sexta-feira, 15 de abril de 2011

FHC, o PT e o Povão

FHC esperneando por Chico Caruso
Recentemente, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso escreveu um (longo) artigo intitulado o Papel da Oposição - o mesmo nome de um artigo seu dos anos 70 sobre o papel da oposição contra a ditadura militar, o que, por si só, já seria motivo para vergonha alheia, afinal de contas, não é mesmo disso que se trata o momento atual. Mas calma porque fica pior: FHC insiste no mesmo erro que seu partido tem caído desde o início do século, isto é, demonizar o PT em demasia e agir politicamente como se o seu discurso tivesse sido eficaz, o que aqui resulta em um efeito tragicômico, a saber: a realização de uma oposição ao governo que o PSDB, enquanto oposição, gostaria que o PT fizesse e não ao governo que realmente está no poder. O PSDB está sem programa desde que o arranjo que FHC se apresentou como fiador nos anos 90 deu errado; em 1998 só restou prometer a continuação da estabilidade monetária e em 2002 fazer o mesmo acusando Lula de ser um satã genérico - quando o eleitorado exigia desenvolvimento socioeconômico e a própria estabilidade monetária clamava por isso. De lá para cá, o partido tucano fez campanhas muito mais antipetistas do que propositivas e a grande causa de FHC dizer que seu partido deveria disputar a classe média e não "povão" - para além do seu notório elitismo - é uma preocupação objetiva com o saldo da campanha eleitoral do ano passado: Serra teve uma votação grande em cima de um violento antidilmismo - que descambou para uma onda de intolerância perigosa -, mas nada agregou para seu partido na medida que não plantou nenhuma semente para o futuro. Como o Governo Dilma está, por meio do seu estilo de governo, da maneira como ela tem distensionado as relações com a classe média e de sua própria figura pessoal - que feliz ou infelizmente não desperta maiores preconceitos - conquistando apoio junto a esses setores, existe uma justificada preocupação sobre o espaço da já reduzida oposição; se o antipetismo for controlado nas camadas médias da sociedade, o que fazer no curto prazo? Como agir até quando (e se) o PSDB for desenvolver um programa? O que FHC quis dizer é que seu partido deve economizar energias defendendo o capital político que (ainda) tem e não partindo para o ataque - afinal, um contra-ataque aqui e agora seriam mortais -, a infelicidade da expressão em relação ao "povão" é só um residual da sua forma aristocrática de ver o mundo - o velho ato-falho freudiano mais na forma do que necessariamente na matéria -,  uma colateralidade da argumentação. No entanto, como em matéria de política não há perdão a resposta de Lula veio, literalmente, a cavalo num belo: "Eu sinceramente não sei o que ele quis dizer. Nós já tivemos políticos que preferiam cheiro de cavalo que o povo. Agora tem um presidente que diz que precisa não ficar atrás do povão, esquecer o povão. Eu sinceramente não sei como é que alguém estuda tanto e depois quer esquecer do povão". Bola levantada, bola cortada. A tentativa de emendar o soneto, claro, sempre é uma tarefa complicada - como é complicado se pôr a defender que seu partido assuma a vanguarda "do novo" e responder coisas duvidosas como: "não sei como a oposição vai se desdobrar, porque depende do que o governo faça. Agora não dá pra tapar o sol com a peneira. Essa perda de substância do DEM não é boa, a menos que o novo partido se declare de oposição."  - ou o Novo ou o DEM, senhor presidente, os dois não. Para além de suas disputas internas sangrentas, o PSDB sofre uma grave crise programática e identitária, o que é uma das chaves para que possamos compreender a política brasileira contemporânea.




6 comentários:

  1. O que mais é impressionante no artigo do FHC, é que na realidade o grosso da classe média, a classe "C", ascendeu socialmente com Lula, e estagnou oito anos com FHC. Isso é óbvio até para o vácuo...

    Com este tipo de discurso, só resta à oposição:

    a) destilar ódio

    b) orar por desastres, desgraças e tragédias apocalíPTicas

    c) chorar batendo os pés como criança sem educação

    d) Golpe de Estado

    É triste...

    ...

    Saudações fraternas, Hugo

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  2. Tiago, pois é. O texto é ruim teoricamente e dá belos tiros no pé eleitorais. Além dos problemas programáticos todos, essa postura do PSDB de agir apenas como um anti-PT é estranha e nociva para a democracia.

    abraços

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  3. O problema principal do PSDB é justamente aquilo do que acusam o PT: personalismo. No caso de FHC, diria personalismo mórbido. É digno de pena ver um homem velho que não consegue lidar com o sucesso alheio. A vaidade de FHC é algo de doentio. Espera-se de qualquer político um certo oportunismo, quando defende ideias nem sempre sinceras, para não perder certas deixas. O caso de FHC é, ao contrário, o velho clássico do oportunidade de ficar calado. E quais suas opções? Serra, o poço de despeito. Alckimin, zzzzzzzzzz. Aécio, o "super-homem"? Falta organicidade ao PSDB, felizmente para nós.

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  4. Exato, Cajueiro. Que sempre faltou social-democracia ao PSDB, isso não é novidade - e brasileirismo também -, mas o que está lhe faltando agora é o P de Partido mesmo. Acho que o artigo do Diego Viana no Amálgama foi definitivo quanto a isso. Pelo que o PSDB anda fazendo há tempos, isso até que é bom, mas inserido no contexto geral da política nacional, isso é péssimo porque é um partido grande piorando ainda mais.

    abraços

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  5. Gostei do tom não reverencial que o autor do artigo que vc linkou adotou em relação ao FHC. Cansei de ver comentaristas, muitos dêles críticos, tecendo loas a um suposto brilhantismo intelectual do chamado "príncipe dos sociólogos". o artigo do ex-presidente não traz nada de novo ao debate político, apenas torna mais explícito o viés elitista inerente à visão que o autor tem de como operam os atores sociais. O PSDB é um partido de próceres, cardeais, e seu eleitorado é de gente que se sente confortável com a velha forma de fazer política, quando os tucanos criticam o camaleonismo do PT no fundo o que sobressai é inveja e ressentimento por não terem sido capazes de se auto-criticarem no momento devido. Pode-se dizer dêles o mesmo que se diz sobre os neocons americanos, o de que são incapazes de gesto de reconhecimento de qualquer erro.

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  6. Marola,

    O PSDB é uma mistura de racha do PMDB por disputas internas - perdidas para Quércia - com uma perspectiva de "modernização" um pouco vaga - que, no entanto, poderia se operar por dentro do PMDB mesmo, caso a briga não tivesse sido perdida para o fisiologismo em São Paulo. Eu concordo com Idelber Avelar quando ele identifica a ascensão de FHC como um corte na vida do partido, aí o que era vagueza toma direção - que não deixa, mesmo assim, de ser errática; por vezes, os líderes do PSDB atacam o PT à esquerda (!), o que é inquietante. A situação atual do partido é inacreditável, ele não consegue assumir os erros dos anos 90 - porque sabe que isso tira voto -, mas também não quer se livrar deles. Essa esquizofrenia é só uma pequena página na grave crise política brasileira.

    abraços

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