Lula e Dilma na Universidade de Coimbra na cerimônia que conferiu ao ex-Presidente o título de doutor honoris causa - Efe |
Na última sexta, 1º de Abril, o golpe militar completou 47 anos. Foi o primeiro aniversário daquela desdita sob a égide do atual Governo - e, embora a senhora Rousseff seja a terceira mandatária brasileira consecutiva a ter combatido a Ditadura Militar, é bom lembrar que nem FHC e nem Lula sofreram na pele a verdade sangrenta daquele regime como ela sofreu; portanto, esse aniversário do golpe teve um significado particularmente especial. Coincidentemente, também foi divulgada nesse último 1º de Abril uma pesquisa de opinião CNI/Ibope sobre a aprovação do Governo Dilma: 73% aprovam a pessoa da Presidenta e 56% consideram seu Governo ótimo ou bom - contra apenas 12% que a desaprovam pessoalmente e mirrados 5% que entendem sua gestão como ruim ou péssima. São números melhores do que a última pesquisa Datafolha e muito bons se pensarmos que Dilma está tendo a dura tarefa de substituir o maior líder popular desde Vargas.
A popularidade de Dilma se explica porque não houve alteração substancial dos programas de Lula, a geração de empregos permanece em alta - embora a inflação se imponha, isso parece apenas um risco distante e sob controle - e, ainda, é fato que ela conseguiu furar a bolha de rejeição à sua pessoa criada pela campanha de José Serra. Existem, claro, outros fatores que explicam esse fenômeno. Dilma apanha menos do que Lula da mídia corporativa porque não tem contra si os preconceitos que pesavam contra seu antecessor - e a figura do presidente-operário não era outra coisa senão a vagina dentada dos pesadelos da pequeno-burguesia tupiniquim - além de, preste bastante atenção nisso, ter ensaiado uma aproximação com certas corporações de mídia, seja a imprensa propriamente dita ou das empresas cujos interesses giram em torno dos direitos autorais - basta relembrar todo o imbróglio da gestão Ana de Hollanda no Ministério da Cultura. Sua política externa também demonstra certo recuo em relação à ousadia de Celso Amorim, ainda que não tenha mudado substancialmente - e como a mídia nacional é mais realista do que o rei, talvez ela fique mais satisfeita com isso do que a própria mídia estrangeira.
Em suma, motivos bons e ruins explicam a alta popularidade de Dilma, mas o que tem prevalecido é que a elite brasileira está satisfeita por continuar a ganhar muito dinheiro - embora não da forma que gostaria -, a "classe-média" tradicional está menos incomodada - porque, afinal de contas, a Presidenta não é vista como uma espécie de déspota inculta que ameaça suas conquistas - enquanto as camadas plebeias, embora não tenham mais um líder com o qual se identifiquem imediatamente, veem na atual chefe de Estado a continuidade das políticas lulistas de recuperação da renda, geração de emprego e, sobretudo, do reconhecimento da classe trabalhadora enquanto parte legítima do jogo político. As grandes ameaças, não resta dúvida, ligam-se ao futuro da economia mundial. O tripé EUA-UE-Japão está numa grave crise, o que além de pôr em xeque o Capitalismo pode antecipar a ascensão geopolítica brasileira, estaríamos preparados para um desafio dessa natureza? As pressões inflacionárias também não de pouca importância, apesar de serem fruto também de fatores externos - a especulação que força o preço das commodities agrícolas para o alto é consequência clara do derretimento do mercado imobiliário, sendo uma constante desde 2008 -, também tem a ver com o aquecimento da economia nacional, o que exigirá saídas duras - ao nosso ver, o uso do mecanismo tributário para a contenção da inflação é a saída mais factível, mas isso exigirá sim aumento de tributos, o que é (e sempre será) uma medida impopular.
Outro grande ponto é que a oposição permanece perdida. O PSDB, por ora, tem a figura pessoal de Aécio Neves, mas não tem projeto de país. Pior, está perdido em impasse interno com a disputa entre o próprio Aécio, Alckmin - na verdade, certos setores empresariais de São Paulo - e Serra - ou o que restou dele -, algo que só será resolvido no final deste ano. O racha do DEM em uma nova agremiação "social-democrata" é muito mais sintoma da crise do que saída para a direita nacional. Mantido o quadro atual, resta ao PSDB o jogo rasteiro de factóides moralistas ou do puro terrorismo religioso, típicas táticas que se derem certo nas eleições, são capazes de afundar qualquer eventual gestão. De resto, o que está estabelecido é um pêndulo, onde os tucanos apelam nas eleições por falta de projeto e, pelo mesmo motivo, caminham a reboque do consenso político durante o andamento do governo petista. Ainda que vá ganhar prefeituras importantes, a oposição tende a diminuir (mais ainda) de tamanho nas próximas eleições municipais. Dilma e o PT - ou melhor, seu campo majoritário -, portanto, dependem mais de si do que de qualquer outro fator, mas se num primeiro momento isso é ótimo, um olhar mais atento nos mostra que a questão é mais complexa do que parece.
PS: Leiam essa belíssima análise sobre o Governo Lula feita pelo sempre necessário Perry Anderson: Lula's Brazil.
Atualização das 12:25: Não deixe de ver a entrevista do grande constitucionalista português J.J. Canotilho sobre o doutoramento de Lula. Também não pode passar batido a verdadeira desancada que Mauro Santayana deu José Carlos Aleluia por conta da carta que o deputado baiana escreveu para o reitor de Coimbra protestando contra a titulação de Lula como doutor honoris causa (?!).
Atualização das 12:25: Não deixe de ver a entrevista do grande constitucionalista português J.J. Canotilho sobre o doutoramento de Lula. Também não pode passar batido a verdadeira desancada que Mauro Santayana deu José Carlos Aleluia por conta da carta que o deputado baiana escreveu para o reitor de Coimbra protestando contra a titulação de Lula como doutor honoris causa (?!).
Pelas minhas contas o golpe completou 47 anos.
ResponderExcluirPelas minhas contas o golpe foi fichinha perto do que está havendo agora
ResponderExcluirAndré: O tempo, pelo jeito, está andando mais rápido do que nunca :-)
ResponderExcluir