Dia desses, joguei uma ideias um tanto difusas sobre a questão da retirada das sanções contra Cuba na OEA e acompanhei com atenção a Crise Peruana - ainda que não com a devida atenção, provavelmente por conta da semana nem um pouco tranquila que tivemos aqui na nossa amada Terra de Vera Cruz. Há muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e há no que se pensar no quadro complexo da região.
Vamos começar do começo, com a América Portuguesa se tornando independente e se mantendo unida em torno de um monarca europeu e a América Espanhola se dividindo em mil pedaços; no fim das contas, ambas acabam seguindo um destino parecido no que toca ao subdesenvolvimento, com seu caudilhos/coronéis mantendo a economia colonial - agroexportadora, para usar um eufemismo - e, não raro, o próprio trabalho escravo.
No século 20º assistindo a mais abalos do que se poderia imaginar, mas ainda assim a nossa história assim com a de nossos vizinhos hispânicos não difere substancialmente; guerras civis, inquietações populares de todas as ordens, líderes carismáticos ascendendo ao poder e promovendo reformas, quarteladas, massacres e algo novo: A entrada do pensamento socialista no continente, com algum atraso, é verdade, mas que acaba sendo um importante elemento - cuja compreensão é fundamental para se interpretar as ditas e as desditas do continente no período.
Ademais, outro fator importantíssimo se afirma no século 20º: Os EUA se tornam a maior economia do mundo e de nação rebelde que se libertou do julgo opressor do dominador europeu, o país passa a se ver agora como o mesmo. Desse modo, a pujança econômica estadunidense faz com que o país tome o lugar que antes pertencia ao Reino Unido enquanto explorador da América Latina e afiançador do sistema econômico arcaico mantido por nossas elites.
Ao longo do século 20º, a política de Estado traçada em Washington em nenhum momento implicou em uma política de coordenação com os seus vizinhos latinos, ao contrário, do Big Stick de Ted Roosevelt adiante o que se viu foi uma política claramente de subordinação. O modelo americano de desenvolvimento jamais confluiu - ou confluiria - com qualquer modelo latino-americano de desenvolvimento, na medida em que o subdesenvolvimento deles passou a lhe interessar mais e mais - certamente um erro, porque os EUA teriam muito mais a ganhar com uma América Latina desenvolvida do que o contrário, mas não é, no entanto, o que tem pensado o estamento que controla o país.
A participação dos EUA nos inúmeros golpes militares - e regimes decorrentes - não é fruto de teorias da conspiração, muito pelo contrário, é informação pública. Por outro lado, após a queda da União Soviética, a política americana de incentivo a governos que adotassem os dogmas do consenso de Washington também não é nenhum segredo; terminados os ciclos militares, o continente se vê governado por Menens, FHC's e Fujimoris da vida assim como o México está cooptado no NAFTA. A exceção à regra é Cuba, aquela persistente e incômoda ilha no Caribe, que mesmo com a queda do bloco soviético continua orgulhosa e socialista - a queda, que seria questão de tempo, não se opera, a Revolução causada lá atrás pela Emenda Platt, não cai.
Vamos começar do começo, com a América Portuguesa se tornando independente e se mantendo unida em torno de um monarca europeu e a América Espanhola se dividindo em mil pedaços; no fim das contas, ambas acabam seguindo um destino parecido no que toca ao subdesenvolvimento, com seu caudilhos/coronéis mantendo a economia colonial - agroexportadora, para usar um eufemismo - e, não raro, o próprio trabalho escravo.
No século 20º assistindo a mais abalos do que se poderia imaginar, mas ainda assim a nossa história assim com a de nossos vizinhos hispânicos não difere substancialmente; guerras civis, inquietações populares de todas as ordens, líderes carismáticos ascendendo ao poder e promovendo reformas, quarteladas, massacres e algo novo: A entrada do pensamento socialista no continente, com algum atraso, é verdade, mas que acaba sendo um importante elemento - cuja compreensão é fundamental para se interpretar as ditas e as desditas do continente no período.
Ademais, outro fator importantíssimo se afirma no século 20º: Os EUA se tornam a maior economia do mundo e de nação rebelde que se libertou do julgo opressor do dominador europeu, o país passa a se ver agora como o mesmo. Desse modo, a pujança econômica estadunidense faz com que o país tome o lugar que antes pertencia ao Reino Unido enquanto explorador da América Latina e afiançador do sistema econômico arcaico mantido por nossas elites.
