(Foto retirada daqui)
Quando pensamos num espaço de tempo entre vinte e vinte cinco anos atrás, o Brasil era um país internacionalmente insignificante. A Ditadura Militar de cunho Fascista que governou o país por longos 21 anos - e que só veio a terminar apenas em 1985 - implodiu espaços democráticos, ao mesmo tempo em que implodiu espaços democráticos, produziu também um discurso fortemente anti-democrático que se capilarizou pelos mais variados setores da sociedade brasieira.
Toda uma geração foi derrotada por um Regime que era inviável desde o começo e assentava sua funcionalidade tão somente no vácuo do jogo sujo da Guerra Fria; os militares mantiveram um desenvolvimento ilusório por meio de uma massiva e insustentável tomada de empréstimos vultuosos que, pela vez deles, iam para setores parisitários da economia, controlados por grupos que lhes eram politicamente favoráveis, agravando o problema de desigualdade social do país e construindo um processo de urbanização desastroso cujas consequências nós bem sabemos.
A transição da Ditadura para um novo regime é marcada por um antagonismo entre os setores que se beneficiaram do esquema parasitário da Ditadura e os setores populares que clamavam por Democracia após o fracasso do regime autoritário e do modelo nacional-desenvolvimentista - por mais que algumas pessoas ainda alimentassem ilusões sobre esse ponto. Levando em conta nosso tamanho, a repercussão desse processo foi praticamente nula.
O Brasil que encontramos há dez anos atrás não é muito animador; a Constituição de 1988, apesar de ser um marco modernizador, não marcou a resolução entre o antagonismo anterior, mas foi apenas uma trégua entre tais setores mediada por uma Assembleia Nacional Constituinte que beirava ao mero representativismo aristocrático - e isso vale para a sua estrutura, o que inclui os setores de esquerda que lá estavam.
De tal forma, em 1999, a Constituição já havia sido profundamente alterada, em especial pelos setores reacionários pró-ditadura; mais do que isso, tais setores haviam encontrado, aparentemente, a saída para seus problemas na demagogia liberalóide de FHC que, por sua vez, achou um modo de mudar tudo sem mudar nada e, consequentemente, a fórmula para se eleger e reeleger.
Novamente nos víamos às voltas com um modelo insustentável, mais ainda do que o outro, que teve o seu canto do cisne pelo meio do caminho dos periodos históricos que eu estou narrando, mas, já aí, entrava em colapso - O Brasil era mais uma nação dependente do FMI com um crescimento medíocre, submetido à política externa de Washington e que mantinha, pra acabar de lascar, uma posição ambivalente, para não dizer cínica, em relação aos nossos vizinhos na América Latina. Qual a relevância política do Brasil? Pouca, apesar de estar entre as dez maiores economias do mundo à época.
Esse projeto, obviamente, ruiu. No seu lugar entra o PT com Lula e enormes - e difusas, na prática conflitantes - esperanças de construção de um modelo sustentável de país, socialmente menos injusto, preocupado com o meio-ambiente e verdadeiramente livre. Entre atropelos e belas ultrapassagens, recuos desnecessários e avanços impressionantes o Governo Lula segue já há sete anos. O Brasil, no entanto, não está pior do que estava há dez anos atrás e, mais do que isso, o nosso país nunca foi tão importante internacionalmente quanto é hoje.
Pensemos juntos, isso não é apenas efeito de um aumento nas taxas de crescimento econômico do país ou mesmo das exportações é isso e mais do que isso; China e Índia, antes de caírem nas mãos das potências ocidentais no século 19º eram das maiores economias daqueles tempos e nem por isso tiveram capacidade política de se articularem para evitar o colonialismo europeu.
A causa de um determinado ator nacional ter importância internacional não é apenas o seu peso econômico, mas também a sua capacidade de conduzir as relações que mantém com outros atores internacionais de modo efetivo - logo, assentada em um projeto coeso -, portanto, ser politicamente capaz de se articular internacionalmente é, sobretudo, causa de desenvolvimento econômico e não mera consequência - como podemos assistir com a conquista da realização da Copa de 2016 e das Olímpiadas de 2014.
Critiquemos os erros do Governo Lula, mas admitamos que se há algo profudamente bem sucedido nele é sua política de relações exteriores - capitaneada por Celso Amorim -, afinal, ela conseguiu dirimir a falsa - e improdutiva - dicotomia entre primeiro-mundistas e terceiro-mundistas, construindo uma nova lógica de articulação internacional - e internacionalista - extremamente efetiva no plano político estrito e no plano econômico. A comunidade internacional, obviamente, reconhece isso.
Amorim capitaneia um projeto que se trata de uma verdadeira revolução no nosso modo de fazer política externa e é visto com o devido respeito na comunidade internacional. No recente tour pela Europa, Lula foi recebido sob auspícios de estadista tanto na inconstante Ucrânia quanto na poderosa Alemanha - e note, trata-se do mesmo Lula que é bem recebido na mesma Rússia que vive às turras com Kiev, ou aquele que visita tanto Caracas quanto Washington e é adulado pelos dois lados.
Funcionassem outras áreas do Governo Lula como funciona o Ministério das Relações Exteriores e não estaríamos nem discutindo 2010, com oposição canina ou não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário