Votei cedinho, às 8:45, ainda troquei uma ideia com alguns conhecidos e agora estou aqui. Sim, é claro que eu dilmei. Aquela chuvinha providencial de ontem serviu para limpar o ar e deixar um clima gostoso. Existe pouco o que dizer agora, votei tranquilo, estou numa boa e agora é só aguardar. Foi uma campanha dura e longa, onde o PSDB conseguiu implodir o debate a ponto de nos sentirmos em 89 de novo - ainda que com essa maravilhosa ferramenta chamada Internet. Hoje, a história acaba - espero que com um desfecho feliz, inclusive. Agora, só resta esperar e torcer. Hoje, para variar, o Idelber, para variar, escreveu um baita post sobre o momento que vivemos. O pessoal da Revista Fórum está transmitindo ao vivo uma série de debates sobre a conjuntura no 48 Horas Democracia. E aí, do lado de vocês, meu caros leitores, como anda a votação?
Atualização: Idelber está na tweetcam, bacana a análise dele.
Atualização das 19:11: Saiu o boca de urna, 58 x 42 para Dilma.
domingo, 31 de outubro de 2010
sábado, 30 de outubro de 2010
Eleições 2010: É Amanhã
Amanhã é o desfecho da mais longa eleição presidencial da nossa história. De uma das mais sujas desde 1989. Trata-se de uma questão que transcende ao âmbito eleitoral, elas são a expressão eleitoral das profundas mudanças ocorridas nos últimos vinte e dois anos - as mais velozes já vistas, aliás -, que começam na emergência da necessidade de se construir uma democracia sobre os escombros do Estado Varguista - que o Golpe Militar de 64 transformou em simulacro até corrompê-lo em definitivo -, passam pela tentativa fracassada de liberalização em Collor, a experiência de FHC - privatizações, abertura econômica, estabilização econômica via monetarismo - e a polarização entre PSDB - e o projeto de modernização conservadora - e o PT - o projeto de modernização focada no desenvolvimento social. A violência desse embate - bem como a própria maneira como os efeitos dessas ações políticas afetavam e afetaram seus próprios autores - alteraram consideravelmente as duas agremiações. O embate que teremos amanhã, entre Dilma Rousseff e José Serra, diz respeito a continuação do projeto de desenvolvimento social fundado nos compromissos da Carta ao Povo Brasileiro e a oposição a isso, expresso no antipetismo serrista, que ao longo da campanha não pautou outra plataforma a não ser uma contrariedade confusa ao PT. Não deixaram de ocorrer golpes baixos e o debate eleitoral, a exemplo de 1989, saiu da esfera da racionalidade em vários momentos. Dilma entra na semana final com uma diferença considerável em relação ao seu oponente (tanto no Datafolha quanto no Ibope), diferença fixada pela maneira como ela pautou a campanha a partir do histórico debate do segundo turno da Bandeirantes. Serra não conseguiu reverter o quadro que lhe era desfavorável no Nordeste e no Norte e não virou no estado chave para qualquer disputa, Minas Gerais. É difícil confiar em pesquisas, existe o fator abstenção (que, por natureza, nunca é bem captado), mas as chances de Serra são realmente pequenas. O Segundo Turno, como vive dizendo o nosso NPTO, aconteceu por conta da candidata que não foi para ele, logo, seu clima não poderia ser diferente, mas ao contrário do que se diz, sempre pode ficar pior, e a campanha feita por Serra manchou sua biografia e inviabilizaria um eventual (porém improvável) governo seu. Do lado de cá, a tranquilidade e a convicção do voto em Dilma prosseguem inabaláveis assim como um profundo estresse por esse prolongado - e preocupante - pleito.
P.S. 1: Os posts sobre meu voto em Dilma e aquele sobre o meu não voto em Serra prosseguem como os mais visitados s comentados dos últimos trinta dias.
P.S. 2: Amanhã deve pintar algum texto por aqui, mas na segunda lançarei na análise do desfecho das eleições. Em seguida, lançarei análises conjunturais específicas sobre o Congresso e as regiões do país.
P.S. 1: Os posts sobre meu voto em Dilma e aquele sobre o meu não voto em Serra prosseguem como os mais visitados s comentados dos últimos trinta dias.
P.S. 2: Amanhã deve pintar algum texto por aqui, mas na segunda lançarei na análise do desfecho das eleições. Em seguida, lançarei análises conjunturais específicas sobre o Congresso e as regiões do país.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Resquiescat in Pacem Néstor Kirchner
A notícia da morte de Néstor Kirchner, ontem, abalou-me profundamente. Isso tem a ver tanto com a admiração que eu nutria por ele quanto pela estupefação pelo seu repentino desaparecimento. Kirchner foi dos grandes estadistas do nosso tempo e é espantoso que se esteja a falar em "legado controverso" de sua parte, principalmente se apelarmos para aquele pequeno detalhe chamado memória - tão esquecida ultimamente -, que nos aponta para o fato de que o cenário em que aquele jovem governador patagonês assumiu a Presidência - o de um país destruído anestesicamente por uma política econômica suicida, incapaz sequer de se autosustentar.
