terça-feira, 28 de setembro de 2010

Meu Voto em Dilma




Vamos começar do começo, como é de costume por aqui. Primeiro, convém acrescentar que não me pronunciei  aqui, até agora, sobre o assunto do meu voto não por ensejar qualquer espécie de neutralidade ou imparcialidade. Não é o caso, afinal, quem me acompanha aqui sabe que não sou o maior defensor dessa visão de mundo. Tampouco isso se deve ao fato de supor que exista alguma separação entre o blog e eu, o que seria tão absurdo quanto supor que eu e o produto de minha atividade inscrito nas folhas dos meus rascunhos são coisas diferentes. O ponto é que esse sempre foi um espaço de crítica, que parte de pressupostos como (I) Todo ponto de vista é visto de um ponto inserido em um plano, logo, não existe possibilidade de estar fora, acima ou neutro em relação àquilo de que eu trato, portanto, minhas posições sempre foram muito claras por aqui; (II) Manter um diálogo aberto e franco com quem viesse criticar, apoiar ou complementar algo; (III) Não fazer militância, embora respeite e não veja problema nenhum em quem faça isso nos seus blogs, a questão é que, simplesmente, essa não era, nem nunca foi, a ideia deste espaço. Portanto, uma declaração de voto aqui é só uma declaração de voto mesmo - como o cachimbo que no fim das contas só era um cachimbo mesmo.

Sim, é claro que eu vou votar em Dilma Rousseff - o que não é nenhuma novidade caso você vasculhe meus arquivos e leia meus posts, o ponto é que eu estou escrevendo este post para explicar os motivos e razões. Em um primeiro momento, não podemos perder de vista que estamos vivendo um momento histórico ímpar: Essas são as eleições gerais mais importantes da história do Brasil. Isso pode até parecer um clichê, mas não é - e não é mesmo. São as primeiras eleições nas quais faremos a escolha clara entre manter um projeto concreto e efetivo ou optar por uma outra saída. Não é mais decidir entre o que está aí - que sempre se defendia com o argumento de ser o mal-menor ou de ser a política do "pinga, mas não seca" - e algo novo e incerto, mas entre escolher algo que funciona mesmo e projetos que lhe servem de oposição - e que, infelizmente, me parecem mais anti-projetos, o que me incomoda muito, posto que todos eles se corporificam em sombras de todo ou de aspectos do projeto petista, mas não em alternativas a ele, seja no caso mais radical e violento, o de Serra, cujo cerne de seu programa é um antipetismo não raro paranoico e poucas vezes respeitoso ou no idealismo de Plínio ou na candura de vestal de Marina

O Brasil passa a ter eleições livres - e verdadeiramente abrangentes - apenas nos fins dos anos 80, o que coincide não só com o atoleiro intelectual e cultural no qual o mundo se encontrava como também com a estagnação definitiva do nosso (disfuncional toda vida) modelo econômico, cuja formulação última remontava aos anos 30, muito embora os militares tenham feito alguns ajustezinhos para pior nos seus 21 anos de Ditadura. Como o Brasil não seria ele mesmo se não fosse exótico, o resultado de décadas de luta social - pela mais elementares liberdades, frise-se - pode até ter resultado no fim da Ditadura e na retomada da Democracia - ou isso que denominamos por tal -, mas esse raio de sol desemboca, curiosamente, em um momento no qual se acelera a velocidade técnico-econômica de um Capitalismo em globalização, fenômeno que causa - ao passo que mascara - a letargia e o infantilismo coletivo e individual. 

Os anos 90 nos quais cresci foram uma época idiota. Se uma direita caquética ainda rufava tambores em prol de um autoritarismo cujo ranço deve remontar ao Medievo, por outro lado, um projeto de modernização conservador foi posto em prática no país já com a eleição de Collor. São tempos duros, nos quais o único caminho, verdade e salvação era qualquer coisa que variava entre o desumanismo - porém sofisticado e fofo - do livre-mercadismo e ainda algum rompante desenvolvimentista. Enquanto o Estado Varguista é desmontado para se colocar em seu lugar o descalabro, o PT - um partido socialista e de massas, inspirado no modelo Europeu Ocidental - era a única força relevante de resistência, disposto a pautar uma saída outra, embora fosse simplesmente esmagado pelo esquema clientelista-midiático, fruto da junção do que demais perverso e atrasado existia na política nacional com a mais alta tecnológica a serviço de uma mídia de massa. Isso foi o Governo FHC.

Não foram apenas os desequilíbrios gerais do Sistema Capitalista, as particularidades dos erros dos anos 90 ou a crise em que nos encontrávamos no início do século que geraram a eleição de Lula em 2002, mas sim, sobretudo , a atitude do PT como oposição ao caminho único naquele período e a sua guinada em prol do realismo no início do século, liberando-se de boa parte das amarras idealistas que lhe prendia. Entre erros e acertos, o PT conseguiu coisas que poucos partidos de esquerda conseguiram pelo mundo - ainda mais assumindo em condições desfavoráveis - como arrumar a economia - o que não se restringe a mera estabilidade monetária como também a geração de emprego, renda e inclusão -, bancar uma política externa precisa - seja na área comercial ou estritamente política - e a estabelecer uma política institucional que é sim melhor do que a de seus antecessores - muito embora seja onde mais vacilou, mas não imagine você que se os termos das alianças que os petistas fizeram fossem tão ruins quanto as de FHC, que seria possível ter implementado metade do que implementaram. 

