se a Liberdade é mais importante que a Igualdade e vice-versa ou também com qual deles é possível se viver sem. Tal debate parte das premissas que elas são duas coisas mutuamente excludentes ou excluíveis. Isso é inteiramente falso. Liberdade e Igualdade, ao meu ver, são intrinsecamente complementares, ainda assim, retrocedo e explico as razões com as quais fundamento minha afirmação.
Para começar, indago o que seria a Liberdade. Ao meu pensar, Liberdade é a condição que nos permite exercer o nosso poder mediante a nossa vontade e de acordo com as nossas possibilidades. Portanto, não estamos falando de um conceito absoluto, mas sim de algo que possui gradações - na medida que a nossa vontade e a nossas possibilidades são variáveis. Hipoteticamente, teríamos: "Liberdade total", ou o equivalente a poder fazer qualquer coisa que fosse desejado e estivesse ao nosso alcance e, no outro extremo, a "Liberdade nula", ou seja, não poder fazer nada que estivesse ao nosso alcance e fosse do nosso desejo. Seriam possíveis as duas situações? A primeira seria, mas apenas em momentos específicos e por curtos períodos, dado que nem mesmo um Monarca Absoluto poderia ter "Liberdade Total" o tempo inteiro devido as próprias vicissitudes da Política; sobre a segunda situação, em vida, seria muito difícil chegarmos a experimentá-la, afinal, em último caso, sempre há a possibilidade do suicídio para as situações mais terríveis - talvez ela só fosse possível na situação na situação onde alguém é completamente anestesiado, haveria vida, mas não existiria consciência ou movimento.
Levando em conta aqui que os homens vivem em grupo, seria possível imaginar uma situação onde um homem é livre ao extremo? Sim, mas como já colocado, seria apenas por um curto período. Seria possível um subgrupo pertencente a esse grupo ser totalmente livre? Apenas, por um curto período, porque aí os demais integrantes do grupo estariam sujeitos ao poder, a vontade e as necessidades desse subgrupo, perdendo, por conseguinte, a sua liberdade para eles. Seria possível todos os integrantes do grupo serem totalmente livres? Em hipótese alguma. Isso implicaria num estado de violência permanente entre eles na medida em que todos poderiam fazer o que pudessem e o que quisessem com todos e aí destruição mútua seria inevitável - a esse respeito e fazendo o raciocínio contrário, seria possível todos terem "Liberdade nula"? A resposta é que também não, posto que a única maneira de fazer o homem renegar a condição de liberdade por completo só pode ser externa a ele, pois implicaria na eliminação da nossa vontade, do nosso desejar e, como pode se supor, o fenômeno volitivo decorre quase sempre da nossa necessidade - de sobreviver ou viver com prazer -, o que não poderia ser autonomamente limitável - não, ao menos por ora.
Tornando ao exemplo de um grupo onde há um subgrupo com plena liberdade enquanto o restante não o teria, poderíamos enxergar nisso o exemplo da luta de classes. No entanto, isso implicaria em um erro, nenhum segmento dos mais variados grupos humanos ao longo de tempo e do espaço jamais foi plenamente livre e não foi porque não pôde; a supremacia de um subgrupo, de uma "classe social", não se dá apenas mediante imposições, mas também por concessões - ainda que pequenas - e mesmo assim não eterna como prova a História, portanto, a situação de exercitar a Liberdade de maneira total, se apresenta impossível de maneira perene. Qual o motivo disso acontecer? Para tanto precisamos retomar o conceito anterior, não seria porque a Liberdade de um indivíduo e de um subgrupo implica em menos Liberdade de um outro grupo e de um outro indivíduo. Também não existe possibilidade de eliminar a Liberdade, pode-se, perfeitamente eliminar-se o indivíduo, mas não a Liberdade, porque para tanto seria necessário eliminar seu poder e sua vontade, que estão vinculados a sua necessidade que, por conseguinte, é inerente a sua natureza humana.