Talvez esteja a ser ingênuo nesse caso, uma vez que é perfeitamente natural que se fale em legado controverso de alguém que, vejam só, superou rapidamente o contexto de hecatombe em que seu país se encontrava devido a uma certo receituário que os arautos da democracia, até hoje, por aqui defendem - como em tantas outras partes da nossa Pátria Grande -; pior ainda, Kirchner fez isso por meio de um projeto que contradizia tudo aquilo que vinha antes, o plano perfeito de Menem, algo semelhante àquilo ao que foi Collor pretendeu por aqui - mas que felizmente deu errado, o que permitiu o Brasil dar certo.
A história argentina é das mais fantásticas do mundo ocidental, ainda que o nosso ufanismo pátrio, não raro provoque, nos distancie dela. É um país cuja formação social e econômica estabeleceu as bases para um futuro promissor, mas que sofreu mais descaminhos do que se pode supor. Da visão estratégica da política externa em Mitre, seguida pela emergência da questão social em Yrigoyen, das controvérsias de Perón, o país caminhou relativamente bem, embora a não consolidação de todas as conquistas no plano institucional lhe tenha sido fatal.
A fatalidade, em se tratando de Argentina, é particularmente mais dramática do que a média, com uma Ditadura Militar mais sagrenta do que a de seus vizinhos que teve, ainda por cima, o desfecho trágico das Malvinas. A breve luz do governo Alfonsín foi apenas um interlúdio de sanidade entre o descalabro militar e a violência do menemismo, a emergência da privatização dos espaços público - como nos lembra Negri - elevada ao extremo. E foi nesse contexto que surgiu Kirchner.
Seu legado, portanto, situa-se na condução da mais radical política de direitos humanos do continente, numa retomada do projeto de integração continental de Alfonsín - só que de forma mais radical - e na recuperação econômica por meio de uma política de desenvolvimento; os breves quatro anos em que esteve a frente de seu país resultaram em um quadro de estabilidade marcado pela retomada do significado do espaço público, do desmantelamento da falácia de que a culpa do fracasso de 2001 se devia a algum mal congênito creditado a formação da Argentina.
Seus exitos resultaram na eleição de sua mulher, a Senadora Cristina Fernández de Kirchner, como sua sucessora; Sua atuação como secretário-geral da Unasul foi marcada pela luta intransigente pelo aprofundamento da integração sul-americana e da defesa mais viva da democracia - tendo enfrentado a recente crise equatoriana com coragem, evitando o pior. O Presidente Lula decretou três dias de luto por sua morte. Como já andam dizendo por aí, que sejam três dias negros para um dia de luz.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Ato na USP pró-Dilma -- Atualizado
A União Faz a Força |
Suplicy |
Marilena Chauí |
Lotado até em cima |
Parecia uma Pintura Mural |
A Mesa |
O Ato pró-Dilma, realizado no fim da tarde de ontem na FFLCH-USP foi espetacular. Uma mesa com Alfredo Bosi, Celso Antônio Bandeira de Mello, Eduardo Suplicy, Marilena Chauí, Vladimir Safatle entre outros não é pouca coisa. Cheguei bem cedo lá, numa caravana de puquianos, para evitar o trânsito e mais transtornos - para quem não conhece São Paulo, a USP fica perto só de si mesma -, acompanhamos a chegada do pessoal, lotando pouco a pouco pátio da praça de alimentação do pré da Geografia e da História. Era engraçado. A militância que chegava ia formando uma multidão na qual apesar do predominio do vermelho, via-se outras cores, formando um colorido colorado, o que parecia mesmo uma pintura mural mesmo. As falas de Safatle, clamando pelo discernimento e lembrando que a capacidade de distinguir é das principais da inteligência, de Bandeira de Mello nos lembrando do valor de uma mulher que testemunhou com o próprio corpo a sua convicção na luta contra a ditadura foram belíssimas. A fala emocionada de Suplicy, nos lembrando de sua fala contra Agripino Maia no Senado, foi lindíssima. Marilena Chauí, chamando a atenção para a possibilidade de um atentado de bandeira trocada, no qual militantes anti-Dilma, vestidos com a camisa do PT, poderiam causar algum incidente para culpar Dilma fez uma fala dura porém necessária, sobre os riscos reais de algum factóide catastrófico nessa semana - além de ter feito um belo discurso sobre a inflexão do país sob Lula. Enquanto todos falavam, lá estava eu, na frente tirando minhas fotos enquanto a multidão crescia. A certeza que eu tinha naquele momento é que este projeto não pode ser interrompido, ainda mais levando em consideração que aquele que se opõe a ele, nada mais é que um retorno as desventuras dos anos 90. O ato termina, depois do calor intenso daquela tarde/início de noite, começou a garoar e da garoa veio o vento que anunciou uma chuva torrencial enquanto eu partia.