Alguém pode afirmar que poderia ter sido feito coisa melhor - o que pode ser verdade, ainda que eu não saiba por quem -, mas não que o Governo Lula deu errado, muito pelo contrário - assim como não há como surgir com uma simetria entre este Governo e o que lhe antecedeu, nem que existe equivalência entre o PT e o PSDB hoje em dia, pois até onde eu sei, o segundo jamais se prestou a fazer autocrítica em relação ao que concretamente errou, item que eu julgo, inclusive, fundamental para a consolidação da nossa Democracia. Votar em Dilma não dever ser enquadrado em qualquer forma de binarismo, especialmente aquele que nivela tudo necessariamente como perfeito ou horrível, trata-se apenas de um voto humano em seres humanos - cujo projeto que pretendem continuar não é apenas bom como também é o melhor que temos aqui e agora. Meu voto, portanto, é em Dilma Rousseff e se estende nos demais cargos para Mercadante, Marta e no Partido dos Trabalhadores nas eleições para o Legislativo. Simples - e convicto - assim.




26 comentários:

  1. Hugo,

    Um belo artigo!

    Como você deve saber meu voto também é em Dilma. Uma decisão de bastante tempo, de quando sua escolha pelo Presidente Lula (e não pelo PT) era apenas especulação. Já estava de olho nela quando era ministra das Minas e Energia e gostei de ouvi-la responder a imprensa, em entrevistas sobre o setor, de forma clara, firme, sem vacilos, com a segurança de quem sabe o que esta falando. Se esta não é a mesma Dilma dos debates, é porque falta a ela uma cara de pau como a do Serra, um político profissional. Ponto para ela.

    Falando no Serra, bem, este é outro motivo que explica minha escolha com tanta antecedência. Jamais votaria no Serra, tanto pelo desempenho medíocre do seu governo na Prefeitura e depois no Estado de S. Paulo, como pelas suas convicção políticas, por suas (falta de)idéias, pelo modo como ele entende o gerenciamento do Estado e as questões sociais. Também não votraria em candidatos do PSDB, fosse Aecio ou qualquer outro. Não acredito que o PSDB esteja em condições de corresponder ao momento que o Brasil atravessa. Voto em Dilma porque acredito que só a candidata do PT está em condições de levar adiante esse projeto de país que está dando certo, embora reconheça que muito mais poderia ter sido feito no que toca a diminuição das desigualdades sociais.

    Não sei por quanto tempo a estrela do PT irá brilhar. Talvez o partido e as ideias que ele representa sofram com o desgaste natural de mais de uma década no poder (em caso de vitória da Dilma). Mas isso é especular sobre o futuro. O presente, na minha opinião, é do PT, é da Dilma.

    Parabéns pelo post! Gostei tanto que vou seguir o exemplo e escrever um post sobre o meu voto. Usando a mesma imagem, se me permite.

    Abraço!

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  2. Obrigado, Edu, sempre muito gentil. Aliás, pode usar sim a imagem - que foi customizada em cima de uma imagem daquela reportagem patética da Época que saiu pela culatra. E, sim, meu voto também é isso, um misto de aprovação das linhas gerais do Governo com franca desaprovação da oposição.

    abraços

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  3. Hugo, se você ainda não fechou candidato para deputado estadual, sugiro, numa assumida auto-propaganda, dar uma olhada no post que fiz.

    O post é o resultado de uma pesquisa que fiz para esclarecimento pessoal, mas fiquei tão satisfeito com o resultado que achei que valia a pena propagandear, digo, divulgar.

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  4. Ué, HWB, pode se auto-propagandear à vontade, meu velho, estamos com a caixa aberta para isso mesmo! Eu tendo a votar em legenda mesmo - é um costume. Talvez vote num candidato da cidade dos meus pais, sujeito jovem e vereador competente, mas não sei ainda.

    Ah, parabéns pela pesquisa!

    abraços

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  5. Sem querer ampliar mais o assunto que você tão brilhantemente esgotou, Hugo, eu aproveito o espaço do seu blog para, além de postar um texto, também declarar meu voto em Dilma Rousseff. Finalmente o Brasil achou seu caminho. Desafio qualquer um que consiga me mostrar um projeto melhor para nosso país sem descambar na abstração e no idealismo folclórico, ou na tese de que devemos fazer o bolo crescer para depois (se for possível) repartir. Esta último projeto é típico da direita e guarda mais compromisso com interesses elitistas individualistas do que com um verdadeiro interesse social; aquele, típico da esquerda que ama mais os meios do que o fim em si mesmo, ou seja, ama mais o processo revolucionário do que o produto final dele, que deveria ser a busca da dignidade humana, independentemente do caminho a ser trilhado.
    Estes oito anos de PT mostrou aos capitalistas como se faz capitalismo e aos socialistas como se faz socialismo. É o exemplo mais puro de uma Social Democracia. Será esse o socialismo brasileiro? Ou ele é só o primeiro passo rumo à igualdade material entre os cidadãos brasileiros? Confesso que uma igualdade apenas em dignidade já me contentaria sobremodo. Por isso digo que a senda que levará o Brasil a atingi-la foi descoberta por um partido, por um Presidente que é a expressão máxima de um homem brasileiro, cônscio dos anseios de seu povo porque jamais esqueceu ser parte dele. Que não viu sua cadeira de presidente como um posto altivo, estanque da realidade social que o rodeia. Foram oito anos de luta que lhe rendeu inúmeras cicatrizes, que podem ser vistas nas páginas dos diários e semanários que lhe assacaram. Dilma Rousseff mal alcançou a presidência e já sente os espinhos que lhe cravam o ódio de uma elite que vê seu poder de dominação social mitigar dia-a-dia. Que vê nessa mulher a continuidade do projeto emancipatório encetado pelo PT. Se os auspícios de uma maioria governista no Congresso forem verdadeiros, a mudança será ainda mais intensa, sem os desvãos de uma oposição do "quanto pior melhor". Eu espero, com toda a efusão do meu coração, que este panorama seja verdadeiro e não só um sonho, para que mais brasileiros como eu possam ter uma vida menos pesarosa do que a própria existência humana já é em si mesma.

    DILMA É 13, PARA O BRASIL SEGUIR MUDANDO.

