Multidão (A. Ruivo), |
As eleições municipais de 2012 seguem em um ritmo morno, estão quase quietas. É fato que depois da vitória de 2010, a radicalização do discurso de direita vista até ali sucumbiu junto com José Serra nas urnas. A vitória de Dilma e seu já concluso um terço de mandato, por outro lado, praticamente colocaram termo final à expectativa de uma continuidade das mudanças em termos de esquerda: se os pobres foram autorizado a desejar, tornaram-se parte do jogo, ascenderam como tumulto incomodando até mesmo a esquerda, a resposta de como guiar o país se dá, hoje, em termos gerenciais e modernizatórios -- eis uma longa estrada para o progresso, eis uma crise que precisamos nos livrar, assim segue o governo, por ora, muito bem avaliado, apesar da deserção gradual de parte da intelectualidade que lhe apoiou fielmente e de alguns setores.
Dilma segue bem avaliada, inclusive, por setores que rejeitavam Lula e, ao contrário do seu antecessor, jamais perdeu a oportunidade de buscar uma aproximação com a mídia tradicional que ele confrontava abertamente. Dilma agrada a classe média, mais até do que por seu jeito de ser, e mais por sua política de governo mesmo. Não é difícil imaginar que muitos dos eleitores de Dilma teriam votado em Plínio ou Marina se pudessem antever o que é seu governo, mas não seria arriscado que grande parte da classe média do sul-sudeste que votou em Serra talvez titubeasse em fazê-lo aqui e agora. Ainda assim, se pegarmos o que escrevem e pensam Serra, Plínio e Marina sobre desindustrialização -- e basta uma googleada para tanto --, não temos nada tão diferente ente si, exceto as cores da moldura -- azul, vermelho e verde. E nem vem que não tem: o problema não é o desenvolvimentismo do outro. É nesse clima político que estamos vendo as eleições municipais.
Não há mais direita, nem há mais esquerda, mas esse modernismo ao qual o próprio Lula aderiu ao ratificar as mudanças de Dilma também não é Lulismo, mas uma de suas possibilidades; é sem ter sido, Dilma não é Lula, mas Lula, que era muitos, restou Dilma. Não há mais radicalização alegre e se era possível fazer dessa ascensão tumultuada dos pobres um carnaval, hoje, o que há é a missa civil do, pelo e para o Moderno. O PT mudou? É claro -- e raramente para melhor, mas isso não quer dizer que ele seja o problema. Posta de lado a direita, temos um problema geral os partidos, supondo que eles ainda sirvam taticamente para algo.Se até mesmo Badiou já abandonou os partidos, quem somos nós, não?
Seja como for, pensando o voto como possibilidade real posta, as candidaturas petistas quase sempre são as melhores -- pelo menos pensando nas grandes capitais --, exceto quando por candidatura petista entenda-se uma candidatura meramente governista como nos casos de Curitiba -- a grande capital mais conservadora do país, onde as opções não são animadoras -- ou, sobretudo, do Rio -- onde ver Lula fazendo campanha para Paes é curiosamente funesto, embora não seja surpreendente como um todo. Em São Paulo, como insistimos há muito, para além das desventuras e de erros importantes na campanha de Fernando Haddad, é fato que ele é, dentro do plano do PT e da esquerda algo razoável: Nádia Campeão é uma boa vice etc etc.
Na Pauliceia, as pessoas certas do PT paulistano estão honestamente do lado dele -- Paulo Teixeira, Nabil Bonduki; tampouco não se compara ao que seria o apoio a um aliado -- Chalita? -- ou a insistência absurda em Marta -- quatro vezes, não, né? Ainda mais levando em consideração os atritos desnecessários todos, a política de habitação, a luta contra a esquerda do partido e os vereadores independentes. Há quem diga que Marta seria melhor candidata -- e possivelmente teria uma intenção de voto mais alta do que Haddad neste momento --, mas eu discordo frontalmente disso. Haddad merece ser prefeito pela sua atuação na secretaria de finanças do município e pela sua atuação sim no MEC. Assim como Gabriel Medina tem feito uma campanha interessante para vereador, coisa que não se repete dentro do PT nem fora dele pela esquerda. Ironias do destino, é Russomano e não Haddad, Chalita ou Serra que está em primeiro. Agora, a incerteza é a lei como aponta a boa análise de Elton Flaubert.
