segunda-feira, 30 de novembro de 2009

América Latina: Uruguai e Honduras

(Artigas na Cidadela - Juan Manuel Blanes - retirada daqui)

A América Latina, segundo o mestre Eduardo Galeano,
é o reino dos paradoxos - e eu creio que seja mesmo. Quando estávamos tão esperançosos nos anos do pós-Guerra e as nossas contradições nos pegaram de calças curtas: Pagamos um alto preço pela nossa juventude - a mesma juventude que era, ao mesmo tempo, a nossa maior virtude diante de um velho mundo esclerosado, cinza e em escombros. O Nosso clamor por Democracia, por incrível que pareça, sobreviveu, mesmo depois de ter sido pisado pelas botas dos generais e depois esfrangalhado por essa quimera chamada Neoliberalismo.

Crescia a certeza de que aquelas trevas poderiam ser eternas e junto com elas se agigantava a concepção de que a nossa tarefa, dali por diante, seria de apenas e tão somente carregar algumas velas para iluminar alguns metros mais adiante; de repente, o dia cismou em nascer - e nasceu. O início do século 21º começou de uma maneira bisonha para a maior parte do mundo: Os atentados de 11 de Setembro de 2001 como a tragédia (farsa?) necessária para a escalada da xenofobia, do racismo e do belicismo que estavam ali, sendo cozinhados juntinhos e com muito cuidado no "primeiro mundo". Para nós, não: Ele nasce com a vitória de governos progressistas que se prestaram a desmontar, em maior ou menor grau, a estupidez a qual estávamos (aparentemente) condenados.

O primeiro grande balde de água fria nesse processo foi o Golpe em Honduras. Golpe típico da nossa história em uma época atípica, um Paradoxo doloroso, sem dúvida. Logo em seguida, nos vimos diante de algo que se parece com o enredo dos nossos melodramas televisivos; as idas e vindas de um processo interminável ao qual estamos nos sentimos compelidos a assistir e perante o mesmo as nossas recém-nascidas e incrivelmente robustas instituições multilaterais lutavam com unhas e dentes pela não-interrupção do avanço da Democracia no continente; seus adversários iam desde um Imperialismo embolorado, escamoteado e dando seus últimos sinais de vida até o nosso próprio quintacolunismo crônico e paranóico.

Hoje, temos dois motivos para comemorar para só depois retomarmos a luta, afinal, nem só de peleja se constitui uma guerra:

O primeiro diz respeito ao fracasso da eleição farsesca em Honduras, cuja taxa de abstenção ficou entre 65% e 75% do eleitorado - isto é, algo entre dois em cada três hondurenhos e três em cada quatro não foi às urnas. Ainda estamos falando de uma longa luta, mas o povo de Honduras deu, em meio às circunstâncias, a mais potente resposta que poderia ser dada, por mais que a nossa mídia corporativa cisme em distorcer fatos e torcer ideias.


O segundo concerne à vitória de José Mujica no Uruguai, esse pequenino país, terra de José Artigas e do nosso bom Galeano - símbolo, em um dado momento, do que podíamos e gostaríamos de ser: Prósperos, pacíficos e possível, mas que acabou arruinado pelos mesmos motivos que quase todos nós; no entanto, depois da sua morte ter sido declarada, esse nosso pequeno estandarte cisma em renascer e agora, com a vitória do tupamaro Mujica, uma das figuras mais dignas e sacrificadas da política latino-americana, volta a nos dar o exemplo - se mesmo aquele que é um dos menores de nós pode ousar tanto, qual o motivo para nós não seguirmos o mesmo caminho?

4 comentários:

  1. Hugo, sinto sua falta no Nassif, e raramente tenho vindo aqui, confesso. Continuas extremamente lúcido e coerente, o que não me surpreende.
    Seu comentário sobre Honduras e sobre o Uruguai não me permite acrescentar mais nada: é o que eu penso. Acompanhei o processo de Honduras por chats com pessoas de lá, e senti o que acontecia, hora a hora: uma incrível repressão, principalmente em San Pedro Sula, segunda cidade e a mais industrializada do país, o vazio nas urnas, a vergonhosa prorrogação da votação por uma hora, para tentarem aumentar o quorum, enfim, todos os elementos de uma farsa.
    Ganhram mas não venceram. A resistência aumentará e este falso governo não dominará o país. Vou até lá em final de janeiro/fevereiro, para ver de perto.
    Em compensação, o Uruguai deu um espetáculo de Democracia, o povo reafirmando o caminho progressista iniciado em 2004 com Tabaré Vasquez. É até importante para o Brasil, porque quando a direita burra acusar a Dilma de terrorista, como fará com ficha falsa e tudo (criada para isso mesmo), poderemos dizer que o Uruguai elegeu um Tupamaro, que lutou com armas contra a ditadura que infelicitava sua Pátria.
    Espero vê-lo sábado, na frente da Folha. Um abraço.

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  2. Grande Antônio,

    Fico extremamente honrado com os elogios do amigo - até pelo seu conhecimento de causa da questão latino-americana. Sobre o blog do Nassif, agora que eu resolvi uns assuntos e pus a minha vida (razoavelmente) em ordem, creio que me sobrará mais tempo para voltar a comentar lá com a frequência de antes. Aliás, formidável essa sua viagem para a Honduras, nos mande notícias, hein!

    PS 1: Apareça mais vezes por aqui!
    PS 2: Nos veremos lá, certamente.

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  3. Ola visitei seu blog e gostei muito e gostaria de convidar para acessar o meu também e conferir a postagem de hoje: Meditações “Latino”-Americanas
    Sua visita será um grande prazer para nós.
    Acesse: www.brasilempreende.blogspot.com
    Atenciosamente,
    Sebastião Santos.

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  4. Obrigado, Sebastião, passarei lá assim que puder.

    abraços

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