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  6. Pessoalmente não vejo o projeto petista ou lulo-dilmista como o melhor. Nem como bom. Apenas como o menos pior dos factíveis (tomando PT e PSDB como factíveis).

    Faltam opções reais. Sarney, Collor, Calheiros e cia notaram também e agora são petistas de carteirinha. É preciso conviver, enfim.

    Mas voto Plínio, pela ideologia, por acreditar que é possível ainda acreditar e não só se conformar.

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  7. Caro Sr,
    Recentemente varios veiculos registraram seu apoio a Serra, citando como um dos pontos o fato de terem sua liberdade de expressão ameaçada em um possível (pelo menos para eles) governo absolutista de dilma. citam semelhanças com chaves e outros lideres populistas. o pior é que por mais ridicula e improvavel que esse cenário seja, muitas pessoas o consideram como um dos maiores argumentos contra a continuação do governo pt.

    então a pergunta é: como fazer essas pessoas pensarem o contrário?

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  8. Tsavkko,

    Creio que o "menos pior" não deixa de ser, no fim das contas, o melhor mesmo dentro de uma conjuntura que não é percebida como desfavorável - o que eu não concordo, dentro daquilo que é, no duro, o "nunca na história desse país" é verdade na maioria dos momentos mesmo. Poderia ser melhor? Em tese, sim - embora na prática nunca tenha sido -, mas quem, qual a força que pode executar isso além do PT? Eu não vejo nenhuma e sendo que eleição é a escolha dentro de um leque de opções já selecionado dentro das máquinas partidárias - partes integrantes, por sua vez, da máquina do Estado -, a escolha é simples.

    Creio que todas as nove candidaturas são factíveis. Delas, podemos destacar os candidatos como Levy Fidélix e Eymael, aceitar que a esquerda folclórica não me parece preocupada em funcionar como nada mais do que pequenos pequenos sectos e o que resta, em tese, seriam, bem ou mal, quatro candidaturas.

    A de Plínio ainda estaria neste grupo, muito embora ela se revista de todo um purismo, não esteja disposto a reconhecer os fatores reais de poder e esteja em um partido fraturado, uma federação de pequenos movimentos que não consegue negociar nem entre si, tampouco com as variadas formas e forças presentes na coletividade. É isso e há pouca disposição para fazer o diferente, portanto, é um projeto idealista e eu não tenho mais disposição alguma para aceitar embarcar nisso - e não me importa honestamente votar em um candidato ou um partido "pequeno", mas sim em uma força política que continuar assim mesmo.

    Eu não voto por ideologia, mas aí é uma questão de concepção mesmo: Eu costumo distinguir o que é ideologia do que é posição política. Enquanto a primeira é um discurso que articula imagens, significantes vazios como forma de orientar - ou determinar - ações, a segunda é o ponto de partida, dentro do conflito, do qual se pretende intervir. Eu desprezo a primeira por considerar que se submeter à ideologia é variar entre a alienação e o sujeição voluntária, enquanto considero a segunda uma inerência - pelo menos da nossa forma de se organizar. Mas isso, reitero, é mais uma questão de concepção mesmo, pode ser que estejamos falando das mesmas coisas com palavras diferentes.

    E, não, eu não me conformo ou estou conformado com nada. Justamente por não estar eu não abandonei a crítica e ainda escrevo este blog, apesar dos pesares. Materialmente, houve mudanças significativas na nossa sociedade durante o Governo Lula, não foi uma administração conformada porque foi marcada por um espírito de transformação e seu próprio mote é manter as mudanças em curso - ainda que eu não tenha concordado com muita coisa no período e não vá concordar com muito do que ainda será feito, mas apoiar o PT hoje não é de modo algum conformismo com nada do que ainda está posto.

    Abraços

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  9. Anônimo,

    Basicamente, o PT tem de trabalhar enquanto partido governista para a expansão da Internet - e em bases que garantam uma rede livre - para que possamos superar as amarras dos meios de comunicação tradicionais como a televisão, o rádio e os jornais - todos baseados na lógica do monólogo e portanto propensos a deformações -, por outro lado, é imprescindível que sejam feitas reformas na área de comunicação social, regulando dispositivos constitucionais existente há quase 22 anos, impedindo, por exemplo, a existência de propriedade cruzada dos órgãos de mídia. A outra, é a atuação de quem tem consciência de que como isso é um absurdo junto ao meio em que você vive: Não é se tornar um militante da noite para o dia, mas criar meios de intervenção no seu dia-a-dia, pesquisando bastante sobre o assunto e informando parentes, amigos, vizinhos etc do que se passa realmente.

    abraços

    P.S.: Citar a Rússia, como sugeriu o HWB é uma boa. Não custar lembrar de um país europeu ocidental como a Itália que também passa por problemas gravíssimos graças a atuação do indefectível Berlusconi também não deixa de ser uma boa pedida, por exemplo.

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  10. Zizek precisa urgentemente ler um pouco de alguns "petistas" (digamos assim, msm q não seja filiados)para constatar com ainda mais força o deserto do real.

    Reforma Agrária? Trabalho análogo ao escravo nos rincões do país (PT hj apoia a maioria dos políticos ligados a essa prática)? Currais eleitorais alimentados pelo PT e aliados como PSB e PMDB aqui no Nordeste? CUT, CTB, PT e PCdoB apoiando Renan Calheiros? Lula despolitizando as eleições dizendo "vote no meu candidato, simplesmente pq ele eh meu candidato!"? Povão ainda mais despolitizado? Movimentos sociais criminalizados (o ficha suja dito pelo Mercadante)? E daí que o PT se aliou ao que há de mais conservador na política nacional, que mantém a multidão na ignorância e no cinismo? E daí que o lulismo advoga a "razão cínica"? E daí que o "afastado" Nordeste vive uma nova opressão, esta agora, feita por novos coronéis do próprio PT? Viva o camaleônico! De Eike a José Rainha! Viva o pragmatismo! Viva o real! O real do real!

    Viva a verdadeira esquerda jurássica pós-soviética! Aquela que em prol da conjuntura advoga e festeja a razão instrumental e cínica, o lulismo de resultados, a dessubstancialização da linguagem, ao invés de encarar na política de negação, política do não, política crítica, uma alternativa. Dizer o indizível sem lhe tirar o que há de mais esplêndido, o fato de ser indizível.

    Um dia ainda verei a esquerda brasileira, fora dos âmbitos intelectuais, criticar as bases em que se assentam a sociedade do consumo. Estranhamente, mas dialeticamente, a esquerda "soviética" e os petistas pouco críticos advogam e festejam teses que têm como base os mesmos pressupostos. O discurso dessubstancializado que coloca no outro a culpa primordial e constitutiva é só mais uma prova. Política sem política. Rotularemos!

    ps: N sou serrista, marinista, dilmista, ou qualquer ismo imbecil, embora tenha meu voto firmado. E estou criticando alguns argumentos utilizados em defesa do seu voto.

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  11. Anônimo,

    Antes de mais nada, creio que Zizek precisa ler - e reler - urgentemente um monte de coisas, sobretudo, um pouco da experiência dos reles mortais brasileiros que estão, veja só, a viver essas fantásticas mudanças atuais.

    Pode-se criticar o que foi feito em termos de Reforma Agrária no país nos últimos anos, mas essa do trabalho escravo é das piores. A postura do Governo Federal frente ao trabalho escravo, nem preciso dizer, importou não apenas na condenação clara como numa ação dura contra sua existência - e nesse quesito, você se recorda onde está o DEM? Ou prefere fazer uma crítica fácil à aliança com os centristas/centro-esquerdistas do PSB? Em tempo, até onde eu saiba, o Renan Calheiros só se tornou mal no momento em que presidiu o Senado permitindo uma série de reformas sociais capitaneadas pelo atual Governo.

    Sobre a despolitização que Lula estaria promovendo, lamento, mas...saia às ruas. É preciso estar encastelado demais, morando em alguma torre de cristal asséptica, de onde só pode ver a multidão lá embaixo, como uma mancha no chão, para conseguir delirar dessa maneira. Nunca - eu disse nunca - o brasileiro da classe trabalhadora, seja na periferia das grandes cidades ou no campo, esteve tão consciente do jogo político-eleitoral quanto hoje. O motivo é bem simples: Finalmente o que está em jogo nas eleições realmente o interessa, posto que existe uma força política realmente representativa de seus anseios na disputa.

    Mercadante aliás, não pode ser acusado pelo que disse no debate. Veja bem, este blogueiro que vos fala foi contrário desde a primeira hora ao Ficha Limpa, mas nem o PT - infelizmente - nem o PSOL - cujo posicionamento deve ter sido o maior, senão único consenso que existiu naqueles bandas - se colocaram contra o projeto, muito pelo contrário, ajudaram a construí-lo. Ora essa, o PSOL acha mesmo que "ser corrupto" é apenas uma condição de iniquidade congênita que os doutos magistrados reconheceriam de imediato? Será que não lhes passou pela cabeça que não existem bons e maus e sim que pessoas são subjetivadas como "corruptos" e "homens bons"? O buraco aqui novamente é mais embaixo: Esperar que culpar os outros, depois de se ver na iminência de ser vítima da guilhotina que você mesmo criou, vá ser alguma solução trata-se de algo curioso. Culpar Mercadante pela referência a "vice ficha-suja" é acusar a própria culpa nessa matéria.

    Sim, viva o real. Não que se tolerar a realpolitkismo - a limitação da ação por cálculos de poder do que é aparente -, mas também não tenho o menor motivo para aceitar sua face voltada contra o espelho, o utopismo - aliás, na política, não resta dúvida que é melhor ser o primeiro do que o segundo como a História nos prova. Não, eu não posso aceitar a melancolia de esquerda, isto é, aquele permanente e insistente movimento de colocar-se "à esquerda de toda e qualquer possibilidade" - como dizia o velho Benjamin -, acaso isso não seria, aí sim, uma forma de cinismo? Não seria fácil, enquanto estamos bem nutridos, rechaçarmos as saídas possíveis porque elas não são suficientemente puras e perfeitas?

    A crítica está nas ruas, Lula advoga a continuação do projeto social-desenvolvimentista que sua candidata, aliás, foi uma das maiores realizadoras. Aliás, não há nada na esquerda menos soviético do que o Governo Lula na medida em que ele estabelece metas reais e entende que só é possível chegar a igualdade com liberdade. Se não for pedir muito, não cite Zizek quando for tecer críticas ao sovietismo - ou pelo menos procure o que ele escreveu sobre Lenin para perceber o quão contraditório você está sendo aqui.

    Por fim, não creio que qualquer ismo seja imbecil, apenas uma das muitas formas de assumir sua posição e suas responsabilidades perante a coletividade na qual você vive.

    Abraços e bons votos

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  12. 1- "fantásticas mudanças atuais": boas transformações sociais com os projetos sociais e implementação de uma das mais vorazes sociedade do consumo do planeta. Nisto, reside a grande ignorância dos petistas acríticos, da social-democraica de esquerda e da esquerda rev. , cm diz Ruy Fausto, não se reflete dsobre a decadencia da experiência, a espetacularização da vida. o que existe é um frenesi pouco crítico. Mas aí o petismo triunfante mostra sua empatia com os cortejos fantasmagóricos da mercadoria.

