De novo sou obrigado a voltar ao debate sobre a crise na mídia. A bola da vez é uma bisonha teoria tecida pela Folha sobre o passado da Ministra Dilma Rousseff na luta armada - acusações estranhas e desconexas sobre uma série de coisas, todas assentadas em informações supostamente prestadas pelo cientista político Antonio Roberto Espinosa. Detalhe: Espinosa alega que houve distorção de boa parte do que ele disse e ainda por cima desafia o jornal a publicar a entrevista que ele deu na íntegra como ilustra Idelber Avelar em seu blog e como repercute nosso amigo Eduardo Prado em seu Conversa de Bar.
Somado a isso, o jornal ainda entrevistou a Ministra e, numa boa, acabou por comprometer mais ainda sua tese na medida que Dilma, sempre sensata e precisa, acabou por inverter o jogo como ilustra com propriedade Mauricio Caleiro em seu blog - principalmente no momento em que lembra o "ato falho" cometido pelo referido jornal há pouco tempo. Acusações como o fato de que seu grupo planejava sequestrar o ex-ministro Delfim Neto ou que ela teria delatado colegas - o que para infelicidade do Senador Agripino Maia não aconteceu.
Isso aqui é só mais um exemplo daquilo que eu não me canso de repetir: A mídia ganhou poder político e hoje tem a capacidade de estabelecer narrativas e não apenas publicar as narrativas que outros setores produzem. No caso em tela, no entanto, a Folha o faz com a sutileza paquidérmica própria de Otavinho no seu ímpeto em derrotar o PT custe o que custar - o que dificilmente cola no Brasil contemporâneo, onde pouco a pouco o coronelismo é varrido, mas talvez ache alguma ressonância na São Paulo de hoje, que vive algo muito parecido com o que foi 68 para os franceses, só que ao contrário.
Hugo,
ResponderExcluirObrigado pelo link!
Eu ia escrever mais. A entrevista que a Dilma concedeu a repórter da Folha merece um post. Ele foi ótima!
A postura que o jornal FSP vem tomando é grave porque não adianta publicar uma errata depois ou conceder direito de resposta no dia seguinte. O título já foi lido. Não importa muito o conteúdo do artigo ou reportagem, a impressão que um título sensacionalista provoca naqueles leitores que não costumam fazer uma analise crítica do que lêem não vai se desfazer.
Só não escrevi outro post porque a minha conexão está muito ruim. Hoje (07/04) eu praticamente não consegui me conectar e o pior é que a Telefônica simplesmente não atendeu as minhas ligações ao suporte Speedy. Sempre sinal de ocupado!
Uma briga boa que eu gostaria de comprar é com a Telefônica. Está cada vez pior.
Hugo,
ResponderExcluirObrigado pelo link. Como você mesmo disse, no comentário que postou no blog do Eduardo Prado, isso é só uma amostra do que vai ser 2010. Muitas narrativas vão ser criadas.. a questão é saber: 1) Se ainternet vai serrealmente capaz de desmascarar as estratégias do Otavinho e similares na "grande imprensa"; 2)Até onde vai o grau de conservadorismo e ingenuidade de uma certa classe média paulista e o quanto ela é capaz de influir na eleição presidencial. Um abraço.
Eduardo,
ResponderExcluirConcordo em gênero número e grau. A questão da pujança política que os órgãos de mídia têm hoje no mundo pode ser um fenômeno relativamente novo, mas é bem concreto e quando isso vem acompanhado de interesses completamente descolados da ética, torna-se um verdadeiro desastre.
Sobre o Speedy, ontem aconteceu o mesmo comigo, conexão horrível e quando eu liguei para o suporte me avisaram que estava acontecendo um reparo no sistema em todo o estado - algo inteiramente lamentável na medida em que nenhum cliente foi avisado. É mais uma prova de incompetência da Telefonica e ao mesmo tempo um bom alerta para os entusiastas da rede: Esse novo meio de se comunicar que nos dá tanta liberdade e mobilidade está na mão de algumas poucas corporações, nos desconectar não é tão difícil assim e não faltam riscos de ingerência estatal - ver projeto de lei do Azeredo - ou sabotagem culposa ou não do grande capital das telecomunicações.
Sim senhor, é um belo assunto para um post.
abraços
Mauricio,
ResponderExcluirPegando o gancho do que eu falei pro Eduardo, vamos lá:
1. Depende do contexto e do que foi acontecer conosco até lá; não resta dúvida que há duas ameaças muito pungentes à Rede: Uma delas é o oligopólio das telecomunicações - inclusive Dantas já entrou nessa parada, percebendo o sinal dos tempos - a outra o Estado agindo em favor da censura e até da espionagem, como no caso Azeredo.
