Recentemente, a Revolução Egípcia se viu em meio a um furor que não tem necessariamente a ver com tanques na rua ou milhões de pessoas lotando uma praça: falo do gesto nada covarde de uma jovem ativista em postar uma foto sua, nua, em seu blog. Em cima disso, veio uma reação pesada de vários setores da sociedade egípcia; conservadores islâmicos atirando pedras, democratas dizendo que isso era danoso para a Causa e quetais. Isso ilustra muito bem a dinâmica das coisas no Egito e o tamanho dos problemas que vivem o país, para muito além de uma discussão sobre falta de eleições livres: é como se dá a constituição das relações de poder e sujeição lá dentro.
Em um primeiro momento é importante tentar ser, pelo menos, um não-hipócrita: cá no nosso Brasil, dito libertário e carnvalizado, se alguma blogueira fizer isso, certamente não passará por poucos problemas. Não dispomos autonomamentete dos nossos corpos, as mulheres (muito) menos do que os homens, certamente. O papel da mulher está menos pior neste canto do mundo em relação às arábias? Talvez, como já esteve pior em certa parte da história, não somos especiais, a conjuntura que desfavorece menos as mulheres ocidentais tem pouco a ver com alguma práxis social iluminada, mas sim com muita luta e algumas contingências históricas que o Poder certamente não controla, nem é capaz de controlar.
Considerando, ainda, que apontar toda a problemática religiosa e/ou moralista no Egito não é, pelo apontamento dessas ambivalências, causa de qualquer desencanto: não há espaço para encantamentos e mistificações em relação a processos revolucionários, o problema é ser contra eles pelos motivos errados - o que é frequente. Só uma mente torpe é possível imaginar uma revolução de contos de fada, revoluções são feitas de ambiguidades porque as pessoas de verdade são assim. Por fim, também não é o caso de dizer que transformações sociais para melhor só sejam possíveis no Ocidente, basta pegar o mesmo exemplo da participação da mulher em revoluções, e Olympe de Gouges não me deixa mentir, para saber que a conversa é outra.
Voltemos, pois, a Aliaa Elmahdy, a moça em questão. Uma jovem de vinte anos, com seus olhos grandes e assustados, longos cabelos cacheados, de uma beleza comum. A nudez que ela compartilha é espontânea - e é perfeitamente a espontaneidade e a partilha que o poder, cá e lá, não pode tolerar. O corpo não pode estar livre, não pode ser mostrado, se se rompe a ilusão de que realmente podemos fazer o quiser com ele - atearmos nele fogo, em uma situação limite, que seja, como no caso de Mohamed Bouazizi e seu providencial suicídio, do eventos chave da Revolução dos Jasmins na Tunísia.
A questão que a Revolução Egípcia, uma revolução de multidões no contexto de uma multidão de revoluções, é mais complexo que a mola mestra dos acontecimentos, a Tunísia: muito mais pobre do que a vizinha, o Egito possui menos organizações no qual uma revolução poderia se apoiar; enquanto tunisianos possuem, bem ou mal, sindicatos fortes, organizações estudantis capazes e um movimento hacker potente, os egípcios vivem às voltas com a ambiguidade das suas forças armadas (a mais poderosa organização do país), movimento islâmicos mais ou menos radicalizados em maior profusão - como forma de apassivamento da massa de explorados - e um cenário mais degradado.
Quem fez a Revolução no Egito? Jovens como Aliaa. Com menos apoio do que na Tunísia e vivendo lado a lado com organizações até ontem anti-Mubarak, mas que eram incapazes de articular qualquer reforma que fosse; todos partilhavam de tamanho imobilismo conservador que aderiram à Revolução apenas no seu curso, felizes pela oportunidade e desesperados pela caixa de pandora libertária aberta - sobretudo em relação à condição da mulher. Nesse sentido, gestos libertários como esse marcam um corte importante: o Egito que alguns pretendem construir é o mesmo, só que com eles no comando. Mubarak é e sempre foi um títere, um Berlusconi árabe, o que se enfrenta realmente não é uma pessoa, muito menos a dele, mas um sistema.