    2- Não disse que o gov. Lula não enfrentou o trabalho escrava meu querido. Disse e repito: Trabalho análogo ao escravo nos rincões do país (PT hj apoia a maioria dos políticos ligados a essa prática)? Em Alagoas, o PT fez aliança com usineiros que fazem trab análogo ao escravo, msm coisa em PE (Inocêncio Oliveira), MA e outros estados. E vc está mto mal informado. N é só com o PSB, meu caro, mas princ. com PP, PR, piores partes do PMDB, DEM (Maranhao e outros estados). Ignorantemente, vcs falam mto da direita cons, com razão, mas o PT é aliado a ela nos rincões do país. O prob é que vc tem uma visão limitada e fechada a partir de SP. Vê o centro e n enxerga a periferia.

    3- Politização? Faz me rir. Mais uma vez visão fechada de quem mora em SP. Aqui no Nordeste se pede voto dizendo: "vote no candidato do Lula". Pergunte a maioria das pessoas no NE e no resto do Brasil quem conhece 5 projetos que tramitaram em 4 anos no congresso! O povo era "massa de manobra" qdo votava no FHC, agora é "politizado" qdo vota no PT. Nem um, nem outro.A despolitização é forte. Política sem política. Vivemos uma crise ética, política, social. O shopping virou nossa catedral. E o petismo triunfante n consegue ter a menor capacidade dialética. Me desculpe mas quem vive encastelado e deslumbrado é você.

    4- A frase proferida por Benjamin está absolutamente fora do contexto da discussão. Ato de má fé?

    5- Vc obviamente n entendeu a comparação com a URSS. Não falei que o gov. Lula era soviético. Mas que a esquerda petista acrítica parte dos mesmos pressupostos. No sentindo bem sedimentado por Kurz e Castoriadis. A esquerda que transforma o desenvolvimentismo em virtude para além da necessidade.

    6- Como posso estar no campo do purismo e da utopia se não sai do campo da negação? Mais um ato de má fé? Acredito que não. Agora, lutar contra elementos instituídos é defender "saída puras e perfeitas"? Não tenho ilusões neste sentido. Mas não advoga o deserto da razão instrumental, que já se figurou como razão cínica. A linguagem e nossa vivência mostra a incompletude humana. Mas, a questão é : como nos construímos e cm construimos nosso mundo diante disto?

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  13. 7- Sobre o Calheiros seu comentário só pode ter sido uma piada. É sério isso: "Em tempo, até onde eu saiba, o Renan Calheiros só se tornou mal no momento em que presidiu o Senado permitindo uma série de reformas sociais capitaneadas pelo atual Governo"? Procure sobre a história do Calheiros e seus aliados em Alagoas. Usineiro que mantém trabalhadores na condição mais precária virou companheiro. Imagino ACM vivo indo para o PP virando companheiro tbm. Aliás, Armando Monteiro, Joaquim Francisco, José Sarney, já são ne? Eis, o deserto do pragmatismo. E para quem critca, vem a mantra fácil do: "vcs são puristas e querem uma perfeição q nunca podem ter, por isto n podem sujar um pouquinho a mão de vocÊs na paixão pelo real".

    8- A cega paixão pelo real: "este blogueiro que vos fala foi contrário desde a primeira hora ao Ficha Limpa".

    9- Quer dizer que não posso citar Zizek para criticar o Sovietismo?Rsrsrs... acho que voce que tem que ler melhor Zizek... Princ. "Bem-vindo ao deserto do Real", "A visão em paralaxe" e "Arriscar o Impossível". E zizek resgata o Lenin pré-revolução para mostrar os descaminhos soviéticos. Como diz o Antunes: "Os doze textos que aparecem na coletânea de Zizek, portanto, não poderiam ser mais oportunos, depois de décadas de vigência do nefasto marxismo-leninismo, do império do Que fazer? dogmatizado pelo triste e perverso movimento daquilo que Stalin ajudou a construir como sendo o marxismo-leninismo."

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  14. 10- Votarei em Dilma em caso de seg. turno, mas sem glorificar o império da necessidade, transformando-a em virtude, e ecoando o instituído, como se toda mudança radical fosse "purismo". Eis, a história para contrapor. Mas o baixo nível da argumentação do petismo acrítico é incrível.

    11- Para terminar, Paulo Arantes: "saber se somos ou não viáveis não faz mais sentido. [...] Mesmo a idéia de desenvolvimento supõe um quadro de normalidade capitalista que tampouco resiste ao menor teste de realidade – que o digam as horrendas sociedades que são as máquinas chinesa e indiana de crescimento".

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  15. Anônimo,

    1. Não, querido, ser crítico não significa chegar as mesas conclusões que você, importa, antes de mais nada se ater aos fatos. Acaso não é fantástico se deparar com a taxa de desemprego mais baixa de anos? Com a recuperação do salário e da renda? Com tamanha inclusão?

    2. Não me venha com tergiversações em relação ao trabalho escravo. Não existe trabalho meio escravo, quase escravo: Ou é trabalho escravo ou não é. Nesse caso: (I) O atual Governo combateu isso firmemente; (II) a situação dos trabalhadores rurais melhorou bastante, posto que o aumento real do salário mínimo e os programas sociais os beneficiaram enormemente. Os números provam e mesmo sem eles, antes que você venha dizendo que a minha é do "centro" e não da "periferia", fique aqui o recado que eu nasci no interior de Pernambuco e sei do que estou falando.

    3. Sua visão que é elitista. Acaso você espera que o povão vá dizer que é a favor do Lula tecendo comentários complexos acerca do crescimento econômico e do emprego? Ou da política externa? As pessoas entendem perfeitamente, dentro do seu conhecimento humilde que sua vida e de todos melhorou, mais do que isso, toda essa mudança se deveu a um projeto democrático e popular representado pela figura de Lula. Na medida do possível elas entendem bem o projeto e votam em sua continuidade. No caso de FHC, é evidente que muita gente foi usada como massa de manobra, especialmente pelo instrumento tucano na região: Pelo antigo PFL (hoje DEM) de ACM apoiador de FHC que realizava uma política clientelista na época de eleição. Achar que isso é a mesma coisa do que um programa de assistência e inclusão é brincadeira.

    4. O sentido dela entra perfeitamente adequado nesta discussão.

    5.Usar o leninista Zizek para criticar o "sovietismo jurássico" do PT é que se trata de uma confusão mental enorme.

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  16. 6. Desprezar o dado do real, aquilo que o sensível nos permite apreender e que a partir do seu compartilhamento ganha significado é de uma violência enorme, é um utopismo que se assenta numa razão transcendental, por óbvia, conhecida pelos iluminados da vez. Desprezar os fatores reais de poder, o equilíbrio de forças e, sobretudo, a multiplicidade da coletividade em prol de um ideal de ética só pode nos levar ao verdadeiro autoritarismo.

    7. O Calheiros é e sempre foi um político problemático, mas era senador eleito e presidiu o Senado. Nesse sentido, o que você esperava que o Governo fizesse? Desse um golpe? Fechasse o Senado? Aí ele não seria autoritário? O que o Governo negociou com ele, o que passou grande parte das reformas que ajudaram o país a melhorar e, veja só, a partir daí a mídia corporativa passou a trata-lo como um força do mal.

    8. Sim, meu caro, eu fui contra a Lei do Ficha Limpa. A questão não é fazer uma afirmação vazia nesse item, mas sim explicar a relação do PSOL-"vítima" e ao mesmo tempo elaborador da Lei com ela própria. Que tal?

    9. Zizek faz lá sua apologia ao Lenin pai do bolshevismo. Você pode concordar ou discordar, mas usar parte de sua obra - e aí sim é um uso fora de contexto - para atacar um suposto "sovietismo jurássico do PT" é sim uma contradição em termos engraçada - além de uma piada. Vá conhecer alguém que morou na União Soviética e pergunte se existe alguma semelhança entre o longo governo do PCUS e o do PT.

    10. Determinadas mudanças radicais nem sempre são puristas, mas as que estão sendo propostas nesta eleição são sim; não há condições subjetivas e objetivas na coletividade para concretiza-las, logo, ou isso se dará por meio do autoritarismo ou simplesmente cai na pasmaceira - deixando, naturalmente, o poder no colo da direita.

    11. Meu caro, não existe uma via única chamada "desenvolvimento" nem existe qualquer comparação possível entre a experiência petista no Brasil e o que acontece agora na China e na Índia. Aliás, porque lá não está acontecendo um desenvolvimento social, mas um mero acúmulo capitalista desumano e o grau de liberdades individuais é ligeiramente menor que os nossos, não acha?

    abraços

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  17. 1- "se a ter aos fatos". Sintomático quanto ao positivismo, em sentido amplo,da sociedade administrada.

    2- Amigo, trabalho análogo ao escravo é um conceito utilizado na sociologia do trabalho para não haver confusões com o escravismo, que tem condições socio-históricos completamente diferentes.

    3- Não falei apenas de governabilidade. Estou dizendo que para garantir acriticamente o voto em Dilma nos rincões do país, o PT aliou-se as piores espécies de coronéis, que em mtos casos mantém este tipo de trabalho.

    4- Onde eu falei da aliança no Congresso, filho? Falei da aliança na eleição. O PT preferiu apostar nas alianças com os coroneis para garantir o voto "mônada" a Dilma, do que apostar no seu capital político junto com a militância.

    5- Você continua não entendendo a comparação feita entre a esquerda Sovietica e o petismo acritico. Tentarei esclarecer:
    a)Não estou falando da URSS;
    b) Estou falando da esquerda que apoiava a URSS, msm dps de tantos indícios que o q se passava lá era apenas mais uma modernização forçada.
    c) Não estou comparando economia.
    d) Não estou comparando pensamento econômico das duas esquerdas.
    e) Estou comparando os pressupostos: aquela esquerda apoiava a URSS por encontrar nela a força que podia contrariar o "conservadorismo" americano, acusando todos os criticos soviéticos de "fazer o jogo americano". Mundo bipolar. O petismo acritico hoje cai na mesma instrumentalidade, fruto da linguagem dessubstancializada. É so ver a eufuria catártica em denunciar quem não se alia a ele a estar "fazendo o jogo da direita", e argumentos como os seus de "nossas melhores forças". Quando hoje o bloco do lulismo de resultados está tão ampliado que qualquer rotulação sem imediação é puramente falsa.
    f) Entendeu agora?

    6- Não usei Zizek para fazer esta analogia de fundamentos, embora pudesse ter utilizado. Zizek não é apologeta de ninguém. Interpretação pouco dialetizada de seu pensamente que se pretende "sublimamente esquizofrenico".

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  18. 7- Não acredito que quando Plínio ou qualquer outro defenda determinadas idéias tenha em mente uma imediaticidade do presente. Na verdade, ele apenas utiliza-se da pedagogia da política. Tentando impedir que tudo vire mera paixão pelo real.

    8- Discordo da maior parte da oposição à esquerda ao Gov. Lula por ter pressupostos equivocados e não antenados as novas condições sociais e estéticas. Mas, não acredito que defendendo um Lulismo de resultados acrítico e de base instrumental, teremos algum avanço para conter a barbárie. Precisamos renovar radicalmente a esquerda. Ruy Fausto e Paulo Arantes aqui no Brasil vão bem neste sentido. Embora em posições distintas.

    9- Estamos deslumbrados com os encantos do auge da sociedade do consumo.

    Abraço.

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  19. Realmente, não há nenhum avanço no governo Lula. Evidências? http://brasilfatosedados.wordpress.com/

    Bom mesmo é um governo socialista purista e extremista. Um sucesso invisível, talvez em outra dimensão onírica.

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  20. Anônimo,

    Meu caro, infelizmente, essa conversa está descambando vítima de algum ruído, mas eu prossigo nela, ainda assim.

