sábado, 31 de outubro de 2009
CA 22 de Agosto - Resultado do Primeiro Turno
Seguem os números do Primeiro Turno da eleição para o CA 22 de Agosto:
1º Construção Coletiva _ 525 votos (45,77%)
2° Áporo _ 373 votos (32,51%)
3º Novação _ 249 votos (21,70%)
Total de votos: 1147
Portanto, haverá segundo turno e ele será disputado pelas chapas Construção Coletiva e Áporo na quinta-feira da semana que vem.
domingo, 25 de outubro de 2009
Eleições no 22
Este blog permanecerá paralisado até a semana que vem por conta das eleições para o Centro Acadêmico 22 de Agosto da Faculdade de Direito da PUC-SP. Daqui a sete dias espero retoma-lo com uma postagem justamente sobre o processo eleitoral.
Até breve
Até breve
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Esclarecimentos, Razões e Paixões
Choveu bastante hoje em São Paulo. Aliás, tomei uma baita chuva. Meu Palmeiras, por sua vez, tomou ferro do Flamengo ontem - não pude acompanhar o jogo, não vi ainda os gols, mas já suspeitava de que um espectro esquálido realmente rondava o Palestra por esses dias. Também ando muito ocupado com uma série de coisas na Universidade, desde política estudantil até os estudos - e tenho extraído algumas experiências interessantes de ambos. Talvez as conte um dia, talvez isso nunca aconteça, mas uma coisa que me tem ocorrido é o quanto toda a questão do Iluminismo merece um debate sério: Ainda nos vemos às voltas com a Escolástica; ela realmente insiste em não morrer nos mais variados - e inesperados - setores. Será que o Esclarecimento ainda estaria seguindo um tortuoso curso histórico rumo a sua consolidação ou, simplesmente, ele teria falhado por não considerar corretamente o peso e a profundidade que a tensão dialética entre razões e paixões tem na composição do nosso ser? Não seríamos vítimas de uma acidente cósmico que nos produz racionais ao mesmo tempo em que desesperadamente passionais? Não nos arrastaria a razão para a vertical enquanto a paixão faz o mesmo na direção horizontal, nos restando apenas a vã esperança de que uma hipotenusa ideal nos impeça de ser partidos ao meio? Nesses dias que se seguirão O Descurvo seguirá num ritmo mais lento do que o habitual. Sigo tentando interpretar o mundo e, quem sabe, muda-lo nem que seja um pouquinho.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Postagem sem Título
(Hamlet e Horácio no Cemitério - Delacroix)
A primeira coisa que eu fiz de maneira aficcionada na vida foi entender de carros. Com menos de cinco anos, eu já sabia diferenciar um Monza de um Chevette, sabia o que era uma Variant, uma Brasília. Nesses tempos, eu odiava estudar. Mamãe tentava me alfabetizar e eu fazia corpo mole, esperneava e até chegava a chorar de manha - sentia preguiça mesmo, aquilo era uma tortura pra mim. Eu gostava mesmo era de ouvir histórias, ver TV etc. Acho que só senti mesmo vontade de ler quando minha mãe me mostrou o primeiro gibi que eu vi na vida; desandei a decorar o alfabeto, juntar sílabas e poucos meses depois já conseguia ler. Era formidável!
Entrei na escola com seis anos já alfabetizado e tão logo desandei a ler livros - especialmente os de História. Adorava os Antigos, principalmente os gregos; as histórias das Guerras Greco-Pérsicas me causavam fascínio assim como a mitologia helênica - mas nunca, nunca gostei dos romanos. Fui um aluno razoável na primeira série, mas ainda era meio preguiçoso, só tive vontade de estudar as coisas de escola a partir de algum ponto da segunda série - cumpria as obrigações da escola por conta daquela coisa de filho único mimado que queria sempre tirar boas notas, mas gostava mesmo era de estudar as minhas coisas.
Comecei a simpatizar com ideias socialistas na sétima série depois de toda uma infância de militância liberal - acreditem, não é fácil fazer uma autocrítica dessas tão cedo. Acho que cheguei ao ápice do meu extremismo lá pela oitava série, mas mesmo aí eu nunca fui sectário: Fazia coisas que deixavam meus professores perplexos, fazia perguntas-tabu sobre a União Soviética, os questionava e no fim das contas, eu era um socialista mais independente do que o Trotsky - acho que, no fim das contas, eu era um marxista-hugoísta, sei lá. Continuei por aí no início do segundo grau só que com uma atitude mais niilista, odiava FHC e odiava o Governo Lula, meus professores - de esquerda, em geral - ficavam meio preocupados comigo.
No fim das contas, empurrava a escola com a barriga, odiava a minha adolecência, tinha amigos que adoravam quadrinhos e heavy metal - apesar de ser o único no grupo que, estranhamente, não gostava de rock - e me dedicava à prática do humor negro e à arte da polêmica. Vivia intensamente uma vida vazia e solitária. Nem pensava no futuro. Acho que terminei o Segundo Grau mesmo por insistência dos meus pais. Não tinha motivação. Não era feliz. Passei um ano sem fazer nada até que insistiram para que eu voltasse a estudar - não me lembro o que eu fiz nesses dois anos, talvez tenha trabalhado um pouco com eles, mas de resto foi um período incerto, obscuro e improdutivo. Fui estudar Direito há pouco mais de um ano e meio num ritmo de "então tá" e desde então tive experiências interessantes, fiz bons amigos e me tornei politicamente algo que eu não consigo me determinar, mas que as pessoas insistem em definir como socialista-libertário - passei a compreender melhor quem pensa e age de um modo diferente do que o meu e percebi que o buraco da humanidade é mais embaixo.
Mas também me tornei mais pessimista com uma série de coisas: Com o nosso futuro, com a minha geração. No fim das contas, acho que o navio não vai mais bater no rochedo: Ele já bateu. Nós é que estamos a idealizar infantilmente as tábuas de salvação que acabamos por abraçar - e só o futuro dirá se isso foi um lance de sorte ou de extremo azar; de repente, seria melhor termos morrido no naufrágio, afinal, sempre há coisas piores do que a noite eterna.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Um Pouco de Futebol
Eliminatórias
Ontem, a Seleção Brasileira, já classificada para o mundial da África do Sul, perdeu da Bolívia, uma das lanterninhas das eliminatórias sul-americanas por 2x1, fora de casa. Assisti o jogo só hoje - como já disse, há tempos não tenho muito ânimo para asistir jogos da Seleção, em parte por tudo que cerca a CBF, em parte por toda essa desterritorialização do futebol que faz as seleções nacionais cada vez mais fazerem menos sentido. Não vou ser aqui saudosista, de repente, essa desnacionalização do futebol tenha lá suas vantagens, mas o fato é que as competições de seleções deixa de fazer sentido. De qualquer modo, Dunga realiza um trabalho lapidar no comando técnico da Seleção sabendo administrar toda a burocracia, impedindo que os incêndios comecem com seu conhecimento de causa. No fim das contas, ele só está provando que para ser técnico da Seleção, mais do que entender de futebol, é preciso ser um político habilidoso - e isso, ele é. A derrota de ontem, por exemplo, foi irrelevante e só o foi por tudo que o time construiu ao longo da competição.