domingo, 24 de outubro de 2010
Eleições 2010: A Última Semana, depois de Dossiês e Bolinhas de Papel
(Cruzadas -- a religião como pretexto para a violência e a dominação)
Depois dos reiterados erros de campanha do PT em Setembro, deixando a peteca cair ao insistir pela política do mínimo esforço - sem mover sua militância, convocar intelectuais e artistas ou pautar as diferenças entre os dois projetos (e seus respectivos efeitos) - enquanto o a campanha serrista radicalizava no discurso de desconstrução da figura pessoal de Dilma - o que, apesar de não resultar em transferência de votos para Serra, tirava votos de Dilma para Marina -, o que resultou no segundo turno.Tivemos, depois, uma primeira semana de natural crescimento de Serra, Dilma acertou na mosca no debate da Bandeirantes, onde ela reverteu o quadro, acabou com a falácia do aborto e passou a pautar a campanha. Estava claro que a semana passada era decisiva para a campanha. E Dilma se saiu enormemente melhor do que Serra, pautando a campanha, comparando governos e expondo as falhas do seu adversário em São Paulo. Mais do que isso, os atos do PT no Teatro Casa Grande no Rio ou no Tuca em São Paulo (que eu não pude ir e estou chutando minha canela até agora por conta disso) deram uma energia enorme para a campanha.
O cenário atual, no entanto, é pautado pelo episódio mais jocoso da história política nacional: Em passeata no Rio de Janeiro, realizada nas imediações do sindicato dos mata-mosquitos - aqueles mesmos que Serra demitiu quando era Ministro da Saúde porque, por óbvio, eles eram culpados pela epidemia de dengue que assolava o estado -, Serra se viu diante de uma intensa manifestação popular contra sua figura, enquanto caminhava protegido por um gigantesco aparato de segurança - que, no entanto, foi furado por uma bolinha de papel que acertou Serra. Eis que o candidato tucano seguiu a caminhada e depois de uma ligação "começou a se sentir mal" e foi para um hospital. Serra, como bem observou Paulo Nogueira - dos típicos intelectuais historicamente próximos ao PSDB que pularam do barco -, deve ser a primeira pessoa do mundo a fazer tomografia por conta de uma "fita crepe" - o que é até uma bondade do Nogueira, afinal, tratou-se de uma bolinha de papel mesmo.
Como se não bastasse, a mídia - Folha a frente - voltou a requentar a história do dossiê contra Serra e a liga-lo a equipe de campanha de Dilma. A Record, no entanto, contou a verdadeira história, coisa que o pessoal que frequenta este canto da blogosfera conhece bem: O dossiê foi montado pelo jornalista Amaury Jr. há um ano, sua ligação, portanto, nada tem a ver com Dilma ou o PT, mas sim com o fogo amigo dentro do PSDB, em um momento em que Serra e Aécio se degladiavam pela indicação à vaga de candidato à Presidência pelo referido partido. O tiro da midia saiu rapidamente pela culatra enquanto o fantasma da bolinha de papel colocava a campanha de Serra definitivamente no rol da total irracionalidade .
Por outro lado, os principais institutos de pesquisas finalmente começaram a concordar apontando 50% x 40% para Dilma no Datafolha, 51% x 40% no Ibope e 51% a 39% no Vox - o que daria uma média de 50,66% x 39,66% para a candidata petista, ou 56% a 44% no voto válido. Nenhuma dessas pesquisas, no entanto, captou o impacto da bolinha de papel sobre Serra, entretanto, o tracking interno do PT acusa crescimento de Dilma - o que deve ser visto com suas ressalvas como o próprio Rovai alerta, afinal trackings enxergam bem tendências, mas não são tão precisos assim (como o primeiro turno ensinou a todos). Isso passa ao largo de ser um já ganhou, mas sim que a campanha de Dilma entra bem melhor na volta final do que a de Serra, o que é fruto da mobilização dos eleitores e do partido, o que não deve ser interrompido agora. É fato também que a julgar por tudo que aconteceu, a campanha de Serra irá apelar como nunca nessa última semana e tudo - menos propostas ou críticas válidas - é possível.
P.S.: Achei um vídeo da saída de Dilma do TUCA depois daquele memorável debate do primeiro turno. Eu apareço por volta do 1:58 indo cumprimenta-la (A filmagem comprova a saída em fuga de Serra).
Atualização: Vale a pena ler a reportagem da Istoé sobre a Guerra Religiosa de Serra (em duas partes, aqui e aqui).
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Greve Geral na França
(Manifestantes em Paris -- AFP)
A Greve Geral em curso tem o apoio de 71% da população francesa, enquanto seu Presidente, Nicolas Sarkozy, resta com uma desaprovação de 61%. Não existe possibilidade de candura na análise do que está em jogo. A retórica conservadora de parte da mídia francesa - e de quase a totalidade da brasileira que cobre tais acontecimentos - faz uso do argumento do "remédio amargo", o que se torna uma falácia cruel e grosseira quando não se investiga - ou quando se deixa de investigar - as causas próximas do fenômeno, pelo menos - ou, no máximo, assistimos à apresentação da falácia dos "dois lados" na qual o Governo Francês é mostrado como autor de uma reforma dura e a população entenda isso como "um risco" ao bem-estar social, como se uma greve aprovada por quase três quartos das pessoas pudesse nutrir algum tipo de simetria em relação ao achismo de um governo (e como está no link do Estadão acima inserido com suas devidas ressalvas).
