Um dia agitado. Enquanto no Brasil comemora-se o Dia da Consciência Negra, um feriado importantíssimo para resgatar parte fundamental da História - precisamente, a resistência do Quilombo dos Palmares -, o que, mesmo com todas as apropriações toscas e oportunistas, não pode ter seu valor diminuído: ele é parte importante das lutas do movimento negro que, nos últimos anos, conseguiu importantes vitórias, desde aprovar o mecanismo de quotas étnicas em várias universidades até construir a autoestima da população de fenótipo negro que, cada vez mais, se declara negra.
Enquanto isso, várias cenas se sucedem pelo mundo - duas em especial: a Junta Militar que governa o Egito resolveu dispersar os manifestantes - que reivindicam eleições livres - à força, o que dá mais e mais contornos de ditadura militar à anômica situação na qual se encontra o Egito pós-Mubarak; a direita pós-franquista está prestes a levar as (esvaziadas) eleições espanholas - dois episódios que ilustram a profunda tensão no Mundo Árabe e no interior da Europa e nos fazem pensar os rumos que o mundo toma.
O aparente paradoxo entre a reivindicação de eleições de um lado e o esvaziamento delas no outro se esvai rapidamente: em ambas estamos diante da mais intensa luta por liberdade. O problema é que a multidão nas ruas do Cairo compartilha alguma noção tática - é preciso tomar o Estado neste momento -, enquanto a multidão espanhola sabe o que não quer, mas o esvaziamento dessas eleições não deixa de ser preocupante: não, eles não deveriam mesmo apoiar o PSOE, o problema está em não ter construído uma alternativa para ele. E não é questão de salvacionismo, é de prudência mesmo: a aproximação de um horizonte verdadeiramente emancipador para o mundo não poderia vir desacompanhado do fantasma do fascismo - ou mesmo de uma nova (e última?) guerra mundial, como sugerem os tambores de guerra sendo batidos aqui e acolá.
Nada de meios e fins, pensemos nas causas e nos seus efeitos, sem teleologismos - esperancismos - e inconsequências pueris. A luta dos negros no Brasil entra nesse contexto como exemplo de experiência válida: cá, o devir negro veio acompanhado de um enorme devir partisan, é disso que precisamos nos investir quando pegamos as armas durante a nossa fuga: sentir a emoção intensa de resistir ao fascismo, devir táticos, devir estrategistas, construir uma práxis intensa que nos permita produzir alegria mesmo quando o próprio ambiente no qual ela pode ser produzida nos é negado - e o será, cada vez mais de agora em diante: pôr o partisan para sambar com o quilombola e, assim, tocar a bola adiante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário