quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Reflexões sobre o Partido dos Trabalhadores
No que toca o período imediatamente posterior à abertura da Ditadura Militar - lenta, gradual e segura como diriam seus artífices -, um ator fundamental começa a se delinear no horizonte político brasileiro: O Partido dos Trabalhadores. De debates entre variados setores da esquerda, resultou, em poucos anos, uma agremiação política que unia elementos das estruturas dos sindicatos do ABC, dos movimentos de chão de fábrica de São Paulo, das comunidades eclesiais de base, da intelectualidade, de pequenos grupos socialistas - vanguardistas ou não - e afins que constituíram o primeiro partido de esquerda com vínculos efetivos com a sociedade.
O primeiro grande debate que permeia esse partido é se ele deveria ser tático ou estratégico. Sobre isso, nunca se chegou por meio dos debates internos a uma conclusão clara. A resposta para tanto está em um dos pontos de virada na história petista que se desenha na esteira da derrota de Lula na campanha para governador do estado de São Paulo em 82; o sindicalista que parou o ABC no fim dos anos 70, sofre uma fragorosa derrota eleitoral e movimentações em torno da dissolução do PT no PMDB - ou mesmo no PDT - ganham força: O coro dos defensores da tese do PT enquanto partido meramente tático cresce e o ano que se segue é duro para o partido. Mas em 83 é escrito o documento que muda a história do PT e define os seus rumos: A Articulação dos 113, texto assinado pelo referente número de membros do partido - dentre eles, Lula - defendendo a continuidade da existência do PT manifestando-se contra a dissolução dele em "uma frente oposicionista liberal como o PMDB" ou àqueles que se deixam "seduzir por uma proposta 'socialista' sem trabalhadores, como o PDT"
Esse documento muda o funcionamento do partido ao longo dos anos 80; os signatários dele se tornam uma corrente dentro do partido assumindo-se como os petistas puros e surge aí um antagonismo com as correntes com identidade mais forte; a Articulação, por motivos óbvios, passa a controlar aos poucos as estruturas de um partido que a cada dia que passa vai se institucionalizando mais e mais. As causas para isso não se limitam às práticas políticas internas do partido, mas também ao próprio arrefecimento da Teologia da Libertação, o que atinge as alas católicas do PT, responsáveis principais pela política de base do Partido. Setores vanguadistas em sentido estrito são adestrados ou expulsos, mas lateralmente à sua organização enquanto partido de massas, vai se estruturando organismo burocráticos que trazem em seu cerne certa medida do vanguardismo e do dirigismo que alegavam combater.
Já no fim dos anos 80, quem dá as cartas no jogo na esquerda brasileira é o PT. O Antagonismo entre a Articulação e o resto do partido está resolvido com a hegemonia do primeiro; a questão agora é decidir quais os rumos que o partido seguirá; o PT, enquanto partido de massas, seguirá o caminho da revolução ou do reformismo? É nesse clima de intenso debate interno que o partido vence as eleições em uma série de municípios importantes e que disputa a Presidência da República com reais chances de vencer. Enfim, Trata-se daquilo que o velho Maurício chamou de o Dilema da Estrela: Branca ou Vermelha.
Obviamente, alguns fatores colaboram para a resolução dessa contradição; o fim do bloco socialista serve de impulso para os setores que ainda alimentavam ilusões quanto ao leninismo aderirem a um discurso social-democrata; a esquerda católica enfraquece, mas mesmo assim, ela sempre foi inercialmente social-democrata; a Articulação, com seu pesado núcleo sindicalista sempre tendeu para esse lado, ainda mais com o seu fortalecimento eleitoral nas duas últimas eleições dos fins dos anos 80. Esse é o quadro que estava no ar nos anos 90, mas não havia uma definição clara.
A cartada final mesmo é a Carta ao Povo Brasileiro. Ela inicia essa quarta fase do partido e é o marco da escalada que conduz Lula à Presidência da República. Se antes o processo de institucionalização petista era interno, agora, o partido já institucionalizado se integra perfeitamente ao sistema político-partidário nacional e disputa a hegemonia dessa maneira. O problema petista passa a ser o mesmo dos partidos social-democratas pelo mundo: Se a estratégia é ocupar as instituições burguesas para subvertê-las, obviamente, passa a existir uma demanda pela criação de uma tecno-burocracia interna capaz de permitir que o partido atinja essa finalidade - e aqui falo de uma social-democracia do pós-guerra, sem a emancipação humana no horizonte visual, apenas pensando em administrar melhor as coisas e arrefecer a miséria capitalista.