Impossível não votar à análise dos últimos parágrafos do post sobre a expulsão dos ciganos aqui: Ora, diante do esfacelamento da estrutura precária da União Europeia - tragédia anunciada entre tragédias anunciadas nas conversas cotidianas de eurocéticos sérios - e de toda a Crise Mundial, o Estado Francês mantém a mesma postura autista de não bater de frente com a política econômica comum, continua incapaz de traçar novos rumos para a economia doméstica e agora repassa a conta para a sociedade civil. O grau de crise atual é grave e tende a se aprofundar nos próximos anos - até porque a atual greve geral é uma convulsão febril de um processo infeccioso que começa já nos primeiros momentos do Governo Chirac, ora agravado pelo lamentável Sarkozy, seu sucessor.
A França não padece dos problemas históricos que a Itália tem - e o que faz com que sua vizinha não consiga produzir uma saída efetiva para a erosão em que ela se encontra -, o que pode resultar em virada de vento enorme por ali, o ponto é que neste momento não existe uma vontade organizada efetiva na esquerda assim como a classe dominante ainda se alinha com a estrutura partidária do UMP e das instituições locais. Sem uma reforma profunda, entretanto, é difícil imaginar que a situação não degringole ao longo dos anos que se seguem. Mantenhamos o olho lá.
domingo, 17 de outubro de 2010
Porque Eu Não Voto em José Serra
Como é sabido, eu declarei meu voto aqui no Primeiro Turno, portanto, não é o caso de fazê-lo novamente. No entanto, eu creio que é necessário pontuar algumas coisas aqui em relação ao candidato oposicionista, José Serra, especialmente o porque votar nele não passou na minha cabeça em momento algum dessa campanha. Em um primeiro momento, não, continuo não achando José Serra, o José Serra indivíduo político, como o pior quadro do PSDB, meu ponto é outro: A questão aqui, ao contrário do que é posto pelos marqueteiros, é que candidato não se mede por si, mas pelo que motiva grupos econômicos e políticos a o apoiarem - e construírem sua candidatura - bem como as relações que o envolvem.
Por exemplo, antes de pensar em votar em alguém, pensemos no seguinte: Qual o motivo de sua candidatura existir? Acaso seria um nanico folclórico propondo trens voadores? Um aventureiro? Relações humanas medem-se pelos seus fins como bem diz Bandeira de Mello. Sendo mais específico: Por que lançar uma candidatura contra a continuidade de um Governo que fortaleceu o Trabalho, aumentando a renda e o número de empregos - ainda construindo o embrião de uma rede de proteção social para o pessoal que está em situação de miséria? Dizer que é para continua-lo mantendo o que é bom e melhorando o que não é tão bom é falso. Se reconhecesse isso e José Serra teria se filiado ao PT no ínterim do Governo Lula, mas não, enquanto foi Prefeito e depois Governador de São Paulo, o candidato, aliás, estreitou seus laços com grupos - em especial com a mídia corporativa - que não se cansam de demonizar medidas como o bolsa-família - uma pequena remuneração de cunho humanitário voltada para impedir que pessoas morram de fome. Se duvida disso, me responda por que Maria Rita Kehl, ao escrever um artigo no Estadão contra os preconceitos sobre o Bolsa Família acabou demitida de lá?
A cândida candidatura Serra diz respeito ao grande debate político dos anos 90. De um lado, os petistas defendendo um democratização fundada no paradigma público e no combate firme às mazelas históricas da nossa sociedade, enquanto do outro o PSDB propõe - como continua propondo - privatizações não só das estatais, mas do espaço público, sob os auspícios de uma razão administrativa maior que só os iniciados entendem, cujo fim é uma eficiência abstrata e vazia - o que no fim se expressou da maneira mais brutal possível nos anos FHC com a mais brutal geração de desemprego da nossa história, queda da massa salarial e algo que eu julgo particularmente perturbador: Um saldo que implicava na manutenção de algo acima de 10% da nossa população economicamente ativa fora do mercado de trabalho, como um exército de reserva pronto a servir como elemento de dissuasão de reivindicações trabalhistas das mais elementares (o velho "do que você está reclamando, já viu o tamanho da fila lá fora?"), com projetos sociais insuficientes para protegê-los. Se você acha minhas preocupações sobre queda do poder aquisitivo e desemprego infundadas, me explique por que Abílio Diniz, um dos maiores empresários da área varejista, está apoiando Dilma?
Muitos amigos meus tucanos argumentam que com Serra seria diferente do que foi com FHC. O ponto é que isso é uma afirmação que não encontra vínculo com a realidade. Ora, em que momento o PSDB, ou uma ala sua, fez autocrítica pública dos erros cometidos nos anos 90 durante o Governo FHC? Ao contrário, vemos argumentos esquizofrênicos que começam com "o Governo Lula foi um horror", depois afirma-se que ele só deu certo porque continuou o Governo FHC e, por fim, que agora é começo do zero e Serra é "o mais preparado" para arcar com o legado do pós-Lula. Vamos por partes:
1. Os aliados do PSDB - e por vezes os próprios tucanos - mentem ao dizerem que o Governo Lula foi um horror, ora, não é isso que os números provam - seja dos seus resultados ou da opinião popular -;
2. Se o Governo Lula continuou o Governo FHC, o que não é verdade, por que ser contra ele então? Isso é estranho, principalmente se levarmos em conta que as medidas tomadas em prol de renda, emprego e proteção social foram diferentes e com Lula os resultados foram bem melhores? ;
3. Serra não é mais preparado para dar continuidade ao legado de Lula do que uma ministra do próprio Governo Lula, especialmente, se pensarmos no que foi sua atuação como Governador, onde ele não apenas não negociou com os variados setores, protagonizando cenas de confronto como na invasão da USP, guerra de polícias e agressão aos professores, como realizou projetos fracassados como a Via 4, substitutivo falso do metrô que não apenas só resultou até agora num buraco imenso como também deu numa linha que liga nada a lugar nenhum.