2. Olha, ingenuidade por parte da classe média paulista eu vejo muito pouca - diria que há ignorância sobre a política que eles defendem e suas consequências sobre o país e sobre si próprios. O conservadorismo em São Paulo tem um peso de mais ou menos um terço ou pouco menos sobre o eleitorado, o que pesa mesmo por aqui é o eleitorado de centro que, no entanto, vem tendendo muito mais para direita do que para esquerda nos últimos anos - O x da questão é a desorganização da esquerda no Estado e a sua incapacidade em construir uma narrativa em cima dos maus governos tucanos além do seu apetite autofágico, mas aí não é problema apenas da esquerda paulista...
A capacidade dela de influenciar eleitoralmente o país ainda é grande, mas passa ao largo do que fora até os anos 90 - Alckimin que o diga.
abraços
Mauricio e Hugo,
ResponderExcluirEu diria que existe sim certa ingenuidade, principalmente em relação à Classe Média baixa. Mas há também muita ignoranância, tanto por parte da Classe Média alta quanto da Média baixa, que aliás, é maioria entre os eleitores. Alguns veículos como a Veja e a Folha de S. Paulo continuam sendo referência para muitos leitores dessas classes sociais e muitos deles não são leitores críticos. Se foi publicado, é verdade. Lembrei-me de uma frase conhecida de quem não conheço o autor: No Brasil, opinião pública é a opinião publicada.
Por outro lado, acho que a medida que as elições foram se aproximando e Dilma seja confirmada como a cadidada do PT, pode acontecer desses mesmos veículos procurarem manter um tom mais equilibrado em relação a ela, pelo menos na aparência, caso contrário cairá na própria armadilha em que pretende derrubar a Ministra e ficará claro, para quem ainda não está, que os jornais brasileiros não estão a serviço da informação e da verdade, mas de ajudar a eleger os candidatos dos grupos aos quais pertencem.
Eduardo,
ResponderExcluirSem dúvida, analisar as variáveis que envolvem o pensamento médio da classe média paulista é algo bem complexo mesmo - não obstante as próprias diferenças entre o a classe média paulistana e a classe média do interior.
O que eu coloquei ao negar uma possível ingenuidade no discurso político assumido por parte desse substrato é que, não raro, pessoas comuns assumem uma retórica obviamente falaciosa que esconde ao mesmo tempo que busca justificar uma crença num individualismo antiquado e num provincianismo pretensioso, mas ao mesmo tempo em que isso acontece, verifica-se que é uma profunda ignorância sobre as suas consequências.
De fato, entre a classe média e entre a pobreza, papagaia-se um suposto senso comum que nada mais é que a expressão da ideologia dominante - coisas como "isso é devia ser administrado como uma empresa" no que se refere a um hospital, por exemplo.
Claro, isso não é geral. Há um poderoso eleitorado progressista em São Paulo e tanto isso é verdade que os próprios setores de direita tiveram de mudar, aceitando, na medida de seus interesses, coisas como os direitos humanos e os direitos civis.
O que define uma eleição por aqui, no entanto, é uma parcela muito grande do eleitorado, algo entre 33% e 40% do eleitorado, que formaria um grande centro por moderação ou muitas vezes por desconhecimento ou desinteresse sobre política - e é esse eleitorado que o PT desarticulado e rachado no estado não está sabendo atrair.
No âmbito de uma eleição nacional, porém, as coisas mudam um pouco porque surge o fator de um provincianismo mais ou menos velado que foi usado com bastante habilidade por Alckimin na última eleição - a crença na São Paulo como locomotiva do país - e atrai votos para além da direita.
A influência dos meios de comunicação aos quais você se referiu, por incrível que pareça, é maior na classe média-alta do que entre os pobres; pondo de lado os profissionais da área de mídia e alguns outros que, admitindo ou não, sabem o que realmente está acontecendo, há ainda uma profunda confiança neles - o que tem infinita explicações sociológicas, dentre elas, a luta permanente das elites desse país em extirparem o pensamento crítico como forma de garantir a dominação com a exaltação, inclusive, de um suposto pensamento técnico "puro" que é um eco do positivismo.
Sobre uma campanha de Dilma, há outras tantas possibilidades, mas tenho minhas preocupações sobre o que poderá acontecer ainda nos próximos meses na medida em que ela continuar crescendo nas pesquisas...
abraços