No Rio, a um primeiro olhar, a campanha de Freixo é uma luta contra moinhos de vento e isso, é claro, desperta os brios da (boa) esquerda, mesmo de corações endurecidos como deste blogueiro. Mas o PSOL do Rio, que tem afinal um candidato com carisma e força pessoal -- para, sozinho, ir além em um sistema político tão dependente de carisma e da pessoalidade --, por outro lado, tem como pouca multidão; se o PT nacional nasce como o primeiro partido de esquerda nacional desde o Partidão a realmente ter participação massiva de trabalhadores, lhe faltavam pobres -- o que não se confunde com abertura para pobres, mas com a falta dos próprios em pessoa --, mas se em nível nacional, futuramente, ele resolveu este problema, no Rio, ele permaneceu elitizado e branco demais, anêmico demais para não virar peão no jogo da direção nacional. Com o PSOL carioca de hoje, ironicamente, ocorre o mesmo -- ainda que com mais obstinação. Uma candidatura socialista que continua ainda distante demais dos pobres. Não que não haja como não reverter isso, nem que não seja preciso, afinal, se agenciar com essa classe sem nome que está aí por óbvios motivos de ordem eleitoral e política mesmo.
A correlação de forças entre os grandes partidos não deve mudar, com destaques aqui ou acolá. Possivelmente, o PT cresce mais um pouco, talvez o PSDB, mas nada muito relevante. O que muda mesmo é o impacto imediato do jogo nas grandes capitais sobre o grande consenso partidário e a oposição escanteada. Mantém-se? revitaliza? Mas as coisas não vão bem e não é esperando que o governo mude que iremos para algum lugar. Falta vontade para se mover realmente por fora desses esquemas de captura. Nascer dói, é preciso reaprender a dor da luta como disse um filósofo por aí. Politicamente, nunca estivemos tão bem, nem tão mal.
Oi, Hugo!
ResponderExcluirPois é, Dilma segue bem avaliada, mas essa boa avaliação depende, creio eu, do bom desempenho da economia e da estabilidade do emprego e da renda. Ela sabe disso, por isso prefere abrir não de Receita para estimular a economia, mas sacrificando a arrecadação tem que segurar os aumentos reivindicados pelo funcionalismo público federal, e aí perde apoio de parte de seus aliados. A falta de habilidade do governo em negociar é outro fator negativo que gera ainda mais desgaste. A aproximação da presidente de figuras nada elogiáveis, como deputados da bancada ruralista também gera desconforto, mas ela tem que lidar com os políticos que tem, e que estão lá porque foram eleitos. Fazer o que? Tem a questão do desenvolvimentismo _ e das hidrelétricas _ que não acho que seja a qualquer preço, mas já um tema complicado pra falar aqui. A mídia não incomoda a presidente, e até dá uma mãozinha de vez em quando, mas acho que não é tão fundamental para sua boa avaliação. De qualquer modo parece prevalecer aquele velho ditado: Não mexam comigo que eu não mexo com vocês.
Quanto as eleições municipais, Russomano é a grande surpresa dessa eleição, pelo menos até aqui. O candidato se beneficia da pouca exposição pública de Haddad e Chalita, mas parece também ganhar votos em cima da
impopularidade de Serra.
Eu realmente espero que Russomano não seja a grande zebra deste eleição, seria outro conservador no comando da cidade, mais carismático que o atual Kassab talvez, mas só isso. Quanto ao Serra acho que você já sabe a minha opinião.
Addad é meu candidato, e está se esforçando para ficar mais conhecido, não sei se da melhor forma. Meu bairro está com Haddad, em cada praça, em cada arvore, em cada poste e em cavaletes distribuídos nas calçadas. Ontem joguei um monte de santinhos do candidato, que entupiam minha caixa do correio, no lixo. No trajeto da feira de Domingo procurei por outros candidatos nos cartazes e santinhos espalhados pelo chão, não encontrei. Torço para que no esforço de se tornar mais conhecido, o candidato do PT não acabe pesando demais a mão.
A corrida pela prefeitura mal começou, espero que a cidade acerte desta vez.
Abração!
Boa análise, Edu. A respeito do ajuste fiscal do governo, sobre o qual pretendo escrever em breve, é uma aposta: os estímulos tributários (sobretudo no que toca o IR e o IPI) visam a alavancagem da economia, gerando liquidez, o que deveria compensar logo mais adiante, com um aquecimento da produção e arrecadação em volume maior, embora dentro de um quadro de proporção de tributação menor. Se a estratégia der certo, a economia funciona e não ocorre problema algum nas contas públicas, se der errado, o governo precisa manter o superávit primário em alta e vai ter de promover cortes porque a arrecadação pode cair -- isto, no pior dos mundos, onde a economia não andaria porque as empresas manteriam dinheiro em caixa em vez de investir, o que é um risco considerável e longe de ser impossível, caso você pesquise as políticas econômicas de Schroeder na Alemanha ou de Bush nos Estados Unidos. É claro que com ou sem incentivos fiscais para estimular a economia, isso não significaria que, agora, durante o ano, haveria aumentos para os servidores públicos -- que agem preventivamente, visando a não estagnação de seus rendimentos (que em alguns casos teve reajustes consideráveis nos últimos anos, embora em outros casos não) e também certa luta política partidária que se aproveita do cenário eleitoral (e antes até de ser partidário, uma disputa de força entre sindicatos e centrais sindicais).