Por outro lado, o Paraguai, esse tão esnobado vizinho nosso, manteve a estabilidade dos últimos anos e disputa com o Brasil a primeira posição na tabela - se firmando como a terceira força do continente. Nessa última rodada, cravou 2x1 na Venezuela, fora de casa. Quem também chega, por sua vez, é essa nova - e excelente - geração do futebol chileno liderada por Valdivia; o time mandou 4x2 na Colômbia e está na África do Sul. Das vagas que restam, a Argentina de Maradona, dramaticamente - como tudo tem de ser naquele lado do Rio da Prata - se manteve na disputa batendo o irrelevante Peru por 2x1, agora irá para o Uruguai jogar o tudo ou nada contra esse seu rival clássico que também tem chances de chegar à Copa. Não sei se a Argentina passa, mas se passar, pode ser tão perigosa quanto o Brasil de Felipão em 2002. Equatorianos e venezuelanos ainda têm chances de chegar lá e agitam essa rodada das eliminatórias.
Brasileirão
O Palmeiras, líder, foi com o mistão para Recife e tomou um cacete homérico do Náutico, 3x0. Desfalcado por conta da Seleção, contusões e suspensões bobas, o time paulista perdeu a oportunidade de matar o campeonato nos dois últimos jogos, nos quais, além da sarrafada que tomou hoje, empatou com o Avaí em casa enquanto seus adversários diretos pelo título apanharam. De qualquer modo, o Palmeiras está com cinco pontos sobre segundo colocado. Por sua vez, o Náutico jogou uma de suas boas partidas, daquelas que animam sua torcida para depois se perder em um mar de derrotas ridículas; hoje, diante do virtual rebaixamento de Fluminense e Sport, ele praticamente disputa uma vaga na Série A com Botafogo e Santo André.
O São Paulo, depois da derrota verde, voltou ao campeonato. Vai para uma verdadeira decisão contra o Atlético-MG em casa; quem perder dá adeus à briga pelo título - e o empate é o abraço da morte, ainda mais depois da derrota do Atlético no clássico contra o Cruzeiro. Inter e Goiás dependem muito da próxima rodada. O Flamengo, idem - e joga contra o Palmeiras, fora. Grêmio e Cruzeiro poderão chegar entre os quatro? É questão de dar um gás, agora.
sábado, 10 de outubro de 2009
Considerações sobre o Nobel de Obama
Em um primeiro momento, nem vou entrar no aspecto se Obama mereceu ou não ganhar o prêmio Nobel da Paz deste ano. Sejamos razoáveis, o Nobel é uma premiação claramente política direcionada para todos aqueles que, filhadaputisticamente ou não, livraram o mundo de algum fardo terrível - se fosse um prêmio dado apenas para os santos entre o santos, Madre Teresa de Calcutá não estaria figurando na mesma lista que Henry Kissinger, se é que vocês me entendem.
A novidade na vitória de Obama é que ele deve ser um dos primeiros laureados não pelo que ele fez, mas pelo que esperam que ele faça - então, o prêmio teve uma conotação de apoio político em um momento particularmente complicado do mandato do atual presidente americano. O fato é que os EUA, hoje, são um grande problema para o mundo; como prova a História, qualquer potência que esteja vivendo um momento de queda na importância econômica relativa - e tente compensar isso com ampliação nos gastos militares - equivale a uma bomba-relógio - atômica, no caso.
Nunca é demais lembrar que Obama caiu como uma luva para a comunidade internacional dado o grau de periculosidade do Partido Republicano - excrescência entre excrescências de um sistema político-partidário falido. Longe de ser o messias, Obama representa o freio para uma eventual escalada para o Juízo Final. Sua Presidência, no entanto, é fraca. Sua debilidade se revela, por exemplo, no fato de que ele teve de ceder o Departamento de Estado para Hillary Clinton pelo simples fato de que não controla a própria máquina de seu partido.
Eventuais busca pela defesa de certos princípios nas relações internacionais são atropeladas pelas manobras de poderosos grupos de interesse específicos, os quais se usam tanto dos megafones midiáticos quanto de bons lobbies em Washington; tal é a força dessa gente, que estamos vendo a Casa Branca tomar verdadeiros dribles da vaca como nunca antes na História - como provam tanto o golpe de Estado em Honduras quanto a instalação das famigeradas bases militares na Colômbia, o que contradiz com a política de distensão em relação a AL que Obama iniciou e anunciou.
O estado de coisas nos EUA é tão grave que o chefe de estado é acusado de ser socialista por propor um sistema de saúde universal e quase ninguém se dá conta da insanidade que uma campanha dessas representa; tão grave quanto, é aquela velha tentativa de 'explicar' como é normal o fato de um país com 300 milhões de habitantes ver sua cena política ser dominada por apenas dois partidos.
Nesse sentido, o Nobel de Obama foi, nada mais nada menos, que um voto de confiança da Comunidade Internacional para o líder americano, um lembrete para os grupos que o estão acossando de que as coisas não serão tão simples caso eles queiram levar essa escalada até o fim. Haverá saída para Obama e para os EUA? São dúvidas que não querem calar. Para Gorbatchiov e para a URSS, não houve - mesmo com Nobel para Gorby e tudo mais.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
MST
Já estava devendo uma postagem sobre o MST há tempos. Em especial, quando a nova escalada de histeria contra o movimento se acirrou com o assassinato de Elton Brum da Silva, trabalhador rural sem-terra, nos fins de agosto no Rio Grande do Sul - a tese VIII de Benjamin sobre a História faz um enorme sentido quando analisamos a situação agrária nacional; o estado de exceção é mesmo regra geral, apenas existem momentos em que as coisas estão mais ou menos tensas (e neste momento, ela é enormissíma).
Brum foi assassinato com doze tiros nas costas pela Polícia gaúcha e se tornou mais um mártir na luta por dignidade e justiça social no campo. Vejam os senhores que após isso, a mídia corporativa nacional encampou uma campanha fortíssima ao pior estilo cortina de fumaça; de repente, surgiram 'denúncias' sobre um 'escandalo' envolvendo financiamento público para entidades ligadas ao MST na capa de um famoso semanário noticioso e, logo depois, a bancada ruralista tirou da manga o seu factóide ao tentar puxar uma CPI em relação a isso.
Isso resultou em uma pesada reação de intelectuais de todo o mundo que encaparam o Manifesto em Defesa da Democracia e do MST , o que serviu como um belo instrumento de pressão política, ajudando os setores democráticos do Congresso a, felizmente, barrarem tal movimentação - um jogo diversionista dos mais cínicos entre os tantos jogos diversionistas cínicos da nossa história; imaginem: subitamente, o fato de um trabalhador rural ter sido brutalmente assassinado por uma autoridade - em um contexto de verdadeira guerra civil decorrente da mais aviltante concentração de terras do mundo contemporâneo -, precisa ser escondido e jornalistas e políticos se prestam a tal serviço.
