segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A Temporada Verde



Ainda falando um pouco sobre futebol, resta uma análise do que foi a temporada do meu querido Palmeiras. Das incertezas da montagem de um elenco predominante jovem por Luxemburgo no início do ano até a decepção da perda não só do título como da vaga para a Libertadores na última rodada, muita água rolou, com um sobe e desce de expectativas bem grande.


Em um primeiro lugar, acho que a diretoria errou em manter Luxemburgo no cargo depois dos erros abissais que ele cometeu no Brasileirão 08, o que obrigaram a uma demissão do treinador ou uma reformulação quase total de elenco - a segunda hipótese foi concretizada, quase que automaticamente, numa decisão rara para o futebol brasileiro.

Por outro lado, Beluzzo assumiu a presidência do clube com a promessa de modernização de uma agremiação que, desde o fim dos anos 70, vive às voltas com o que Gramsci definiria por crise de hegemonia - excetuando a era Parmalat, um ponto fora da curva, quase tudo que envolveu o período de 78 em diante rimava com fracasso. Pesados prós e contras, Beluzzo não somente era - como ainda é - o melhor quadro dirigente alviverde.

Pois bem, o time começa o ano surpreendentemente bem, batendo e arrebentando no Paulistão, até que perde o rumo e o prumo e Luxemburgo não consegue, assim como em 08, reverter a trajetória de queda da equipe. De um início arrasador, o Palmeiras quase perdeu a liderança da Primeira Fase do Estadual para um ascendente São Paulo, mas acabou, logo mais adiante, sofrendo uma eliminação vexatória diante do Santos - não pelo rival, mas pela forma como se deram as coisas.

Luxa permanece como treinador, conduz o time a uma classificação surpreendente para a segunda fase da Libertadores - depois de um início titubeante -, mas tropeça nas quartas de final, diante de um fraco Nacional-URU, mesmo depois de ter, heroicamente, eliminado o Sport nos penâltis nas oitavas. O treinador, apesar do segundo fracasso, é mantido para o decorrer do Brasileirão.

A queda de Luxemburgo ocorre por um motivo tosco. Keirrison, até então estrela do time, acaba negociado com o exterior, usando o clube como mero trampolim, traindo o acordado com o próprio técnico, mas poderia, mesmo já tendo sido contratado, retornar ao Palestra Itália para ir para a Europa somente com o fim da temporada brasileira. Luxemburgo não concorda, afirma publicamente que não gostaria de trabalhar com o atleta nessas condições e acaba demitido pouco depois.


Venhamos e convenhamos, Luxemburgo poderia e deveria ter sido demitido no fim de 08, acho que ele cometeu erros suficientes naquele Brasileiro para tanto; até poderia ter sido demitido após o estadual ou da Libertadores, mas o motivo pelo qual e momento no qual ele foi demitido, realmente consistiram no primeiro grande erro da administração Beluzzo.


Ainda assim, o Palmeiras estava bem colocado no Brasileirão, mesmo disputando a Libertadores, acabou somando uma quantidade considerável de pontos. Beluzzo, no entanto, vai lá e comete o seu segundo grande erro e faz uma proposta pública para contratar Muricy Ramalho, recém-demitido do São Paulo, e acaba jogando o treinador contra parede. Acaba ouvindo um sonoro, mas educado não como resposta.

Beluzzo, com o rabo entre as pernas, passou a divulgar a versão de que não iria contratar técnicos medalhões para gastar o dinheiro com reforços - uma demagogia que fazia sentido na cabeça dos torcedores e ainda jogava a suspeita de mercenarismo sobre Muricy. O dirigente verde, ainda por cima, assistiu a um dos raros episódios de sorte do Palmeiras em décadas: O interino Jorginho, acometido pela magia que às vezes se abate sobre interinos, pôs ordem no time, juntou um elenco com os brios feridos pela saída de Luxemburgo e a rejeição de Muricy e desembestou a ganhar jogos, chegando à liderança do torneio.

