sábado, 10 de outubro de 2009

Considerações sobre o Nobel de Obama


Em um primeiro momento, nem vou entrar no aspecto se Obama mereceu ou não ganhar o prêmio Nobel da Paz deste ano. Sejamos razoáveis, o Nobel é uma premiação claramente política direcionada para todos aqueles que, filhadaputisticamente ou não, livraram o mundo de algum fardo terrível - se fosse um prêmio dado apenas para os santos entre o santos, Madre Teresa de Calcutá não estaria figurando na mesma lista que Henry Kissinger, se é que vocês me entendem.

A novidade na vitória de Obama é que ele deve ser um dos primeiros laureados não pelo que ele fez, mas pelo que esperam que ele faça - então, o prêmio teve uma conotação de apoio político em um momento particularmente complicado do mandato do atual presidente americano. O fato é que os EUA, hoje, são um grande problema para o mundo; como prova a História, qualquer potência que esteja vivendo um momento de queda na importância econômica relativa - e tente compensar isso com ampliação nos gastos militares - equivale a uma bomba-relógio - atômica, no caso.

Nunca é demais lembrar que Obama caiu como uma luva para a comunidade internacional dado o grau de periculosidade do Partido Republicano - excrescência entre excrescências de um sistema político-partidário falido. Longe de ser o messias, Obama representa o freio para uma eventual escalada para o Juízo Final. Sua Presidência, no entanto, é fraca. Sua debilidade se revela, por exemplo, no fato de que ele teve de ceder o Departamento de Estado para Hillary Clinton pelo simples fato de que não controla a própria máquina de seu partido.

Eventuais busca pela defesa de certos princípios nas relações internacionais são atropeladas pelas manobras de poderosos grupos de interesse específicos, os quais se usam tanto dos megafones midiáticos quanto de bons lobbies em Washington; tal é a força dessa gente, que estamos vendo a Casa Branca tomar verdadeiros dribles da vaca como nunca antes na História - como provam tanto o golpe de Estado em Honduras quanto a instalação das famigeradas bases militares na Colômbia, o que contradiz com a política de distensão em relação a AL que Obama iniciou e anunciou.

O estado de coisas nos EUA é tão grave que o chefe de estado é acusado de ser socialista por propor um sistema de saúde universal e quase ninguém se dá conta da insanidade que uma campanha dessas representa; tão grave quanto, é aquela velha tentativa de 'explicar' como é normal o fato de um país com 300 milhões de habitantes ver sua cena política ser dominada por apenas dois partidos.

Nesse sentido, o Nobel de Obama foi, nada mais nada menos, que um voto de confiança da Comunidade Internacional para o líder americano, um lembrete para os grupos que o estão acossando de que as coisas não serão tão simples caso eles queiram levar essa escalada até o fim. Haverá saída para Obama e para os EUA? São dúvidas que não querem calar. Para Gorbatchiov e para a URSS, não houve - mesmo com Nobel para Gorby e tudo mais.


4 comentários:

  1. Eu mantenho ainda a posição de que a única diferença entre Democratas e Republicanos reside no verniz. O Democrata te fode mas com um sorriso bonito e belas palavras, o Republicano sai na porrada, grita e te fode igualzinho.

    No primeiro caso vocÊ nem nota e até acha que o mundo está uma maravilha - não está - e no segundo você se revolta. Mas são farinha do mesmo saco.

    O bama, pessoalmente, pode não ser um canalha como era Clinton (para ficar nos Democratas), mas ele ou não manda em anda ou dá uma de Lula no Mensalão, não viu, não sabe o que acontece e não manda em nada.

    No fim das contas Obama periga ser irrelevante. De nada adiantam discursos e intenções sem ações reais. Como eu disse em meu artigo sobre o assunto (http://tsavkko.blogspot.com/2009/10/porque-o-nobel-para-obama-e-um-crime.html), o prêmio só tem sentido como uma carta branca, incentivo ou coisa do tipo e só. Ele não fez nada do que prometeu (em termos de mundo) e, na verdade, fez muito do contrário.

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  2. Tsavkko,

    O Partido Democrata é a outra face da moeda na qual tambem está estampada a éfigie do Partido Republicano. Ambos representam o mesmo sistema político-partidário anacrônico. Ainda assim, ele é mais razoável, o sistema tolera que certos grupos se organizem ali dentro, por uma questão de auto-oxigenação - ao contrário do Partido Republicano, a agremiação partidária mais anacrônica do ocidente.

    O fenômeno do obamismo, que eu vejo cada vez mais como algo unipessoal do que propriamente político, por sua vez, foi recebido com bons olhos pela comunidade internacional em relação ao que estava acontecendo em Washington - e, convenhamos, tudo é relativo; nesse sentido, a eleição de Obama foi uma boa nova assim como seria uma eleição de um John Edwards; só o fato de ter chutado os republicanos e chutado os Clinton da cabeça do governo, já foi um baita mérito.

    A eleição dele tem semelhanças interessantes com a de Lula no Brasil; ambos são figuras improváveis, defendendo ideias consideravelmente progressistas no seu meio e que só se elegeram porque os governos anteriores, apoiados pelo establishment, deram errado e o próprio establishment teve de ceder os anéis para não perder os dedos - mas a partir daí começou a travar uma briga de foice pela mídia para não ter de ceder mais nada, criando uma contradição esquizofrênica.

    Tudo pára por aí, no entanto. Lula conseguiu superar os primeiros meses de governo, mesmo tendo de engolir vários sapos, de uma maneira muito mais hábil que Obama e se começou mandando menos, hoje, tem consideravelmente mais poder que de início. Mais do que eventuais comparações do talento político de um ou do outro, pesa aí o fato que o Brasil é uma força política que insiste em avançar - a despeito de sua elite - enquanto os EUA entraram em decadência - e hoje são reféns de certos grupos econômicos, o que é perigosissímo.

    Não veria, portanto, o prêmio como um inocente 'incentivo', ele é sim um recado para esse grupos de interesse econômico por meio de um apoio internacional ao reformismo obamista. Veremos se surtirá efeito - eu estou cético em relação ao futuro dos EUA desde que eles resolveram se aventurar no Iraque pela segunda vez, ou eles recuam ou afundam, só esperam que não nos levem junto.

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  3. Grande Hugo! Tudo bem?

    Acho que o papel do Obama na História pode ser fundamental. É um trabalho ingrato: como presidente dos EUA, deve tirar os EUA do protagonismo internacional, ou diminuir sua influência econômica e militar. Sem isso, o mundo, literalmente, acaba.

    Devemos lembrar, também, que Obama tem muito pouco tempo no cargo.

    Abraços,

    Marcelo Costa.

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  4. Salve, Marcelo,

    Eis o ponto: Hoje, qualquer pessoa minimamente racional que venha a comandar os EUA tem a dura missão de realizar o recuo estratégico do país, o que, não obstante a dificuldade técnica de se realizar isso, ainda se mostra politicamente muito complexo graças ao peso de players como os complexos petroquímico, bélico, midiático, financeiro et caterva. Obama e seu grupo político não têm uma compreensão tão clara disso, mas eles consideram que é necessário um recuo - grande, não sei se suficiente - em relação ao que Bush fez, no entanto, eles estão encontrando dificuldades extras por conta do posicionamento ambíguo do próprio Partido Democrata além da oposição irracional do Partido Republicano - o que apenas reflete a crise no sistema partidário americano. Em decorrência disso, surge esse apoio a Obama na forma de um Nobel da Paz, o que pode ser positivo, ainda que, por si só, não resolva todo o problema.

    abração

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