quinta-feira, 7 de março de 2013

Hugo Chávez, Libertador da América

Maré Vermelha se despede Chávez em Caracas
Hugo Rafael Chávez Frias, presidente constitucional da Venezuela e libertador da América faleceu há poucos dias. Ele deixa como legado político a eliminação do analfabetismo em seu país, uma inclusão ímpar no sistema universitário, a redução dos níveis de desigualdade social a patamares inacreditáveis para um país latino-americano, a redução da pobreza, um processo político vivo e em curso etc. O mais importante, no entanto, é outra coisa: o ódio que ele despertou naqueles setores que caso não nos odeiem, quer dizer que ou somos inofensivos ou idiotas úteis.

Já falamos bastante sobre Chávez e o Chavismo em Janeiro, quando a situação médica dele e, por tabela, a situação política venezuelana se agravavam. O recorte que interessa aqui  e agora é exatamente o desfecho do parágrafo anterior: sem mais universalismos, o Chavismo está fora da racionalidade do consenso e do amor visto como permanente falta, logo, fator de sujeição permanente e paranoica ao olhar exterior; a melhoria das condições de vida, dessa forma, deixa de ser item (neg)ociável; agradar a todos deixa de ser diretriz.  

A social-democracia europeia e, inclusive, nós mesmos no Brasil, precisamos dessa autocrítica. A rigor, quase todos os principais políticos, e movimentos, do Brasil são de esquerda, embora falte de esquerda por toda parte.  A esquerda que pretende agradar a todos, buscar uma validação universal à determinação de melhoria de vida dos outros, perde-se na indiferença porque não há um modo real de mover-se sem atritos. 

Não é que Chávez tenha, ao seu modo, simplesmente despertado amor e ódio, mas que não há como deflagrar a amorosidade suficiente para deflagrar mudanças sem despertar ódio. Não é preciso, por certo, odiar, mas admitir que ser odiado é bom, sobretudo dependendo de quem te odeia. Não é uma questão de mera probabilidade, de que é possível ser odiado por promover transformações sociais, mas sim que é desejável ser odiado pelo (ex)opressor.

A potência do Chavismo, esse processo imenso que jamais aceitou a apatia ou reproduziu indiferença, está expresso na fuga à vedação que Napoleão impôs à Revolução (como bem observe Antonio Negri): fazê-la cessar mediante a implementação de um contrato, seus deveres e culpas, coisa que a reduziria a mero mito fundante da ordem (de sempre). O Estado voltaria sob nova égide, se é que um dia se dissipou. A quantidade de plebiscitos, votações e consultas na Venezuela mantiveram a multidão em movimento durante os últimos 14 anos, contradizendo a tendência à termidorização num ciclo de intensa constituição de direitos. 

As movimentações e a intensa comoção na Venezuela, às vésperas do pleito que ocorrerá daqui a 30 dias, mostram que uma novo país já nasceu. Não é possível mais apagar isso. A Venezuela, e a América Latina, se encontra em um ponto no qual não é mais possível voltar -- como enfatizou o Presidente Lula, na coluna que escreve no New York Times. O resultado dos 14 anos de Chavismo é uma Venezuela que existe no mapa, não pela beligerância ou o ódio a outras gentes, mas pela afirmação de uma cultura e uma história dispostos a abraçar (e se deixar abraçar por) toda a humanidade.





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