A relação da condição Liberdade no interior dos grupos humanos é, sem embargo, um dos temas mais relevantes ao longo da História. Situações como o Nazismo não simples momentos "onde houve falta de Liberdade", mas sim um momento onde um subgrupo (o Partido Nazista) teve uma gradação de Liberdade verdadeiramente alta combinado com um Poder verdadeiramente grande. O oprimido é aquele que tem a sua Liberdade diminuída, portanto, é agente passivo nisso tudo, sendo que sua condição decorre do fato de alguém - ou um subgrupo - ter mais Liberdade do que ele, para seja possível a ocorrência do ato de opressão - a submissão de alguém à vontade e ao poder de outrem.
Eis aí o grande dilema que há séculos aflige a humanidade: Não é possível acabar com a Liberdade, no entanto, não é possível que todos-um subgrupo-um indivíduo sejam plenamente livres. Como equacionar isso? Por meio da Igualdade, ou, a condição que estabelece o nivelamento de algo ou alguém a um referencial possível ou imaginável. Como unir tais ideias? Primeiro, a Liberdade necessita que haja Igualdade como forma de poder existir de maneira perene dentro de um grupo humano; isso daria por meio de um equacionamento que viria como conteúdo valorativo do sistema de discursos diretivos decorrente das deliberações políticas (aquilo que chamamos de Direito). Isso resultaria na chamada Isonomia (condição vive-se sob a mesma Lei). No entanto, bastaria apenas a Igualdade para solucionar o problema da estruturação da Liberdade nos grupos humanos? Eis aí que afirmo que não. Como coloquei, a Liberdade possui duas variáveis em sua composição, poder e vontade - onde o primeiro varia aprioristicamente de acordo com as relações econômicas e aposterioristicamente de acordo com elementos culturais de toda ordem que envolvem o indivíduo-subgrupo-grupo, enquanto o segundo varia conforme a necessidade do indivíduo-subgrupo-grupo. Portanto, a Igualdade por si só não garante a racionalização da Liberdade em meio a um grupo humano, mais que Igualdade é necessário Equitatividade, ou seja, tridimensionalizar a condição de Igualdade de tal sorte que possamos tratar os iguais como iguais e os desiguais como desiguais. Retroagindo, sem a Liberdade também não há como realizar Igualdade, tampouco a equitatividade na medida em que o surgimento e a existência da raça humana é permeado de assimetrias entre os grupos que a compõe e dentro desses próprios grupos.
Dessa maneira com Liberdade, Igualdade e Equitatividade rumamos para a materialização do ideal de proporcionalidade em meio as relações humanas, o que, em outras palavras equivale a tão sonhada Justiça, fim da política e meio para possibilitar a vida em grupo. Não resta dúvida que não há como excluir uma coisa da outra como pretendem alguns.
Para começar, indago o que seria a Liberdade. Ao meu pensar, Liberdade é a condição que nos permite exercer o nosso poder mediante a nossa vontade e de acordo com as nossas possibilidades. Portanto, não estamos falando de um conceito absoluto, mas sim de algo que possui gradações - na medida que a nossa vontade e a nossas possibilidades são variáveis. Hipoteticamente, teríamos: "Liberdade total", ou o equivalente a poder fazer qualquer coisa que fosse desejado e estivesse ao nosso alcance e, no outro extremo, a "Liberdade nula", ou seja, não poder fazer nada que estivesse ao nosso alcance e fosse do nosso desejo. Seriam possíveis as duas situações? A primeira seria, mas apenas em momentos específicos e por curtos períodos, dado que nem mesmo um Monarca Absoluto poderia ter "Liberdade Total" o tempo inteiro devido as próprias vicissitudes da Política; sobre a segunda situação, em vida, seria muito difícil chegarmos a experimentá-la, afinal, em último caso, sempre há a possibilidade do suicídio para as situações mais terríveis - talvez ela só fosse possível na situação na situação onde alguém é completamente anestesiado, haveria vida, mas não existiria consciência ou movimento.