Ao longo do século 20º, a política de Estado traçada em Washington em nenhum momento implicou em uma política de coordenação com os seus vizinhos latinos, ao contrário, do Big Stick de Ted Roosevelt adiante o que se viu foi uma política claramente de subordinação. O modelo americano de desenvolvimento jamais confluiu - ou confluiria - com qualquer modelo latino-americano de desenvolvimento, na medida em que o subdesenvolvimento deles passou a lhe interessar mais e mais - certamente um erro, porque os EUA teriam muito mais a ganhar com uma América Latina desenvolvida do que o contrário, mas não é, no entanto, o que tem pensado o estamento que controla o país.
A participação dos EUA nos inúmeros golpes militares - e regimes decorrentes - não é fruto de teorias da conspiração, muito pelo contrário, é informação pública. Por outro lado, após a queda da União Soviética, a política americana de incentivo a governos que adotassem os dogmas do consenso de Washington também não é nenhum segredo; terminados os ciclos militares, o continente se vê governado por Menens, FHC's e Fujimoris da vida assim como o México está cooptado no NAFTA. A exceção à regra é Cuba, aquela persistente e incômoda ilha no Caribe, que mesmo com a queda do bloco soviético continua orgulhosa e socialista - a queda, que seria questão de tempo, não se opera, a Revolução causada lá atrás pela Emenda Platt, não cai.
O ponto de mutação se materializa em dois pontos interconectados; se o amarramento final dessa estratégia se daria via ALCA, ela se frustra; em maior ou em menor grau o sistema privatista inaugurado nos fins dos anos 80 fale. Enquanto isso acontece, o estouro da bolha nos fins dos anos Clinton já dão indícios que há algo errado com a economia americana e, pouco depois, acontecem os atentados de 11 de setembro e os EUA miram seus esforços no Oriente Médio. Não há como focar ações efetivas ao mesmo tempo na América Latina - o golpe na Venezuela não vinga, no México, as coisas vão um pouco melhor.
Isso caso um vácuo político evidente na América Latina, pela primeira vez na história, a elite local se viu sem o arrimo de uma potência estrangeira para manter, digamos, seu estilo de vida. Basicamente, ocorrem a vitória dos mais diversos movimentos pela América do Sul, desde um PT até um Chávez. A direita só continua no poder em dois lugares nesse exato momento: No Peru, onde a máquina sanguinária de Fujimori e Montesinos, valendo-se do recorrente argumento da luta contra o terror, eliminou boa parte da esquerda e desarticulou os movimentos sociais em plenos anos 90 e na Colômbia, onde um Uribe, com o dinheiro do Plano Colômbia mantém seu país como um posto avançado do interesse econômico e estratégico americano às portas da Amazônia.
Na América Central ocorrem vitórias progressistas também. O México, que iniciou o século 20º com uma Revolução e com uma das constituições mais modernas do mundo, caiu na mais profunda boçalidade com o NAFTA e com uma eleição presidencial questionável como a última. Cuba, por sua vez, enquanto vê Fídel Castro, seu longevo governante, definhar, assiste a construção do cenário mais favorável para si na América Latina desde a Revolução.
Nesse sentido, a posição do Brasil é fundamental. Lula, no seu habilidoso jogo de mediação pode não ter nos conduzido aos avanços que esperávamos, mas levou adiante a política externa mais enfaticamente voltada para o continente na história e abriu espaço sim para a ascensão de governos de centro-esquerda e esquerda pela América Latina. Nixon já asseverava que para onde o Brasil se inclinar, irá toda a América Latina.
O ponto é: Enquanto Obama diz que Lula é o cara, o que nos aguarda em 2010? Os EUA estão em uma profunda crise econômica, os seus dirigentes deverão, como nunca, rever inúmeras posições suas pelo globo, recuar aqui, traçar novas estratégias acolá, mas até que ponto é interessante manter o quadro atual na AL e até que ponto é possível altera-lo? E se tentarem revertê-lo, qual o êxito que podem lograr? De todos os países latino-americanos governados pela esquerda, o Brasil é, justamente, aquele que pode ter o quadro político mais facilmente alterado: Lula se afastou dos movimentos sociais e passou a traçar a política interna por cima e contemporizando demais, dessa forma, não é impossível que seja construída uma via alternativa, passando pelo crivo midiático e do grande capital.