Isso nos conduz a um problema objetivo: As instituições burguesas não são neutras; elas são passíveis de tranformação, mas também transformam quem as ocupa. Levando em consideração o que realmente são as instituições brasileiras, explica-se o que houve com o PT nos anos do Governo Lula. O Governo atual não significa pouca coisa; ele conseguiu preservar o avanço dos direitos individuais e trouxe avanços relevantes no que toca ao desenvolvimento econômico e social do país, mas em contrapartida as instituições corroeram consideravelmente o potencial transformador do PT.
Outro ponto não menos relevante, é que com isso, o PT caiu na arapuca-mór do Estado brasileiro: Se perdeu em meio à relação antagônica entre uma ordem jurídica moderna instituída verticalmente - e sem a construção dos devidos espaços políticos correspondentes para recepcionar essas mudanças na base da sociedade brasileira - e uma ordem política arcaica em certa medida também anacrônica - e e esse equívoco, notem, é uma espécie de herança maldita do positivismo, afinal, algo não muito diferente ocorreu quando da instauração da República. Essa evolução social do país vista nos últimos anos, por si só, não resolve essa questão, ao contrário, ela vai até onde essa contradição permite que ela vá.
O PT hoje é uma das maiores agremiações políticas do país caso pensemos no peso que ele tem nas instituições e as posições que ele ocupa, mas sua importância em meio à sociedade civil diminuiu: O partido da estrela sempre foi uma aguda singularidade na nossa história política justamente por ter sido o único partido brasileiro a ter vínculos reais com a sociedade, mas isso está se perdendo de maneira severa e de um modo muito rápido. Faltam grandes teóricos de política e economia e a porosidade para intelligentsia se estreita na medida em que o próprio espaço para a reflexão diminui - diante da afirmação de um pragmaticismo que sempre existiu lá dentro e decorre de certos vícios da esquerda mundial pós-Revolução de Outubro, mas que agora se acirra. Isso se revela, por exemplo, na forma como as escolhas são tomadas internamente, como escreveu recentemente Alexandre Nodari - em um texto que eu tenho lá as minhas discordâncias, mas que tem ótimos momentos, principalmente quando cutuca certas feridas que precisam ser cutucadas.
Sobremais, a tentativa de superação do PT por meio da fundação do PSOL, por sua vez, também se mostra um equívoco; o novo partido não consegue se livrar de certos vícios que remontam ao PT e ainda os reproduz com acentuada velocidade; ele também não consegue se colocar como uma antítese capaz de superar o projeto lulista - por sua vez, é preciso ressaltar que ele nasce de uma racha verticalmente realizado por uma série de quadros petistas que não conseguiram, ao longo desses últimos quatro anos, se aproximar da sociedade, caindo no hermetismo pequeno-burguês que durante décadas marcou a esquerda nacional.
Hoje, o reformismo petista, mesmo com a queda gradual e decidida do seu potencial transformador, ainda é o único pólo real capaz de produzir avanços sociais no país - e continuará o sendo até quando (e se) surgirem opções efetivas à esquerda e até quando (e se) a sua marcha atual lhe permitir produzir qualquer avanço que seja. Se acontecer a pior das hipóteses do segundo ponto conjugada a pior do primeiro, estaremos em um processo de exaustão da política nacional com consequências catastróficas. Resta ponderar o quanto os avanços sociais produzidos nos últimos anos poderá servir para oxigenar esse quadro. É hora da esquerda parar para pensar e largar mão da atitude binarista em relação ao momento histórico que estamos vivendo.
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Brilhante post, Hugo!
ResponderExcluirEu concordo com você que o PT ainda é o "único pólo real capaz de produzir avanços sociais no país", esse é o motivo, aliás, pelo qual eu ainda faço parte dessa agremiação. Também sinto falta, assim como você, de grandes teóricos que pensem a política de uma forma mais ampla e profunda ( se bem que me parece que esse não é um problema exclusivo do PT...) Mas me parece que numa democracia liberal, quando se chega ao poder, a práxis e o instinto de sobrevivência se impõem. Acho que Lula faz o melhor governo possível (claro que várias críticas são pertinentes) dentro dos limites que ele se propôs seguir na Carta aos Brasileiros - os limites da democracia liberal burguesa... Se é para jogar com essas regras, a intitucionalização e a conciliação são inevitáveis, e isso põe freio aos mais sinceros dos ideais...