Levando em conta aqui que os homens vivem em grupo, seria possível imaginar uma situação onde um homem é livre ao extremo? Sim, mas como já colocado, seria apenas por um curto período. Seria possível um subgrupo pertencente a esse grupo ser totalmente livre? Apenas, por um curto período, porque aí os demais integrantes do grupo estariam sujeitos ao poder, a vontade e as necessidades desse subgrupo, perdendo, por conseguinte, a sua liberdade para eles. Seria possível todos os integrantes do grupo serem totalmente livres? Em hipótese alguma. Isso implicaria num estado de violência permanente entre eles na medida em que todos poderiam fazer o que pudessem e o que quisessem com todos e aí destruição mútua seria inevitável - a esse respeito e fazendo o raciocínio contrário, seria possível todos terem "Liberdade nula"? A resposta é que também não, posto que a única maneira de fazer o homem renegar a condição de liberdade por completo só pode ser externa a ele, pois implicaria na eliminação da nossa vontade, do nosso desejar e, como pode se supor, o fenômeno volitivo decorre quase sempre da nossa necessidade - de sobreviver ou viver com prazer -, o que não poderia ser autonomamente limitável - não, ao menos por ora.
Tornando ao exemplo de um grupo onde há um subgrupo com plena liberdade enquanto o restante não o teria, poderíamos enxergar nisso o exemplo da luta de classes. No entanto, isso implicaria em um erro, nenhum segmento dos mais variados grupos humanos ao longo de tempo e do espaço jamais foi plenamente livre e não foi porque não pôde; a supremacia de um subgrupo, de uma "classe social", não se dá apenas mediante imposições, mas também por concessões - ainda que pequenas - e mesmo assim não eterna como prova a História, portanto, a situação de exercitar a Liberdade de maneira total, se apresenta impossível de maneira perene. Qual o motivo disso acontecer? Para tanto precisamos retomar o conceito anterior, não seria porque a Liberdade de um indivíduo e de um subgrupo implica em menos Liberdade de um outro grupo e de um outro indivíduo. Também não existe possibilidade de eliminar a Liberdade, pode-se, perfeitamente eliminar-se o indivíduo, mas não a Liberdade, porque para tanto seria necessário eliminar seu poder e sua vontade, que estão vinculados a sua necessidade que, por conseguinte, é inerente a sua natureza humana.
A relação da condição Liberdade no interior dos grupos humanos é, sem embargo, um dos temas mais relevantes ao longo da História. Situações como o Nazismo não simples momentos "onde houve falta de Liberdade", mas sim um momento onde um subgrupo (o Partido Nazista) teve uma gradação de Liberdade verdadeiramente alta combinado com um Poder verdadeiramente grande. O oprimido é aquele que tem a sua Liberdade diminuída, portanto, é agente passivo nisso tudo, sendo que sua condição decorre do fato de alguém - ou um subgrupo - ter mais Liberdade do que ele, para seja possível a ocorrência do ato de opressão - a submissão de alguém à vontade e ao poder de outrem.
Eis aí o grande dilema que há séculos aflige a humanidade: Não é possível acabar com a Liberdade, no entanto, não é possível que todos-um subgrupo-um indivíduo sejam plenamente livres. Como equacionar isso? Por meio da Igualdade, ou, a condição que estabelece o nivelamento de algo ou alguém a um referencial possível ou imaginável. Como unir tais ideias? Primeiro, a Liberdade necessita que haja Igualdade como forma de poder existir de maneira perene dentro de um grupo humano; isso daria por meio de um equacionamento que viria como conteúdo valorativo do sistema de discursos diretivos decorrente das deliberações políticas (aquilo que chamamos de Direito). Isso resultaria na chamada Isonomia (condição vive-se sob a mesma Lei). No entanto, bastaria apenas a Igualdade para solucionar o problema da estruturação da Liberdade nos grupos humanos? Eis aí que afirmo que não. Como coloquei, a Liberdade possui duas variáveis em sua composição, poder e vontade - onde o primeiro varia aprioristicamente de acordo com as relações econômicas e aposterioristicamente de acordo com elementos culturais de toda ordem que envolvem o indivíduo-subgrupo-grupo, enquanto o segundo varia conforme a necessidade do indivíduo-subgrupo-grupo. Portanto, a Igualdade por si só não garante a racionalização da Liberdade em meio a um grupo humano, mais que Igualdade é necessário Equitatividade, ou seja, tridimensionalizar a condição de Igualdade de tal sorte que possamos tratar os iguais como iguais e os desiguais como desiguais. Retroagindo, sem a Liberdade também não há como realizar Igualdade, tampouco a equitatividade na medida em que o surgimento e a existência da raça humana é permeado de assimetrias entre os grupos que a compõe e dentro desses próprios grupos.