Não, não temos Política de Estado para as relações exteriores; com seus (poucos) erros e (bons) acertos, o que temos é uma Política de Governo, o PSDB, por exemplo, pode modificar isso facilmente no poder, voltando a americanofilia barata das conjunções carnais - que já se manifestava no apoio de um Serra, com sorriso amarelo, para uma ALCA em 2002. Por ora, o jogo nos favorece, mas não nos esqueçamos do como e do porquê um García estar no poder no Peru e que o poder que eles têm, mesmo reduzido, ainda é grande diante da nossa fragilidade.
Isso caso um vácuo político evidente na América Latina, pela primeira vez na história, a elite local se viu sem o arrimo de uma potência estrangeira para manter, digamos, seu estilo de vida. Basicamente, ocorrem a vitória dos mais diversos movimentos pela América do Sul, desde um PT até um Chávez. A direita só continua no poder em dois lugares nesse exato momento: No Peru, onde a máquina sanguinária de Fujimori e Montesinos, valendo-se do recorrente argumento da luta contra o terror, eliminou boa parte da esquerda e desarticulou os movimentos sociais em plenos anos 90 e na Colômbia, onde um Uribe, com o dinheiro do Plano Colômbia mantém seu país como um posto avançado do interesse econômico e estratégico americano às portas da Amazônia.
Na América Central ocorrem vitórias progressistas também. O México, que iniciou o século 20º com uma Revolução e com uma das constituições mais modernas do mundo, caiu na mais profunda boçalidade com o NAFTA e com uma eleição presidencial questionável como a última. Cuba, por sua vez, enquanto vê Fídel Castro, seu longevo governante, definhar, assiste a construção do cenário mais favorável para si na América Latina desde a Revolução.
Nesse sentido, a posição do Brasil é fundamental. Lula, no seu habilidoso jogo de mediação pode não ter nos conduzido aos avanços que esperávamos, mas levou adiante a política externa mais enfaticamente voltada para o continente na história e abriu espaço sim para a ascensão de governos de centro-esquerda e esquerda pela América Latina. Nixon já asseverava que para onde o Brasil se inclinar, irá toda a América Latina.
O ponto é: Enquanto Obama diz que Lula é o cara, o que nos aguarda em 2010? Os EUA estão em uma profunda crise econômica, os seus dirigentes deverão, como nunca, rever inúmeras posições suas pelo globo, recuar aqui, traçar novas estratégias acolá, mas até que ponto é interessante manter o quadro atual na AL e até que ponto é possível altera-lo? E se tentarem revertê-lo, qual o êxito que podem lograr? De todos os países latino-americanos governados pela esquerda, o Brasil é, justamente, aquele que pode ter o quadro político mais facilmente alterado: Lula se afastou dos movimentos sociais e passou a traçar a política interna por cima e contemporizando demais, dessa forma, não é impossível que seja construída uma via alternativa, passando pelo crivo midiático e do grande capital.
Não, não temos Política de Estado para as relações exteriores; com seus (poucos) erros e (bons) acertos, o que temos é uma Política de Governo, o PSDB, por exemplo, pode modificar isso facilmente no poder, voltando a americanofilia barata das conjunções carnais - que já se manifestava no apoio de um Serra, com sorriso amarelo, para uma ALCA em 2002. Por ora, o jogo nos favorece, mas não nos esqueçamos do como e do porquê um García estar no poder no Peru e que o poder que eles têm, mesmo reduzido, ainda é grande diante da nossa fragilidade.
