segunda-feira, 31 de maio de 2010

Israel e a Escalada do Terror de Estado

 (protestos em Londres - Luke MacGregor/reuters, retirado do Guardian)

Pois bem, o principal tema no noticiário internacional até ontem era a questão do programa nuclear iraniano, o que passava pelo acordo trilateral que o Brasil junto com a Turquia travaram com aquele país. Em cima disso, os debates, análises e conjecturas sobre os problemas do Irã e o que se esconderia (ou não) sob o véu de seu Programa Nuclear eram abundantes e soltavam faíscas - e o blog trouxe algumas análises sobre o assunto.

Um dos eventos mais estarrecedores divulgados por esses dias, como registrado,  a comprovação de que Israel tentou vender armamento nuclear para o regime do apartheid nos anos 80 Pesado isso, mas é real. Que Israel tem armas nucleares, até as pedrinhas da rua sabem. Que Israel apoiou o apartheid na Áfica do Sul, é público e notório. Agora, o Guardian - não um pasquim qualquer, mas um dos maiores jornais do Reino Unido - aparecer com provas de que Israel tem mesmo armas nucleares - e que quase forneceu isso para o regime do apartheid, é um negócio chocante, coisa de desacreditar na humanidade mesmo, mas foi o que aconteceu.

Quando ainda tentava racionalizar o impacto, me deparo, hoje, com a notícia do que Israel fez com os navios que levavam ajuda humanitária para Gaza: Depois de passar alguns dias tentando bloquear seu, avanço, acabaram atacando a pequena frota, matando, até as informações que eu tenho agora, dezenove ativistas e prendendo mais de oitenta. É inacreditável a ação. Ela é totalmente desproporcional, fora de qualquer norma de direito internacional e, sobretudo, de uma desumanidade ímpar.

Não creio que seja fora de contexto debater a questão da opressão histórica contra os judeus pela História ou, especialmente, a política genocida em massa engendrada pelos ideólogos da eugenia das sociedades industriais europeias já do século 19º quando se fala de Israel, o problema é como isso entra na conversa: O meu ponto é que, odiosamente, isso tem servido de álibi para setores de interesse específico de Israel e do Ocidente - que usa aquele Estado como uma espécie de proxy no Oriente Médio -justificarem toda sorte de políticas, portanto, isso nada tem a ver com judaísmo, proteção dos judeus ou com tudo que os judeus já sofreram. Simples assim.

Comparações entre o regime nazista e o modus operandi dos dirigentes israelenses são um tanto descabidas, ao meu ver. A conjuntura histórica é diferente, não há nazismo em Israel e, ao fazê-la, bate-se por bater, usando um ponto particularmente - e justamente - doloroso para os judeus de todo o mundo - pró e contra as políticas de Israel -, o que ao mesmo tempo que é cruel, também ajuda a alimentar a ideologia que a classe dominante local usa para justificar sua megalomania e incompetência. A grande questão aqui é a questão do Estado de Exceção, fenômeno recorrente nos Estados de inspiração greco-romana e cujas raízes, suspeito, são o calcanhar de aquiles dessa forma de organizar politicamente, seja há dois mil atrás ou nos dias de hoje, talvez uma falha intrínseca ao modelo, talvez algo mais profundo, de fundo antropológico, não sei dizer.

Israel tornou-se um Estado bélico no qual a regra é afastada à exaustão internamente de tal forma que passou a ser afastada no plano externo também, provocando um esgarçamento não apenas da sua legitimidade enquanto Estado - aqui no plano formal - quanto na reiteração de decisões cada vez mais irracionais - e perigosas, no plano material. No atual momento, tomar uma atitude como a de matar ativistas que levavam ajuda humanitária aos palestinos e estavam desarmados é, sobretudo, um sinal de loucura. 

