"Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas, os estados corporativos e o estado a que isto chegou! Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos. De maneira que quem quiser, vem comigo para Lisboa e acabamos com isto. Quem é voluntário sai e forma. Quem não quiser vir não é obrigado e fica aqui."
(Salgueiro Maia, Capitão de Abril).
Quase me ocorre uma falha imperdoável: Por pouco me esqueço de registrar que hoje, 27 de Abril, comemora-se trinta e cinco da Revolução dos Cravos, evento histórico pelo qual foi posto abaixo a Ditadura Salazarista em Portugal. É verdade que Salazar já havia morrido anos antes, mas ele deixara seu inequívoco legado; um regime ditatorial fascista, uma guerra colonial interminável, infernal e implacável, uma metrópole empobrecida e emburrecida e, sobretudo, o isolamento português da Europa.
Foi nesse cenário árido e áspero que foi se solidificando o núcleo duro do qual decorreria a Revolução. O país estava inquieto e esse desconforto aturdia os mais variados setores da sociedade - e ia para além dela, não olvidando que o Partido Socialista foi fundado na Alemanha, sob as bençãos do poderoso SPD, por inúmeros intelectuais exilados pelo regime no continente. Em Portugal por mais que seja relevante as ebulições entre os operários e nas universidades - principalmente nas Faculdades de Direito de Lisboa e Coimbra -, o setor chave foi o Exército, principalmente entre os capitães, muitos dos quais tinham conhecido o horror da Guerra Colonial nos anos anteriores. Foi o Movimento das Forças Armadas que encabeçou a conspiração e desencadeou o golpe que poria abaixo o Estado Novo depois da Grândola Vila Morena, senha nº2 da Revolução, ter sido tocada em rede nacional.
Os fascistas caíram, o país passou pelo duro processo revolucionário até a promulgação da Constituição Portuguesa de 1976, uma das Cartas modernas mais belas. Portugal, a duras penas tornara-se uma Democracia e iniciaria, dali há poucos anos, o processo de integração à União Europeia, o que resultou nos anos 80 e 90 num processo que apesar de seus altos e baixos conduziu o país a uma melhora considerável na sua qualidade de vida.
O Portugal de hoje é, no entanto, um país com problemas. Haveria motivos para se comemorar, ainda, a Revolução dos Cravos? Só um parvo ou um fascista diria que não, mas não resta dúvida que não há como fazê-lo sem ser criticamente; o governo liderado por José Sócrates do PS é mais um exemplo da esquerda estilo New Labour e isso não é nenhuma novidade, afinal, o ilustre premiê daquele país não esconde sua profunda admiração por uma figura como Blair. Por outro lado, o PSD, raro exemplo de agremiação social-democrata que só o é de nome - onde foi que já ouvimos isso antes? -, vive uma crise pesada. O país, pelo seu lado, está estagnado. Que dizer do futuro?
Atualizado em 10 de Maio de 2009
Quase me ocorre uma falha imperdoável: Por pouco me esqueço de registrar que hoje, 27 de Abril, comemora-se trinta e cinco da Revolução dos Cravos, evento histórico pelo qual foi posto abaixo a Ditadura Salazarista em Portugal. É verdade que Salazar já havia morrido anos antes, mas ele deixara seu inequívoco legado; um regime ditatorial fascista, uma guerra colonial interminável, infernal e implacável, uma metrópole empobrecida e emburrecida e, sobretudo, o isolamento português da Europa.
Foi nesse cenário árido e áspero que foi se solidificando o núcleo duro do qual decorreria a Revolução. O país estava inquieto e esse desconforto aturdia os mais variados setores da sociedade - e ia para além dela, não olvidando que o Partido Socialista foi fundado na Alemanha, sob as bençãos do poderoso SPD, por inúmeros intelectuais exilados pelo regime no continente. Em Portugal por mais que seja relevante as ebulições entre os operários e nas universidades - principalmente nas Faculdades de Direito de Lisboa e Coimbra -, o setor chave foi o Exército, principalmente entre os capitães, muitos dos quais tinham conhecido o horror da Guerra Colonial nos anos anteriores. Foi o Movimento das Forças Armadas que encabeçou a conspiração e desencadeou o golpe que poria abaixo o Estado Novo depois da Grândola Vila Morena, senha nº2 da Revolução, ter sido tocada em rede nacional.
Os fascistas caíram, o país passou pelo duro processo revolucionário até a promulgação da Constituição Portuguesa de 1976, uma das Cartas modernas mais belas. Portugal, a duras penas tornara-se uma Democracia e iniciaria, dali há poucos anos, o processo de integração à União Europeia, o que resultou nos anos 80 e 90 num processo que apesar de seus altos e baixos conduziu o país a uma melhora considerável na sua qualidade de vida.
O Portugal de hoje é, no entanto, um país com problemas. Haveria motivos para se comemorar, ainda, a Revolução dos Cravos? Só um parvo ou um fascista diria que não, mas não resta dúvida que não há como fazê-lo sem ser criticamente; o governo liderado por José Sócrates do PS é mais um exemplo da esquerda estilo New Labour e isso não é nenhuma novidade, afinal, o ilustre premiê daquele país não esconde sua profunda admiração por uma figura como Blair. Por outro lado, o PSD, raro exemplo de agremiação social-democrata que só o é de nome - onde foi que já ouvimos isso antes? -, vive uma crise pesada. O país, pelo seu lado, está estagnado. Que dizer do futuro?
Atualizado em 10 de Maio de 2009
Apesar de José Sócrates e da estagnação, acredito haver muito a comemorar: Portugal tranformou-se em outro país, livrou-se do obscurantismo e da repressão salazarista e é hoje, apesar de todos os problemas, uma sociedade mais alegre - e aparentemente mais feliz -, com mais diversidade cultural e, com o perdão da futilidade (mas isso é muito importante para boêmios como eu), com uma das noites mais agitadas da Europa.
ResponderExcluirHá um filme maravilhoso sobre a Revolução dos Cravos, "Capitães de Abril", dirigido pela atriz Maria de Medeiros, conhece?
Mauricio,
ResponderExcluirSim, conheço o filme e também acho ele de uma beleza e de uma ternura incríveis, tanto que linkei uma cena dele neste post - bem onde está escrito "Movimento das Forças Armadas".
Ademais, sim, eu também vejo muito mais efeitos postivos do que negativos decorrentes da Revolução dos Cravos. Ressalvando - sempre - os problemas portugueses que não são poucos e as limitações do sistema criado nos anos 70.
Nesse sentido, o filme de Maria de Medeiros, bem no seu finalzinho, faz uma crítica que consegue ser terna e mordaz ao mesmo tempo.
abraços