Talvez, no alto de sua iniquidade, temiam que isso gerasse algum tipo de propaganda positiva para o movimento, pois é assim que eles, em sua torpeza, entendem que foi Eldorado dos Carajás - um dos episódios dos mais hediondos da era pós-88; aliás, foi aí que ouvi falar do Movimento pela primeira vez na minha vida. Agora, a nova jogada dentro da atual rodada é a campanha de difamação promovida pela mídia corporativa contra a ação do MST em uma fazenda do interior paulista que, na verdade, não passava de uma terra da União grilada por uma corporação que atua no Agronegócio, mais especificamente, na plantação de laranjas para exportação. Isso rendeu um dos mais belos posts que eu li nos últimos meses nessa blogosfera de meu Deus - lá no blog do grande Maurício Caleiro:
"O MST é detestado por todos: da direita ruralista à esquerda chavista, passando por tucanos, petistas, psolentos, verdes, azuis e amarelos. Mesmo os que fingem apoiar o MST o detestam.Isso porque há uma antipatia ancestral e inata contra o MST, esse arquétipo de nosso inconsciente coletivo, esse cancro irremovível que insiste em nos lembrar, mesmo nos períodos de bonança, que fomos o último país do mundo a abolir a escravidão e continuamos sendo uma porcaria de nação que jamais fez a reforma agrária.
O MST é o espelho que reflete o que não queremos ver.
Há duas questões, na vida nacional, que contradizem qualquer discurso político da boca pra fora e revelam qual é, mesmo, de verdade, a tendência ideologica de cada um de nós, brasileiros: a violência urbana e o MST. Diante deles, aqueles que até ontem pareciam ser os mais democráticos e politicamente esclarecidos passam a defender que se toque fogo nas favelas, que se mate de vez esse bando de baderneiros do campo, PORRA, CARAJO, MIERDA, MALDITOS DIREITOS HUMANOS!
O MST nos faz atentar para o fato de que em cada um de nós há um Esteban de A Casa dos Espíritos; há o ditador, cuja existência atravessa os séculos, de que nos fala Gabriel García Márquez em O Outono do Patriarca; há os traços irremovíveis de nossa patriarcalidade latinoamericana, que indistingue sexo, raça, faixa etária ou classe social:
O MST é o negro amarrado no tronco, que chicoteamos com prazer e volúpia.
O MST é Canudos redivivo e atomizado em pleno século XXI (...)"
Sem dúvida, o MST é tudo isso e muito mais; ele é uma das muitas possibilidades que o perene estado de exceção do campo poderia ter produzido - e é a melhor que poderia ter se tornado realidade em um país como o nosso, onde nem mesmo as possibilidades razoáveis se concretizam. O MST é isso justamente pelos motivos que o Maurício nos aponta: Ele nos joga na cara, sejamos direitistas, centristas ou esquerdistas, a terrível verdade sobre a qual esse país foi construído; aquilo que mesmo os oligarcas que o produziram têm coragem de olhar; aquilo que os liberais não sabem explicar; aquilo que faz os social-democratas corar; aquilo que humilha os socialistas atestando o seu fracassar. Essa terrível verdade é o inominável abismo que choca qualquer vivente que se presta a encara-lo. Que desenvolvamos a coragem de encarar esse abismo e usemos isso como o elemento motivador da nossa ação - e que ela seja definitiva e, sobretudo, verdadeira.
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
A Itália de Berlusconi
é um país assustador, sem dúvida. Desde que a República foi posta abaixo na Roma Antiga, os italianos se encontram às voltas com figuras bisonhas na Política de tempos em tempos; elas não apenas representam um tom trágico para a política daquele país como também imprimem um certo ar cômico; de um Calígula até um Berlusconi passando por um César Bórgia, resta um algo de terrível somado ao mais profundo ridículo.Para se ter uma ideia do que é o atual premiê do país, Silvio Berlusconi, é preciso imaginar o que daria uma mistura de Silvio Santos, Paulo Maluf e Don Vito Corleone. Agora, imagine isso governando o seu país. Bem-vindo à Itália.
A Itália que chega a essa situação é o país que passou séculos fragmentado, convivendo com guerras fratricidas que decorriam tanto do ímpeto dominador de monarcas de toda Europa como da canhestrice dos seus líderes regionais - para o horror de gênios como um Dante ou um Maquiavel - para depois ver que da sua reunificação nasceu um país disfuncional; é esse o terreno fértil que produziu o Fascismo, uma ideologia que resultou em um movimento social e político cujo precursor, o jornalista Benito Mussolini, acreditava em um Estado forte como articulador das relações entre capital e trabalho para assim, corporativamente, construir uma espécie de utopia pós-liberal e anti-comunista - o sistema ideal para sustentar o Capitalismo. Sua fantasia nacionalista e autoritária era fruto de uma óbvia exacerbação do romantismo: O que se refletia por meio de sua visão idealista de História que o fez buscar no ufanismo em relação ao passado glorioso da Roma Antiga as bases e as palavras de ordem para levar esse projeto adiante.
O Fascismo deixou marcas difíceis de apagar em toda a Europa a ponto de virar um termo lato - e o próprio Fascismo italiano ser visto como tipo estrito emparelhando-se com o Nazismo, o Salazarismo e o Franquismo em um organograma da Ciência Política, ainda que historicamente os tenha antecedido e inspirado - assim como inspirou boa parte da ideias por detrás do nosso Varguismo. Como os demais regimes fascistas na Europa, o Fascismo acabou com seu próprio país enfiando-o de cabeça na Segunda Guerra Mundial. O país que emerge do conflito está destruído e vivendo uma profunda crise de valores; nesse quadro as forças esquerdistas tornam-se um poderoso elemento político e causam preocupações severas nas potências ocidentais.
A Itália do pós-guerra é uma república parlamentar na qual a Democracia Cristã surge como força hegemônica amparada pela Igreja, pelos setores conservadores do país, pelos EUA e pela própria Máfia enquanto o Partido Comunista Italiano, maior agremiação comunista da Europa Ocidental se afigura como uma força política enormíssima - mas o Partido de Gramsci não consegue ser suficientemente duro para fazer a Revolução nem suficientemente flexível para se tornar governo e o jogo político fica na mão dos democratas cristãos pelas décadas seguinte. Esse cenário piora nos anos 60 e 70 quando as contradições da industrialização tardia, regionalmente desequilibrada e socialmente desigual produz as inquietações políticas que tornaram aquela época conhecida como os anos de chumbo - época em que parte da esquerda partiu para a luta armada, a direita praticava atentados sob bandeira falsa e a máfia grassava.
