terça-feira, 29 de março de 2011

A Morte de José Alencar

"Zé, nós subimos a rampa juntos, vamos descer juntos" -- foto de Ricardo Stuckert de Outubro último



Faleceu hoje, por volta das 14 horas, o ex-vice-presidente da República José Alencar. Ele enfrentava o câncer há anos e o agravamento do caso o deixou hospitalizado no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, por um bom tempo, onde entrou em óbito. Zé Alencar foi um vice-presidente atuante no debate público nacional, sua presença na chapa lulista simbolizou a aliança que seria a própria espinha dorsal do Governo Lula: A união entre o operário e o industrial desenvolvimentista - em outras palavras, a articulação política entre Trabalho e Capital em um caráter não apenas policlassista, mas também popular e nacional, o que já estava delineado na Carta ao Povo Brasileiro, o marco de nascimento do Novo Petismo. Alencar era um político mineiro apaixonado, conservador nos costumes e defensor de um nacional-desenvolvimentismo com face social em oposição ao privatismo dos anos 90 e, ainda, forçou à esquerda o debate sobre a política econômica por diversas vezes, batendo de frente com o capital financeiro - cuja presença também não esteve ausente nessa grande articulação que governa o país há mais de oito anos. A aliança PT-Alencar foi parte relevante da guinada dada pelo partido da estrela - e depois de uma guinada do próprio país -, uma mudança de rumo que transformou para sempre os rumos da esquerda nacional. Lula e Dilma, que se encontram em viagem pelo turbulento Portugal, retornarão amanhã ao Brasil para a cerimônia fúnebre de Alencar, que será enterrado com honras de chefe de Estado.


2 comentários:

  1. O Alencar reclamava que investir no capital financeiro era uns 3 ou 4 vezes mais lucrativo que investir em capital produtivo, e capital financeiro não instala fábricas, não gera emrpegos (pelo menos não diretamente), além de ser volátil.

    O governo pode mexer no capital financeiro atravé de juros, e outras medidas, mas eu não tenho noção: não sei se realmente é algo cntrolável ou se apenas faz coceguinhas nesse mercado.

    Será que o governo consegue promover o rearranjo de algum mercado? Japão, depois das centenas de bilhões em prejuízo que tiveram (ou ainda vão ter se a usina danificada pelo terremoto/tsunami vazar), bem que podia rearranjar seu mercado para conter o super-consumismo deles, já que enquanto alguns estão passando frio e fome, outros estão comprando roupas e eletrodomésticos sem necessidade de troca (ainda dão para uso, mas mesmo assim compram novos).

    A grosso modo, só vejo uma solução simples para os governos rearranjarem os mercados, para que o capital volte a ser produtivo (instalação de fábricas para produção de bens), para reeducar a população a aproveitar melhor seu consumo, fazer com que ricos e pobres se unam a uma causa coletiva: A GUERRA. Infelizmente essa imbecilidade por vezes se torna a solução de uma equação para rearranjo da sociedade.

    Pior que hoje não me assustaria se uns colunistas, formadores de opinião da ala neocon propusessem isso

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  2. Célio,

    O papel dos bancos junto ao Capitalismo, enfim, só atesta de maneira quase literal aquilo que Nietzsche já dizia sobre as sociedades pós-primitivas: Elas se assentam sobre uma perspectiva de dívida infinita e no nossos sistema não é diferente, a impossibilidade de realização do valor nele - identificada pelos economistas ricardianos e, com mais precisão, por Marx é isso; o valor recebido pelas pessoas nunca igual é sempre inferior ao valor socialmente produzido, o que faz com que haja algo nesse meio para suprir essa lacuna. São os bancos e a ideia de que aquilo que é emprestado não foi socialmente produzido (como se pudesse existir se assim não fosse). A partir disso, toda e qualquer relação social num horizonte onde a liberdade já está negada em um primeiro momento, pois existe a obrigação de restituir algo par alguém no futuro - e é algo que pertence a todos.

    Então, temos duas coisas aí: A primeira corresponde ao que é inerente ao sistema do capital, a verdade terrível por detrás dos bancos - o empréstimo de algo que por eles não foi produzido, pois foi alienado da sociedade e lhe foi devolvido enquanto "empréstimo" - e a segunda, a saber, a questão do arranjo específico do sistema financeiro em cada sociedade - a maneira como cada Estado (e Estados capitalistas são máquinas de costurar gambiarras) estrutura isso.

    Quando se diz que o Capitalismo atual está em xeque, é em cima disso que se estrutura a argumentação; a questão da realização do valor em sociedades capitalistas sempre foi a pedra de toque da conversa e, hoje, com a queda do castelo de cartas do financismo global, isso está ameaçado. A máquina esquizofrênica que produzia saídas para os entraves parece exaurida. No Brasil, pelo menos do ponto de vista interno, isso não chegou a uma situação crítica porque se deu, bem ou mal, alguma função social para esse setor - ainda assim, gastou-se mais dinheiro do que se poderia e deveria com juros nesse país.

    E o conceito de juros é fundamental quando falamos no sistema financeiro. Ainda que ele seja um mecanismo que os Estados usem para controlar a velocidade de propagação dos recursos econômicos - com intuito de conter a inflação -, seus efeitos representam mais ou menos lucro para os bancos - seja no crédito simples ao consumidor ou, sobretudo, no que toca o mercado da dívida soberana. Por essa e por outras, o necessário rearranjo das economias capitalistas de hoje acaba sofrendo um entrave de um dos seus instrumentos chave - que passou a agir por contra própria e para si mesmo exclusivamente. Embora existam saídas fáceis do ponto de vista administrativo - estatização de bancos pelo próprio Estado capitalista para garantir o funcionamento da disfuncionalidade sagrada de todo dia -, o impasse agora, por incrível que pareça, é político - no Japão, mais do que a média, posto que a nobreza ocupa um posição de proeminência na hierarquia do sistema financeiro local.

    abraços

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