Dessa maneira com Liberdade, Igualdade e Equitatividade rumamos para a materialização do ideal de proporcionalidade em meio as relações humanas, o que, em outras palavras equivale a tão sonhada Justiça, fim da política e meio para possibilitar a vida em grupo. Não resta dúvida que não há como excluir uma coisa da outra como pretendem alguns.
quarta-feira, 4 de março de 2009
Fim de uma invencibilidade
Tanto do Palmeiras em casa nesse ano quanto a minha no Palestra em todos os tempos. Triste, triste. Um 3x1 doído frente ao Colo Colo com direito a show do argentino Lucas Barrios, jogador para se observar com a devida atenção. Sobre o verde, o que ficou foi a imagem de um time em muitos momentos apático, com graves problemas defensivos que tardaram a aparecer mais quando apareceram implodiram o time e, apesar de estarmos falando apenas na segunda derrota nos 14 jogos deste ano, já é a segunda derrota justamente na fase de qualificação da Libertadores - o que deixa o time verde na dependência de conquistar 10 dos 12 pontos que vai disputar.
Um primeiro tempo onde o time atacou bastante, mas sem eficácia, sempre pelo meio. Armero não jogou e nem Marcão, nem Jefferson mostraram nível para um jogos desses - como Fabinho Capixaba normalmente nunca joga mesmo - não havia jogada possível que se surgisse pelos flancos. Diego Souza mais adiantado foi um fiasco. Tá na cara que ele é um jogador que deve jogar mais recuado, como no início do ano, jogando para o time e saindo de trás, não como armador, nisso Cleiton Xavier se sai muito melhor; ontem, o que se viu foi o contrário, C. Xavier sacrificado como volante e Diego com liberdade para armar, o que não pode ser nada menos do que burrice ou, quem sabe, a materialização do feitiche que Vandeco Luxemba tem em querer transformar Diego no craque que ele não é, nem nunca será - o que atrapalha tanto o jogador quanto o time do Palmeiras.
Enquanto o ataque do Palmeiras apenas rondava a zaga chilena, chegou uma hora que o time cansou e vieram uma série de contra-ataques. Bruno catou todos os chutes até que Barrios pegou a bola, peitou a zaga quase toda e fez o gol. Fim do primeiro tempo e o placar marcava 1x0 para o Colo Colo.
Vem o segundo tempo, logo aos quatro a torcida verde vibra com a expulsão do jogador chileno até que poucos minutos depois vem o contra-ataque, nova falha da defesa e novo gol chileno - agora de Barrios para Torres. Vanderlei muda o time, depois de ter metido Jumar no lugar de Maurício Ramos e Jefferson no lugar de Marcão no intervalo, saca Fabinho Capixaba e põe Lenny; time cresce, passa a atacar na raça, debaixo do grito da torcida até que Keirrison, com cruzamento de Cleiton Xavier, diminui. E aí vem mais pressão, bola no travessão de Keirrison até que... O Colo Colo mata o jogo em novo contra-ataque.
Os defeitos que a equipe mostrou na noite de terça não são lá nenhuma novidade. Contando do jogo contra a LDU pra cá foram 11 gols sofridos em cinco jogos. Edmílson, Danilo e Maurício Ramos que se entenderam tão bem nos primeiros jogos agora batem cabeça como juvenis. O problema das alas é outro a ser visto com carinho, Evandro ou Wendel improvisados são milhares de vezes mais eficientes que Fabinho. Armero, nesse exato momento, não tem um reserva. Por outro lado, o que funciona nesse time - e muito bem -, o ataque nem sempre vai marcar três ou quatro gols assim como também está claro que as estrelas ali são Keirrison e Cleiton Xavier assim como Lenny merece a titularidade - Diego Souza deveria jogar um cadinho mais recuado assim como Edmílson poderia jogar como volante ao lado de Pierre.