Além da tragédia em si, ela enfraquece Israel perante a comunidade internacional e fortalece a posição do Irã por contraste. Em suma, Israel não ganhou nada com isso, nem mesmo aqueles dirigentes aos quais eu me referia, muito menos seu povo, o que é uma ilustração dessa insanidade - por fim, uma expressão da contradição do Estado de Exceção estourando. Há quem diga que isso caiu como uma luva para, no momento atual, bloquear a escalada contra o Irã, trata-se de um ledo engano, esse é apenas mais um fio desencapado do Oriente Mèdio - o maior e mais perigoso deles, é verdade - soltando faíscas e se mostrando fora de controle. Isso é um problema para o Irã, para seus vizinhos e para toda comunidade internacional. No duro, em que pesem todos os riscos que o regime dos aiatolás represente para o mundo - ele representa -, nada se compara à Israel atualmente e se ele não for neutralizado pela comunidade internacional, provocará, cedo ou tarde, um desastre incontrolável.



domingo, 30 de maio de 2010

Quinta Rodada do Brasileirão

Bem, agora só faltam mais duas rodadas para o começo da Copa do Mundo e a consequente interrupção do Brasileirão. A dez notinhas:

1. O Corinthians meteu 4x2 no Santos. Perdendo ou ganhando, o time da Vila sempre protagoniza jogos bonitos e ofensivos, mas ao mesmo tempo, repete a mesma postura arrogante em campo e erros defensivos - além da falta de uma goleiro à altura. O Corinthians vinha somando pontos sem muito brilho, mas hoje fez o seu melhor jogo no campeonato, fixando-se definitivamente na liderança do torneio, na melhor série de jogos do time desde o título da Copa do Brasil.

2. O Inter, sem Jorge Fossati - que apesar de ter levado o time para a final do Gaúcho e para a semi da Libertadores foi demitido -, meteu uma goleada de 4x1 no rebaixável Atlético-PR - típico placar de elenco que recém derrubou o 'professor', também chamado de "o problema não era comigo".

3. O Fluminense teve um primeiro trimestre horrível, Muricy começou apanhando, mas é fato que a equipe subiu bastante de produção nos últimos jogos. Hoje, vitória de 3x1 sobre o Atlético-MG - que vinha fazendo bons jogos em casa e maus jogos fora, mas nessa tarde acabou conhecendo a derrota em BH. Ainda é muito cedo para qualquer oba-oba, mas o Fluminense está no caminho certo. O Atlético-MG é um dos melhores, mas sofreu oscilações estranhas nesse início de Campeonato (4x0 para o Grêmio-SP?) e sua defesa parece não funcionar. Aliás, Muricy deu outro nó em Luxemburgo, seu freguês.

4. O Vitória arrancou um bom empate do Avaí em Santa Catarina num jogo entre os dois melhores times médios desse Campeonato.

5. Flamengo 1x1 Grêmio, ilustra o quanto o time carioca precisa que o recesso da Copa chegue logo e o que o Grêmio está se recuperando do choque pela eliminação na Copa do Brasil pelo Santos.

6. Guarani 0x0 São Paulo, demonstrou tanto a fragilidade do Bugre quanto a irregularidade do São Paulo que depois de ter resolvido jogar bola só contra o Cruzeiro na Libertadores - e depois ter vencido o Inter, fora -, venceu o Palmeiras num clássico modorrento e jogou o mesmo futebol chato hoje.

7. Palmeiras 0x0 Grêmio Prudente, jogo disputado na nova casa do Palmeiras e na velha casa do Grêmio-SP, foi um jogo morno para dizer o mínimo. A campanha do Palmeiras não é desesperadora, apenas uma derrota no clássico contra o São Paulo onde jogou de igual para igual, outro empate e duas boas vitórias - contra Vitória e Grêmio -, mas como a situação interna já não é boa, qualquer coisa provoca abalos e nenhuma vitória é suficiente, por si só, para apagar os incêndios. Por ora, a defesa continua funcionando bem no BR-10 e o ataque continua não funcionando.

8. Botafogo 1x1 Vasco marca o equilíbrio entre um regular Fogão e um ascendente Vasco.

9. Ceará 1x0 Cruzeiro foi o placar mais surpreende da rodada. Invicto, o time cearense, apesar de modesto, crava a segunda posição do torneio, somando pontos importantes para si. O Cruzeiro decepcionou.

