quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Crise na Oposição se Aprofunda

A oposição está em ponto de ebulição. Passado o calor de derrota eleitoral e com o novo governo apresentando bons índices de aprovação, o velho dito de que a esquerda, de tão rachada, só se une no cárcere parece se realizar de forma invertida: hoje, é a direita brasileira está fragmentada em mil pedaços. Uma parte aceitou compor com o Lulismo para disputar posições por dentro do governo e a outra parte, aquela que se localizava no bloco de oposição PSDB/DEM/PPS está rachada em, pelo menos, três partes: a ala mais estatista com Serra, a ala católica e mais privatista na economia com Alckmin e uma ala mais liberal - e que alimenta o sonho de uma articulação nacional - com Aécio

A fundação do anódino PSD não é apenas fruto da luta de Kassab por sobrevivência no grande mundo da política - nem da insatisfação de demistas fisiológicos com a pífia direção do seu partido -, mas também uma consequência direta da luta por poder de muitos caciques tucanos, dentre eles o próprio Serra, ressentido e disposto a acertar as contas com aqueles que ele julga culpados por sua derrota em 2010 - a saber, a própria cúpula do DEM e, como não poderia passar batido, o seu nêmesis, Aécio NevesCom a existência viável do DEM ameaçada, o PSDB perderia seu principal sócio assim como Aécio perderia um apoiador importante para sua candidatura à presidência em 2014.

A grande novidade, agora, é a atuação cada vez mais pública do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na tentativa de resolver os problemas vários. Agora, um ponto que ele traz à baila é a possibilidade de fusão do que restar do DEM com o próprio PSDB. Não resta dúvida que seria uma obra de engenharia política profundamente delicada e bastante arriscada: ambos os partidos, embora tenham atuado em conjunto ao longo dos últimos 16 anos, são gigantescos e possuem, cada um, estruturas hierárquicas próprias e altamente complexas. Como adequar a cacicagem demista na estrutura do PSDB sem causar maiores insatisfações em quem já está acomodado? E nos lugares em que os dois partidos, eventualmente, forem antagonistas eleitorais? Como não provocar, com isso, uma outra debandada para o PSD de políticos tucanos e demistas que sejam prejudicados com a fusão? E como ficaria o programa tucano, já tão confuso e contraditório à própria social-democracia que o nomeia? São perguntas sem resposta.

Tais movimentos, não resta dúvida, não são nada incomuns e deixam claro como a fragilidade dos partidos brasileiros é óbvia: apesar de possuírem milhões de filiados, as principais legendas da oposição simplesmente não têm vida ativa em seu interior, logo, qualquer disputa entre seus líderes - mesmo que por mera conveniência eleitoral - pode chegar facilmente numa situação dessas, na medida em que a falta de debates e votações internas torna o jogo uma mera disputa entre cardeais na qual os filiados são meros espectadores e qualquer manobra é válida e não há controles sobre nada. 

Por mais que essa constatação seja óbvio, os grandes dirigentes partidários da oposição parecem ignora-la, pior, até nutrem um sensação de orgulho pelo fato de liderarem partidos gigantescos onde eles definem os mínimos detalhes e detêm o monopólio das ideias como se não notassem que a falta de ideias e lideranças novas não os desgastasse profundamente - em suma, o Brasil vive a situação absurda de ser uma democracia feita de partidos não-democráticos e todas as consequências negativas que isso produz na prática. Isso, inclusive, ascende o sinal amarelo para o próprio PT, único partido grande do Brasil com vida interior, mas que nos últimos anos se vê mais e mais centralizado (eis o motivo da sua força, eis o motivo de preocupações para um futuro próximo).








9 comentários:

  1. Grande Hugo.

    Análise perfeita. Aposto que vem mais debandada por aí. A direita não aguenta ficar muito tempo longe do poder, o que não deixa de ser um risco para o PT...

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  2. Pois é, Marcelo, a tendência é se agravar mesmo. Ironia das ironias, a situação da oposição à direita ao Governo lembra muito a dos países do Leste Europeu nos anos 80: a falta de democracia interna levou a um grau de asfixia interna que a degeneração é praticamente incontrolável. E Aécio não consegue fazer nem o enfrentamento interno e nem o externo, precisaram tirar FHC do banco para tanto. Quanto ao partido da estrela, do jeito que as coisas andam, ele é o principal empecilho para si mesmo.

    abração

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  3. Parabéns pelo blog. Ótimas análises.

