"Zé, nós subimos a rampa juntos, vamos descer juntos" -- foto de Ricardo Stuckert de Outubro último |
Faleceu hoje, por volta das 14 horas, o ex-vice-presidente da República José Alencar. Ele enfrentava o câncer há anos e o agravamento do caso o deixou hospitalizado no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, por um bom tempo, onde entrou em óbito. Zé Alencar foi um vice-presidente atuante no debate público nacional, sua presença na chapa lulista simbolizou a aliança que seria a própria espinha dorsal do Governo Lula: A união entre o operário e o industrial desenvolvimentista - em outras palavras, a articulação política entre Trabalho e Capital em um caráter não apenas policlassista, mas também popular e nacional, o que já estava delineado na Carta ao Povo Brasileiro, o marco de nascimento do Novo Petismo. Alencar era um político mineiro apaixonado, conservador nos costumes e defensor de um nacional-desenvolvimentismo com face social em oposição ao privatismo dos anos 90 e, ainda, forçou à esquerda o debate sobre a política econômica por diversas vezes, batendo de frente com o capital financeiro - cuja presença também não esteve ausente nessa grande articulação que governa o país há mais de oito anos. A aliança PT-Alencar foi parte relevante da guinada dada pelo partido da estrela - e depois de uma guinada do próprio país -, uma mudança de rumo que transformou para sempre os rumos da esquerda nacional. Lula e Dilma, que se encontram em viagem pelo turbulento Portugal, retornarão amanhã ao Brasil para a cerimônia fúnebre de Alencar, que será enterrado com honras de chefe de Estado.
O Alencar reclamava que investir no capital financeiro era uns 3 ou 4 vezes mais lucrativo que investir em capital produtivo, e capital financeiro não instala fábricas, não gera emrpegos (pelo menos não diretamente), além de ser volátil.
ResponderExcluirO governo pode mexer no capital financeiro atravé de juros, e outras medidas, mas eu não tenho noção: não sei se realmente é algo cntrolável ou se apenas faz coceguinhas nesse mercado.
Será que o governo consegue promover o rearranjo de algum mercado? Japão, depois das centenas de bilhões em prejuízo que tiveram (ou ainda vão ter se a usina danificada pelo terremoto/tsunami vazar), bem que podia rearranjar seu mercado para conter o super-consumismo deles, já que enquanto alguns estão passando frio e fome, outros estão comprando roupas e eletrodomésticos sem necessidade de troca (ainda dão para uso, mas mesmo assim compram novos).
A grosso modo, só vejo uma solução simples para os governos rearranjarem os mercados, para que o capital volte a ser produtivo (instalação de fábricas para produção de bens), para reeducar a população a aproveitar melhor seu consumo, fazer com que ricos e pobres se unam a uma causa coletiva: A GUERRA. Infelizmente essa imbecilidade por vezes se torna a solução de uma equação para rearranjo da sociedade.
Pior que hoje não me assustaria se uns colunistas, formadores de opinião da ala neocon propusessem isso
Célio,
ResponderExcluirO papel dos bancos junto ao Capitalismo, enfim, só atesta de maneira quase literal aquilo que Nietzsche já dizia sobre as sociedades pós-primitivas: Elas se assentam sobre uma perspectiva de dívida infinita e no nossos sistema não é diferente, a impossibilidade de realização do valor nele - identificada pelos economistas ricardianos e, com mais precisão, por Marx é isso; o valor recebido pelas pessoas nunca igual é sempre inferior ao valor socialmente produzido, o que faz com que haja algo nesse meio para suprir essa lacuna. São os bancos e a ideia de que aquilo que é emprestado não foi socialmente produzido (como se pudesse existir se assim não fosse). A partir disso, toda e qualquer relação social num horizonte onde a liberdade já está negada em um primeiro momento, pois existe a obrigação de restituir algo par alguém no futuro - e é algo que pertence a todos.
Então, temos duas coisas aí: A primeira corresponde ao que é inerente ao sistema do capital, a verdade terrível por detrás dos bancos - o empréstimo de algo que por eles não foi produzido, pois foi alienado da sociedade e lhe foi devolvido enquanto "empréstimo" - e a segunda, a saber, a questão do arranjo específico do sistema financeiro em cada sociedade - a maneira como cada Estado (e Estados capitalistas são máquinas de costurar gambiarras) estrutura isso.
Quando se diz que o Capitalismo atual está em xeque, é em cima disso que se estrutura a argumentação; a questão da realização do valor em sociedades capitalistas sempre foi a pedra de toque da conversa e, hoje, com a queda do castelo de cartas do financismo global, isso está ameaçado. A máquina esquizofrênica que produzia saídas para os entraves parece exaurida. No Brasil, pelo menos do ponto de vista interno, isso não chegou a uma situação crítica porque se deu, bem ou mal, alguma função social para esse setor - ainda assim, gastou-se mais dinheiro do que se poderia e deveria com juros nesse país.
E o conceito de juros é fundamental quando falamos no sistema financeiro. Ainda que ele seja um mecanismo que os Estados usem para controlar a velocidade de propagação dos recursos econômicos - com intuito de conter a inflação -, seus efeitos representam mais ou menos lucro para os bancos - seja no crédito simples ao consumidor ou, sobretudo, no que toca o mercado da dívida soberana. Por essa e por outras, o necessário rearranjo das economias capitalistas de hoje acaba sofrendo um entrave de um dos seus instrumentos chave - que passou a agir por contra própria e para si mesmo exclusivamente. Embora existam saídas fáceis do ponto de vista administrativo - estatização de bancos pelo próprio Estado capitalista para garantir o funcionamento da disfuncionalidade sagrada de todo dia -, o impasse agora, por incrível que pareça, é político - no Japão, mais do que a média, posto que a nobreza ocupa um posição de proeminência na hierarquia do sistema financeiro local.
abraços