The Chess Players --Schwartz (1958) -- daqui |
Nem PT, nem PSDB, contudo, vão bem, embora os dois apresentem, ainda, algum destaque nos municípios com mais de 150 mil eleitores: nas grandes capitais eles estão longe de monopolizar as disputas na forma da polarização que se repetiu, vejamos só, nos últimos cinco pleitos presidenciais. No lugar dos dois partidos que deram as cartas da política brasileira nos últimos anos, uma miríade de partidos médios e nanicos (como PRB em São Paulo ou PSC em Curitiba) surge com possibilidades reais de eleger prefeitos nas capitais. Mas não é errado dizer que o PSB de Eduardo Campos, governador pernambucano e aliado do Lulismo, rume para vitórias importantes saia do pleito fortalecido, inclusive com alianças com o PSDB (Curitiba, Belo Horizonte, Campinas etc) -- com um discurso gerencialista e pragmático, mas escapando ao elitismo que não à toa serve de rótulo ao PSDB, Campos fez seu partido nadar a braçadas, apostou alto e sua posição junto ao governo federal terá de ser renegociada para o alto, queira Dilma ou não, ainda mais depois do poder que ele passará a dispor no Nordeste, região fundamental para o PT no balanço de forças nacional.
Governadores bem avaliados -- como o próprio Campos, ou Sérgio Cabral no Rio -- caminham a passos largos para eleger correligionários seus nas capitais, mas isso não é regra geral e absoluta: governos razoavelmente estruturados como o de Tarso Genro (PT-RS) ou de Beto Richa (PSDB-PR) não parecem encontrar a mesma facilidade em disputas particularmente confusas. Existe uma fragmentação do eleitorado, uma dispersão radical num momento no qual quase todos os partidos são situação no plano federal, o que cria um impasse na disputa por vagas e espaços -- e deságua, afinal, nas disputas municipais.No estado de São Paulo, bunker tucano, os PSDB está longe da glória de outrora nas cidades acima de 400 mil habitantes. Se os tucanos conquistarão a petista Osasco, possivelmente em primeiro tuno, os petistas darão o troco, nos mesmos termos, em São José dos Campos, terra do desastre do Pinheirinho -- aliás, São José dos Campos que é a principal cidade do Vale do Paraíba, leste do estado, e reduto eleitoral do governador Geraldo Alckmin, que acabou, ainda, sendo suplantado em São Paulo capital com a entrada de Serra no jogo.
Na capital paulista, de onde escrevemos afinal, a entrada no jogo do desconhecido Russomanno -- que cresceu muito, se manteve durante muito tempo e só está cando agora -- embaralhou o jogo por completo, resultando em um empate técnico entre ele próprio, José Serra e Fernando Haddad às portas da votação. Pela primeira vez desde 2004, a política paulistana voltou a ser dividida em um tripé entre a direita -- não liberal, alojada em uma estrutura partidária fraca e dispensável e populista -- o centro, ou centro-direita, gerencial dos tucanos e a esquerda petista. Serra carrega o ônus de ser, afinal, o candidato de situação vindo na esteira de uma desgoverno como o de Kassab, mas tem seu eleitorado sólido que é precisamente aquele de classe média, refratário ao petismo e ao direitismo populista. Enquanto isso, a campanha de Haddad se viu obrigada a marchar em um terreno pantanoso, pois embora com experiência na administração pública ele é um estreante em eleições e teve de entrar em cena lutando contra a campanha midiática antipetista, o cancelamento de dois debates televisivos pelas duas principais redes de televisão -- Globo e Record, ambas apoiadoras de seus adversários -- e uma campanha rasteira da Igreja Universal e de políticos evangélicos que se usaram da estrutura, e de suas redes sobretudo na periferia, para eleger Russomanno. Não é fácil saber o que ocorrerá, mas a crise da cidade, solapada pela especulação imobiliária, extremamente poluída e com a vida cultural interdita e privatizada, apontariam para um governo difícil para Haddad, mas um aprofundamento da crise com Serra e, sobretudo, Russomanno.
No Rio, a aliança PMDB-PT encabeçada por Eduardo Paes levará fácil, em primeiro turno, com Marcelo Freixo do PSOL em segundo, o motivo, para além de questões eleitorais, é simples: o Rio é, enquanto cidade, o laboratório do Lulismo, dos investimentos e do êxito de certas políticas, ainda que o PT local seja burocratizado e pouco operante -- salvo alguns setores --, o que importa é o PT nacional e o governo federal, o que produz uma aliança fortíssima dentro de um contexto de melhora das condições de vida -- isso esvazia a contestação de Freixo, em uma cidade cujo histórico de prefeitos não é bom, é difícil pensar trocar um governo associado com um bom momento da cidade, a redução da violência, que conseguiu ser sede das próximas Olimpíadas e, ainda, com trânsito pleno junto a um governo federal popular, ainda mais cidade. O PSOL sai, contudo, fortalecido do processo, ainda que para conseguir êxito precise se aliar com a classe sem nome que ascende, saindo do mitologema da "sociedade civil organizada". Em Minas, mesmo que se veja como positivo o rompimento da aliança de Pimentel com Aécio Neves em prol de Márcio Lacerda (PSB), é preciso que a candidatura de Patrus Ananias (PT) cresça a ponto de levar o pleito para o segundo turno, do contrário, vai ser uma derrota importante. O quadro de Porto Alegre, com um desenho em forma de geleia geral destinado a reeleger Jorge Fortunati (PDT) já explode da pior maneira.
Os rumos do pós-mensalão, a crise mundial e a determinadas nuances da composição de forças que sai dessas eleições municipais -- São Paulo e o Nordeste são chave nessa história toda --, mas fica claro que apesar da sua popularidade, do aparente sucesso da intervenção de Dilma no plano macroeconômico -- mitigando os efeitos de uma crise mundial que se abate sobre o país desde 2008, agravando-se em 2011, mas cujas resposta dada este ano fez a economia se recuperar no presente trimestre -- sem um giro político politizante não estaremos tratando nem do risco de Dilma continuar no poder pelos próximos seis anos, supondo uma reeleição, de forma burocratizada, promovendo um termidor planejado (e, por isso, talvez igualmente mitigado) do Lulismo, mas sim do próprio termidor do Lulismo com impactos de reversão claros: se o Bolsa Família ou as políticas de distribuição de renda e emprego parecem um consenso, sem politização e com crise, isso pode desmanchar no ar. Enfim, é a política, e não a economia, a resposta.
P.S.: O Descurvo reitera novamente seu apoio a candidatura de Fernando Haddad (13) em São Paulo e a Gabriel Medina (13.321) em São Paulo, o primeiro por seu histórico e por ser a única candidatura aceitável na capital, o segundo por representar uma renovação importante no PT local.
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