    Você entende que há um movimento em direção à direita no Brasil, na medida em que o PSDB pode se fundir com o DEM e o PT tende a se centralizar? Será o PT o futuro PMDB?

    Parece-me que um dos maiores beneficiados com essas (con)fusões é o PSB, que cresce à surdina em todo o país. Bizonhamente, porém tenho visto na mídia que os congressistas "socialistas" apoiam uma possível fusão com o novo partido do Kassab. Será?!

    Att,
    Enzo

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  4. Obrigado, Enzo e seja bem-vindo à nossa caixa de comentários. A questão da fusão entre DEM e PSDB, no meu entender, marca muito menos uma virada à direita da política nacional e mais uma consequência direta eleitoral) do giro fisiológico que representa o surgimento do PSD, posto que se trata de uma manobra eleitoral. Na prática, no lugar de um DEM (uma direita envergonhada), surge algo completamente anódino.

    Trata-se de um processo de esgotamento estrutural dos partidos, que é o que, de certo modo, acontece no PT também. Eu vejo isso como parte de um processo muito maior, certamente relacionado aos desdobramentos do capitalismo contemporâneo, suas influências sobre o Estado e como isso afeta os partidos que ocupam o poder. Muito menos do que uma radicalização para o liberalismo, o fascismo ou socialismo, eu veria que há um derretimento de tudo isso e uma redução da política partidária a formas vazias - e até mais do que isso, na medida em que coisas como programas partidários e prévias são uma realidade cada vez mais distante.

    Nessa brincadeira toda, a figura mais beneficiada diretamente me parece José Serra e, em um segundo momento, o próprio Governo Dilma.

    abraços

    abraços

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  5. Os partidos políticos tornaram-se massas amorfas depletas de ideologia - assim como tudo no capitalismo, viraram mercadoria.

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  6. Luis, isso é um dos efeitos possíveis de um sistema capitalista sobre o sistema partidário, mas não apenas: existe muito de singular nessa crise brasileira, portanto, devemos levar em consideração, também, a nossa variável cultural além, claro, as situações históricas determinadas que conduziram a isso.

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  7. sabe, quando Heloísa Helena foi expulsa e começou a articulação para fundar o Psol, os petistas (pelo menos na puc, e ainda com o pensamento bastante extrema esquerda, mas já decaindo) disseram que o Psol é menos revolucionário pois Helóisa era senadora, enquanto o PT nasceu dos operários.

    Cá comigo sempre achei essa crítica meio nada a ver, e tinha vontade de perguntar para os petistas se então ela deveria renunciar ao senado, voltar a ter emprego simples e só depois fundar o Psol. Mas era o que o PT dizia: "Psol nasceu de cima para baixo, PT nasceu de baixo para cima".

    Agora com o PSD do Kassab, ele mostra direitinho como se faz um partido de cima para baixo. Para fundar o Psol eu vi os militantes tendo o maior trabalho, colhendo assinaturas (a lei dizia que para um novo partido tinha de ter certo número de filiados em cada estado brasileiro). Para fundar o PSD não vi nada disso (convenhamos que se eles fossem colher assinaturas na Puc ia ter uns adeptos).

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  8. Célio, o de "cima para baixo" que deu origem ao PSOL se referia ao fato de um partido de esquerda que não nasceu de um movimento social, mas sim de dirigentes de um partido já existente que racharam com ele em um determinado momento histórico. O PSD seria mais ou menos isso, mas ele não nasceu de um racha de um "partido orgânico" - o que já é uma diferença grande - e nem busca ou buscará articulação com os chamados setores da "sociedade civil", é mais um partido de aluguel, portanto. Agora, essa coisa da coleta de assinaturas também está me perturbando. Eu estava no colegial quando o PSOL estava para se formar e cheguei a ver professores meus passando a lista de assinatura entre os colegas, mas essa do PSD ninguém sabe, ninguém viu, o que é estranhíssimo mesmo.

    abraços

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  9. olha que rolo esse Partido do kassab!

    http://www1.folha.uol.com.br/poder/930593-lista-de-apoio-para-criar-psd-em-sc-tem-assinatura-de-mortos.shtml

    http://www1.folha.uol.com.br/poder/930839-para-kassab-uso-da-prefeitura-para-criacao-do-psd-e-excecao.shtml

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