O fato é que estamos falando de um time muito jovem que foi incrível e surpreendentemente bem no início do ano, mas que derrapou nos últimos jogos. É hora de ter calma. A chance de classificação na Libertadores é de apenas um sexto, mas tem de ser levada em consideração. As mudanças necessárias, que saltam aos olhos dos torcedores, devem ser feitas tão logo. Luxemburgo, que nunca foi teimoso, já arruinou um Brasileirão graças ao fato de ter apostado nos jogadores errados, daí surge uma vã esperança de que ele se toque de algumas coisas pelo que aconteceu ontem.
Um primeiro tempo onde o time atacou bastante, mas sem eficácia, sempre pelo meio. Armero não jogou e nem Marcão, nem Jefferson mostraram nível para um jogos desses - como Fabinho Capixaba normalmente nunca joga mesmo - não havia jogada possível que se surgisse pelos flancos. Diego Souza mais adiantado foi um fiasco. Tá na cara que ele é um jogador que deve jogar mais recuado, como no início do ano, jogando para o time e saindo de trás, não como armador, nisso Cleiton Xavier se sai muito melhor; ontem, o que se viu foi o contrário, C. Xavier sacrificado como volante e Diego com liberdade para armar, o que não pode ser nada menos do que burrice ou, quem sabe, a materialização do feitiche que Vandeco Luxemba tem em querer transformar Diego no craque que ele não é, nem nunca será - o que atrapalha tanto o jogador quanto o time do Palmeiras.
Enquanto o ataque do Palmeiras apenas rondava a zaga chilena, chegou uma hora que o time cansou e vieram uma série de contra-ataques. Bruno catou todos os chutes até que Barrios pegou a bola, peitou a zaga quase toda e fez o gol. Fim do primeiro tempo e o placar marcava 1x0 para o Colo Colo.
Vem o segundo tempo, logo aos quatro a torcida verde vibra com a expulsão do jogador chileno até que poucos minutos depois vem o contra-ataque, nova falha da defesa e novo gol chileno - agora de Barrios para Torres. Vanderlei muda o time, depois de ter metido Jumar no lugar de Maurício Ramos e Jefferson no lugar de Marcão no intervalo, saca Fabinho Capixaba e põe Lenny; time cresce, passa a atacar na raça, debaixo do grito da torcida até que Keirrison, com cruzamento de Cleiton Xavier, diminui. E aí vem mais pressão, bola no travessão de Keirrison até que... O Colo Colo mata o jogo em novo contra-ataque.
Os defeitos que a equipe mostrou na noite de terça não são lá nenhuma novidade. Contando do jogo contra a LDU pra cá foram 11 gols sofridos em cinco jogos. Edmílson, Danilo e Maurício Ramos que se entenderam tão bem nos primeiros jogos agora batem cabeça como juvenis. O problema das alas é outro a ser visto com carinho, Evandro ou Wendel improvisados são milhares de vezes mais eficientes que Fabinho. Armero, nesse exato momento, não tem um reserva. Por outro lado, o que funciona nesse time - e muito bem -, o ataque nem sempre vai marcar três ou quatro gols assim como também está claro que as estrelas ali são Keirrison e Cleiton Xavier assim como Lenny merece a titularidade - Diego Souza deveria jogar um cadinho mais recuado assim como Edmílson poderia jogar como volante ao lado de Pierre.
O fato é que estamos falando de um time muito jovem que foi incrível e surpreendentemente bem no início do ano, mas que derrapou nos últimos jogos. É hora de ter calma. A chance de classificação na Libertadores é de apenas um sexto, mas tem de ser levada em consideração. As mudanças necessárias, que saltam aos olhos dos torcedores, devem ser feitas tão logo. Luxemburgo, que nunca foi teimoso, já arruinou um Brasileirão graças ao fato de ter apostado nos jogadores errados, daí surge uma vã esperança de que ele se toque de algumas coisas pelo que aconteceu ontem.
terça-feira, 3 de março de 2009
Sábado 07/03
Como o banner ao lado está lembrando, todos que tiverem tempo - ou puderem fazer uma forcinha - apareçam para protestar contra a ignomiosa ditabranda.
domingo, 1 de março de 2009
Santos 1X0 São Paulo e o fim de semana de futebol pelo país
Agora há pouco, o Santos ganhou do São Paulo pelo placar mínimo na Vila Belmiro. Para aqueles que fizeram catastofismo em relação ao peixe depois da goleada sofrida no clássico contra o Palmeiras, fica a lição de que o quadro não é tão preto quanto eles pintaram; por outro lado, para aqueles que veem um milagre nessa recém-iniciado trabalho de Vagner Mancini, respondo que estão enganados, o futebol que foi jogado hoje pelo time esteve dentro da média dele no ano. Por outro lado, o São Paulo novamente entrou em campo com o freio de mão puxado e nem mesmo depois da passagem do Carnaval as coisas parecem ter mudado pros lados do Morumbi; futebol feio e uma falta danada de gana foi o que se viu hoje no litoral.
