(Obama cumprimenta Chávez. Foto: AFP)
Está sendo realizada em Port of Spain, capital de Trinidad e Tobago, a Cúpula das Américas, reunião da qual participam os Estados-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA). É uma reunião histórica, sem dúvida. É a primeira em que Obama participa como Presidente dos EUA e a primeira onde os países sul-americanos participam com alguma coesão em virtude da recém-formada UNASUR - que já foi capaz de resolver, por exemplo, a mais recente crise boliviana.
O único Estado do continente que não participa da reunião é Cuba pelo fato de ter sido expulsa da organização em 62 por enviar guerrilheiros para promover a Revolução na Venezuela. Ironia das ironias, mesmo que não tenha acontecido a Revolução naquela ocasião, décadas mais tarde, a Venezuela sob a liderança de Hugo Chávez romperia com os EUA e se tornaria o maior aliado de Havana no continente. Claro, os debates sobre a reinserção de Cuba no sistema panamericano é um dos temas centrais da cúpula.
Não sem motivo, a reunião se dá ainda sob a sombra do Governo Bush e suas consequências paradoxais; se por um lado bushinho fez uso do poder da superpotência americana em níveis máximos, interferindo com obstinação ímpar na política dos países do globo, por outro, ele acabou relegando a América Latina ao segundo ou terceiro plano, o que enfraqueceu - e muito - o discurso dos líderes pró-americanos da América Latina. Isso refletiu com muita força eleitoralmente.
O grau de influência dos EUA na região desabou. Na era Bush foram eleitos inúmeros governos progressistas no continente, em geral, entusiastas da integração latino-americana e cujo ânimo era o da não-subordinação a Washington como foi regra em praticamente em todo século 20º. Para complicar a situação, tais governos se saíram muito bem na gestão da economia e na condução da política externa, o que se materializa no fortalecimento da maioria deles no jogo de poder internacional.
Obama é um homem inteligente e sabe que não pode virar as costas para essa realidade e teimar em brigar com os fatos. Não que seja de sua índole, mas supondo que fosse, bancar golpes como forma de garantir governos amistosos, nos dias de hoje, tem consequências necessariamente negativas. Por outro lado, desprezar o continente, não significa que ele virá com o pires na mão pedir esmolas em Washington, muito pelo contrário, no máximo a China e a Rússia preencherão esses espaços e os países do continente aperfeiçoarão os mecanismos de integração como ocorreu no governo Bush.
Os Estados Unidos possuem hoje pouco mais de um quinto da economia mundial, isso é muito, mas ao mesmo tempo insuficiente para bancar um jogo de imposições - que, aliás, é bem caro e desde o fim da segunda guerra mundial tem feito o país ter uma proporção cada vez menor da economia mundial.
Temos também a importância incontestável do Brasil: Segunda maior economia do continente e nona maior do mundo, dono de uma diplomacia das mais habilidosas do globo que vem obtendo êxitos incríveis tanto dentro da América Latina quanto na liderança dos emergentes. O país é hoje um parceiro imprescindível para a estruturação do novo sistema multilateral que a conjuntura mundial demanda.
Por fim, temos Cuba que passa pelas maiores modificações internas em décadas. A Guerra Fria acabou e a ilha resistiu bravamente aos anos 90, período onde os EUA tiveram nas mãos o controle do Sistema Mundo. As medidas que Washington tomou para acabar com o sistema decorrente da Revolução Cubana por meio de chantagem e da pressão econômica fracassaram. Mesmo com o profundo impacto que a queda do bloco socialista gerou na economia cubana e a incomensurável pressão americana, Cuba vem se recuperando desde o fim dos anos 90 e tem crescido economicamente nos últimos anos. Mais importante do que isso, hoje boa parte de seu comércio exterior se dá com países latino-americanos e não lhe faltam governos amigos na região.
Os EUA não estão dispostos a levantar todas as barreiras contra o país, mesmo que Obama as tenha flexibilizado. Isso seria finalmente admitir a Revolução Cubana. Mas isso se tornará inevitável tão logo. Com disse Chávez sobre Obama, o líder americano tem uma oportunidade única. Isso aqui também é uma página à parte: O encontro de Obama com Chávez. O líder americano demonstrou o mínimo de racionalidade que faltou a seu antecessor e o líder venezuelano recebeu isso com o devido discernimento e ceticismo. Os EUA precisam da Venezuela e vice-versa, mas a época em que Washington controlava Caracas como se fosse sua colônia petrolífera se foram - mais precisamente no dia em que o golpe contra Chávez deu errado.
Enfim, há muitas variáveis em jogo, mas eu mantenho minha opinião de que Obama tem de aproveitar as oportunidades que tem nas mãos para construir um estrutura multilateral mais racional a começar pelo seu continente para depois fazer o mesmo com o mundo. Desperdiçar isso, equivale a continuar arcando com o ônus de ser um Império, o que tem apequenado o seu país. Querer compensar perda de poder econômico com aumento da força militar, como fez seu antecessor, não é racional e ao mesmo tempo é o melhor caminho para se jogar no abismo. Não há país no mundo hoje que saia mais fortalecido com a construção de um sistema internacional civilizado e eficiente do que os EUA, desperdiçar essas oportunidades históricas por conta de devaneios megalômanos no máximo destruirá o mundo ou, mais provavelmente, será o suicídio dos EUA enquanto país.
Está sendo realizada em Port of Spain, capital de Trinidad e Tobago, a Cúpula das Américas, reunião da qual participam os Estados-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA). É uma reunião histórica, sem dúvida. É a primeira em que Obama participa como Presidente dos EUA e a primeira onde os países sul-americanos participam com alguma coesão em virtude da recém-formada UNASUR - que já foi capaz de resolver, por exemplo, a mais recente crise boliviana.
