sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Chile: 11 de Setembro e a Síndrome de Sulla
Hoje, nunca é demais lembrar, completa trinta e seis anos o golpe miltar que resultou na cruenta ditadura de Augusto Pinochet no Chile. Coisa horrível. Até aquele momento, o Chile, apesar de seus problemas, era uma das sociedades mais desenvolvidas do continente com uma vida artística e intelectual bastante ativa - tudo isso abruptamente interrompido por uma movimentação da elite daquele país em conluio com os EUA e os militares contra o Presidente socialista Salvador Allende e o povo. Um golpe violento com direito a bombardeio ao palácio presidencial e a chacina das forças pró-governo - inclusive, com fuzilamentos realizados nos estádios de futebol como no caso de Victor Jara, intelectual, cantor e teatrólogo, morto a tiros não sem antes ter tido as mãos amputadas. Salvador Allende, por sua vez, após ter resistido bravamente no Palácio de la Moneda, cometeu suicídio. É o curioso notar esses quando se viu perdido. Aquilo foi o início de um sanguinolento regime que reprimiu, matou e deu nas mãos de um elite perdulária boa parte das empresas públicas - a preço de banana -, gerando uma das maiores desigualdades sociais do continente. É perturbador analisar os fenômenos totalitários ao longo da História: São fenômenos sociais e políticos, onde a massa ensandecida se divide entre o apoio ativo e a passividade bovina diante do descalabro - esqueça Hitler, Mussolini ou Stalin; já em Roma podemos ver algo análogo com a ditadura de Sulla, o primeiro a desrespeitar as leis sagradas da República Romana. Essa insanidade brutal transcende à questão do próprio capitalismo - apesar de por ele ser potencializado -; é necessário lançar mão de um olhar antropológico e decifrar esse enigma.
Hugo, escrevi há alguns meses sobre esse episodio deprimente da historia da America Latina fazendo um paralelo com a brilhante trilogia de Patricio Gusman "A Batalha do Chile". Aproveita e dá uma passada lá no blog. um abraço.
ResponderExcluirwww.aprancheta.com
link do texto "11 de Setembro": http://www.aprancheta.com/cinema/11-de-setembro/?autor=5
Hugo,
ResponderExcluirNão havia atinado para a coincidência de datas entre o 09/11 norte-americano e a desgraceira chilena. Parece até uma vingança (nada)poética da história - afinal, parafraseando e convertendo em boutade a sua afirmação, pode-se dizer, seguindo a suposta declaração de Kissinger de que o Chile era um assunto sério demais para ser decidido pelo povo chileno, que foram os EUA, em conluio com o Chile quem produziram o golpe...
O pior é que a terrível divisão social que há no Chile hoje não é assunto de imprensa e só é conhecida por uns poucos - o resto continua achando que Pinochet "salvou a economia"...
Sem desmerecer a importância do outro 11/09, mas essa lembrança não pode apagar.
ResponderExcluirAllende ganhou a eleição com menos de quarenta por cento dos votos - naquela época
não havia segundo turno e a divisão resultante não foi resolvida eleitoralmente.
Ainda assim, ele tocou pra frente reformas nacionalistas e populares. A direita se acendeu; o centro, os 'inocentes' úteis de sempre, penderam para a direita, como de praxe. Exemplo simbólico: Eduardo Frei.
A ferocidade homicida da ditadura pinochetiana parece ter superado todas as colegas da Operação Condor.
Pessoal,
ResponderExcluirAcabei viajando no final de semana e estou incrivelmente ocupado, mas vamos lá - afinal, antes tarde do que nunca:
Rick,
Prometo dar uma olhadinha lá assim que puder.
Maurício,
Eu sempre faço questão de lembrar este 11 de setembro - até porquê ajuda a entender o motivo do outro ter acontecido.
Anrafel,
Bem lembrado: naquela época havia um equilíbrio entre direita, centro e esquerda muito rigído no Chile - e uma direita aparentemente mais civilizada do que a média, até por ser, normalmente, freiada pelo centro. O problema aconteceu quando a esquerda finalmente resolveu dar uma guinada em prol do Estado Social e parte do centro pendeu para lá - empurrado pelas conveniências de sempre e pelo elemento estrangeiro. Enfim, Allende fez a coisa certa escolhendo a tática errada - ele subestimou o grau de periculosidade de seus oponentes e foi barbaramente vitimado. Acrescentando alguns pontos, faço aqui um mea culpa: é necessário frisar um pouco mais a presença da elite do país não apenas depois como antes do golpe assim como lembrar a participação da própria Igreja.
abraços coletivos