No fim dos anos 80 e início dos anos 90, a velha ordem do pós-guerra é alterada quase como por um vendaval; o colapso soviético joga o PCI numa desnecessária - e fatal - crise e a operação mãos limpas simplesmente liquida com a Democracia Cristã revelando a ligação de boa parte de seus membros com a máfia. Resta um vazio político - uma crise de hegemonia, como diria Gramsci. No fim dos anos 90, isso é preenchido com o primeiro governo de esquerda do país; aquele liderado pela Democracia de Esquerda, uma das agremiações que sucederam o PCI; em seu comando estão Romano Prodi e Massimo D'Alema. Isso, no entanto, não muda a sorte italiana produzindo os estragos necessários para que Berlusconi suba ao poder depois de uma breve passsagem pelo poder após o Governo Ciampi.
Nosso personagem, um ex-crooner, magnata das comunicações, dono de um time futebol, conquistador e político nas horas vagas é a figura burlesca que vai dominar a cena política italiana no início do século que começa por cinco anos - sendo um dos mais fiéis aliados de Bush na Europa Ocidental. Seu Governo é marcado por um corrupção aguda severa e por uma inoperância ímpar. Romano Prodi, por meio de uma ampla aliança de esquerda e centro o derrota em 2006 para ver seu governo virar água em pouco menos de dois anos e assim permitir que Berlusconi volte. Por ora, os holofotes da mídia preferem se voltar para os chocantes - mas politicamente irrelevantes - acontecimentos de sua vida privada, esquecendo do mais importante que é a profunda crise política e social que persiste na Itália.
Há poucos dias, o Tribunal Constitucional Italiano declarou incontitucional a lei que garantia a imunidade do chefe de governo e agora ele irá responder às toneladas de processos nos quais é réu como um reles mortal. Sem dúvida, uma decisão política da suprema corte italiana movida pelo desespero de ver a chefia de governo do seu país sequestrada por um louco - e ainda há quem leve a sério o que as autoridades italianas falem a respeito do processo de extradição de Cesare Battisti. Do ponto de vista partidário, temos o início do fim de Berlusconi, mas a pergunta que fica é: Após o dilúvio, o que virá?
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Santos 1x3 Palmeiras
A grande contribuição de Muricy Ramalho como treinador foi conseguir aplicar em times brasileiros um conceito de disciplina tática e frieza psicológica comum apenas aos alemães e povos nórdicos. Os times de Muricy são isso daí mesmo, mantêm o mesmo ritmo e coerência do início ao fim enquanto os adversários alternam ao longo do mesmo jogo - o que é perfeitamente comum ao nosso futebol.
Falta ao treinador palmeirense, no entanto, conseguir produzir aquela faísca necessária para vencer mata-matas. Telê Santana demorou bastante tempo até conseguir, mas quando conseguiu, deslanchou. Creio que o mesmo tende a acontecer com Muricy.
Hoje, Palmeiras e Santos se anularam taticamente e se equivaleram tecnicamente ao longo do primeiro tempo - o que siginifica que o Palmeiras jogou muito menos do que pôde, dada a diferença técnica entre as duas equipes.
Na segunda etapa, o Santos começou melhor e numa jogada de Neymar, o melhor em campo até então, a equipe abriu o placar. O ponto de inflexão do jogo foi quando Marcos pegou uma bola difícil do mesmo Neymar; o time acordou, soube aproveitar a falha da zaga no gol de empate, produziu um belo lance com Diego Souza para Robert e depois enfiou um contra-ataque mortal e definitivo para fechar a fatura com Vagner Love.
Foi um balde de água gelada na nuca do São Paulo, afinal de contas, a vitória do tricolor contra o Náutico no Recife foi nada menos do que heróica e credenciaria o time do Morumbi a fungar no cangote verde caso o time da Água Branca não vencesse o Santos. Por outro lado, a derrota do Inter em Curitiba assim como a vergonhosa derrota do Goiás em casa, praticamente tiram essas equipes da briga pelo título.
Agora, o Palmeiras joga um peso enorme sobre os seus adversários diretos e creio que tenha colocado uma mão na taça hoje à tarde.
Falta ao treinador palmeirense, no entanto, conseguir produzir aquela faísca necessária para vencer mata-matas. Telê Santana demorou bastante tempo até conseguir, mas quando conseguiu, deslanchou. Creio que o mesmo tende a acontecer com Muricy.
Hoje, Palmeiras e Santos se anularam taticamente e se equivaleram tecnicamente ao longo do primeiro tempo - o que siginifica que o Palmeiras jogou muito menos do que pôde, dada a diferença técnica entre as duas equipes.
Na segunda etapa, o Santos começou melhor e numa jogada de Neymar, o melhor em campo até então, a equipe abriu o placar. O ponto de inflexão do jogo foi quando Marcos pegou uma bola difícil do mesmo Neymar; o time acordou, soube aproveitar a falha da zaga no gol de empate, produziu um belo lance com Diego Souza para Robert e depois enfiou um contra-ataque mortal e definitivo para fechar a fatura com Vagner Love.
Foi um balde de água gelada na nuca do São Paulo, afinal de contas, a vitória do tricolor contra o Náutico no Recife foi nada menos do que heróica e credenciaria o time do Morumbi a fungar no cangote verde caso o time da Água Branca não vencesse o Santos. Por outro lado, a derrota do Inter em Curitiba assim como a vergonhosa derrota do Goiás em casa, praticamente tiram essas equipes da briga pelo título.
Agora, o Palmeiras joga um peso enorme sobre os seus adversários diretos e creio que tenha colocado uma mão na taça hoje à tarde.
domingo, 4 de outubro de 2009
O Futuro do PSDB, do Serrismo e de um improvável PSB
Ultimamente, três coisas têm me inquietado profundamente na política nacional: Os rumos do PSDB no país, o fenômeno do Serrismo e essas - aparentemente estranhas - movimentações que estão ocorrendo no até então irrelevante PSB paulista. Então, resolvi fazer esse post para tentar levantar algumas questões, pontuar outras tantas e tentar relacionar o que está acontecendo por meio de uma análise conjuntural do complexo sistema político-partidário brasileiro.
O PSDB e Serra
Qualquer pessoa que acompanha o noticiário político-partidário nacional com mínima assiduidade sabe o quanto José Serra quer ser Presidente da República. Por sua vez, qualquer pessoa que conheça a história do governador paulista sabe o quanto ele quer isso desde os anos 60. É curioso, no entanto, pensar sobre o quanto esse desejo de poder de um único interfere na existência e no funcionamento do PSDB, uma das maiores agremiações nacionais - e também o partido que dentre os grandes sempre foi o que mais refletiu uma certa esquizofrenia ideológica: O PT nasceu com o propósito de ocupar um espaço bem claro na esquerda - a confusão ideológica só veio depois por aquelas bandas -; o DEM nunca teve dúvidas sobre o que defende e que tipo de país ele deseja; o PMDB é uma artificialidade criada pela Ditadura e desde o momento em que nasceu já carregava a natureza cacofônica que hoje beira o irracional.
