sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A Democracia Segundo Serra















(tudo gente boa)

Honestamente, sempre quando eu me deparo com sistemas eleitorais nos quais os primeiros colocados são organizados em listas tríplices ou quíntuplas e a decisão sobre a eleição cabe a um soberano, me vem à mente o sistema eleitoral do Império: Não obstante o fato de pouquíssimas pessoas serem aptas para votar, no que concernia aos senadores, o Imperador de dava ao luxo de escolhê-los mediante uma lista quíntupla (como descobriu um certo José de Alencar).

Ironicamente, é assim que funciona os sistemas eleitorais das universidades brasileiras; a USP, principal universidade do país, possui um sistema bizarro, no qual o peso dos estudantes é minimizado e, ainda por cima, os três candidatos mais votados formam uma lista tríplice que vai para as mãos do Governador do Estado de São Paulo para sua aprovação.

Alguns quilômetros a leste do Butantã, em Perdizes, no campus sede da PUC, vemos eleições onde o peso dos votos dos estudantes, funcionários e professores é equiparado - o que é bem mais justo -, mas os três primeiros colocados também são submetidos à apreciação de uma autoridade superior: O Cardeal Arcebispo de São Paulo.

Naturalmente, a existência de listas como essas é um perigo iminente à Democracia; nos anos 80, o movimento pelas eleições diretas na USP fracassou. Na PUC dos anos 70 e 80, as conquistas do movimento estudantil, dos docentes e dos funcionários produziu uma ilusão de segurança e a lista tríplice não foi abolida - quando, objetivamente, ela poderia ter sido extirpada. Tanto um lado quando o outro, no entanto, se viram às voltas com governadores e arcebispos razoáveis que respeitaram a vontade das urnas - no primeiro caso, pelo menos durante a normalidade institucional.

Ano passado, na PUC, ventilou-se que Dom Odilo Scherer, o novo Cardeal Arcebispo de São Paulo, iria escolher um candidato que poderia não ser o mais votado - afinal de contas, estamos falando de uma pessoa consideravelmente mais conservadora e truculenta do que um Dom Paulo Evaristo Arns. Boatos para lá, boatos para cá e o Dirceu de Mello, o primeiro colocado na lista, acabou escolhido como Reitor - o que não é exatamente bom, o sistema é mesmo falho, a questão é que pelo menos o descalabro não aconteceu.

Qual a minha surpresa ao saber, hoje cedinho, que José Serra conseguiu superar as alas conservadoras da Igreja Católica e indicar como Reitor o segundo colocado na lista, pior, escolheu o glorioso João Grandino Rodas, ex-diretor da Faculdade de Direito, uma figura conhecida por sua atuação em prol da repressão dos estudantes e dos movimentos sociais. Não custa lembrar que com isso, Serra se igualou a Maluf, que no ano da graça de 1981 também passou por cima do protocolo e não indicou o primeiro colocado - mas estamos falando de Maluf e ainda da Ditadura Militar.

Tudo bem, eu já tinha chegado à conclusão de que Serra não merece ser Presidente da República - primeiro grande enfrentamento contra a USP. Também já conclui que ele não deveria ser governador - guerra entre polícias. Que ele sofre de graves problemas mentais - invasão do campus da USP pela Tropa de Choque. Agora, ele não precisava me convencer de que é pior do que a ala conservadora da Igreja e igual a Maluf - mas conseguiu.


4 comentários:

  1. Há de se fazer justiça ao cardeal Dom Odilo Pedro Scherer, que não é tão conservador como diz o escriba. O arcebispo proibiu que o malfadado movimento Cansei (da alta burguesia paulistana) tivesse uma missa especial na Catedral da Sé.

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  2. Marcelo,

    Em que pese essa boa ação do arcebispo, como puquiano que sou, não posso concordar contigo...A atuação de Dom Odilo no que diz respeito à intervenção da Igreja na PUC é vergonhosa: Desse descalabro decorreram - e decorrem - demissões arbitrárias de funcionários e professores além de perseguição aos mesmos - além da repressão fortíssima aos estudantes - não é o tipo da coisa que o credencia como um homem minimamente progressista. Basta olhar um pouco para trás e ver como era a relação de Dom Paulo Evaristo ou mesmo Dom Cláudio Hummes com a universidade - e mesmo nas questões políticas em um sentido mais amplo.

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  3. Quanto ao que acontece na PUC, só posso concordar com o Hugo. A PUCde hoje é uma sombra do que já foi. Burocracia, demissões em massa, centralização... É impossível resolver qualquer problema por lá sem dor de cabeça e péssimo atendimentos... E isto só pra começar!

    Os professores que não são demitidos se demitem, meu curso está sumindo do mapa.

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  4. Raphael,

    Mas ainda rolam algumas peseguições que resultam em demissões - e elas só arrefeceram não por falta de ímpeto, mas por falta de gente perigosa para demitir. Tudo isso dentro de um quadro de violenta e inconstitucional intervenção de Igreja - com a conivência da tecno-burocracia que administra a universidade.

    O mais estranho são os argumentos legalistas que o nosso reitor - e muitos pró-reitores - usam para várias questões, quando sequer temos um estatuto que esteja de acordo com a Constituição - e ele sabe muito bem disso, mas nada faz. O papel de Odilo Scherer nisso tudo, diga-se de passagem, é central.

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