Acho que vale a pena olhar para a África, que está sob a pressão de todos esses países, EU, França, etc e questionar por que não somos a África. Por mais que isso pareça estranho, acho que a nossa força, da América Latina em geral, está no fato de que a nossas sociedades, mesmo com as grande divisões que temos, tem mais coesão que as etnias africanas em guerra. A África pra mim funciona como um aviso do que podemos vir a ser se não ampliarmos estas amarras, se não ampliaramos de nosso movimento que pega fogo, mas só entre nós manos camaradas de movimento, e se não olharmos para os outros movimentos na sociedade e buscarmos também uma conversa com eles. Em comparação com a Àfrica já somos um pouco melhores que isso, e nossa sociedade tem ligações e divisões diversas. Mas a comparação também demonstra que poderemos ser ainda melhores, uma sociedade muito mais forte e resiliente às tentativas de nos dividir da direita, se buscarmos ampliar nossas questões, pois é por ai que os movimentos não exatamente se juntam, mas fazem pactos e começam a ter relações de confiança uns com os outros, tipo penso no movimento pelo não ao azeredo que se isola em si e que poderia olhar para fora e ver que a defesa de um direito similar está sendo buscada pelas rádios comunitáris, tvs comunitárias...
ResponderExcluirTanto quanto o Brasil, os países da A´frica também tem seus grandes chefes, seus grandes representantes. Mas uma sociedade profundamente dividida como a deles se mostra presa fácil para governos estrangeiros e grandes empresas com seus interesses. Não é só a Uganda, a Ruanda, etc que estão na página da CIA (teu espaço não permite colar o link) que diz o que serve a eles cada país. Você entra lá e vê que a Ruanda serve pra outo, metano, A uganda para cobalto, etc e não são só eles que estão na lista; nós também estamos lá junto com os demais países da américa latina. Por que não somos uma grande Africa? Se os mesmos interesses que levam os países desenvolvidos a fornecer não só armas mas seus próprios exércitos aos ditadores locais de uma ou outra etnia são os mesmos interessados em nós?
Correção: a Uganda serve para ouro, não para outo.
ResponderExcluirSinto falta de um comment-reply aqui, Hugo, o blogspot não tem dessas coisas?
;)bjos!
Flávia,
ResponderExcluirBem lembrada a questão africana. Ela é mesmo pior do que a nossa, principalmente porque foi enfiada goela abaixo dos africanos um modelo de organização político (o Estado-nação) estranho à cultura e à história local.
No entanto, o que podemos dizer do nosso modelo de organização? Nós somos os invasores, implementamos um estadinho à europeia por aqui porque é isso que nós somos: Um bando de brancos, mestiços e negros europeizados. Não somos os nativos e oscilamos na defesa da manutenção deles em campos de concentração chamados reservas índigenas ou na apologia do extermínio de sua cultura - ou mesmo no extermínio fisíco deles, mas isso pouca gente assume.
Na África a maior parte dos nativos não foi exterminada, mas eles não vivem, apenas sobrevivem. Os países locais, construídos artificialmente por meio da fragmentação das antigas fronteiras desenhadas pelo colonialismo europeu do século 19º, são aberrações e as elites brancas das cidades associada com os senhores da guerra - que há muito se dedicam ao comércio de escravos e promoção de conflitos - não estão nem um pouco empenhadas na construção de algo novo e decente.
Isso só encontra algum paralelo com a Bolívia na AL. No Peru, por exemplo, há uma população maciçamente decendente de indígenas, mas ela leva uma vida europeizada e em muitos casos pouco se importa com os "índios".
P.S.: Sobre linkagens, um cara conseguiu pôr um link aqui no post Lula e a Realpolitik, mas eu não sei como ele fez isso hehehe prometo fuçar nas configurações e ver no que dá.
Hugo,
ResponderExcluirConcordo com tua análise, mas ando discordando um pouco do Nixon, heheh.
Por mais que o Brasil tenha seu peso, já vejo a Venezuela surgir como um contraponto ou "mais um" país a ser um peso na balança.
Inegavelmente o Brasil por sua potência econômica, regional e histórica, ainda tem a preponderância na AL mas a Venezuela vem conseguindo muito mais aliados e ter muito mais presença que o Brasil em diversas questões - vida a ALBa, por exemplo.
Além disso vários projetos que o Brasil está inserido são capitaniados pela Venezuela, vide TeleSur, o Banco para a AL criado por Chávez e etc, em alguns momentos o Brasil passa a ser o coadjuvante rico, como Engels foi pra Marx (sim, isso foi maldoso, hehe)!
A questão é, o Brasil tem, fato, mais capacidade de manter sua importância que a Venezuela, não importa que governo tenhamos, exatamente pelo tamanho e potência econômica, mas nos tempos atuais a Venezuela não pode nem deve ser deixada de lado porque é um ator em franco crescimento (ou ao menos em estagnação, vide o petróleo em baixa e a Venezuela baixando o tom).