O jogo começou com o Santos no 3/6/1 para ganhar o meio de campo e desestabilizar a zaga tricolor, uma tática com intentos não muito diferentes do 4/5/1 adotado de início contra o Palmeiras. O São Paulo manteve o seu clássico 3/5/2, mas faltou atenção a Muricy em reforçar o meio, ou, quem sabe, ousadia de um dos zagueiros em subir para o meio para fortalecê-lo. Nesse sentido, os vinte primeiros minutos foi de domínio santista com o miolo de meio do peixe (com Brum, R. Souto, Madson e Molina) dominando as ações frente a Jean, Hernanes e Hugo; Roni na frente fazia o pivô e era (mal) marcado desnecessariamente por três zagueiros são-paulinos. Os alas do tricolores também não jogavam, mas só Léo do Santos incomodava. Poucas bolas chegavam para Dagoberto e Washington, mas quando chegavam - por conta de algum lampejo de Hernanes - o trio de zaga santista cortava com destreza.
No entanto, Hernanes cresceu no jogo e foi impondo um contra-ataque mais qualificado para o São Paulo. Nisso, Washington sofreu pênalti claro pelas mãos de Fabão que não foi marcado. O tricolor crescia. Numa bola parada, Léo, pouco antes de sair contundido, salvou cabeçada certeira de Washington em cima da linha. No entanto, o peixe recupera o ritmo e num belo lance de Roni apanhando um lançamento e metendo de meia-bicicleta para a área para o arremate de Molina - que até então não fizera nada no jogo - que na pontinha da chuteira de Rodrigo e faz o placar marcar 1x0 peixe aos 40'.
Entre o segundo tempo, Muricy tira o inscipiente Wagner Diniz por Zé Luís e não muda nada no panorama do jogo. Mesmo as bolas que chegam em Washington e Dagoberto, os atacantes não conseguem concluir com tranquilidade dada a firmeza na marcação do trio de zagueiros santista formada por Fabão, Domingos e Fabiano Eller. O peixe, modorrentamente contra-atacava e ia administrando o jogo. O guerreiro Domingos saiu contundido e Mancini mudou o esquema para o 4/4/2 com a entrada de Róbson, mas nada mudou e o Santos conseguiu a primeira vitória do ano.
Assim, o Santos dá um passo fundamental para a classificação enquanto o São Paulo prossegue não empolgando, no entanto, quer saber de uma coisa? É muito, mas muito difícil mesmo que os dois não sigam adiante nesse torneio.
O Inter venceu o Grêmio e ganhou o primeiro turno do campeonato estadual. Venhamos e convenhamos, há muito tempo os dois times grandes de Porto Alegre não começam tão bem a temporada, no entanto, o Inter prossegue tendo mais time que o seu rival - esperemos para ver se o colorado terá uma campanha mais regular esse ano, afinal de contas, em 2008, o time derrapou demais.
atualização das 23:08: E o Corinthians só empatou com o Marília. O timão faz boa campanha, mas come poeira em relação ao Palmeiras, estando três pontos atrás do rival mesmo tendo um jogo a mais. Seu grande trunfo é não ter uma Libertadores para jogar, o que, lá frente, pode fazer toda a diferença. Nesse exato momento, os eternos rivais são os times mais regulares e com mais fome de ganhar em SP.
