Um dos frangos de Julio Cesar |
Enfrentando um Equador bem longe do brilho de alguns anos atrás, quando conseguiu se classificar por duas vezes consecutivas para a Copa do Mundo (2002 e 2006), a Seleção Brasileira venceu por 4x2 e se classificou para a 2ª fase da Copa América. A única coisa que chamou a atenção em um jogo estranho como esse foi, sem dúvida, os dois frangos sofridos por Julio Cesar - sempre incensado, mas apenas um bom goleiro (e um ótimo político, convenhamos). Dessa vez, pelo menos, o time de Mano Menezes conseguiu executar jogadas de ataque de forma mais ou menos coerente, embora a marcação adversária tenha ajudado bastante. Maicon, que não sei por quais cargas d'água estava no banco, voltou à titularidade e mostrou o quanto Daniel Alves está longe de ser tudo isso. Que a torcida não se engane: o Brasil se classificou vencendo apenas e tão somente o pior time do grupo e só empatando - na bacia das almas - contra Venezuela e Paraguai. Agora, terá pela frente novamente a seleção paraguaia num confronto no qual só é ligeiramente favorito. A Copa América está completamente em aberto, Brasil, Argentina e Uruguai, as três forças do continente, tiveram uma primeira fase igualmente ruim, vencendo apenas as piores equipes dos seus grupos. Mesmo com uma avenida de oportunidades pela frente, seleções como Chile e Colômbia não aproveitaram tão bem assim a falta de concorrência. A Venezuela, cujo futebol se profissionalizou há pouquíssimos anos, conseguiu a classificação e é a sensação do torneio - agora pega o Chile, elas por elas dono do melhor futebol da primeira fase, e o vencedor desse jogo enfrentará quem levar de Brasil e Paraguai. Argentina e Uruguai, pelas contingências do destino, se enfrentam já nas quartas de final próximo sábado com tênue favoritismo para os donos da casa - e o vencedor enfrenta quem levar Colômbia x Peru, com favoritismo dos colombianos. Nada de animador para o futebol brasileiro. Bem longe de quem terá (a pressão) de sediar um Mundial em Casa.
P.S.: Das poucas atrações da Copa América, a cobertura feita pelo convalescente Hugo Chávez, via twitter, da seleção de seu país é das coisas mais engraçadas de um torneio tão mal resolvido como esse.
enquanto isso, eu e mais 500 pessoas assistiam a suíte de Porgy&Bess (Gershwin) no maior teatro modernista das Américas (o TCA, em Salvador). E se não fosse o maestro fazer piadinha com o fato de o teatro estar mais cheio do que de costume em especial "num dia de jogo da seleção", eu nem saberia que ia ter essa diaba ontem.
ResponderExcluirFutebol é um astravancamento de pogressio...
Ser totalmente ignorante em futebol me torna supinamente mais culto.
é possível respeitar de modo co-cidadão alguém cujo nome de registro é Maicon? Maicon. Veja bem: Mai-con!
ResponderExcluirQuando vejo uma coisa dessas oscilo em algum lugar entre a direita de Winston Churchill e a canhota de Mussolini. And no shame about it...
não dá pra respeitar jogador de futebol como não dá pra respeitar crentes evangélicos: seus prenomes causam ou náusea ou espamos de gargalhada. Tipo: Neymar, Melquisedeque, Joab, Maicon.
ResponderExcluirMaicon, minha gente! Alguém que nasce com o nome de Mitusael ou vira auxiliar de pastor da Universal ou vice-campeão de sub-17. E não tem Escola Técnica Federal nem Nucleo de Orquestras Juvenis que dê jeito.
O nome faz o homem. Já dizia James Joyce.
(pois é: acordei pelo sátrapa hoje. Vá perdoando aí...)
Lucas,
ResponderExcluirOs nomes curiosos dos jogadores de futebol não tem necessariamente a ver com o esporte bretão, é um fenômeno que diz respeito a como as classes baixas da sociedade brasileira, nos últimos trinta ou vinte anos, passaram a nomear seus filhos com nomes - ou versões de nomes - anglo-saxões, talvez como forma de lhes dar uma individualidade frente ao mundaréu de josés, joaquins e joões das gerações anteriores - o que produz, com a colaboração dos cartorários, curiosas formações.
Em suma, trata-se de firmar a "diferenciação entre", feito pelo proletariado urbano em formação como forma de tirar seus filhos da passividade do anonimato num país onde a população, em grande parte descendente de escravos, uma vez liberta adotou sobrenomes comuns para se mimetizar socialmente - a fórmula "nomes com influência jesuíta + sobrenome comum" uma espécie de rótulo de nivelamento ao caldo social -, mas depois resolveu se individualizar na medida que de alguma forma se inseriu nessa sociedade.
O futebol, por sua vez, como é das poucas instituições nacional a realmente levar um pouco a sério a história da meritocracia, acaba selecionando seus quadros de forma mais ou menos homogênea em todas as classes sociais. O monte de neymares e maicons, nesse contexto, acaba por ser um indicativo de que plebeus sobem aqui - pelo menos para atuar nas quatro linhas -, o que contradiz a "meritocracia progressista" hegemônica, herança do positivismo que defende a "competência pessoal" só em disputas que sabe que vai largar na frente pelas contingências da história - e por isso, talvez, fale coisas como "massificação do ensino superior" num país onde apenas 11% da população adulta tem diploma universitário, só para proteger seus rebentos da concorrência dos filhos dos trabalhadores que começam a entrar na Universidade.