    1. Sim, se ater aos fatos é importante. Dados como crescimento do PIB, nível de emprego, crescimento da renda dos trabalhadores ou vamos desprezar tudo isso por que é incômodo?

    2. Eu não estou preocupado com eventuais conceitos que a sociologia faça uso, afinal, cá do meu lado, o desenvolvimento de conceitos deve ser relativa aos problemas que ele buscam resolver. O "positivista" aqui não vai ser ater ao que eventuais doutrinas dizem que é. Para mim, conceito de "trabalho análogo ao escravo" é insuficiente. Ademais, apresente algum gráfico de que a situação dos trabalhadores rurais piorou no período do atual Governo ou desista desse ponto.

    3. Não vejo a maneira como o PT estruturou a campanha por Dilma de maneira acrítica. Ela é um começo de crítica, na medida em que o partido, já nos seus programas eleitorais, expôs os fundamentos históricos da própria campanha, além do que sempre identificar a própria figura pessoal de Lula com as lutas dos trabalhadores e do povo - no sentido de plebe mesmo -, o que tem sua importância pedagógica. Para acabar de lascar, minha seção eleitoral fica na periferia de São Paulo. Nunca vi o eleitorado ir votar discutindo que existem diferenças de classe na minha vida: A faxineira dizendo que seus patrões votam em Serra, mas que ela não os acompanhará porque sabe que eles estão votando de acordo com o seu interesse - e que ele é diferente do seu enquanto trabalhadora -, o zelador dizendo algo parecido. Isso é uma coisa que eu acabei de ver e ouvir, meu caro, não li num livro ou coisa do tipo. Você não vai me convencer do contrário.

    4. Desde o momento em que você trouxe o elemento Renan Calheiros à baila você fez isso. Ademais, questiono algumas alianças que o PT fez sim no plano das eleições estaduais, como no caso maranhense, mas em última instância, priorizar a disputa pelo Senado ao invés dos Governos estaduais faz mesmo mais sentido.

    5. e 6. A minha crítica ao uso - impróprio ao meu ver - que você fez de parte da obra de Zizek para denunciar o "realismo" dos petistas é que ela é contraditória na medida em que, logo adiante, o nobre debatedor denuncia o fenômeno, vejamos, de uma "esquerda soviética". Não creio que Zizek defenda o que há de pior na União Soviética, mas sua crítica ao fenômeno, por exemplo, do leninismo é duramente insuficiente. O que não dá é vir aqui e criticar um viés acrítico dos petistas no apoio a Dilma sob os auspícios de um sovietismo jurássico se o próprio Zizek, ele mesmo, comete isso - em suma, camarada, ou uma coisa ou outra. Ademais, não veja nada de soviético no PT, muito pelo contrário: Desde que o Partido fez a carta ao Povo Brasileiro, ele reconheceu definitivamente a existência de uma espontaneidade das massas. Sobre o outro item disse e repito: Não é porque a crítica do outro não coincidiu com a sua que você pode dizer que isso acrítico.

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  21. 7. È aqui o nosso grande ponto de divergência: O real é aquilo que apreendemos pelo nosso aparato sensível e que, por meio da interação em meio à coletividade, ganha significado. É este campo em que reside a potência e, logo, a Liberdade nos desdobramento que se originam a partir daí. A Liberdade não está em um vir a ser, mas no que é. A Liberdade não está na construção de um homem novo, mas na construção de um aparato que permita as pessoas serem o que já são. Não creio que uma eleição seja lugar para brincar de fazer propostas que se perdem em sua abstratividade, generalidade e bom-mocismo porque fazer diferente seria se submeter a uma paixão pelo real. Você tem de construir meios concretos para o projeto virar realidade porque as demandas são enormíssimas e precisam ser aplicadas. Você também não pode brincar de propor coisas como anunciar o calote na dívida sem contar para as pessoas que haverá uma reação que não poderemos, apesar do nosso heroísmo, controlar - ou mesmo que existirá uma reação e que, a priori, o trabalhador pagará por isso imediatamente. Por fim, você não pode brincar de contar para as pessoas que não aceitará "rebaixar o projeto" e o aplicará de qualquer forma - para tanto, antes de mais nada é se supor possuidor de uma verdade transcendental que os reles mortais não têm acesso e que, ainda por cima, será aplicada a despeito de das condições objetivas e, sobretudo, das contrariedades a ele.

    8. A oposição à esquerda feita ao Governo Lula, se quiser se renovar, tem de aceitar esse elemento plebeu, que é a cultura política daquele caldo "de baixo" da sociedade, diverso na sua coloração e também mestiço, que incorpora a reivindicação do branco pobre, do negro que lutou no quilombo e hoje está nas favelas, do elemento índio e por aí vai. É largar essa paixão pelos saberes da cultura europeia "desenvolvida" e admitir que não apenas essa hierarquização é falaciosa como também, mesmo que não fosse, isso ainda assim seria irrealizável na nossa civilização. É aceitar mais do que isso, que o seu desejo do que seja desejo dos trabalhadores e dos populares não se confunde com o desejo dos próprios. Não acredito em intelectuais como o Arantes que quando está bravinho com o Governo Lula vai até a Folha critica-lo.

    9. Não estamos, estou deslumbrado pelos trabalhadores terem acesso a mais comida e medicamentos que é isso que eles estão, a priori, consumindo. Podemos e devemos discutir modelos de consumo, mas não sem esquecer que uma parcela grande da nossa sociedade só está tendo acesso ao elementar agora e não é a culpada por nenhum desequilíbrio macroeconômico.

    abraços

    P.S.: Ironias à parte, a esquerda ao PT só conseguirá mobilizar os trabalhadores de verdade no momento em que aceitar que houve sim mudanças no período - e que não foram pequenas.

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  22. Sinceramente, continuamos batendo cabeça!