A tentativa de superação do PT pelo flanco esquerdo, que é o que propõem o PSOL, não é possível até onde meus olhos podem enxergar. Por várias razões, mas a principal delas é que o PSOL tem um discurso negativo, nunca propositivo(com raras exceções, como o Plínio de Arruda Sampaio, que eu admiro muito). É moralista, um discurso de vestais. Ao invés de politizarem, eles contribuem para a despolitização da política, algo que considero muito daninho. O PSOL me parece uma variação do "gabeirismo", para citar o Alexandre, autor do post que você lincou e que eu considero totalmente equivocado, do começo ao fim (preciso até comentar lá, ou talvez escrever um post-resposta).
Não considero problemático o modo como as decisões são tomadas internamente no PT. Aliás, ele é o único partido que respirar ares democráticos, onde ainda há espaço para algum tipo de debate. Ora, aconteceu agora o PED e venceu o "construindo um novo Brasil", a antiga articulação, com mais da metade dos votos, e eles estão fechados com Dilma, assim como as chapas que ficaram em segundo e terceiro lugar. Ora, eles tem representatividade para escolher o candidato. Esse candidato é o mesmo que queria o presidente? Ótimo! Agora, querer, como propõe o Alexandre, que o Lula se abstivesse de participar da escolha do candidato à sua sucessão - com o peso e a popularidade que ele tem! - me parece algo , no mínimo, irrealista.
Além disso, o candidato ser escolhido sem consultar as bases não é nenhuma novidade no Brasil. A novidade foi a prévia que teve no PT em 2001. Não há nenhum autoritarismo nem nenhum sinal de "tragédia anunciada" no modo como Dilma foi escolhida. Lula apenas se adiantou, correu contra o tempo para viabilizar um nome, que vem se mostrando, aliás, muito viável.Lembre-se, o PT não tinha um candidato natural à sucessão de Lula.
Desculpe esse comentário longo e um tanto confuso... Parabéns pelo post!
Abraço,
Bruno
Hugo: post irretocável. Eu só acrescentaria um problema na gênese do PT: a meu ver, para entender a esquerda brasileira atual, é preciso atentar ao princípio em que ela se funda: o trabalhismo (leia-se: Vargas, Jango, Brizola) não é de esquerda (por ser populista, autoritário, personalista, etc.). A esquerda que "nasce" durante a ditadura não tem vínculos com o grupo político derrubado pelo golpe de 64 (ou melhor, com o seu ideário mais visível); aliás, quer se distanciar dele, como se fosse algo "arcaico" - dois exemplos, um teórico e outro prático: quando Lula se elegeu, o Idelber escreveu um lindo texto em que dizia que, enfim, o país superava o populismo; o PT se negou a compor governo com Itamar (depois, Lula faria uma mea-culpa disso - justamente quando começa a ver positivamente a figura de Vargas). Essa negação da herança varguista é boa por um lado (vide a esquizofrenia da política argentina, onde tanto Menem quanto os Kirchner são peronistas), mas ruim por outro: é toda uma história de acertos e erros que é negada com essa quebra na corrente do "progressismo" brasileiro (os erros se repetem, alguns acertos já feitos no passado são reivindicados como próprios, etc.).
ResponderExcluirQuanto ao PSOL: ele não repete os erros do PT. "Conquistar as massas" - isso é quase século XIX (e se acham tão diferentes do partidão). Mas a provável entrada do PSOL na chapa do PV (lembro do Tsavkko me dizendo que isso não tinha nenhuma chance de acontecer, pois a idéia tinha sido ridicularizada no Congresso, como se o Congresso em um partido de esquerda desse molde fosse realmente alguma coisa) pelo menos deixará claro que o "socioambientalismo" não é ecologismo burguês.
Bruno, meu amigo: na verdade eu não disse que Lula deveria ter se abstido de "de participar da escolha do candidato à sua sucessão", eu disse que ele "deveria ter se abstido de indicar o candidato a presidente pelo partido", ou seja, de decidir sozinho. Que Dilma fosse ganhar, ok. Mas a realização das prévias tem um valor em si, é saudável pra um partido que não queira repetir os erros da velha esquerda, nem os da tradicional política brasileira. E além disso, de vez em quando, pode surgir um caso como o do Obama. E, convenhamos: havia bastante tempo.
