terça-feira, 20 de abril de 2010
Breve Análise da Cobertura da Corrida Eleitoral
A corrida eleitoral continua assim mesmo, muito corrida e pouco pensada, pouco refletida e menos debatida ainda. Dos meios de comunicação tradicionais, o único que anda fazendo um trabalho decente é a CartaCapital - e goste-se ou não de Mino Carta (eu, por exemplo, discordo de muita coisa dele), mas o fato é que ele produz hoje o melhor semanário do país e, novamente, faz a melhor cobertura das eleições, dando espaço para todos os candidatos (Plínio e Marina tiveram um bom espaço na edição que está nas bancas). A Carta segue uma postura transparente que deverá resultar em declaração de voto em Dilma tão logo, provando que um meio de comunicação ser honesto quanto aos seus ideais, não influi negativamente na sua capacidade crítica, muito pelo contrário. De resto, temos o tradicional apoio velado dos maiores órgãos de mídia para o candidato mais conservador; a singela capa da Veja com Serra sorrindo é uma prova disso, mas temos de ressalvar que desta vez há coisas piores do que a revista que abriga RA e Mainardi: Um comercial da Globo, que supostamente deveria servir à comemoração os 45 anos da emissora, usando-se da enorme coincidência para colocar um número 45 enorme num fundo azul, usando, ainda por cima, o slogan de Serra foi um fato simplesmente jocoso - e nos lembra que não importa o que aconteça ou quanto tempo passe, mas a Vênus Platinada continua a mesma.
Hugo,
ResponderExcluirE na resposta ao meu comentario anterior você ainda diz que esperava coisa pior... hehe...
Assisti o comercial no youtube. Seria muito descaremento manter ele no ar. Mas sei lá, com certeza a Globo já deve estar bolando outra coisa pra colocar no lugar.
O que me preocupou um pouco hoje foram algumas declarações da Dilme numa entrevista publicada em seu blog sobre os movimentos sociais. Do tipo: manifestação pode, desde que não atrapalhe a vida de ninguém; ou,Fazer campanha pela Reforma Agrária pode, invadir e ocupar propriedade alheia não pode. Parece até o Serra ou _ menos pior que ele _ a Marina Silva falando.
Até concordo com o comentário do @M_Caleiro no Twitter de que este tipo de discurso agradaria os eleitores mais conservadores e poderia render votos. Seria uma boa estratégia, também de retirar bandeiras do Serra, que seria obrigado a repetir as mesmas opiniões, já que em relação aos movimentos sociais o pensamento dele e de seus aliados vai por aí mesmo. Mas a minha preocupação é:
E se tudo der errado e a Dilma perder? O que vai ser do MST e outros movimentos sociais organizados depois de uma campanha eleitoral que questiona seus procedimentos e dá munição aos seus inimigos?
Abraço!
Edu,
ResponderExcluirDe fato, seu ponto também é profundamente interessante. Existe no discurso de Dilma muitos elementos retóricos - e, sim, eleitoreiros, visando um público mais conservador - como também tem um "quê" de verdade: No fundo o Governo Lula já é isso, pois ele adota uma posição ambivalente diante da tensão entre os movimentos de trabalhadores e o capital, sendo que ele, por meio de simulacro de varguismo com tendências democráticas, realizou uma mediação desse processo para fortalecer os primeiros. O uso inteligente que o Governo atual fez da conjuntura internacional lhe permitiu fazer uma política trabalhista, ou seja, pró-trabalhadores, mas sem deixar de dar concessões ao Capital, ainda que no fim das contas, ele não o represente. Uma dúvida que eu tinha era de como o Governo atual iria manter essa articulação dentro de um cenário internacional desfavorável, mas pelo jeito, ele acabou se saindo muito bem, ao explorar certos instrumentos do próprio Capitalismo - num êxito parecido com a social-democracia europeia do início do século 20º, um meio cujas contradições cedo ou tarde explodem, mas pela conjuntura atual, dependeram de uma alteração considerável do cenário para virem à tona tão logo.
Se Dilma perder, Serra será obrigado a manter as linhas gerais do Governo atual - o que eu acho bem difícil, pelas alianças que ele está estabelecendo para chegar ao poder, principalmente com setores atrasados do Capitalismo Nacional que se incomodam com atual tamanho do "exército de reserva" - e é por isso que eu acho um Governo Serra fadado ao fracasso. O discurso petista sobre o MST, como instrumento retórico, não dá munição para os demo-tucanos porque eles mesmos enfocam a atitude do Governo petista como uma unidade coerente e amplamente favorável - veja, eles vendem um discurso que vende o MST, p.ex., como uma organização praticamente terrorista e bancada pelo PT de um modo cínico, logo, eles não podem usar o discurso dilmista sobre os movimentos sociais (que dá uma no cravo e outra na ferradura) porque isso seria se desdizer.
um abraço