sexta-feira, 27 de março de 2009

Urbe et Orbe

Semana cansativa essa. Tanto física quanto mentalmente. O transporte público paulistano mata qualquer um. Mas não é só isso que me cansa, é essa vidinha que se tem no Brasil hoje. São Paulo, a maior cidade do país, é hoje uma cidade desinteressante, poluída, desumana e cada vez menos inteligente. É a São Paulo da Daslu, dos shopings frequentados por uma elite não muito sofisticada que toma a ironia por verdade e a polêmica por ofensa.

Uma cidade de desiguais, onde o porteiro do prédio, o zelador, enfim, todos aqueles que dão substancia à cidade estão relegados a viver em bairros periféricos decrépitos nos quais a revolta e a violência viscejam enquanto apenas a vã ilusão mantém as pessoas de pé; é a cidade do ganhar dinheiro, dos universitários que aos muxoxos se perguntam qual o motivo de terem aulas de Filosofia - nos raros momentos em que se preocupam em criticar algo, diga-se.

Embora São Paulo encarne muito do mal de nossa época, por outro lado, há muito de idiossincrático nessa crise. Veja você, meu caro leitor, que para os gregos antigos, a Pólis era ao mesmo tempo um mundo em escala reduzida (microcosmos) e um homem em proporções gigantescas (macroantropos); convenhamos, era um paradoxo interessante: A cidade enquanto mundo em miniatura e enquanto gigante - em relação ao qual éramos células -simultaneamente; nesse sentido, a São Paulo contemporânea expressa ao mesmo tempo os males do mundo em sua escala ao mesmo tempo em que acusa uma doença - que antige muitas de suas células, diga-se - e que corrói feroz e rapidamente seu tecido conjuntivo.

O horizonte tem uma coloração meio púpura, o ar é carregado e seco, a sensação é de anestesia. Nada é real, tudo é casual e fugaz. Todos concorrem contra todos e contra si mesmos - será que eles tem noção do suicídio que cometem ou no fundo será que o desejam?

4 comentários:

  1. Hugo, por acaso você assistiu ao filme "Linha de passe", de Walter Salles? Vale muito a pena, embora certamente você ficaria ainda mais deprimido em relação a SP. Eu nasci aqui, mas morei muito tempo emoutros lugares, e não aguento mais essa cidade...

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  2. Maurício,

    Não assisti, mas vou procura-lo. Tenho minhas dúvidas se eu consigo ficar ainda mais deprimido em relação a São Paulo, talvez o filme até me ajude a refletir um pouco mais sobre as coisas.

    abraços

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  3. Mauricio e Hugo,

    Também nasci e cresci em São Paulo, num bairro de periferia, mas vivi em outras cidades, tanto no interior do estado como no Rio de Janeiro, onde passei alguns meses morando no Morro de São Carlos, perto do Centro.

    Acho que existem muitas maneiras de olhar a cidade e vocês escolheram a mais pessimista delas, (risos). Eu adoro isso aqui!

    Contrastes entre riqueza e pobreza existem em praticamente todas as cidades do Brasil, até mesmo nas mais pequenas. Não conheço outras metrópoles mundiais mais até onde sei nenhuma delas pode ser considerada um paraíso na terra, embora certamente muitas delas tenham uma qualidade de vida melhor que Sampa.

    O que eu gosto em São Paulo é a anonimato que a cidade proporciona. Querendo você desaparece aqui, ou aparece sob outra identidade. Só as metrópoles são capazes disso. Tem mais, existe uma gama tão grande de eventos culturais gratuitos ocorrendo pela cidade inteira, com tantas possibilidades de entretenimento, participação e engajamento que ficar isolado ou entediado é uma opção. Nem no Rio, que é uma cidade quase tão grande quanto São Paulo, existe tanta variedade de espaços culturais. Não falo apenas dos espaços públicos, mas também de centros comunitários e casas como o Sarau do Binho e Coperifa, ambos perto da mina casa, na periferia.

    Transito caótico, transporte público ruim, poluição, são preços a serem pagos pela ação _ ou falta de ação _ dos próprios moradores da cidade. Dentro de alguns limites que a participação política impõe, os moradores da urb é que são os responsáveis pela cidade que tem.

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  4. Eduardo,

    Olha, eu fico bastante contente pela maneira como você consegue encarar os problemas da cidade e retirar o que há de bom nela para se sentir feliz.

    Eu, no entanto, nunca fui tão otimista quanto a ela, mas confesso que de uns tempos pra cá tenho andado mais pessimista do que a média. Quando escrevi esse post, o fiz em tom de desabafo mesmo, enfim, o que eu tava sentido a respeito das coisas naquele momento - e certamente foi mais emocional do que racional.

    Acho o anonimato legal até certo ponto. A cidade ideal seria aquela onde houvesse um meio termo entre a intromissão paranóica das cidadezinhas do interior e essa evanescência existencial da nossa paulicéia - confesso que isso as vezes me aflige bastante, pra ser sincero, entre um coisa e outra eu ficaria com a cidadezinha...

    abraços

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