Agora, a venezuela depende de Chavez, outro relegaria o país novamente aos bastidores e ao papel de coadjuvante pobre. Gostando ou não do cara -e eu gosto ainda que criticamente - é inegável sua importância.
Já quanto ao Brasil eu tenho significativas críticas à posição do país, em especial quanto à ALBa, ao PAraguai e Itaipu e em especial pelas decisões de política externa temerárias, como abertura de embaixada na Coréia do Norte (não porque o mundo odeia o pais mas porque não tem qualquer relevância) e em especial os acordos na África, com países de ditadores como Omar Bongo, que o capeta o tenha ao seu lado - desfilar em carro aberto com ditador africano é doloroso!
A África merece ser observada mas acho que os alvos do Brasil não estão sendo bem analisados e escolhidos.
Ah sim, respondi ao seu comentário em meu blog sobre a Espanha!=)
Raphael,
ResponderExcluirO Problema é que você pega o Brasil e ele teve um PIB real em 2008 de US$ 2.030 bilhões, enquanto a Venezuela cravou US$ 368 bilhões no mesmo ano. O Brasil tem 196 milhões de habitantes, a Venezuela, algo em torno de 30. É uma diferença muito grande. Chávez bem o sabe, por isso cultiva boas relações com Lula como cultivou com FHC - é óbvio que há mais afinidades ideológicas agora do que antes, mas ainda assim eu duvido muito que ele resolva virar as costas para qualquer líder brasileiro num primeiro momento.
Nas ditaduras militares pela América do Sul, por exemplo, os milicos brasileiros tiveram grande influência no que aconteceu. Eles é que davam corpo ao negócio. Foram fundamentais quando do golpe chileno em 73 e formavam a espinha dorsal do Operação Condor. O que Nixon sabia é que se utilizando do Brasil, seria possível manipular com incrível facilidade os países da região, perdê-lo, seria fatal para estratégia americana.
Nesse sentido, a eleição de Lula, mesmo não tendo se convertido em todo o êxito social e político que gostaríamos - e precisavamos - pelo menos não trancou a possiblidade de líderes de esquerda vencerem nos outros países do continente, ao contrário, os inspirou. Claro, Lula jamais bancaria uma política de rompimento ou de confrontação, isso não é próprio dele, nem do PT. Esse jogo duplo, no entanto, caiu como um luva dada a conjuntura no continente; o país acabou ficando como interlocutor necessário entre venezuelanos e americanos.
Chávez, claro, tirou a Venezuela do círculo vicioso que seu país se encontrava desde o início dos anos 80 e que teve como ponto culminante o segundo governo de Carlos Andrés Pérez. O presidente venezuelano também foi essencial para a reposicionamento estratégico venezuelano, seja dentro da América do Sul ou na OPEP, o que tornou seu país muito mais relevante do que em qualquer outro momento na história - ainda que sua aliança com Ahmedinejad seja questionável. Infelizmente, a Venezuela depende demais de Chávez e ele alimenta um personalismo danoso para o seu próprio projeto - talvez por falta de sucessores.
No final das contas, comparadas às políticas estratégicas anteriores de seus países, tanto Chávez quanto Lula representam um grande avanço e, juntos, tiveram - e têm - uma importância muito grande na construção de um sistema multilateral efetivo no continente - como vimos recentemente com a UNASUR que funcionou como um relógio ao dirimir a crise que a oposição boliviana provocou em seu país. Insisto: Um Brasil tucaneado pode implodir esses avanços em menos de um ano.
abração
Hugo,
ResponderExcluirMuito obrigado pelos comentários elogiosos no blog no Idelber - e pelo link no post anterior, que só vi agora.
O seu post me levou a atinar com uma contradição irônica, na qual nunca tinha pensado: a de que talvez Lula jamais subiria ao poder não fosse a posição absolutamente periférica que a América Latina foi relegada desde o momento em que o governo Clinton passou a priorizar a discussão da relação entre charutos, estagiárias e fidelidade conjugal.