O único Estado do continente que não participa da reunião é Cuba pelo fato de ter sido expulsa da organização em 62 por enviar guerrilheiros para promover a Revolução na Venezuela. Ironia das ironias, mesmo que não tenha acontecido a Revolução naquela ocasião, décadas mais tarde, a Venezuela sob a liderança de Hugo Chávez romperia com os EUA e se tornaria o maior aliado de Havana no continente. Claro, os debates sobre a reinserção de Cuba no sistema panamericano é um dos temas centrais da cúpula.
Não sem motivo, a reunião se dá ainda sob a sombra do Governo Bush e suas consequências paradoxais; se por um lado bushinho fez uso do poder da superpotência americana em níveis máximos, interferindo com obstinação ímpar na política dos países do globo, por outro, ele acabou relegando a América Latina ao segundo ou terceiro plano, o que enfraqueceu - e muito - o discurso dos líderes pró-americanos da América Latina. Isso refletiu com muita força eleitoralmente.
O grau de influência dos EUA na região desabou. Na era Bush foram eleitos inúmeros governos progressistas no continente, em geral, entusiastas da integração latino-americana e cujo ânimo era o da não-subordinação a Washington como foi regra em praticamente em todo século 20º. Para complicar a situação, tais governos se saíram muito bem na gestão da economia e na condução da política externa, o que se materializa no fortalecimento da maioria deles no jogo de poder internacional.
Obama é um homem inteligente e sabe que não pode virar as costas para essa realidade e teimar em brigar com os fatos. Não que seja de sua índole, mas supondo que fosse, bancar golpes como forma de garantir governos amistosos, nos dias de hoje, tem consequências necessariamente negativas. Por outro lado, desprezar o continente, não significa que ele virá com o pires na mão pedir esmolas em Washington, muito pelo contrário, no máximo a China e a Rússia preencherão esses espaços e os países do continente aperfeiçoarão os mecanismos de integração como ocorreu no governo Bush.
Os Estados Unidos possuem hoje pouco mais de um quinto da economia mundial, isso é muito, mas ao mesmo tempo insuficiente para bancar um jogo de imposições - que, aliás, é bem caro e desde o fim da segunda guerra mundial tem feito o país ter uma proporção cada vez menor da economia mundial.
Temos também a importância incontestável do Brasil: Segunda maior economia do continente e nona maior do mundo, dono de uma diplomacia das mais habilidosas do globo que vem obtendo êxitos incríveis tanto dentro da América Latina quanto na liderança dos emergentes. O país é hoje um parceiro imprescindível para a estruturação do novo sistema multilateral que a conjuntura mundial demanda.
Por fim, temos Cuba que passa pelas maiores modificações internas em décadas. A Guerra Fria acabou e a ilha resistiu bravamente aos anos 90, período onde os EUA tiveram nas mãos o controle do Sistema Mundo. As medidas que Washington tomou para acabar com o sistema decorrente da Revolução Cubana por meio de chantagem e da pressão econômica fracassaram. Mesmo com o profundo impacto que a queda do bloco socialista gerou na economia cubana e a incomensurável pressão americana, Cuba vem se recuperando desde o fim dos anos 90 e tem crescido economicamente nos últimos anos. Mais importante do que isso, hoje boa parte de seu comércio exterior se dá com países latino-americanos e não lhe faltam governos amigos na região.
Os EUA não estão dispostos a levantar todas as barreiras contra o país, mesmo que Obama as tenha flexibilizado. Isso seria finalmente admitir a Revolução Cubana. Mas isso se tornará inevitável tão logo. Com disse Chávez sobre Obama, o líder americano tem uma oportunidade única. Isso aqui também é uma página à parte: O encontro de Obama com Chávez. O líder americano demonstrou o mínimo de racionalidade que faltou a seu antecessor e o líder venezuelano recebeu isso com o devido discernimento e ceticismo. Os EUA precisam da Venezuela e vice-versa, mas a época em que Washington controlava Caracas como se fosse sua colônia petrolífera se foram - mais precisamente no dia em que o golpe contra Chávez deu errado.
Enfim, há muitas variáveis em jogo, mas eu mantenho minha opinião de que Obama tem de aproveitar as oportunidades que tem nas mãos para construir um estrutura multilateral mais racional a começar pelo seu continente para depois fazer o mesmo com o mundo. Desperdiçar isso, equivale a continuar arcando com o ônus de ser um Império, o que tem apequenado o seu país. Querer compensar perda de poder econômico com aumento da força militar, como fez seu antecessor, não é racional e ao mesmo tempo é o melhor caminho para se jogar no abismo. Não há país no mundo hoje que saia mais fortalecido com a construção de um sistema internacional civilizado e eficiente do que os EUA, desperdiçar essas oportunidades históricas por conta de devaneios megalômanos no máximo destruirá o mundo ou, mais provavelmente, será o suicídio dos EUA enquanto país.
Concordo totalmente com a necessidade de Obama utilizar o grande poder que os EUA ainda têm para investir em uma estrutura multilateral. O fato de ele ter ido pessoalmente à Cupula e interagido amistosamente até mesmo com Chavez - embora sem deixar de declarar, corretamente, que "nem todos os problemas do continente são culpa dos EUA - parece ser uma real demonstração de boas intenções. Vamos torcer para que elas se concretizem em atos duradouros.
ResponderExcluirUm abraço,
Maurício.
Exato, Mauricio. Por mais que a imprensa esteja querendo dirimir os avanços proporcionado por essa cúpula, ela marcou sim um avanço significativo. Aguardemos e torçamos.
ResponderExcluirabraços