Concordo também que o PT seja o "único pólo real capaz de produzir avanços sociais no país" - mas, como o Hugo, acho que, se não houver reflexão, o cenário pode mudar. Meu post foi nesse sentido: os lulistas estão preferindo não ver e se fechando.
Nunca votei em um candidato que não fosse do PT ou coligado com ele (e já votei em cada bucha por causa disso). Mas porque acreditava no PT, no que ele representava, nos seus laços com os setores mais avançados da sociedade. Sempre votei em um projeto, em uma idéia. E identificar o que isso seja no PT de hoje, a não ser um nome - Lula - está um tanto difícil. Abraços
Bruno,
ResponderExcluirObrigado pelos elogios, meu velho. Só sou um pouco mais cético em relação ao Governo Lula, não acho que ele fez o melhor governo possível, mas sim o melhor governo relativamente aos outros que o sucederam, pois mesmo de uma perspectiva reformista recuada, não custa lembrar que o Brasil, juridicamente, não é uma Democracia liberal, mas sim uma Social-Democracia, o que acontece é que isso foi implementado na nossa sociedade de um modo obtusamente vertical - como a própria República -, portanto, mesmo com o PT resolvendo jogar o jogo da Ordem, ele teria muito mais a explorar do sistema - o que ainda assim é insuficiente, pois se saímos daquele estado de coisas de 67 para chegar à Constituições de 88 foi por conta das pressões dos movimentos sociais por fora da institucionalidade.
Enfim, ainda me resta a impressão que mesmo um PT resolvido a fazer um jogo institucionalóide, havia um espaço de manobra muito maior - isso sem falar se o Governo tivesse feito um jogo mais inteligente com os movimentos sociais e ainda se aproximado mais da sociedade civil em vez de ter se afastado dela, como aconteceu - esse seria o caminho do possível dentro da conjuntura atual segundo a minha perspectiva.
Ademais, Bruno e Alexandre, creio que o PSOL repete, em essência, aquilo que o PT tem e que colaborou para a atual situação, inclusive uma natureza heterogênea por conta da indisposição das variadas correntes que o Partido tem para se sentarem e refletirem juntas para chegarem a uma união orgânica. Obviamente, o partido do solzinho nasce em uma conjuntura desfavorável de uma forma desfavorável (por conta de um racha vertical) e acaba se perdendo a cada dia mais. Creio que o gabeirismo é apenas uma das vertentes ali dentro - posso te garantir que há de tudo ali dentro.
Sobre o post do Alexandre, discordo de alguns pontos que ele colocou - como eu externei no comentário que eu fiz à postagem -, mas creio que em essência ele fez uma provocação extremamente válida, além de que o próprio comentário que ele fez aqui acaba dirimindo certos pontos que ficaram elipsados lá. Em suma, eu concordo com ele na crítica ao processo de indicação de Dilma - e das demais decisões sobre a escolha de candidatos à presidência ao longo do tempo - assim como nessa ausência de reflexão cada vez maior que vemos dentro do partido - e sobre esse último ponto, creio que todos concordamos.
Sobre a bola que você levantou, Ale, creio que as origens da esquerda atual estão na superação dupĺa do nacional-desenvolvimentismo varguista - que de certa forma continua a existir mesmo debaixo da bota dos milicos - e da velha esquerda nacional, puramente vanguardista e isolada da classe trabalhadora. Essa revisão otimista que Lula faz do Varguismo, me parece um fenômeno não apenas recente como também lateral para a compreensão da esquerda brasileira moderna; ela é fundamental para explicarmos o lulismo, mas não exatamente o momento de toda a esquerda.
Bem, é isso, espero ter conseguido expôr as minhas ideias.
saudações coletivas
Hugo,
ResponderExcluirAcho que ficou muito forte a frase: "Lula fez o melhor governo possível". O que eu quis dizer é que tendo em vista as cartas que ele tinha na mão ele fez um ótimo governo. Ou seja, ele pegou um limão e fez uma limonada. Eu estou muito à esquerda do governo Lula, mas compreendo bem as razões dele. Ele até poderia explorar o sistema, mas não com as relações de forças que vigoram no Brasil atualmente. Então Lula teve que fazer o que ele faz de melhor:conciliar.