Existe um ponto, entretanto, que me preocupa particularmente, é um ponto que Serra pode ser pior do que FHC foi e ele remete automaticamente à política externa: Se FHC não avançou numa política Sul-Sul nem trabalhou firmemente por uma política de integração da América do Sul, por outro lado, sua política externa foi favorável à democracia e à paz no continente como se viu nos casos da Colômbia, onde o Brasil não encampou uma aventura bélica como propunha Clinton, ou no caso venezuelano, no qual o Brasil não deu sustentação ao golpe contra Chávez. Serra, ao contrário, faz declarações absurdas a todo momento nesse plano. E se retórica demagógica é algo indesejado em matéria de política interna, em termos de política externa é algo que não deve ser admitido, consistindo num verdadeiro atestado de irresponsabilidade.
E assim segue a campanha do senhor Serra, baseada em baixarias inacreditáveis como eu pensava já não ser mais possível depois dos anos 90, se escorando em fundamentalistas religiosos que não respeitam a laicidade do Estado - e que ele julga ter controle, mas não terá -, com uma base parlamentar enfraquecida - que lhe obrigará a depender muito mais do fisiologismo do Congresso do que Dilma - e com promessas demagógicas que escondem o essencial dos próximos anos: Com quem e como será distribuída a riqueza do petróleo do Pré-Sal e como será estruturado o Plano Nacional de Banda Larga. Eu voto convicto e Dilma por conta do projeto que ela representa, mas mesmo que você discorde dele, reflita antes de mais nada sobre os riscos claros e iminentes de votar em Serra agora: É jogar pela janela a prosperidade que a duras penas conseguimos nos últimos anos e, pior, o que nos levará a passar bons anos tentando recupera-la, se conseguirmos, claro.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Seminário Mindlin - Projeto Brasiliana/ encerramento
Hoje foi o encerramento do Seminário Mindlin sobre bibliotecas virtuais e novos meios eletrônicos. Confesso que estava bem alienado desse debate e quando fiquei sabendo do evento pelo Idelber - quando ele me contou que viria a São Paulo e palestraria nele -, meu interesse maior estava mesmo em conhecer o amigo e na certeza de que ele só palestraria em algo bacana - o evento, entretanto, acabou excedendo as minhas expectativas.
A primeira mesa de ontem, sobre arquitetura de bibliotecas físicas foi bacana - e o tema fazia um baita sentido lógico, pensar em soluções para as bibliotecas físicas dado que o livro físico (isto é, desde que o livro possa continuar existindo enquanto tal no meio digital) ainda nos acompanhará por algum tempo. O tema da nova biblioteca da USP que recepcionará o acervo de José Mindlin foi debatido nessa mesa também (que contava com Angelo Bucci, Eduardo de Almeida e Rodigo Loeb). A segunda mesa, tratando de novas formas e e-livros com a boa apresentação de Susanna Florissi, as inovações digitais apresentadas por Diego Andrade de Mello - sócio-diretor da empresa brasileira que produziu o primeiro leitor de e-books desenvolvido com software nacional - e, sobretudo, a fala de Matinas Suzuki, falando de sua experiência na Companhia das Letras em sua divisão de e-books acabou tocando em temas fundamentais como o futuro do jornalismo - até pela formação dele - e a questão da concentração da informação em meios privados - o ponto alto da fala de Matinas, a melhor de ontem, foi justamente quando num ponto incômodo: Ok, estamos digitalizando as nossas bibliotecas, o que é louvável, mas é necessário que nesse processo o espírito público das bibliotecas não seja perdido. Isso me remeteu automaticamente a um post do Cesar Shu (que, por sua vez, pescou no Hermenauta) que tratava do seguinte trecho de uma conversa entre Paul Krugman e Charlie Stross:
A primeira mesa de ontem, sobre arquitetura de bibliotecas físicas foi bacana - e o tema fazia um baita sentido lógico, pensar em soluções para as bibliotecas físicas dado que o livro físico (isto é, desde que o livro possa continuar existindo enquanto tal no meio digital) ainda nos acompanhará por algum tempo. O tema da nova biblioteca da USP que recepcionará o acervo de José Mindlin foi debatido nessa mesa também (que contava com Angelo Bucci, Eduardo de Almeida e Rodigo Loeb). A segunda mesa, tratando de novas formas e e-livros com a boa apresentação de Susanna Florissi, as inovações digitais apresentadas por Diego Andrade de Mello - sócio-diretor da empresa brasileira que produziu o primeiro leitor de e-books desenvolvido com software nacional - e, sobretudo, a fala de Matinas Suzuki, falando de sua experiência na Companhia das Letras em sua divisão de e-books acabou tocando em temas fundamentais como o futuro do jornalismo - até pela formação dele - e a questão da concentração da informação em meios privados - o ponto alto da fala de Matinas, a melhor de ontem, foi justamente quando num ponto incômodo: Ok, estamos digitalizando as nossas bibliotecas, o que é louvável, mas é necessário que nesse processo o espírito público das bibliotecas não seja perdido. Isso me remeteu automaticamente a um post do Cesar Shu (que, por sua vez, pescou no Hermenauta) que tratava do seguinte trecho de uma conversa entre Paul Krugman e Charlie Stross:
Krugman: Ainda não descobrimos a economia da disseminação fácil de informação. Embora a Internet seja um chapéu velho, ainda não vimos a economia do seu funcionamento. […][…]Stross: Ah sim. Por outro lado, com bens físicos, você precisará de massa e energia para montá-los. Enquanto para a propriedade intelectual, não é preciso tanta elaboração. Há muita gente se afligindo sobre pirataria e cópia de coisas na Internet, editores que estão muito, muito preocupados com toda a idéia de pirataria de ebooks. Gosto de ganhar um pouco de perspectiva sobre isso lembrando que antes da Internet surgir, tínhamos um termo muito especial para a pessoa que compra uma única cópia de um livro e daí permite que todos os seus amigos o leiam de graça. Nós os chamávamos de bibliotecários.
