Nesses últimos dias, pipocam notícias do avanço da crise no Brasil. É sempre preciso ter muito cuidado, quando a crise atual ainda se formava no horizonte já havia que se animasse porque via nisso a possibilidade de fazer uso político dessa situação. É fato que a crise avança, ainda assim, o acumulado de doze meses permanece positivo ( 1,6% em termos de pessoal ocupado, 1,4% em tempo de hora paga e 5,6% em folha de pagamento real), mas claro, a situação se desenha preocupante desde dezembro, quando a crise chegou realmente por aqui. Janeiro e Fevereiro não foram meses bons, muito pelo contrário.
O fato é que não havia como o país não ser pego pelo turbilhão. Não creio que haja possibilidade de alguém não sê-lo hoje, todavia, faltou capacidade gerencial para se fazer uma redução radical da taxa de juros lá por outubro, o que, sem sombra de dúvida, teria feito muita diferença em dezembro, aquecendo a economia - e diminuiria os danos colaterais e inescapáveis.
Isso, claro, tem tudo a ver com o arranjo político entre governo e banqueiros, onde uma política monetária ortodoxa se mantinha de pé graças à enorme - e artificial - liquidez dos mercados, o que permitia manter altas taxas de juros que mantinham a inflação baixa e ao mesmo tempo não impediam o crescimento econômico, conseguindo, ainda, satisfazer o setor financeiro. Isso aí acabou. Qualquer país mais ou menos estável no mundo pratica taxas de juros básicas que giram em torno do crescimento especulado para os doze meses seguintes somado à inflação estimada para o mesmo período - partindo dessa premissa, mesmo que prever o ritmo da economia para os próximos doze meses seja um verdadeiro exercício profético, nada aponta que essa soma irá passar de 5%, enquanto a SELIC está na casa dos 11%.
O corte de 1,5% na SELIC ontem foi uma ação com quatro meses de atraso, ainda assim, foi positiva, mas só fará diferença se o viés de queda se mantiver estável e firme nos próximos meses e apontar para menos de dois digítos em um mês. Há que se pensar também em algum corte de impostos para os próximos meses principalmente no que toca o setor produtivo. Ainda assim, os efeitos dessa crise não serão nada agradáveis como não seriam de qualquer modo, no entanto, a reação do Governo a ela foi mais lenta do que deveria. Agora, fatalmente, não haverá como manter o arranjo que era tão favorável desde o início para Lula e desfazê-lo justo agora que 2010 foi antecipado não será nada agradável. Os desdobramentos dessa crise são totalmente imprevisíveis, mas a soma disso com a campanha presidencial nesse nossi Brasil varonil vai fazer com que as coisas sejam especialmente sujas por aqui.
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