Peguemos os fins dos anos 80: Enquanto uma ala tucana se encantou com a boa nova do Consenso de Washington como fizeram FHC - maquiavelicamente - e Covas - de forma mais ética -, outra ala se colocava na posição de uma terceiravia desenvolvimentista que servisse de opção à visão social-democrata radical do PT dos fins dos anos 80 e ao Atraso representado pelas oligarquias - e nesse grupo se destacavam o próprio Serra além Bresser. A primeira ala saiu na frente e ganhou as brigas inciais como há de se perceber pelas candidaturas à presidência de Covas em 89 e de FHC em 94 assim como a própria forma que o Plano Real foi conduzido em seus primórdios - à contragosto de Serra que ainda assim se manteve ocupando posições tecnocráticas nesse sistema (chegando a ponto de bloquear dentro do Partido o então neoliberal fervoroso Ciro Gomes).
Oito anos de Governo FHC e Serra sai como candidato à Presidência em 2002. Durante a campanha acrescenta mais um grande atropelamento político no seu currículo: O esmagamento da candidatura Roseana Sarney por vias pouco usuais. No entanto, arca com o ônus do fracasso econômico do governo FHC, da crise em que o país se encontrava e com a força do novo petismo nascido na Carta ao Povo Brasileiro. Jogando da maneira que lhe é peculiar, acaba suplantando as candidaturas Garotinho e Ciro, chega ao segundo turno, mas é derrotado por Lula. Tudo isso para ressucitar dois anos mais tarde ao se eleger prefeito de São Paulo - na medida que soube explorar eleitoralmente muito bem algumas debilidades do Governo Marta, para depois abandonar a prefeitura um ano depois para concorrer para o Governo do estado de São Paulo e vencer um PT desorganizado e rachado cujo candidato era Mercadante.
A vitória de Serra para governador marca o ponto do nascimento do Serrismo. Serra passa a se dedicar dia e noite para 2010, aparelhando a máquina do partido, construindo estrategemas contra seus adversários internos e articulando uma aliança peculiar com a mídia corporativa nacional para assim ter a massa muscular suficiente para poder peitar a gigantesca popularidade de Lula. Seu governo é um assombro; como acentua frequentemente Luís Nassif, não há secretários, não há coadjuvantes, tudo é uma peça de marketing em torno do nome e da figura do governador. Isso chega a um patamar perigoso quando da sabotagem da candidatura de seu correligionário Geraldo Alckmin nas eleições municipais da Capital em 2008; Serra elege o Demista Kassab, seu vice na prefeitura simplesmente para marcar posição dentro de seu partido. Daí em diante, se intensificam as manobras para bloquear a candidatura de seu correligionário, o governador mineiro Aécio Neves - em um verdadeiro jogo de vale tudo nas entranhas do partido.
O governo Serra, por sua vez, não avança nos direitos sociais: A saúde e a educação pública do estado permancem indo mal; há uma preocupação muito grande com o equilíbrio das contas do estado, mas medidas pertecentes aos distantes anos 90 são empregadas tendo como resultado uma estagnação do avanço da eficiência do setor público no estado; a defensoria pública é criada, mas a sua estrutura é tão ruim que parece uma piada de mal gosto; a política para o ensino superior é desastrosa, como as intervenções absurdas na USP demonstram; o funcionalismo público está sucateado e não consegue exercer o seu trabalho. No entanto, é no que concerne os direitos individuais que ocorre o maior retrocesso: A intervenção policial na USP é um grande exemplo disso - assim como o uso de força policial militar contra os policiais civis grevistas - e, por outro lado, temos a punitivista e paranóide lei anti-fumo.
O Serrismo se afigura como uma doutrina personalista que obriga todo o PSDB girar em torno do governador paulista e assim garantir a realização de seu projeto político às custas da auto-sabotagem e de uma aproximação violenta com os setores mais arcaicos da direita do estado e do país. Qual o efeito prático que isso está gerando dentro do partido? Basicamente, existe cada vez mais uma dura animosidade contra Serra: Desde que o PSDB se tornou o partido hegemônico do estado de São Paulo no início dos anos 2000, não havia tantos focos de descontentamento. Geraldo Alckimin está a dar muxoxos pelos corredores e Aécio, que dificilmente será candidato a presidência, está aguardando o momento certo para dar o troco - as manobras de Serra para impedir sua candidatura, acreditem, já foram devidamente colocadas na geladeira.
A novidade disso tudo mesmo está no que houve com o PSB paulista e como isso se liga ao Serrismo. Quem conhece a política paulista sabe muito bem que o PSB daqui nunca teve nem sombra da força que ele tem no Nordeste. No entanto, ultimamente, tal partido recebeu filiações em massa de quadros com algum peso e que dado o seu posicionamento certamente estariam no próprio PSDB ou no DEM há cinco anos atrás. Vamos aos nomes:
1. Um desses nomes é Gabriel Chalita que recentemente saiu do PSDB e se filiou ao PSB. Vereador mais bem votado nas últimas eleições na Capital, ex-Secretário de Educação do estado, Professor de Filosofia do Direito na PUC-SP, Chalita era um dos nomes mais populares do partido e saiu pela porta dos fundos, reclamando falta de espaço no partido.
2.Outro fenômeno não menos interessante é que o ingresso do Presidente da FIESP, Paulo Skaf, na política-partidária finalmente aconteceu, mas acabou sendo por meio do PSB - convenhamos, não é todo dia que se vê um Presidente de federação industrial entrando em um partido socialista.
3.Chegou-se a se ventilar também a possibilidade de Geraldo Alckimin também se filiar ao PSB, o que, no entanto, encontraria resistências no fato de que, bem ou mal, o referido partido pertence à base governista e ainda pesam certos resentimentos de Lula em relação ao ainda tucano por conta da recente campanha de 2006.
Nada disso é ocasional. Não custa atentar para o fato de que o PSB é o partido de Ciro Gomes, político que já teve suas aspirações bloqueadas de forma severa pelo menos duas vezes por Serra; como já dito, uma nas entranhas do Governo FHC e outra quando foi candidato à Presidência em 2002. De lá para cá, Ciro foi ministro - e depois deputado - caninamente fiel a Lula, mas agora não deixará de executar o seu projeto próprio para apoiar Dilma. Se Lula levantou a bola para Ciro sair como candidato em São Paulo, pelo menos ele transferiu seu domicílio eleitoral do Ceará para o estado Bandeirante, mas não há de se duvidar que esse acréscimo de quadros no partido não surgem do nada assim como podem servir para vir lado a lado com a candidatura presidencial de Ciro com Chalita sendo o candidato para o Senador e Skaf disputando o governo.
Isso também marca um ponto de inflexão do partido, onde de esquerda clássica nos anos 80, um partido ônibus nos anos 90 - com alguma identidade de centro-esquerda no Nordeste -, agora ele se desenha como uma força de centro-direita em São Paulo em um movimento que decorre das contradições surgidas no interior do Partido por conta do Serrismo - as quais a esquerda do estado jamais soube aproveitar.