ExcluirNo cômputo geral, eu tendo a discordar da estratégia, o Estado não tem porque prescindir de tributos porque ele pode usar, taticamente, disso para constituir redes, driblar o mercado: o que não importa em estatismo, mas medidas de contrapoder, exercício da positividade por dentro do Estado para constituir o comum como um das frentes possíveis. Incentivos fiscais, normalmente, só devolvem dinheiro para o capital que pode simplesmente esterilizar os valores ou, na melhor das hipóteses, dar a sua dinâmica própria para o que vai lhe sobrar. É mais interessante, encurtando a conversa, manter a arrecadação e incentivar a produção pelo aumento de rendimento de professores das universidades federais. Ainda assim, há um ponto bom nesse movimento que é a pressão objetiva e subjetiva de Dilma sobre o sistema financeiro, nisso ela está redondamente certa.
Quanto a articulação política, sem dúvida. Falta um Lula a Dilma ou, talvez, falte Lula em Dilma, embora não lhe falte o Lula em pessoa -- o que, a bem da verdade, pouco importa. Não que os movimentos de servidores também se articulem bem, mesmo no caso em que eles têm razão, eles não se articulam coisa alguma -- por que os professores das federais não aproveitam para conectar sua pauta à da inclusão acadêmica? --, o que torna tudo uma conversa de surdos.
Em São Paulo, a política prova sua máxima: sempre pode ficar pior. Serra é ruim, mas Russomano -- um ex-tucano, ex-malufista e, hoje, âncora da aliança entre a Universal e o comando majoritário da OAB-SP, aquele, que calou sobre o Pinheirinho, fazendo o jogo sujo para Alckmin -- é O pior. E se Serra e Haddad quiserem vencer, vão ter bater nele agora.
abração
Hugo,
ExcluirSaiu uma nova pesquisa que mostra Serra abaixo dos 25% e com rejeição a 43%. Longe de ser o fim para a candidatura Serra, acho que a melhor tática para o tucano seria continuar batendo forte em Haddad para tentar ir ao segundo turno com Russomano e contar com a ajuda da mídia, sua velha alidada, para desqualificar o candidato do PRB, envolto a uma série de suspeitas de irregularidades na vida pública.
Quanto a Haddad, que está crescendo nas pesquisas, mas ainda tem muito chão para alcançar José Serra, bater em Russomano exigiria alguns cuidados. Não estou acompanhando a propaganda política, mas me parece que este se mostra mais cordial com Haddad que com Serra. Se isso virar, o que é bem provável, teremos Serra e Russomano explorando histórica rejeição ao PT para tentar garantir a vaga no segundo turno. Veremos.
Olha, Edu, eu já advertia sobre a pouca viabilidade da candidatura Serra no começo deste ano. Dizia isso pelo seguinte: alta rejeição, falta de apoio interno no PSDB e o vínculo com a gestão Kassab. Neste momento, no entanto, a tática mais errada que Serra pode levar adiante é bater em Haddad. Precisa focar na própria campanha e bater em Russomano -- e o mesmo vale para Haddad, uma vez que ambos têm chances numa disputa entre si no segundo turno, mas não tanto caso enfrentem Russomano.
Excluirabraços
Faltou Belo Horizonte, Hugo. Ali muita coisa interessante se desenha ou se desmancha. Aécio joga duro para eleger seu candidato contra um cara que marcou Belo Horizonte - foi a primeira prefeitura de esquerda na cidade - e que tenta reerguer/reanimar um partido que tinha montado uma aliança improvável com o PSDB através de um PSB fantasma.
ResponderExcluirFaltou BH, o Recife e muitas outras capitais, que eu posso acompanhar no decorrer dessas eleições, Paulo. No mais, eu vejo que o tanto em BH, quanto em Recife, temos as hipóteses do PT ainda com a melhor candidatura (ou menos pior, conforme se veja) contra um PSB (já) voltado para uma aliança com Aécio. Não é pouca coisa, Aécio quer romper a hegemonia Lulista, quebrando a aliança do PT com o PSB no Nordeste -- e o PSDB perdeu, com Serra e Alckmin, porque sua âncora na região nordestina era um PFL/DEM em decadência. Em outras palavras, no cômputo geral, perder em São Paulo não faz diferença para o PT porque já um lugar que não conta no cálculo (embora ganhá-la seria ótimo), mas BH e Recife fazem muita diferença sim: se Patrus e Humberto ganharem, a estratégia de Aécio e Campos pode ter sido minada de morte.
Excluirabraços