Aí chegamos ao terceiro grande erro de Beluzzo. Tudo bem, ele teve duas chances até chegar nesse ponto, convenhamos que querer uma terceira chance seria demais também: Ele manteve as negociações com Muricy e anunciou o treinador justo quando o Palmeiras liderava o torneio. Isso foi um balde de água fria no elenco que havia se sentido rejeitado há pouco tempo atrás. A queda de desempenho do time da Barra Funda foi patente e rápida; de um time que jogava por música com Jorginho, veio à mediocridade.

Daí temos mais contratações;
Obina, uma incógnita vinda do Flamengo; Robert, um bom atacante reserva é trazido do futebol mexicano; Figueroa, uma boa revelação chilena é trazida do Colo Colo para a carente lateral-direita verde e Vagner Love, estagnado pelos anos num futebol de segunda categoria - como é o futebol russo atual -, é trazido a peso de ouro - consistindo no quarto grande erro de Beluzzo, esse, trágico. Mesmo a ideia de manter o excepcional Pierre tropeça numa das peças do destino: O excelente cabeça de área se contunde em um treino e acaba ficando meses afastado do elenco.

Aos trancos e barrancos o time se mantém na liderança do torneio até o seu ápice no torneio quando enfiou 3x1 no Santos. Depois daquele jogo as coisas desandaram, principalmente com declarações de Muricy falando que Diego Souza era "o único craque do time" - hã? Como assim e Marcos? -, soltando pelos cotovelos, ainda, algumas contradições do elenco que ele além de não ter resolvido, ainda aumentou. Disso daí em diante, ladeira abaixo. O que culminou na ridícula briga entre Obina e Maurício.

Depois de dezenas de rodadas liderando, o Palmeiras que era candidato a Libertadores de início, depois cismou em se apresentar como favorito ao título, acabou perdendo ambos com a derrota jocosa para o Botafogo na última rodada. As previsões para 2010 não são boas; Muricy é um morto-vivo no comando do time como Luxemburgo era de 08 para 09, mas não terá ao seu dispôr uma reformulação de elenco nem parecida.

Com o balanço de 09, provavelmente a parceira
Traffic vá rever muito dos investimentos que fez no Palestra Itália este ano, pois tudo leva a crer que o time fechará com contas não muito boas. As contratações de Leo pra zaga e Márcio Araújo complementam bem setores problemáticos do time verde, mas não resolvem. Vender Diego Souza pode ser uma grande pedida, o meio alterna demais e ainda não é o tipo da figura com maiores espíritos de grupos. A saída de Vágner Love, um jogador que eu já dizia à época que estava condenado a se estagnar ao deixar o Brasil tão cedo para atuar num futebol decadente, é um favor.

Pensando no elenco que ainda temos, Marcos ainda pode ser bastante últil enquanto Bruno não estiver pronto para ser titular; na zaga Maurício Ramos e Danilo podem subir de produção disputando vaga com Léo e ainda resta o experiente Edmílson - que, honestamente, não sei se terá pique para ser titular. Armero terá a figura do promissor Gabriel Silva pela lateral-esquerda, enquanto Figueroa tem tudo para fazer uma grande temporada pela direita; a manutenção de Pierre e Souza como volantes é positiva, ainda mais com a vinda de Márcio Araújo e a presença de Wendel que, não sei porque, não é mais utilizado na posição de origem; nas meias, Deyvid está em ascenção, mas eu faria uma força maior para manter Cleiton Xavier e vender Diego Souza - e não o contrário -, além de torcer para que
Valdivia volte; no ataque, manteria Robert, comemorei a saída de Vagner, mas não gostei de não terem mantido Ortigoza.

Em suma, 2010, para o horror da torcida palestrina, os ventos são favoráveis, novamente para o
São Paulo - com sua auto suficiência e sua bela organização de Clube - e para o Corinthians - que se não fosse pelo demasiado ufanismo que o ano do centenário produz nas já ufanistas torcidas, levaria muita coisa mesmo. O verde corre por fora. É esperar para que Beluzzo aprenda com seus erros, que algo comece a se fomentado nas instâncias administrativas verdes para produzir mais nomes capazes de dirigirem os times e que Muricy abaixe um pouco a bola, reúna o elenco em torno de um projeto e, com um cadinho de humildade, coma pelas beiradas no estadual e na Copa do Brasil - mas talvez tudo isso seja pedir demais.


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