Via
A sacada de que o extremismo pró-direitos autorais seria capaz de criminalizar as bibliotecas se elas fossem inventadas hoje é genial. A fala do Matinas, no entanto, lança um outro olhar sobre a questão - e é como se no fundo ele dissesse: Abram o olho, ainda dá para fazer isso hoje. Sem espírito público, na prática, não há biblioteca e a rede é mais faca de dois gumes do que se pensa.
Hoje, a primeira fase tratou de Novos Olhares: Leitores e Bibliotecas Virtuais. Era a palestra do Idelber - numa excelente mesa com a simpatissíssima Maria Clara Paixão de Souza e o Roberto Taddei. Infelizmente, eu atrasei um pouco por conta do trânsito e perdi boa parte da fala do Taddei - que terminou bem, citando Borges e como ele nos remeteu em sua obra a ideia de biblioteca virtual. O nosso velho Idelber tratou da sua experiência de blogueiro, tocando alguns posts emblemáticos do Biscoito (e citou esse reles mortal que vos escreve). Depois, dei uma cutucadinha na hora das perguntas e levantei a bola do Plano Nacional de Banda Larga, suas possibilidades e seus riscos. Ambos devidamente debatidos. A última mesa tratou de direitos autorais e eu gostei bastante da fala do Samuel Barrichello, que trabalha no Ministério da Cultura na área de regulação de direitos autorais - uma fala bastante razoável, mostrando a política do governo que visa a resolver as contradições legais existentes entre o direito autoral e o direito à circulação de informação, o que foge bastante do legalismo de inclinação privatista (como vemos especialmente no nosso Judiciário) e porque eu voto pela continuidade desse projeto. Enfim, foi um belo ciclo de palestras e só me resta dar os parabéns à equipe do Projeto Brasiliana - só quem organizou um ciclo de palestras sabe como é duro isso.
A sacada de que o extremismo pró-direitos autorais seria capaz de criminalizar as bibliotecas se elas fossem inventadas hoje é genial. A fala do Matinas, no entanto, lança um outro olhar sobre a questão - e é como se no fundo ele dissesse: Abram o olho, ainda dá para fazer isso hoje. Sem espírito público, na prática, não há biblioteca e a rede é mais faca de dois gumes do que se pensa.
Hoje, a primeira fase tratou de Novos Olhares: Leitores e Bibliotecas Virtuais. Era a palestra do Idelber - numa excelente mesa com a simpatissíssima Maria Clara Paixão de Souza e o Roberto Taddei. Infelizmente, eu atrasei um pouco por conta do trânsito e perdi boa parte da fala do Taddei - que terminou bem, citando Borges e como ele nos remeteu em sua obra a ideia de biblioteca virtual. O nosso velho Idelber tratou da sua experiência de blogueiro, tocando alguns posts emblemáticos do Biscoito (e citou esse reles mortal que vos escreve). Depois, dei uma cutucadinha na hora das perguntas e levantei a bola do Plano Nacional de Banda Larga, suas possibilidades e seus riscos. Ambos devidamente debatidos. A última mesa tratou de direitos autorais e eu gostei bastante da fala do Samuel Barrichello, que trabalha no Ministério da Cultura na área de regulação de direitos autorais - uma fala bastante razoável, mostrando a política do governo que visa a resolver as contradições legais existentes entre o direito autoral e o direito à circulação de informação, o que foge bastante do legalismo de inclinação privatista (como vemos especialmente no nosso Judiciário) e porque eu voto pela continuidade desse projeto. Enfim, foi um belo ciclo de palestras e só me resta dar os parabéns à equipe do Projeto Brasiliana - só quem organizou um ciclo de palestras sabe como é duro isso.
