O diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, divulgou ontem as seguintes declarações:
"O uso da expressão "ditabranda" em editorial de 17 de fevereiro passado foi um erro. O termo tem uma conotação leviana que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis.
Do ponto de vista histórico, porém, é um fato que a ditadura militar brasileira, com toda a sua truculência, foi menos repressiva que as congêneres argentina, uruguaia e chilena -ou que a ditadura cubana, de esquerda.
A nota publicada juntamente com as mensagens dos professores Comparato e Benevides na edição de 20 de fevereiro reagiu com rispidez a uma imprecação ríspida: que os responsáveis pelo editorial fossem forçados, "de joelhos", a uma autocrítica em praça pública.
Para se arvorar em tutores do comportamento democrático alheio, falta a esses democratas de fachada mostrar que repudiam, com o mesmo furor inquisitorial, os métodos das ditaduras de esquerda com as quais simpatizam."
Otavio Frias Filho"
Nem ia escrever nada hoje, mas não podia ter deixado passar: Otavinho acusou o golpe, do contrário não teríamos chegado até aqui. A não retratação em relação à ofensa aos professores é só um modo de não dar o braço totalmente a torcer, só isso. Não foi apenas o pequeno e barulhento protesto de ontem. Não foi apenas a reação na Internet. Não foi apenas a reação no Painel de Leitores. Não foi apenas a reação que houve em meio à sociedade. Foi o conjunto da obra.
Há quem ache que a Folha transgrediu certas linhas que não poderiam de modo algum serem ultrapassadas. Eu, cá no meu cantinho, penso que o desditoso editorial apenas demostrou que houve a transgressão porque, claro, ela aconteceu muito, muito antes disso. No entanto, ao fazê-lo nessa ocasião, ele explicitou e gritou bem alto: Olhem pra mim, estou aqui bem além dos limites da sensatez há décadas!
Pelo menos alguns setores se deram conta de que foi praticado um ato indefensável - e os que se deram ao luxo de defendê-lo, tentaram fazê-lo por meio da desqualificação pessoal dos críticos, do uso de factóides, enfim, do desfoque do debate, o que apenas acusava mais ainda o golpe, com o perdão do infeliz trocadilho. O protesto foi válido porque externou que isso não pode ser aceito pelo povo brasileiro, que os desejos e feitiches doentios dessa gente deve ficar lá, dentro da cabecinha deles, em meio às vozes que ficam brigando o tempo inteiro e de sua falecida e putrefada consciência
Pode até existir quem ache que há volta para o que foi escrito, mas não há quem acredite que isso possa acontecer sem manchas - que os cândidos acreditam que podem e devem ser perdoadas e que os cínicos procurarão, por certo, esconder. Eu, pessoalmente, não creio. Penso que as linhas que foram transgredidas não agora, mas há muito, não mais permitem retorno de modo algum. Há quem diga que os anos 70 da Itália insistem em não terminar, cá, no nosso Brasil varonil, houve um Primeiro de Abril que insiste em não acabar.
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