O jogo começou com o Santos no 3/6/1 para ganhar o meio de campo e desestabilizar a zaga tricolor, uma tática com intentos não muito diferentes do 4/5/1 adotado de início contra o Palmeiras. O São Paulo manteve o seu clássico 3/5/2, mas faltou atenção a Muricy em reforçar o meio, ou, quem sabe, ousadia de um dos zagueiros em subir para o meio para fortalecê-lo. Nesse sentido, os vinte primeiros minutos foi de domínio santista com o miolo de meio do peixe (com Brum, R. Souto, Madson e Molina) dominando as ações frente a Jean, Hernanes e Hugo; Roni na frente fazia o pivô e era (mal) marcado desnecessariamente por três zagueiros são-paulinos. Os alas do tricolores também não jogavam, mas só Léo do Santos incomodava. Poucas bolas chegavam para Dagoberto e Washington, mas quando chegavam - por conta de algum lampejo de Hernanes - o trio de zaga santista cortava com destreza.
No entanto, Hernanes cresceu no jogo e foi impondo um contra-ataque mais qualificado para o São Paulo. Nisso, Washington sofreu pênalti claro pelas mãos de Fabão que não foi marcado. O tricolor crescia. Numa bola parada, Léo, pouco antes de sair contundido, salvou cabeçada certeira de Washington em cima da linha. No entanto, o peixe recupera o ritmo e num belo lance de Roni apanhando um lançamento e metendo de meia-bicicleta para a área para o arremate de Molina - que até então não fizera nada no jogo - que na pontinha da chuteira de Rodrigo e faz o placar marcar 1x0 peixe aos 40'.
Entre o segundo tempo, Muricy tira o inscipiente Wagner Diniz por Zé Luís e não muda nada no panorama do jogo. Mesmo as bolas que chegam em Washington e Dagoberto, os atacantes não conseguem concluir com tranquilidade dada a firmeza na marcação do trio de zagueiros santista formada por Fabão, Domingos e Fabiano Eller. O peixe, modorrentamente contra-atacava e ia administrando o jogo. O guerreiro Domingos saiu contundido e Mancini mudou o esquema para o 4/4/2 com a entrada de Róbson, mas nada mudou e o Santos conseguiu a primeira vitória do ano.
Assim, o Santos dá um passo fundamental para a classificação enquanto o São Paulo prossegue não empolgando, no entanto, quer saber de uma coisa? É muito, mas muito difícil mesmo que os dois não sigam adiante nesse torneio.
O Palmeiras,
ontem venceu o Guarani por 1x0 no Palestra com o seu mistão e com direito também a um belo gol de Deyvid Sacconi, garoto que se contundiu ano passado e que por isso perdeu quase toda a temporada de 2008, voltando só agora, muito bem por sinal. Quem seria capaz de parar esse Palmeiras nesse Paulistão? Por enquanto ninguém consegue ter um somatório de técnica e vontade semelhante, mas num campeonato decidido em um mata-mata, nada está definido.
No Rio,
venceu o Botafogo o Resende e ganhou o primeiro turno. Não tenho assistido muitos jogos do Campeonato de lá, mas é certo que ao contrário da temporada 08 onde os times entraram bem com exceção ao Vasco, esse ano as coisas não vão bem para os cariocas. O Vasco terá um caminho muito duro na Série B, deve voltar, mas certamente sofrerá mais que o Corinthians no ano passado. O Fluminense prossegue abalado pela maldição da LDU e não consegue jogar bem. Cuca prossegue falhando nos momentos decisivos e o Flamengo pagou o preço. Por enquanto, apenas o regular Botofago de Ney Franco merece algum destaque e mereceu vencer a primeira etapa do estadual, no entanto, ainda é muito pouco.
No outro Rio, esse lá no Sul,
O Inter venceu o Grêmio e ganhou o primeiro turno do campeonato estadual. Venhamos e convenhamos, há muito tempo os dois times grandes de Porto Alegre não começam tão bem a temporada, no entanto, o Inter prossegue tendo mais time que o seu rival - esperemos para ver se o colorado terá uma campanha mais regular esse ano, afinal de contas, em 2008, o time derrapou demais.
atualização das 23:08: E o Corinthians só empatou com o Marília. O timão faz boa campanha, mas come poeira em relação ao Palmeiras, estando três pontos atrás do rival mesmo tendo um jogo a mais. Seu grande trunfo é não ter uma Libertadores para jogar, o que, lá frente, pode fazer toda a diferença. Nesse exato momento, os eternos rivais são os times mais regulares e com mais fome de ganhar em SP.