Seminário Mindlin - Brasiliana
Ontem, estive acompanhando a programação do Seminário Mindlin, que integra o projeto Brasiliana, por indicação do nosso querido Idelber Avelar. Assisti a uma palestra sobre bibliotecas físicas, especialmente a biblioteca que será construída para recepcionar o acervo de livros de José Mindlin, falecido este ano. Bacana para quem curte arquitetura, mesmo que de forma amadora como este blogueiro que vos escreve. A outra, sobre e-books e novos meios foi sensacional e está mais dentro do nosso ambiente - especialmente no que toca a fala de Matinas Suzuki Jr - e prometo escrever um tantinho mais sobre esse assunto quando tiver mais tempo. Ademais, conheci pessoalmente o Idelber que estava na plateia - trocamos boas ideias, enfim. Aliás, estou indo agora mesmo para a USP assistir a palestra do Idelber sobre novos olhares eleitores de bibliotecas, o endereço é Rua Lineu Prestes n. 159 (casa de cultura japonesa), Cidade Universitária.
(Idelber e eu)
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
A Esquerda e o Tempo
A minha geração é a primeira na história deste país que assiste ao choque do que seria a tentativa de implementar um governo de esquerda. O impacto desse choque, já sentido na Europa e mesmo em alguns lugares da América Latina há tempos atrás, é o de experimentar o real e sua violência avassaladora no campo da Política. Não falamos mais do que poderia ser, mas do imediato do que pode ser. É ver as forças do poder instituído, que não são neutras - como pouca coisa é, aliás -, interferindo com todas as suas forças sobre o projeto que precisa ser consolidado, ora roubando-lhe as forças, ora o conduzindo para direções intoleráveis. A juventude do PT enquanto partido e, sobretudo, a ética idealista, de fundo católico progressista, que o envolvia tornou o processo particularmente mais duro - assim como a ansiedade por séculos de demandas não realizadas em decorrência de um sem número de movimentos transformadores derrotados. A história da reivindicação social no Brasil, é uma história de derrotas, gloriosas, mas ainda assim derrotas.
É verdade que o Brasil não está tão bom quanto poderia, mas também é verdade que ele nunca esteve tão bem quanto neste momento. O crescimento econômico, a distribuição de renda, os empregos, uma política externa que não se perde na vergonha da submissão nem nos desvarios do nacionalismo e, sobretudo, a quebra de certos dogmas sobre os quais se assentavam o modo de vida insustentável e excludente que alguns impunham como a miserável mão única são conquistas inegáveis - não diria, infelizmente, indeléveis, posto que as cortinas de fumaça da ideologia são capazes de tudo. Os ajustes finos, isto é, a consolidação dos direitos civis, a regulamentação da mídia - que está na Constituição de 88 por regulamentar -, a construção de uma doutrina firme que assegure a laicidade do Estado e até mesmo ajustes grossos como a questão da política agrária - em relação a qual a questão ecológica é imperativa neste momento - não foram mesmo feitos. O Governo do PT, seu aparente fracasso de início e seu renascimento como Fênix na forma de um nunca antes visto social-desenvolvimentismo, ainda que os ajustes dos quais pode se esquivar, não sejam mais possíveis - se é que em algum momento, foram. É uma história curiosa e bonita.
No ínterim entre esse movimento no interior do PT - e por causa dele - surge o PSOL, Partido Socialismo e Liberdade, que teve uma importância muito grande na minha vida, embora nunca tenha militado nele. Ele nasce no período da minha entrada na vida adulta e teve para mim - assim como provavelmente para toda uma geração de jovens esquerdistas que amadureciam sob o impacto do início do Governo Lula - um significado muito forte. Unir Socialismo e Liberdade, esses dois gêmeos siameses que a História - e o Poder - insistiu em separar impedindo que nem um, nem o outro se concretizassem, ser um modelo que superasse o sectarismo dos pequenos partidos da esquerda - "revolucionária" - que não dialogavam com os setores reais da sociedade e, ao mesmo tempo, não cair nos descaminhos do projeto petista frente ao poder hegemônico e, sobretudo, gritar - isso mesmo, fazer catarse - contra o estado de coisas da política nacional que parecia inamovível - o eterno entulho autoritário.
A roda da História, entretanto, não pára e tampouco não deixa de nos pregar peças; Heloísa Helena, de uma Olympia de Gouges extemporânea - fiel a uma Revolução que não foi fiel a si mesma - torna-se apenas mais um dos ecos desconexos da cacofonia reinante naquele partido. De repente, a crítica à esquerda do caminho seguido pelo PT tornou-se uma obsessão em relação à figura pessoal de Lula, ao passo em que se mantinha inerte a direita que se reorganizava, seja na sua versão liberal-burguesa ou na sua versão popular, orgânica e obscurantista - esta sim, muito mais do que primeira, debaixo do nariz de Lula, o que passou desapercebido -, o que estranhamente conflui na candidatura do senhor Serra. Toda essa confusão, por óbvio, acabou por afastar-me dele. O PSOL repete os erros que surgiu para combater e nem mesmo a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio, respeitável ancião e guerreiro da esquerda, muda essa trajetória. O PT prossegue como o partido de massas, o único partido a se pôr à esquerda do centro em nossa história a ter apelo popular, com ampla votação nas periferias. O projeto petista, cujo implementação produziu uma transformação real - e longe de ser pequena - nos últimos anos ainda segue como o mais efetivo nesse campo.