    Pontos fundamentais que eu já falei diversas vezes, mas que tento reafirmá-lo:
    a) Não estou questionando o combate do gov. ao trabalho análogo ao escravo. Mas suas alianças com quem o mantém nestas eleições.
    b) Não é possível que depois de todo o metodismo vc ainda n tenha entendido a relação esquerda que defendia a URSS nos anos 60,70,80 com o Petismo acrítico. Só poder ser má fé ou descuido e falta de mediação na leitura. Pq citar a carta ao povo brasileira é uma brincadeira, pq nao tem nada a ver com as situações levantadas.
    c) Arantes era legal qdo fazia campanha para O PT, agora que faz constatações críticas não é mais "respeitável".
    d) Os fatos não existem por si mesmo.
    e) A consequencia dessa mistificação do real, cm se ele pudesse existir por si só, como se fosse um maciço é o pano de fundo para as barbaries cometidas pela esquerda no Século XX. Disto, Fausto, Arantes, Zizek, Frankfurtianos, quase toda a esquerda europeia, etc, está cansada de saber. E é neste sentido q fiz a comparação com o petismo acritico, funciona assim: a) a opção vira necessidade; b) a necessidade vira virtude. E o que temos é um movimento catártico do real pelo real, cm se ele não fosse uma mistificação do esclarecimento instrumental. A sua crítica a utopia e ao imaginário é SINTOMÁTICA (releia em revistas ou jornais da esquerda pro-sovietico no Brasil ou nO mundo dos anos 70,80 e perceba como o argumento é o mesmo, a celebração do real por si mesmo, a crítica a utopia e a capacidade mágica imanente e reconciliadora, enfim, a crítica ao principio esperança) ENTENDEU AGORA?

    Espero o diálogo destes ponto para avançar no debate do governo Lula. Por considerar o principal erro em sua análise, partir de um ponto de vista imanentemente positivista.

    abraços.

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  23. Desculpe, Anônimo, mas você está visivelmente exaltado. Se acha que eu estou analisando a questão "[a] partir de um ponto de vista imanentemente positivista" num post que começa com "Vamos começar do começo, como é de costume por aqui. Primeiro, convém acrescentar que não me pronunciei aqui, até agora, sobre o assunto do meu voto não por ensejar qualquer espécie de neutralidade ou imparcialidade. Não é o caso, afinal, quem me acompanha aqui sabe que não sou o maior defensor dessa visão de mundo", lamento, mas você está confuso, bem confuso. Dentro da realidade, a potência se torna possibilidades que se desdobram e se ramificam para muito além do que está posto agora.

    No demais, continuamos discordando feio mesmo. Sovietismo é deprezar a experiência que nos é ensinada pelo cotidiano, a análise das coisas simples da nossa sociedade e da nossa gente, para pescar uma explicação em alguma teoria que supõe ter - ou lhe é atribuída - propriedades transcendentais. Não existe comparação mais distante da realidade do que falar em sovietismo no Brasil de hoje, seja por conta da dinâmica do nosso tempo ou pelas idiossincrasias da nossa cultura - ou seja no que toca o estado da arte da crítica por aqui ou a avaliação do Governo.

    Sim, eu sou contra o utopismo e a minha crítica ao imaginário reside em Spinoza. Não aceito política feita com imaginação, ela tem de ser feita com o intelecto - sob pena de cairmos na vala comum da dominação alheia ou da nossa própria sujeição. Existe uma teia complexa e profunda de relações econômicas e sociais que devem ser compreendidas e consideradas, do contrário, ficaremos sempre na iminência de uma bifurcação entre a impossibilidade de aplicar o projeto ou tentar realiza-lo pela força - o que, quando dá certo, é porque as coisas deram mesmo errado. Sim, no princípio há conflito, mas, em tese, a política existe para resolvê-lo. Não falei que Arantes era legal antes e era bonzinho agora, aliás, sempre fui crítico da ala petista que insistia por esse viés e discordo da avaliação dele. Enfim, creio que você já entendeu que esta não será uma casa onde você encontrará qualquer apologia ao "sejamos realistas, exijamos o impossível", mas sim um convite a "ir ao extremo do que se pode".

    Creio que o debate, dentro da esquerda, sobre o Governo Lula só será possível quando o elemento popular-plebeu, tão profano na Academia, seja considerado em si mesmo na conversa; enquanto isso não acontecer, estaremos trabalhando ainda com algum tipo de duplicação da realidade que torna o debate abstrato e insólito demais.

    saudações

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  24. O Plínio cairia em uma semana se assumisse a Presidência. Digo isso por alguns motivos:

    1º - Conhece pouco ou nada a real necessidade do povo brasileiro. Prefere atacar o PROUNI do que ver onde é que está o problema educacional que limita o acesso às Universidades.

    2º - É um socialista utópico que quando se deparar com os fatores reais de poder sonhará em voltar aos tempos em que fazia sua palhaçada altiva em debates eleitorais.

    3º - É tão soberbo que não conseguiria fazer alianças para facilitar sua governabilidade, pois entende ser a vanguarda que levará o país ao socialismo e o resto irá só atrapalhar.

    4º (e último)Este é continuação do motivo que está imediatamente acima. Para por em prática seu programa no Brasil ele teria que fechar o Congresso e governar sozinho. O último que pensou em fazer isso foi Collor.

    PSOL, em que mundo você vive? Largue essa militância para a classe média alta (que corresponde à maioria dos seus eleitores) e saia às ruas. O povo tem fome, sede, amor, ódio. São seres humanos e não massa de manobra para um socialismo irreal, que existe mais nos rincões de uma mente senil do que no mundo dos fatos.

    Uma coisa que não perdoarei no PSOL e nos outros partidos de esquerda alienada: quando a extrema-direita se organizou em São Paulo, recentemente, num ato que se assemelhou muito a uma tentativa de golpe, a esquerda folclórica preferiu silenciar. E num momento desse, silêncio importa anuência.

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