É muito difícil antever o que vai acontecer ano que vem. A campanha, como sabemos, já começou no começou no início deste ano. O grande ponto é que o fator primordial para se ponderar o futuro do lulismo e do petismo já começa a se delinear: A grande pergunta era saber como o Governo Federal se comportaria diante da brutal Crise Econômica Mundial, haja vista que ele passou incólume por quase tudo que se pode imaginar em Política nos seis anos anteriores. Neste exato momento, Luís Inácio Lula da Silva conduz um Governo de centro-esquerda no qual se assistiu um profundo desgaste de seu partido, o PT, além de não ter conseguido executar de forma intrínseca a agenda reformista que assumiu na campanha de 2002, ainda assim, conseguiu encabeçar o primeiro Governo pós-88 a combinar evolução nos direitos individuis com políticas sociais que resultaram em efeitos benéficos - assim como reverteu a curva de estagnação econômica do país com um crescimento moderado combinado com queda dos indíces de desigualdade social.
No que concerne à Crise Mundial, o Brasil foi, de fato, um dos últimos a entrarem nela e será um dos primeiros a sair; a economia, diferentemente do que se colocava no começo do ano - exceto aqui, neste humilde blog e em mais alguns outros -, não cairá, mas se manterá próxima ao zero ou talvez até mesmo apresente um ligeiro crescimento. As vitórias do Governo na esferera internacional também são dignas de relevo.
Tudo isso representa um impulso muito forte na candidatura governista de Dilma Rousseff e, simultaneamente, joga mais pressão ainda sobre a candidatura Serra. O grande ponto é: Até onde Serra pode forçar ainda mais para vencer as eleições de 2010? Sim, até agora, o Governador paulista apostou em um duro jogo de bastitores, mas não conseguiu imprimir uma marca propositiva à sua candidatura. Se vencer, quanto isso irá custar politicamente e o quanto isso não poderá se converter numa vitória de pirro como no caso Yeda no RS? Se perder, poderá o PSDB suportar o ônus da derrota? São as duas questões centrais que se desenham neste momento.
Qualquer pessoa que acompanha o noticiário político-partidário nacional com mínima assiduidade sabe o quanto José Serra quer ser Presidente da República. Por sua vez, qualquer pessoa que conheça a história do governador paulista sabe o quanto ele quer isso desde os anos 60. É curioso, no entanto, pensar sobre o quanto esse desejo de poder de um único interfere na existência e no funcionamento do PSDB, uma das maiores agremiações nacionais - e também o partido que dentre os grandes sempre foi o que mais refletiu uma certa esquizofrenia ideológica: O PT nasceu com o propósito de ocupar um espaço bem claro na esquerda - a confusão ideológica só veio depois por aquelas bandas -; o DEM nunca teve dúvidas sobre o que defende e que tipo de país ele deseja; o PMDB é uma artificialidade criada pela Ditadura e desde o momento em que nasceu já carregava a natureza cacofônica que hoje beira o irracional.
Peguemos os fins dos anos 80: Enquanto uma ala tucana se encantou com a boa nova do Consenso de Washington como fizeram FHC - maquiavelicamente - e Covas - de forma mais ética -, outra ala se colocava na posição de uma terceiravia desenvolvimentista que servisse de opção à visão social-democrata radical do PT dos fins dos anos 80 e ao Atraso representado pelas oligarquias - e nesse grupo se destacavam o próprio Serra além Bresser. A primeira ala saiu na frente e ganhou as brigas inciais como há de se perceber pelas candidaturas à presidência de Covas em 89 e de FHC em 94 assim como a própria forma que o Plano Real foi conduzido em seus primórdios - à contragosto de Serra que ainda assim se manteve ocupando posições tecnocráticas nesse sistema (chegando a ponto de bloquear dentro do Partido o então neoliberal fervoroso Ciro Gomes).
Oito anos de Governo FHC e Serra sai como candidato à Presidência em 2002. Durante a campanha acrescenta mais um grande atropelamento político no seu currículo: O esmagamento da candidatura Roseana Sarney por vias pouco usuais. No entanto, arca com o ônus do fracasso econômico do governo FHC, da crise em que o país se encontrava e com a força do novo petismo nascido na Carta ao Povo Brasileiro. Jogando da maneira que lhe é peculiar, acaba suplantando as candidaturas Garotinho e Ciro, chega ao segundo turno, mas é derrotado por Lula. Tudo isso para ressucitar dois anos mais tarde ao se eleger prefeito de São Paulo - na medida que soube explorar eleitoralmente muito bem algumas debilidades do Governo Marta, para depois abandonar a prefeitura um ano depois para concorrer para o Governo do estado de São Paulo e vencer um PT desorganizado e rachado cujo candidato era Mercadante.
O Serrismo e o PSDB
A vitória de Serra para governador marca o ponto do nascimento do Serrismo. Serra passa a se dedicar dia e noite para 2010, aparelhando a máquina do partido, construindo estrategemas contra seus adversários internos e articulando uma aliança peculiar com a mídia corporativa nacional para assim ter a massa muscular suficiente para poder peitar a gigantesca popularidade de Lula. Seu governo é um assombro; como acentua frequentemente Luís Nassif, não há secretários, não há coadjuvantes, tudo é uma peça de marketing em torno do nome e da figura do governador. Isso chega a um patamar perigoso quando da sabotagem da candidatura de seu correligionário Geraldo Alckmin nas eleições municipais da Capital em 2008; Serra elege o Demista Kassab, seu vice na prefeitura simplesmente para marcar posição dentro de seu partido. Daí em diante, se intensificam as manobras para bloquear a candidatura de seu correligionário, o governador mineiro Aécio Neves - em um verdadeiro jogo de vale tudo nas entranhas do partido.
O governo Serra, por sua vez, não avança nos direitos sociais: A saúde e a educação pública do estado permancem indo mal; há uma preocupação muito grande com o equilíbrio das contas do estado, mas medidas pertecentes aos distantes anos 90 são empregadas tendo como resultado uma estagnação do avanço da eficiência do setor público no estado; a defensoria pública é criada, mas a sua estrutura é tão ruim que parece uma piada de mal gosto; a política para o ensino superior é desastrosa, como as intervenções absurdas na USP demonstram; o funcionalismo público está sucateado e não consegue exercer o seu trabalho. No entanto, é no que concerne os direitos individuais que ocorre o maior retrocesso: A intervenção policial na USP é um grande exemplo disso - assim como o uso de força policial militar contra os policiais civis grevistas - e, por outro lado, temos a punitivista e paranóide lei anti-fumo.
O Serrismo se afigura como uma doutrina personalista que obriga todo o PSDB girar em torno do governador paulista e assim garantir a realização de seu projeto político às custas da auto-sabotagem e de uma aproximação violenta com os setores mais arcaicos da direita do estado e do país. Qual o efeito prático que isso está gerando dentro do partido? Basicamente, existe cada vez mais uma dura animosidade contra Serra: Desde que o PSDB se tornou o partido hegemônico do estado de São Paulo no início dos anos 2000, não havia tantos focos de descontentamento. Geraldo Alckimin está a dar muxoxos pelos corredores e Aécio, que dificilmente será candidato a presidência, está aguardando o momento certo para dar o troco - as manobras de Serra para impedir sua candidatura, acreditem, já foram devidamente colocadas na geladeira.