A despeito de toda confrontação, dissonâncias e a violência fratricida comum à esquerda - não apenas entre seus vários grupos, mas acima de tudo dentro deles mesmos. - não pode dar lugar, mais ainda, ao desprezo pelas nuvens negras que trovejam no horizonte. Os erros que conduziram a uma eleição discutida nesses termos - entre o continuísmo e o retrocesso - não podem ser repetidos e a esquerda não pode repetir o erro de se unir apenas na desdita, seja por ignorar os aspectos positivos desse momento ou por subestimar o que se avizinha. Um convite ao real não equivale a aceitar sucumbir à pasmaceira conservadora, mas um chamado a compreender os obstáculos - bem como as possibilidades - concretas do que está posto para não terminarmos numa bifurcação cujas saídas possíveis são apenas o Sonho ou, aí sim, a conversão definitiva ao estabelecido. E do surrealismo, só aceitemos a paranoia crítica.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
A Reta Final do Brasileirão
(Montillo -- destaque da arrancada do Cruzeiro/ foto retirada daqui)
A retirada arbitrária da quarta vaga do Brasileirão para a Copa Libertadores, por obra e graça da Confederação Sul-Americana, sob o fundamento de que o campeão já é brasileiro e de que a Copa Sul-Americana valerá vaga para a Libertadores 2011 (o que demandaria tirar alguma vaga já existente), foi patética e tirou parte do ânimo do torneio - politicagem entre politicagens mil, a decisão só penaliza o futebol brasileiro, haja vista que o campeão da Libertadores poderia ser de qualquer país e, mais do que isso, disputará a competição seguinte na condição formal de melhor time do continente, não por sua nacionalidade, do mesmo modo que o campeão da sul-americana pode ser de qualquer país que esteja em disputa, logo, sua classificação (mais do que justa, aliás) direta para a Libertadores também não pode ser usada (e abusada) como álibi para tirar vaga de qualquer país. Ademais, isso fere expectativa de direito, motivo pelo qual as equipes investiram e se prepararam de certa maneira, o que exigiria, na pior das hipóteses, que a decisão fosse introduzida no ano que vem. Tirar uma vaga do país que venceu a Libertadores é penalizar quem teve o mérito de formar o clube campeão.
Isso faria com que abaixo de Inter e Santos, campeões da Libertadores e da Copa do Brasil - portanto, já classificados para a edição do ano que vem - se travasse uma disputa interessante por essa última vaga, o que infeliz e aparentemente não acontecerá. Aliás, o Colorado e o Peixe, já com a vida ganha (e o segundo ainda desfigurado depois de vendas, contusões e confusões que lhe acometeram), estão fora da briga - ver o Santos ainda em quinto só prova a tremenda superioridade que o time tinha no início do Campeonato, feito que justificou este humilde blogueiro a aponta-lo como favorito ao título (seguido de Cruzeiro, Grêmio e, vejam só, Atlético-MG), esquecendo-se, no entanto, que Brasileirão, há pelo menos sete anos, é rali e não maratona.
De quem está abaixo, O Botafogo tem uma bela equipe, mas a contusão de Maicosuel lhe tirou o cerébro e, quem sabe, a vaga na Libertadores, apesar de bons recursos ofensivos (Loco Abreu, Caio, Edno) e uma defesa firme, além de Joelzão no banco (que, quem diria, virou um bom técnico no fim da carreira). A duras penas, Felipão arrumou o Palmeiras, que erra menos passes, os laterais não comprometem mais, enquanto Valdivia e Kléber voltaram a ser decisivos - infelizmente, não sei se a tempo, o empate com o Botafogo no Rio talvez tenha determinado a morte de ambos abraçados. Renato Gaúcho arrumou o capaz porém desmotivado time do Grêmio, que faz fabulosa campanha neste returno. O Atlético-PR, arrumado por Carpegiani (que depois foi contratado pelo São Paulo), permanece com Sérgio Soares na parte de cima da tabela, algo que eu duvidava de início.
Na parte debaixo da tabela, o Prudente, o clube intinerante, sumidade entre os que eu gostaria que caíssem, segura a lanterna do torneio. O Goiás segue sua decadência de anos e parece que cairá mesmo. O Atlético-GO, semi-finalista da Copa do Brasil e dono de placares estranhos neste torneio - com vitórias sobre Palmeiras e Corinthians fora de casa - segue na zona do rebaixamento, dando sempre pintas que pode surpreender e escapar dali. O Atlético-MG, arruinado por um Luxemburgo decadente e pelos seus descaminhos enquanto Clube, amarga uma surpreendente zona de rebaixamento e agora tenta se reerguer com o sério - e talvez por isso tão injustiçado - Dorival Jr, empreitada que eu não sei se ainda resta tempo, mas creio ser possível; rondam aquela região ainda o Avaí e o Vitória, que eu supunha que chegariam bem mais longe do que isso e, quem diria, o atual campeão Flamengo, agora nas mãos inseguras de Luxemburgo.
É isso, a poucos anos do mundial no Brasil, o futebol nacional segue jogando boas chances de ser mais interessante pela janela e corre o risco de ter problemas para essa disputa.