É claro que o tamanho de nossa economia acaba, em um mundo globalizado, a significar algum acréscimo de poder (se comparado aos critérios majoritariamente geopolíticos da Guerra Fria) e, sobretudo, um grau mais ou menos alto de autonomia administrativa (algo que, dada a precariedade de sua economia, o Peru não pode nem sonhar - uma das razões pela qual segue totalmente a reboque da economia internacional, a um ponto que tal condição agora ameaça o meio ambiente e a integridade física e cultural dos indígenas).
Hugo,
ResponderExcluirPor isso que eu falei, a questão não é meramente econômica, a Venezuela vem conseguindo influência por saber usar o dinheiro que tem - ainda que MUITO menos que o Brasil - e formar parcerias, coisa que o Brasil não está fazendo com esperteza suficiente.
Chavez não é besta, precisa do Brasil mas ao mesmo tmepo em que precisa se apóia e vai além, aí que está. Chavez está assumindo uma posiçã oque deveria ser do Brasil. ao mesmo tempo em que não se distancia, começa a tomar atitudes próprias e que aparentemente conseguem maior apóio regional.
No mais, assino embaixo, concordo com todas as suas conclusões!=)
Maurício, permita-se discordar em parte de você: Não vejo que Lula tenha vencido por a AL estar em posição periféria. Lembremos que a pressão contra ele foi absurda, o Brasil estava ameaçado de implodir! A economia afundav,a a bolsa estava em baixíssimos patamares.... O que podia ser feito às claras contra Lula foi feito.
Acho, porém, que os tempos atuais não permitiriam intervenção maior, e a Carta ao Povo Brasileiro foi o que os EUA e afins precisavam para ter certeza de que Lula e o PT não eram mais inimigos.
Maurício,
ResponderExcluirDisponha, o seu post realmente mereceu - para quê gastar dinheiro e papel? Será que é possível achar uma reportagem do mesmo nível sobre o assunto na mídia tradicional? Difícil.
A chegada de Lula no poder só foi possível quando os americanos se viram às voltas com a falência dos chamados governos "neoliberais" ao mesmo tempo em que não tinham projeto algum para a região - e pilhas de problemas pelo mundo, em especial, no oriente médio. Isso tudo somado a constante perda de importância relativa à economia mundial. Em outro contexto Lula poderia chegar ao poder como chegou? Talvez, mas seria muito mais difícil.
Aliás, nesse exato momento, a própria margem para Lula radicalizar e assumir posições mais duras contra os EUA existe, mas ele deixa isso lá guardadinho como moeda de troca nas relações bilaterais - do mesmo modo que ele faz um jogo duplo com os governos Morales e Chávez alternando aquela do somos todos companheiros, mas também sou amigo do homem, coisa que é vendida para a esquerda nacional como o pragmantismo necessário para enganar o imperialismo e para direita como o esperteza necessária para ganhar algum dinheiro em cima daqueles governinhos bolivarianos - por enquanto, eu creio que ele minta mais para eles do que pra gente, mas vai saber...
Um uso interessante do smart power que Obama vive falando, mas ainda engatinha. Por enquanto, nos tem sido últil enquanto país e se não libertou a América Latina, por debaixo dos panos construiu algumas instituições que podem ser interessantes para o futuro.
Claro, isso é um faca de dois gumes: Lula esperou colher dividendos políticos dos dois lados, mas do mesmo modo que isso pode dar incrivelmente certo, também pode dar no exato oposto se o vento mudar - a conjuntura, no entanto, lhe tem sido extremamente favorável.
O Peru, no entanto, vai muito pior do que aqui. As atribulações pelas quais ele passou nos anos 80 e 90 legaram um dano profundo no capital político daquele país.
um abraço
Hugo,
ResponderExcluirFico apreensivo, mas também um pouco curioso, com os rumos que nossa política externa tomará a partir de 2011. 'Pela primeira vez na História deste país', parafraseando nosso presidente, deixamos de dar as costas para a América Latina. O Brasil deixou a sua tradicional "neutralidade" em relação aos problemas do Continente para se posicionar, as vezes de maneira mais firme, outras menos, diante desses problemas.
