Não, eu não tenho espírito natalino. Mas não nego que um dia já tive, talvez lá pelos tempos em que eu ainda era liberal - por volta dos meus oito ou dez anos de idade -, mas felizmente, a gente cresce. Ainda assim, somos escravos desses referenciais cronológicos-culturais - com efeito, um fenômeno social. As aulas na PUC, por exemplo, acabaram só ontem, o que me deu uma sensação estranha: Acabar as aulas me deparando com o final de ano. Fiz uma prova de recuperação, mas fui bem nela, felizmente.
Aliás, eu poderia ter tido problemas acadêmicos sérios neste semestre: Além de uma campanha para Centro Acadêmico extremamente polarizada - e, por tabela, extenuante -, só faltou cair uma bigorna na minha cabeça - levando em conta alguns problemas pessoais meus até o problema de saúde que o meu pai teve. Foi por um triz, mas, feliponicamente, no melhor espírito bola pro mato que o jogo é de campeonato, acabei atingindo algumas metas importantes, vivi experiências profundas e minimizei danos.
A minha experiência aqui n'O Descurvo, aliás, tem sido muito produtiva também, para quem é jovem, se intriga um cadinho com essa epocazinha em que vivemos e ainda vive numa cidade como a São Paulo de hoje, a blogosfera além de um instrumento político cada vez mais poderoso - e válido -, também é uma válvula de escape interessante na medida em que te ajuda a conhecer pessoas interessantes - não só as que moram longe e você dificilmente conheceria pessoalmente como também as que moram ou estudam do seu lado e você não conheceria jamais por conta dessa impessoalização pós-moderna, levada às últimas consequências na Pauliceia do século 21º.
Enfim, 2009 foi um ano bastante intenso na minha vida - que passa cada vez mais rápido, vejamos, já tenho 22! Que absurdo! -, ainda que eu mantenha lá as minhas preocupações sobre o futuro: Tudo bem, todas as pessoas, em todas as épocas, devem ter tido preocupações sobre o futuro, mas tem uma coisas que me inquietam e não podem passar batido - sim, a paranoia salva vidas.
O que mais me preocupa - e me intriga - é um avanço de um pesadelo hobbesiano, com seus desdobramentos kantianos - o segundo é um caminho possível para a realização do primeiro, na verdade, o mais efetivo - no qual vemos uma hipernormatização da vida caminhar pari passu com o avanço do pensamento - e da prática- policialesca. Os avanços sociais e políticos que estamos assistindo parecem ser, em sua maior parte, frutos inerciais do que foi feito sob a bota da Ditadura. Isso precisa - e pode - ser revertido.
Politicamente falando, 2010 será um ano particularmente tenso, onde dois projetos de país se degladiam nas eleições gerais mais estéreis da Nova República e talvez no quadro mais negro da nossa história: A melhor opção será manter tudo como está, o que implica em dizer que a possibilidade da superação dialética, presente em todas as eleições - e momentos políticos - anteriores, nos foi retirada e o conservadorismo é agora a única saída - pelo menos, saída aceitável.
Os otimistas hão de argumentar que isso deve ao fato de que o passado do nosso presente é melhor do que o passado do nosso passado, mas eu tenho de lembrar que se isso é verdade, também pode se dizer que o futuro do nosso presente é pior do que o futuro passado. Combatamos esse futuro, então - e o façamos na única esfera possível: O aqui e agora, supondo que eles não sejam a mesma coisa.
Rapaz, cê tem só 22 anos? Eu já tô com 36 e ainda me assusto quando tenho que falar a idade: _"Nossa, já é tudo isso!"
ResponderExcluir"...o futuro do nosso presente é pior do que o futuro passado." Não sei, mas pode ser, depende do resultado das urnas ano que vem. Parodiando a Legião Urbana, em Índios: ...E o futuro não é mais como era antigamente....