O Fator PSB
A novidade disso tudo mesmo está no que houve com o PSB paulista e como isso se liga ao Serrismo. Quem conhece a política paulista sabe muito bem que o PSB daqui nunca teve nem sombra da força que ele tem no Nordeste. No entanto, ultimamente, tal partido recebeu filiações em massa de quadros com algum peso e que dado o seu posicionamento certamente estariam no próprio PSDB ou no DEM há cinco anos atrás. Vamos aos nomes:
1. Um desses nomes é Gabriel Chalita que recentemente saiu do PSDB e se filiou ao PSB. Vereador mais bem votado nas últimas eleições na Capital, ex-Secretário de Educação do estado, Professor de Filosofia do Direito na PUC-SP, Chalita era um dos nomes mais populares do partido e saiu pela porta dos fundos, reclamando falta de espaço no partido.
2.Outro fenômeno não menos interessante é que o ingresso do Presidente da FIESP, Paulo Skaf, na política-partidária finalmente aconteceu, mas acabou sendo por meio do PSB - convenhamos, não é todo dia que se vê um Presidente de federação industrial entrando em um partido socialista.
3.Chegou-se a se ventilar também a possibilidade de Geraldo Alckimin também se filiar ao PSB, o que, no entanto, encontraria resistências no fato de que, bem ou mal, o referido partido pertence à base governista e ainda pesam certos resentimentos de Lula em relação ao ainda tucano por conta da recente campanha de 2006.
Nada disso é ocasional. Não custa atentar para o fato de que o PSB é o partido de Ciro Gomes, político que já teve suas aspirações bloqueadas de forma severa pelo menos duas vezes por Serra; como já dito, uma nas entranhas do Governo FHC e outra quando foi candidato à Presidência em 2002. De lá para cá, Ciro foi ministro - e depois deputado - caninamente fiel a Lula, mas agora não deixará de executar o seu projeto próprio para apoiar Dilma. Se Lula levantou a bola para Ciro sair como candidato em São Paulo, pelo menos ele transferiu seu domicílio eleitoral do Ceará para o estado Bandeirante, mas não há de se duvidar que esse acréscimo de quadros no partido não surgem do nada assim como podem servir para vir lado a lado com a candidatura presidencial de Ciro com Chalita sendo o candidato para o Senador e Skaf disputando o governo.
Isso também marca um ponto de inflexão do partido, onde de esquerda clássica nos anos 80, um partido ônibus nos anos 90 - com alguma identidade de centro-esquerda no Nordeste -, agora ele se desenha como uma força de centro-direita em São Paulo em um movimento que decorre das contradições surgidas no interior do Partido por conta do Serrismo - as quais a esquerda do estado jamais soube aproveitar.
2010
É muito difícil antever o que vai acontecer ano que vem. A campanha, como sabemos, já começou no começou no início deste ano. O grande ponto é que o fator primordial para se ponderar o futuro do lulismo e do petismo já começa a se delinear: A grande pergunta era saber como o Governo Federal se comportaria diante da brutal Crise Econômica Mundial, haja vista que ele passou incólume por quase tudo que se pode imaginar em Política nos seis anos anteriores. Neste exato momento, Luís Inácio Lula da Silva conduz um Governo de centro-esquerda no qual se assistiu um profundo desgaste de seu partido, o PT, além de não ter conseguido executar de forma intrínseca a agenda reformista que assumiu na campanha de 2002, ainda assim, conseguiu encabeçar o primeiro Governo pós-88 a combinar evolução nos direitos individuis com políticas sociais que resultaram em efeitos benéficos - assim como reverteu a curva de estagnação econômica do país com um crescimento moderado combinado com queda dos indíces de desigualdade social.
No que concerne à Crise Mundial, o Brasil foi, de fato, um dos últimos a entrarem nela e será um dos primeiros a sair; a economia, diferentemente do que se colocava no começo do ano - exceto aqui, neste humilde blog e em mais alguns outros -, não cairá, mas se manterá próxima ao zero ou talvez até mesmo apresente um ligeiro crescimento. As vitórias do Governo na esferera internacional também são dignas de relevo.
Tudo isso representa um impulso muito forte na candidatura governista de Dilma Rousseff e, simultaneamente, joga mais pressão ainda sobre a candidatura Serra. O grande ponto é: Até onde Serra pode forçar ainda mais para vencer as eleições de 2010? Sim, até agora, o Governador paulista apostou em um duro jogo de bastitores, mas não conseguiu imprimir uma marca propositiva à sua candidatura. Se vencer, quanto isso irá custar politicamente e o quanto isso não poderá se converter numa vitória de pirro como no caso Yeda no RS? Se perder, poderá o PSDB suportar o ônus da derrota? São as duas questões centrais que se desenham neste momento.
sábado, 3 de outubro de 2009
Uma Provocação aos Sábados
Só pra constar: A distância espacial que separa esses dois lugares é de apenas cinquenta quilômetros cravados - em desenvolvimento humano, porém, há um abismo entre eles. Que fique claro, inclusive, que a situação de um se relaciona diretamente com a do outro. Bem-vindos ao deserto do Real.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Reflexões sobre as Olimpíadas no Rio de Janeiro
Como vocês já devem ter tomado conhecimento, o Rio de Janeiro sediará os Jogos Olímpicos de 2016. Evidentemente, essa conquista tem um peso muito grande e reflete o avanço da importância política brasileira no cenário internacional nos últimos anos - além de ter sido uma baita vitória do Governo Lula. No entanto, se as causas são essas, por outro lado, não consigo ver consequências tão positivas assim.
Em um primeiro momento, pelo que se transformou os Jogos Olímpicos do fim da Guerra Fria para cá; se eles foram retomados pelo Barão Pierre de Coubertin em um movimento assentado na importância do esporte como forma do engrandecimento humano - algo perfeitamente legítimo e interessante -, o avanço dos regimes totalitários os transformou em uma das arenas de disputa ideológica, o que perdurou durante a Guerra Fria com as Olímpiadas sendo um dos muitos campos onde os blocos socialista e capitalista se confrontavam.
Ainda assim, até aí o ideal de Coubertain não havia sido de um todo deformado, mas o fim da Guerra Fria se encarregou disso; mais e mais o esporte olímpico foi sendo descaracterizado pela escalada do capitalismo em uma versão não muito aprazível ao mesmo tempo em que assistimos o próprio fato dos Estados-nação passarem por um exaurimento ontológico. É nesse cenário, talvez um pouco pior, talvez um pouco melhor, que os Jogos Olímpicos serão realizados no Rio.
Em um segundo momento, temos a própria problemática brasileira; os jogos Pan-Americanos no Rio em 07 foram um fracasso; desde o gasto absurdo e misterioso até o resultado, más instalações, confusão etc não são o tipo da coisa que credenciam o Rio para realizar as Olimpíadas - no sentido técnico da coisa, já tendo em vista o próprio exaurimento do significado das Olimpíadas.