Nesse sentido, não é de se estranhar que as Forças Armadas, sorrateiramente, tenham se apoderado do Estado e, como se nada estivesse acontecendo, começaram a pôr em prática uma ditadura militar. O exército de Tantawi, tão anti-sionista quanto consumidor voraz de armas americanas, segue na sua arrogância, produzindo mortes sobretudo nos últimos e agitados dias: com dezenas de mortos na Praça Tahrir, caíram os ministros civis do regime e agora pesa sobre os líderes do país o peso de realizar eleições.
As relações de poder que os revolucionários precisam desconstituir são poderosas e complexas ao extremo. Com ou sem as necessárias eleições. O pode que eles enfrentam só caiu porque foi surpreendido, seu tapete foi puxado de forma magnífica, deixando seus próceres e apoiadores mundo adentro em pânico. Mas a capacidade de reconstituição e rearticulação dessas forças é imenso, vide a situação atual. Em uma sociedade que pode nos investigar e encontrar em qualquer parte e de qualquer forma, o devir partisan passa por se mostrar mais ainda: como Wikileaks, ou o começa dessa história toda, prova, o sistema contemporâneo é tanto mais um vampiro do que qualquer outra coisa, incapaz de lidar com a luz sobre si mesmo ou sobre os nossos corpos e mentes.
A questão que a Revolução Egípcia, uma revolução de multidões no contexto de uma multidão de revoluções, é mais complexo que a mola mestra dos acontecimentos, a Tunísia: muito mais pobre do que a vizinha, o Egito possui menos organizações no qual uma revolução poderia se apoiar; enquanto tunisianos possuem, bem ou mal, sindicatos fortes, organizações estudantis capazes e um movimento hacker potente, os egípcios vivem às voltas com a ambiguidade das suas forças armadas (a mais poderosa organização do país), movimento islâmicos mais ou menos radicalizados em maior profusão - como forma de apassivamento da massa de explorados - e um cenário mais degradado.
Quem fez a Revolução no Egito? Jovens como Aliaa. Com menos apoio do que na Tunísia e vivendo lado a lado com organizações até ontem anti-Mubarak, mas que eram incapazes de articular qualquer reforma que fosse; todos partilhavam de tamanho imobilismo conservador que aderiram à Revolução apenas no seu curso, felizes pela oportunidade e desesperados pela caixa de pandora libertária aberta - sobretudo em relação à condição da mulher. Nesse sentido, gestos libertários como esse marcam um corte importante: o Egito que alguns pretendem construir é o mesmo, só que com eles no comando. Mubarak é e sempre foi um títere, um Berlusconi árabe, o que se enfrenta realmente não é uma pessoa, muito menos a dele, mas um sistema.
Nesse sentido, não é de se estranhar que as Forças Armadas, sorrateiramente, tenham se apoderado do Estado e, como se nada estivesse acontecendo, começaram a pôr em prática uma ditadura militar. O exército de Tantawi, tão anti-sionista quanto consumidor voraz de armas americanas, segue na sua arrogância, produzindo mortes sobretudo nos últimos e agitados dias: com dezenas de mortos na Praça Tahrir, caíram os ministros civis do regime e agora pesa sobre os líderes do país o peso de realizar eleições.
As relações de poder que os revolucionários precisam desconstituir são poderosas e complexas ao extremo. Com ou sem as necessárias eleições. O pode que eles enfrentam só caiu porque foi surpreendido, seu tapete foi puxado de forma magnífica, deixando seus próceres e apoiadores mundo adentro em pânico. Mas a capacidade de reconstituição e rearticulação dessas forças é imenso, vide a situação atual. Em uma sociedade que pode nos investigar e encontrar em qualquer parte e de qualquer forma, o devir partisan passa por se mostrar mais ainda: como Wikileaks, ou o começa dessa história toda, prova, o sistema contemporâneo é tanto mais um vampiro do que qualquer outra coisa, incapaz de lidar com a luz sobre si mesmo ou sobre os nossos corpos e mentes.
é por essas que ano que vem, eu voltando a malhar direito, vou tentar trampo (mesmo sem remuneração pecuniária) na indústria do entretenimento adulto.
ResponderExcluirClaro, começarei pelo recrutamento que os pseudo-amadores, como Sean Cody, fazem. BelAmi eu queria, mas passei da idade. Falcon idem, mas jamais serei barbie.
Óbvio que não é só por isso: a lubricidade ajuda a lubrificar a subversão (que vocês chamam, mal-dita e equivocamente, Revolução, com R grande).
Aliaa Elmahdy levantou com a sua ação extremamente corajosa um problema que tanto as ditaduras árabes quanto as democracias ocidentais precisam enfrentar. O da condição da mulher no mundo(algumas reporteres internacionais foram violentadas por manifestantes na Praça Tahir nas últimas semanas simplesmente pelo fato de serem mulheres) O machismo em seu sexismo doentio e retrógrado é um problema da humanidade,extremamente sério,essa forma de ditadura absurda alimentada tanto no oriente quanto no ocidente(no Brasil uma uma patologia naturalizada pela cultura popular) tem que ser varrida o quanto antes do planeta.
ResponderExcluirSim, stanley, perfeito. Mas sobre a Praça Tahrir, é preciso ter cuidado com o seguinte: é preciso apurar bem esses casos de assédio e estupro contra jornalistas ocidentais porque, em grande parte, interessa à Junta Militar que esse tipo de coisa esteja acontecendo. Como o legendário Robert Fisk denunciou, já na ocasião da derrubada de Mubarak, agitadores e infiltrados eram escalados para produzir distúrbios por lá, agora, creio, não deve estar sendo diferente.
ResponderExcluirOlá, sou uma jovem (da idade da alyia), chamada Nur, e meus pais são egipcios. quando começaram os rumores de revolução no egito, compramos a passagem e fomos gritar pelos nossos direitos na Tahir!!! Sem dinheiro, sem nada, pois nao estavamos preparados... e ainda brincamos com uma expressão egípcia, se a revolução nao desse certo iriamos "vender bilila na tahir square" bilila é um doce tipico... e fomos até o fim da revolução! lógico que os dias mais dificeis preferi a casa de minha avó, mas meus irmãos sempre firmes! graças a Deus... posso confirmar que, assim como na libia... as mulheres fizeram diferença nessa luta no egito! Nosso grito, nossa força... fez diferença! e não fomos julgadas ou apedrejadas, ou mesmo sofremos violencia por irmos gritar nas ruas!
ResponderExcluircorrigindo uma coisa no seu post, não foram jovens como a Alyia que fizeram a revolução, porque ninguém precisou tirar a roupa, ir contra religião nenhuma (não só contra o islam, porque gritando "fora mubarak" tinham muçulmanos e cristaos) ou envergonhar a familia.
o que a Alyia fez, é como você deu entender, um desrespeito com o corpo dela...
é uma falta de respeito com os pais dela... e com Deus.
ela sozinha conseguiria o que?!
fama?! ela mora no egito! onde a maioria é muçulmanos... como ela tira a roupa assim?!
e Hugo... realmente as coisas não estão nada bem por lá, hoje minha avó ligou, disse que ainda estao acontecendo protestos... pessoas que agridem a policia... ta bem feia a coisa! mas é tudo "normal" porque o pais acabou de sair de uma ditadura... vocês não tem noção da vida no egito agora... é outra coisa!!! - antes, minha irmã pediu visto pra ir estudar la estava com bolsa na melhor faculdade do egito, al azhar... não deram o visto! a faculdade teve de intervir... só assim "deram".
o pais hoje... mudou muito! e ainda está sem um governo justo! insha Allah, eu realmente espero que o partido islamico ganhará... e tudo ficará bem!!!
quem quiser informações sobre o islam
nour.consolini@gmail.com
e um chat
www.chatislamonline.org/po
asalamou aleikum!!!
Olá, Nur, bonita história. Só discordo de um ponto: o que Aliaa fez com o próprio corpo não é desrespeito a ninguém, uma vez que ela fez consigo mesma e não obrigou ninguém a fazê-lo. Uma democracia depende desse respeito para que todos possam conviver. No demais, não me parece que os partidos islâmicos se emprenharam tanto pela libertação egípcia nos últimos anos, as pessoas comuns - simpatizantes deles ou não - sim. Não sou contra religiões ou quetais, mas sou anti-clerical sim, não acho que a participação da religião, qualquer uma delas,na política seja positiva - direta ou indiretamente.
ResponderExcluirabraços