Esses ideais de futuro, ou melhor, essas promessas de futuro, que mudam de época para época, são interessantes. Eu entrei na escola em 1980, no começo da redemocratização do país, e havia sim uma atmosfera de otimismo no ar, mas que se projetava apenas para o futuro, não para o presente, onde os preços não paravam de subir e o desemprego também. O Brasil passava por sérios problemas sociais e econômicos, mas ainda era possível acreditar que, no futuro, a Democracia, quando viesse, resolveria todos os nossos problemas. Mas embora eu vivenciasse isso, minhas preocupações eram outras, como escola, férias, gibis e coleção de figurinhas, além das bincadeiras de rua. Acho que só comecei a me interessar pelo futuro lá pelos meus 14 ou 15 anos, mais ou menos, mas ainda não fazia relação entre esse "futuro" as opções políticas, sociais e econômicas que o país pudesse tomar dali em diante. Isso foi se formando bem depois.
Em 2010 os brasileiros não vão escolher entre dois (ou talvez três) candidatos, mas entre dois projetos de futuro, dois projetos de Brasil. A vitória do PSDB (me dá um frio na espinha só de pensar na possibilidade de uma desgraça dessas) representaria, sem dúvida alguma, um retrocesso em relação aos ganhos sociais sob o governo Lula, mas não seria o fim do mundo, pois muita coisa precisaria ser preservada, pelo menos num primeiro mandato, exatamente para garantir um segundo _ e que Deus nos livre de uma segunda desgraça dessas. Mas essa é apenas uma possibilidade e existe(m) outra(s), com a vitória de um candidato de esquerda _ que a esta altura parece certo que será a Dilma. Neste caso o futuro seguirá por linhas já esboçadas no papel, embora ainda não em traços definidos ou definitivos.
Termino com outro trecho de letra de música, de Aquarela, do Toquinho:
E o Futuro
é uma astronave
que tentamos pilotar.
Não tem tempo, nem piedade,
Nem tem hora de chegar.
Sem pedir licença muda a nossa vida
e depois convida a rir ou chorar.
O resto da letra você conhece.
Bem, hoje é Sábado, então um brinde ao Futuro e Vida longa a'O Descurvo!
Grande Eduardo!
ResponderExcluirÉ sempre bom ter a presença do amigo por aqui e muito obrigado pelos seus votos para O Descurvo - aliás, espero que tão logo você volte a postar lá no Conversa de Bar. Convenhamos, no entanto, que 22 não é pouca coisa, daqui a um cadinho, minha barba já vai estar branca ;-)
Sobre o quadro eleitoral do ano que vem, eu não consigo ser tão otimista. Gravitam em torno da candidatura Serra uma série de interesses econômicos e políticos perigosíssimos que vão cobrar a conta quando - e se - começar seu governo. Desde o demismo - seja na sua face agronegociante do centro-oeste ou na sua face nordestina corelista - até o de setores do Grande Capital do Sul-Sudeste representado no próprio PSDB.
Isso não vai deixar de acontecer como não deixou de acontecer com FHC - em que pese seu ex-esquerdismo, mas ainda assim, dentro da falta de razoabilidade tolerável - com o bisonho ACM - e seu esquema político - no Nordeste.
Não quero dizer que o PT, por meio de um Governo Dilma, não estará aliado também com figuras questionáveis, mas em momento algum isso se equipara ao que seria um Governo Serra; o atual governador paulista teria de conciliar a cobrança das dívidas eleitorais com a tensão social e o resultado disso não seria bom - e Fausto de Goethe não sai da minha cabeça, mas como estamos tratando de um político e não de um médico, as consequências pesarão sobre todos nós.
Essa minha referência ao futuro, como você bem notou, é uma provocação em relação a esse que eu julgo como um dos principais paradigmas da civilização ocidental - que nasce junto com o desejo de domina-lo, sendo que a própria Política e o Direito tem muito a ver com isso.
abração!
I'm appreciate your writing skill.Please keep on working hard.^^
ResponderExcluirHugo,
ResponderExcluirÉ sempre um prazer comentar aqui.
"Estou" professor na rede estadual de ensino e tudo o que eu menos quero neste mundo é ver o Serra presidente. Se depender de mim ele não ganha eleição nem pra síndico. Aliás carrego um frustração já de 16 anos vendo o PSDB levar, com folga, todas as eleições para o governo do estado. Se frustração matasse...
Ouvindo algumas conversas acho que o maior adversário da candidata Dilma é seu gênero feminino. Não imaginei que a resistência a uma candidata mulher à presidência fosse tão forte, sobretudo entre as mulheres. Se a Dilma conseguir vencer essa rejeição terá adiantado muitos passos em direção ao Planalto. Pode não parecer muito ético dizer isso, mas a responsabilidade dos marqueteiros que serão escolhidos para fazer sua campanha é MUITO grande. Não se pode correr o risco de outra campanha desastrosa como a da Marta, em São Paulo. A Direita já aprendeu que imagem, hoje, é tudo. Pitta e Kassab são exemplos disso.
Que venha 2010!
ps: Quanto a sua barba ficar branca, bem, ainda falta muito. A minha ainda não está. ;)
Hugo,
ResponderExcluirCom todo respeito, vá tomar banho! Tem 22 e se acha velho? Qualé, mermão.
Eduardo,
Visto que o processo eleitoral tem cada vez menos envolvido a população e seus representantes em discussões políticas e cada vez mais assemelhando-se a um concurso de popularidade, assumir a grande responsabilidade dos marqueteiros nas campanhas não chega a ser falta de ética, mas excesso de realismo.
Abraços
PS: Eu tenho 25.
Eduardo, sim, sim, quanto à sua contrariedade à candidatura Serra, eu entendi prefeitamente, no enquanto, o que eu coloquei é que mesmo que o utilitarismo forçasse o atual governador paulista a manter, caso eleito presidente, certas políticas do governo atual - o que não seria impossível de se imaginar -, por outro, os interesses por detrás da sua candidatura levariam a esse quadro. Eis aí o exemplo das relação políticas que Serra tem no Nordeste; a cortina de fumaça da aliança Lula-Sarney - superdimensionada por motivos oportunistas - serve para esconder, por exemplo, a aliança entre Serra e todo o staff do falecido ACM. Daí eu pergunto: Como Serra administraria as políticas para o Nordeste - onde ele teria de manter praticamente tudo que Lula implementou - de uma maneira que não afastasse seus aliados políticos? Não vejo como resolver essa contradição de uma maneira razoável - por isso eu lembrei que mesmo que Serra precise manter muita coisa, ele não poderá manter, o que vai gerar um cenário complicado.
ResponderExcluirE, Luis e Edu, sobre a importância dos marqueteiros, ela tem seu começo real no Brasil e com jeito tucano de fazer política, ou seja, a disputa pela hegemonia por meio da construção de um ethos midiático, desvinculado da realidade social e convertido em um mero espetáculo abstrato como forma de substituir a inexistência de vínculos reais com a sociedade civil.
O PT acaba se tornando escravo disso no momento em que passa a focar quase exclusivamente nas estruturas institucionais do país, deixando de praticar uma política séria de bases - na qual residia seu diferencial e sua maior força. Isso não quer dizer que alguém prescinda da propaganda hoje, mas pode se fazer uma campanha subvertendo seu próprio conceito - e não sendo pautado por ela como é, em grande medida, o PT atual - menos que o PSDB, no entanto, ainda que essa tenha maior penetração em meio ao grande capital.
abraços coletivos
P.S.: 25, Luis? É o que eu sempre digo, nada como conhecer alguém que está compartilhando da mesma desdita que você para se sentir melhor - no nosso caso, a idade avançada ;-)