Para além da esfera esportiva brasileira, não há também como esquecer a questão urbanística; quais são os indicativos de que os Jogos Olímpicos não vão gerar políticas higienistas? Tenho bons amigos que militam em movimentos de moradia aqui em São Paulo e posso dizer, sem medo de errar, que a Copa do Mundo de 2014, por si só, já está tendo um impacto profundo no processo de gentrificação - desde a expulsão de pobres do centro até a ameaça à população favelada passando pelo fortalecimento da especulação imobiliária -, imagine só uma Olimpíada que, por definição, é um evento focado em uma única cidade - e a cidade em questão é, justamente, o Rio que pelo que me consta consegue ser um caos urbano pior até do que São Paulo.
Por essas e por outras, mantenho minhas barbas de molho.
Em um primeiro momento, pelo que se transformou os Jogos Olímpicos do fim da Guerra Fria para cá; se eles foram retomados pelo Barão Pierre de Coubertin em um movimento assentado na importância do esporte como forma do engrandecimento humano - algo perfeitamente legítimo e interessante -, o avanço dos regimes totalitários os transformou em uma das arenas de disputa ideológica, o que perdurou durante a Guerra Fria com as Olímpiadas sendo um dos muitos campos onde os blocos socialista e capitalista se confrontavam.
Ainda assim, até aí o ideal de Coubertain não havia sido de um todo deformado, mas o fim da Guerra Fria se encarregou disso; mais e mais o esporte olímpico foi sendo descaracterizado pela escalada do capitalismo em uma versão não muito aprazível ao mesmo tempo em que assistimos o próprio fato dos Estados-nação passarem por um exaurimento ontológico. É nesse cenário, talvez um pouco pior, talvez um pouco melhor, que os Jogos Olímpicos serão realizados no Rio.
Em um segundo momento, temos a própria problemática brasileira; os jogos Pan-Americanos no Rio em 07 foram um fracasso; desde o gasto absurdo e misterioso até o resultado, más instalações, confusão etc não são o tipo da coisa que credenciam o Rio para realizar as Olimpíadas - no sentido técnico da coisa, já tendo em vista o próprio exaurimento do significado das Olimpíadas.
Para além da esfera esportiva brasileira, não há também como esquecer a questão urbanística; quais são os indicativos de que os Jogos Olímpicos não vão gerar políticas higienistas? Tenho bons amigos que militam em movimentos de moradia aqui em São Paulo e posso dizer, sem medo de errar, que a Copa do Mundo de 2014, por si só, já está tendo um impacto profundo no processo de gentrificação - desde a expulsão de pobres do centro até a ameaça à população favelada passando pelo fortalecimento da especulação imobiliária -, imagine só uma Olimpíada que, por definição, é um evento focado em uma única cidade - e a cidade em questão é, justamente, o Rio que pelo que me consta consegue ser um caos urbano pior até do que São Paulo.
Por essas e por outras, mantenho minhas barbas de molho.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
1º de Outubro - 60 anos da Revolução Chinesa
Hoje é a data de aniversário da Revolução que modificou de maneira indelével o maior país do mundo. Há 60 anos, Mao Tsé Tung fez o famoso discurso na Praça da Paz da Celestial que resultou na República Popular da China. A Revolução de 1949 foi um resultado direto do processo de ocidentalização pelo qual passava a China, país milenar que desde os meados do século 16º se encontrava em decadência - o que a fez incorporar modelos ocidentais, primeiro com o advento da República no início do século 20º, depois com a Revolução que vem na esteira do pensamento marxista e da escalada revolucionária que começa no leste europeu e ruma para o oriente.
A China de 1949 era um país que há cem anos se encontrava em um verdadeiro caos; da queda da dinastia Ming nos anos 1640 até a derrota na Primeira Guerra do Ópio em 1842 se materializou como um período de letargia onde o modelo chinês esteve em xeque a todo momento, daí em diante, assistimos aos impactos do colonialismo ocidental que vem culminar em um processo tortuoso de republicanização do país e passa pelo crivo do traumático domínio japonês nos anos 30 - agravado pela guerra civil entre nacionalistas e comunistas. 49, portanto, foi um ponto de inflexão nesse processo.
Seis décadas depois, a China é a segunda economia mundial, tendo fechado 2008 com algo entre 11% e 12% do PIB mundial além de ter mantido, em plena Crise Econômica Mundial, um ritmo de crescimento alucinante e um poderio militar considerável - diferentemente do país arrasado do fim dos anos 40, onde a situação dos camponeses era de miséria profunda e o incipiente parque industrial do país estava na mão de quatro famílias. Paradoxalmente, o país não superou certas premissas da lógica administrativa burocrática do confuncionismo assim como não o fez em relação ao modo filo-stalinista de organização política do país; a questão das nacionalidades segue, como provou a recente crise no xinjiang assim como o problema da cidadania e das liberdades políticas, algo não incomum a regimes socialistas burocráticos.
O nacionalismo que o Partido Comunista exorta desde o fim do bloco socialista é, nada mais, que uma construção ideológica que mira a unidade de um país ontologicamente fragmentado e também a busca pela reconstrução da narrativa do ponto de vista político - A China atual é um país profundamente ocidentalizado, seja pela superação de sua monarquia no início do século, pelo socialismo ou pela recente abertura econômica; enfim, o país tem mimetizado modelos ocidentais e adequado-os a sua realidade, com êxito variável, e dos fins dos anos 70 para cá, é a pedra de toque do processo de mundialização do capitalismo e da consequente reorganização da divisão do trabalho.
Aliás, é bom não perder de vista o quão diferentes são as duas fases distintas do período socialista; a primeira que vai da Revolução até a entrada do país nesse processo em 1978 - onde o modelo soviético é copiado ao pé da letra com algumas pequenas singularidades, uma tentativa de industrialização sanguinolento nos fins dos anos 50 e uma tentativa não menos confusa dos anos 60 e 70 da Revolução Cultural - e a que vem de lá para cá - quando Deng Xiaoping mantém o controle e o planejamento central, mas se abre para o capital internacional e constrói um modelo industrial-exportador, responsável por um dos mais especulares processos de crescimento economico da história da humanidade que, no entanto, se combina com uma escalada perigosa da desigualdade social e a produção de seríssimos danos ambientais.
O futuro da China não é pouco complexo; pesa o imperativo da construção de um modelo que responda às novas necessidades do país, haja vista que os modelos soviético, americano e japonês cada vez menos ajudam a nortear o futuro do país - o primeiro já faliu, o segundo e o terceiro já estão esgotados em seus próprios países; resta a dúvida se é possível existir uma China livre e viável dadas as diferenças econômicas e culturais entre as regiões do país ao mesmo tempo que o próprio exercício da hegemonia de forma centralizada vai se aproximando do seu termo final - em grande parte pelas profundas transformações que o país está sofrendo neste exato momento, quando a Crise Mundial o fez se voltar para dentro e desenvolver o seu mercado interno de forma desesperada.