O episódio da nacionalização das reservas de Gás pela Bolívia é um exemplo. Enquanto a nossa "equilibrada" imprensa parecia incitar uma intervenção militar contra o país vizinho, o governo Lula soube negociar, até correndo o risco de fazer papel de fraco, e até de bobo, mas evitou que essa decisão _ soberana, diga-se de passagem _ do Estado Boliviano descambasse para uma crise mais seria que certamente prejudicaria toda a região e ainda atrasaria em alguns anos a retomada do crescimento da economia brasileira, na época muito mais dependente do gás boliviano que hoje. Mas não era essa a solução que a oposição pretendia. Caso estivesse no poder...
O mesmo vale em relação a Venezuela. Enquanto a oposição desenvolveu uma burra ojeriza a Chavez, a política externa de Lula soube conciliar os interesses brasileiros e venezuelanos, mesmo no período de maior radicalidade de Hugo Chavez, logo após a tentativa de golpe contra ele, patrocinada pelos EUA.
Tudo isso ajudou a dar mais estabilidade às relações internacionais na América do Sul, com ganhos para todos, mas principalmente para o Brasil, tanto em relação a credibilidade da sua política externa, quanto aos ganhos com o comércio Sul-americano.
Tudo poderia ter saído diferente caso o presidente fosse Serra, por exemplo.
O que eu acho contraditório nesta atual crise é que, apesar de expor todas as fragilidades e distorções do capitalismo neoliberal _ o que deveria favorecer enormemente a Esquerda, tradicionalmente defensora de uma maior intervenção do Estado na economia como forma de garantir ao capitalismo uma feição "mais humana" _ , ela vem acompanhada do enfraquecimento da esquerda. Aqui em São Paulo nota-se o crescimento de um conservadorismo reacionário. E não é só uma tendência regional, temo que seja nacional, talvez até mundial.
É neste contesto que ocorrerá a campanha de 2010. Como você colocou no post, tudo pode mudar a partir do ano que vem. Espero que, se mudar, seja para melhor. Chega de andar para trás.
Eduardo,
ResponderExcluirSó me permita pontuar uma coisa: Essa neutralidade do Brasil em relação à AL nunca existiu de fato. Havia, na verdade, uma justificação retórica para a omissão do nosso país no que tocava à produção de um projeto conjunto de construção com nossos vizinhos.
Agora, omissão em relação a projetos de destruição, não, isso nunca houve; os nossos generalíssimo estavam lá juntos aos outros tiranos planejando e executando a Operação Condor.
A luta da esquerda revolucionária pretendia acabar com o Estado - aqui tomado como a organização coercitiva formada pelos principais agentes do Capital. A esquerda kautiskiana, a social-democracia, era quem pretendia comer o capitalismo por dentro, superando-o mediante processos civilizatórios coordenados por um Estado democratizado e democrático.
Também nem sempre se confluiu na direita em prol do Estado mínimo. O Fascismo e o Nazismo não implicavam em Estado mínimo, por exemplo. O Liberalismo sim, se apresentou como sendo defensor de um Estado mínimo ou pelo menos de um Estado oficial que limitasse as liberdades concernentes à atividade capitalista - mas um Estado de fato, sempre existiu. Enfim, o Liberalismo sempre se tratou de uma maladrangem; defender o Estado mínimo no que toca ao centro de poder vísivel para não ser limitado, ao mesmo tempo em que os grandes agentes do Mercado estavam ali, normatizando a sociedade o tempo inteiro, sem o controle institucional ou popular.
O dito neoliberalismo, por sua vez, sempre se tratou de um não-liberalismo na medida em que nenhum país que ousou entrar na onda thatcheriana abriu mão de um Banco Central ou, em muitos casos de ministério do planejamento. O Estado visível não foi diminuído na sua ação normatizadora, mas sim foi readaquado aos interesses de um capital que temia cada vez menos uma ameaça vermelha.
O regime em que vivemos se aproxima muito mais de uma forma sofisticada de fascismo mesmo.
A derrota da esquerda na Europa não é tão simples assim. Qual esquerda? A dos partidos que caíram no consensão e agora nas urnas? Ou aquela esquerda que não foi às urnas na mais esvaziada eleição europeia de todos os tempos? Do que aconteceu essa semana pode se tirar o seguinte:
1. O Projeto Europeu acusou sua falência.
2. Quem resolveu chutar o pau da barraca foi o próprio eleitorado europeu de esquerda.
3. Em alguns países improváveis como EUA e Islânida o candidato mais progressista venceu, substituindo forças conservadoras.
abração