Quanto ao Psol, não quis dar a impressão que o partido todo é formado por pequenos gabeiras... Tem gente boa lá, como o citado Plínio de Arruda Sampaio (me encantei com ele qdo ele foi candidato a governo de SP em 2006 e tiha um discurso realmente revolucionário). O que eu quis dizer é que a parte mais visível, e parece que majoritária, tomando por base o último congresso, é a ala moralista, "gabeirista", com discurso tão raivoso quanto vazio.
E, para finalizar e aparar uma aresta, usei o termo democracia liberal como sinônimo de democracia parlamentar e isso, consequentemente, abarcaria a social-democracia... Mas entedi perfeitamente o reparo que você fez.
Um abraço
Bruno,
ResponderExcluirTranquilo, meu velho, aqui o negócio é dialético e a ideia é o debate mesmo ;-)
Não acho que Lula tenha errado em tudo, longe disso, mas se a ideia era tocar um treco social-democrata, ele errou um pouco a mão ao não explorar melhor esse Brasil potencialmente moderno que existe constitucionalmente - porque foi criado de cima para baixo -, efetivando com mais profundidade isso e dirimindo essa contenda entre esse Brasil e o Brasil velho - aquilo que eu chamo de arapuca-mór no parágrafo 8.
Evidentemente, esse não seria o meu plano, afinal, não sou social-democrata: A minha ideia seria seguir a luta institucional sem perder de vista a manutenção de um sistema de permanente oxigenação social materializado por uma política de bases efetiva - é verdade, estamos presos numa armadilha neokantiana e o único modo de sair dele é, diante da constatação da corrupção do partido pelas insitituições burguesas quando esse se presta a ocupa-las, executar um trabalho de base sério para atenuar essa necrose ou mesmo para que surjam mais capilaridades; também, para aumentar os vínculos com a sociedade, principalmente com os setores desorganizados dela, para que se organizem e assim construa algo que se afigura como um partido para poder intervir nas estruturas burguesas, mas que na prática funcione como não apenas um movimento, mas também um movimentador social.
Quanto ao termo "democracia liberal", entendi o que você quis dizer, mas eu procuro, por via das dúvidas, descontruir essa ideia para lembrar que nós somos, juridicamente, uma social-democracia, o que seria um problema caso a conjuntura política não fosse tão ruim, portanto, no lugar de um infortunío, acabamos tendo um instrumento poderoso que podemos usar para esvaziar o discurso liberal - que volta e meia se volta pregando contra a Constituição de 88 por conta das virtudes dela...
esclarecido isso, um abração e obrigado pela interação
Arrumando: "desconstruir essa ideia para lembrar que nós somos, juridicamente (...)"
ResponderExcluirO PT é o novo PMDB. Um partido grande e influente. Tem uma história de lutas e surgiu com um ideal transformador. O PMDB, depois de um momento, perde seu ideal transformador. E o PT?
ResponderExcluirAcho que melhor do que comparar com o PMDB, é comparar com o PTB original. Um partido social-democrata (ou trabalhista, ou seja qual for o nome técnico) reformista, com ampla base social e dependente de um líder carismático. No caso do PTB (e seu herdeiro, PDT), a sorte do partido sempre esteve ligada ao líder de plantão, fosse Vargas, fosse Jango ou Brizola.
O PMDB como partido é maior que seus líderes, o PTB/PDT sempre foi um partido menor que seus líderes. E o PT?
Sobre o PSOL, o que dizer? Resumidamente, o PSOL tem todos os defeitos do PT e nenhuma de suas qualidades. É hegemonista, dividido e pragmatista. Não tem uma ampla base popular, um discurso de massas e uma compreensão dos problemas cotidianos do Povo Brasileiro.
Voltando ao PT, a história não vai lembrar dele como partido em si, mas sim como o Partido do Lula. Ou seja, por mais que tenha sua importância, não acho que ele é o único pólo real transformador.
Taquaral,
ResponderExcluirContinuando a tabelinha que você começou, vamos lá: Eu acho muito difícil traçar uma simetria entre o PT e o que quer que seja na política nacional, no máximo, há fenômenos lá que não são estranhos ao sistema político-partidário nacional - ou à esquerda nacional -, no entanto, em termos conjunturais, ele foi sim algo completamente novo; nunca um partido conseguiu ter tamanho vínculo com a sociedade civil e nunca um partido de esquerda foi tão influente no Brasil.