De certa forma, concordo contigo: futebol é, ou pelo menos tem sido, um atravancamento de progresso - pelo menos nas quatro linhas, pois sua administração infelizmente não - e eu junto com outras milhões de pessoas gostam dele por isso; infelizmente, temo que isso esteja mudando, nem tanto pela forma de selecionar os atletas, mas pela penetração cruel do progressismo no seu modo de funcionar interno.
É porque Lucas não gosta e não acompanha futebol, senão teria ainda mais motivos para dar risadas (ou se aborrecer, sei lá), vide Maicossuel: Richarlysson ou o mais incrível de todos Creedence Clearwater (grafado corretamente), um boleiro do Guarani que eu não sei onde anda.
ResponderExcluirMas, falando sério, concordo contigo, preterir Maicon em favor do futebol absolutamente inofensivo de Daniel Alves na seleção é uma incógnita. Ontem, a verdade foi restabelecida.
E a pressão em cima de Ganso, Neymar e Pato, resultado do marketing que hoje domina completamente o futebol, é verdadeiramente muito grande e desproporcional ao que, principalmente Pato, eles podem oferecer.
De fato, Anrafel. E o Daniel é o famoso jogador de clube: é bom no Barcelona e medíocre na Seleção. O trio aí citado é isso mesmo: Ganso, Neymar e Pato - que nem centroavante, muito menos goleador, é - são bons, mas se começarem a levar a sério o marketing que fazem em cima deles e pensarem que são muito mais do que isso, tendem a ser péssimos em campo - como foram nos dois primeiros jogos do time. Mas mesmo na melhor das hipóteses, é muito pouco para ser campeão mundial.
ResponderExcluirabraço
Não é meramente que eu não gosto de futebol. Eu odeio, no sentido védico do termo. Eu abomino. Eu acho uma patologia que, mesmo que eu dela não participe, me atinge.
ResponderExcluirEu combato a existência mesma do futebol como combato a do cristianismo.
Em tempo: Hugo usa os mesmos argumentos que Roberto DaMatta, um funcionalista de direita. "Futebol como encenação do dilema nacional" e "único espaço de meritocracia real fora da implantação positivista da República".
Ora, nada disso impede de constatar, ou nega, que o futebol, no Brasil atual, é um sintoma social (e nisso não difere dos Neo-Pentecostais) e é uma patologia social (tanto quanto a deterioração do espaço urbano).
Richarlysson merece todo o bullying homofóbico que sofre. Não por causa desse nome (embora nenhuma mãe supõe que chamar o filho de Richarlysson dá a ele alguma chance de escolher pela heterossexualidade).
ResponderExcluirE sim por ser viado e gostar de futebol. Ora, dê-se ao respeito: viado que merece o previlégio real de gostar de homens (meu pai já dizia: "não é viado quem quer, mas quem pode" - ouviu, Bolsonaro?!) deveria se dignar a ocupar-se de atividades civilizatórias mais elevadas do que chutar uma bola.
Saudades do tempo em que homossexualidade era doença: era infinitamente mais elegante!
resumindo:venceu,mas não convenceu...
ResponderExcluirLucas,
ResponderExcluirA minha fala é tanto mais uma ironia à história da meritocracia do que um elogio a ela. E futebol não é encenação do dilema nacional. Como todo esporte, ele é uma pequena guerra castrada, das muitas decorrência da civilização - mas das melhores -; é um paradoxo; a guerra que não mais travamos - não nesses moldes - reduzida à representação, mas ao mesmo tempo, ainda que contido, traz algo que a civilização não pôde tirar de nós.
Mas num país onde até mesmo as forças armadas são uma instituição elitizada - ao contrário do que vemos, por exemplo, na Venezuela ou na Colômbia -, o fato do esporte principal conseguir ter se livrado dessa tônica é espetacular - por isso futebol tornou-se mais do que um mero esporte, nesse sentido, ele é, pelo menos em parte, um dedo na ferida nas contradições da nossa sociedade e onde negros e plebeus, historicamente, conseguiram o espaço que lhes era denegado em tantos outros setores.
Anônimo: não mesmo. Mesmo quando o time ganha, ganha mal. Como eu adiantei aqui, é uma crise no nosso futebol que, inevitavelmente, termina na Seleção - embora fatores mais próximos como a política da CBF para o time nacional e o seu comando técnico influam bastante. Não se monta uma seleção vencedora agradando a gregos e troianos, mas hoje, mais do que nunca, é mais difícil desagradar o sistemão por conta de 2014 - e aqui não falo só de Globo ou CBF, mas também da mídia esportiva "alternativa", que, embora defenda medidas decentes para a política do futebol, é bastante idealista no que toca às quatro linhas.
ResponderExcluirabraços
o Exército no Brasil não é "elitizado". É ex-pobre. É classe C do Segundo Reinado. É pé-rabado que se achou muita-bosta depois da vitória no Chaco. E aí brincou de derrubar um Imperador e a constituição nacional.
ResponderExcluirA Marinha era, sim, elitizada. Aliás, a vitória sobre o Paraguai se deve mais a esta; e o genocidio, este sim se deve ao Exército.
A Aeronáutica é francamente burguesa, mais moderna, mas muito moralista.
E nem contamos essa coisa abstrusa que são as Policias Militares Estaduai, que Pedro II tinha de ter dissolvido e não dissolveu a titulo de emular algum federalismo. Nisso, Sua Majestade errou. Também, ninguém pode acertar sempre.