O PMDB teve a sua importância histórica, mas ele nasce de cima para baixo enquanto, inclusive, oposição consentida à Ditadura - e só ganha uma significação maior à partir do momento em que se torna um instrumento possível para se minar a Ditadura - justamente quando alguns setores da esquerda passam se organizar lá dentro -, isso pelos idos dos anos 70. Depois, degenera rápida e profundamente justamente porque sua própria natureza não trazia mecanismos possíveis para evitar tal processo: Ele não foi um partido criado por uma classe dominante, mas sim pela burocracia que de alguma forma gravitava ou era admitida por um regime ditatorial.
O PSOL, desde que nasceu, sempre teve um espaço enorme para ocupar na sociedade brasileira, mas cometeu uma concatenação de erros que levaram ao seu momento atual. Essa incapacidade da esquerda aprender a divergir - já que concordar ou brigar não é lá muito difícil - explica essa estrutura partidária mecanicamente construída.
O PTB e, principalmente, o PDT são muito menores do que os seus líderes (Vargas e Brizola) ou até pior do que isso: Eles nunca foram praticamente nada mais do que eles. Lula não é maior do que o PT, mas por conta da nossa tradição personalista, por sua própria inércia pessoal e pelos mais variados interesses políticos, se tornou um fenômeno.
Ademais, como diria Croce, toda história é contemporânea, pode ser mesmo que prevaleça daqui a alguns anos a versão de um grande Lula e de um pequeno PT, mas isso só terá correspondência fática de um determinado momento em diante - "mensalão" para cá? - porque antes as coisas não eram exatamente isso.
E pelo tamanho e o potencial transformador que ainda tem, creio que o PT seja o único pólo transformador sim; há outros atores, mas não há quem consiga produzir mudanças de forma sistemática alheio ao partido da estrela, no máximo, eles o fazem com ou por meio d'ele.
abraços e obrigado por levantar a polêmica
Venho humildemente discordar da seguinte afirmação: "nunca um partido conseguiu ter tamanho vínculo com a sociedade civil e nunca um partido de esquerda foi tão influente no Brasil".
ResponderExcluirE, como figura retórica, antes de discordar, começo concordando. De fato o PT tem um vinculo social e uma influência que nenhum outro partido de Esquerda teve no Brasil. Mas temos que considerar a implacável História. No começo do século era Partido Comunista do Brasil que tinha maior vinculo social e influencia. Nos anos 50, o PTB cumpria esse papel. Porém, ambos tiveram seu vinculo social e influência na sociedade limitados pela estrutura social da época e pela repressão que sofreram. O PT tem hoje o maior vinculo social e influencia, até ser substituído.
O PT só será novidade caso não possa ser substituído. Mas, na minha visão, o PT só se tornou tão grande e influente, quando passou a ocupar o lugar do PMDB. E, assim como o PT substituiu o PMDB, pode ser substituído também.
Outra comparação interessante com o PT é o SPD alemão. Um partido de massas, criado com base no movimento sindical com influencia da intelectualidade. Em sua gênese tinha uma ideologia extremamente combativa que, para conquistar mais espaço, acabou sendo amenizada.
Em suma, acho que o papel do PT é fundamental, mas conjuntural. Não é perene.
Abraço!
Taquaral
ResponderExcluirSobre o Partidão, eu tendo a ir numa direção contrária mesmo: O modo como o PT, ou parte dele, por conta da intensa política basista dos seus primórdios, se inseriu na sociedade brasileira foi algo inteiramente novo na história político-partidária brasileira e, especialmente, dentro da nossa tradição de esquerda. No final dos anos 50, por exemplo, o Partidão estava se rachando num debate que envolvia as discussões internas de um outro partido sediado em outro continente enquanto havia demandas reais no campo e na cidade, logo ali, a poucos quilômetros de distância.
A própria maneira como o Partidão foi combatido com êxito no fim dos anos 40 sugere que a forma de política que ele tocava, muito além da conjuntura do momento, passa longe de produzir um vínculo real e efetivo com a sociedade por pura opção política mesmo.
O PTB dentro do campo do nacional-desenvolvimentismo varguista, não por opção, mas por natureza mesmo não tinha vínculos reais, pois estava empenhado num jogo de pacificação classes que se materializava na estrutura dos sindicatos peleguistas.
Quanto a possibilidade do PT ser substituído, mas por tudo que ele apresentou - e já construiu -, ele não deixará de ser um ponto relevante na História - como o SPD, em que pese o que se tornou, não deixará de ser pelo que foi durante um determinado tempo histórico.
abraço