10. Atlético-GO 1x3 Goiás, no clássico dos desesperados foi um placar surpreendente. Depois da promissora campanha na Copa do Brasil, o dragão só vem decepcionando, já o Goiás, conseguiu alguma coisa, mas vai ter de melhorar muito.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Serra versus Bolívia no Notícias Frias

Todo dia subo a ladeira da Monte Alegre rumo à PUC, morto de sono, repetindo automaticamente o caminho que faço há dois anos e meio - para depois ser automatizado na sala de aula. Sobre o que se passa entre o momento que eu acordo e o que eu chego na sala de aula, lembro muito pouco, só sei que eu chego. Eis que a minha rotina segura, repetitiva e previsível começou a mudar a partir dessa última segunda, quando fui abordado por uma mola tentando me entregar um calhamaço de papel, creio que um jornal, numa lamentável bolsa plástica cor de rosa. Acordei no susto. Era mesmo um jornal. Era uma Folha de São Paulo. Sim, os Frias realizaram uma reforma cosmética no seu principal produto e agora cismaram de distribuir ele nos portões de inocentes universidades...

Desde segunda, passei a fazer o meu bom e velho trajeto paranoicamente, na esperança de me desviar do pelotão de distribuidores de jornal. Pelo menos assim eu consigo me livrar de começar o mal o dia, ainda que uns pobres coitados insones acabem aceitando aquela porcaria e deixem a gloriosa emporcalhada por aquele pasquim. Qual não foi a minha surpresa quando eu vi a droga da edição de hoje no chão e me deparei com a manchete, baseada em uma declaração de José Serra feita à Rádio Globo do Rio, na qual o ex-governador paulista e candidato à Presidência acusou o Estado boliviano de ser cúmplice no tráfico de cocaína. Bizarro. Não sei se a Folha achou isso bacana ou só achou que isso ia fazer vender jornal. Pouco importa, o assunto aqui deixa de ser o ridículo da propaganda do ditabrandesco diário e passa a ser Serra - o candidato que o referido jornal apóia cinicamente há anos. Não à toa, Serra foi chamado de o exterminador da política externa brasileira. 

Honestamente, não lembro de um candidato com postura tão desequilibrada sobre a política externa quanto ele. Se há um ponto que é consenso no mundo, seja na boa imprensa internacional, em praticamente todas as correntes do PT e até em boa parte das tendências do PSOL, é que a Política de Relações Exteriores brasileira é boa. Não, não há como negar que grande parte das conquistas econômicas e políticas do Brasil nos últimos anos se devem à Política de Relações Exteriores empreendida pelo atual Governo, capitaneada pelo excepcional Celso Amorim - e com a inestimável participação de Samuel Pinheiro Guimarães e Marco Aurélio Garcia - que transformou uma potência regional, escrava dos ditâmes de Washington, em um interlocutor capaz de ser ouvido e visto como legítimo por Washington, Moscou, Caracas, Teerã, Paris, Londres e Pequim ao mesmo tempo.

Essas conquistas vão da geopolítica até o comércio exterior. Testemunhamos desde a ampliação brutal das exportações com a penetração do país nos mercados da África, do Oriente Médio e da China até atitudes inequívocas e efetivas na direção da tão sonhada integração sulamericana, um processo iniciado em Sarney e abortado pelos "governos" subsequentes, muito embora seja meta constitucional. Que faz Serra diante disso? Faz acusações sem provas a um Estado soberano vizinho. Não, o problema não é que Serra tem uma má política para a área, mas sim que ele simplesmente que tem ideias tão claras e certas sobre Política de Relações Exteriores quanto Sarah Palin tinha sobre a reforma no sistema de saúde de seu país nas últimas eleições americanas. Serra não é ruim, é nocivo para o país - e o mesmo vale para o pseudo-jornal que na mais é que seu panfleto eleitoral.  


quarta-feira, 26 de maio de 2010

Questão Iraniana: O Jogo Segue


(Revolução Iraniana- O retorno de Khomeini)

As peças estão no tabuleiro e o jogo segue na questão do programa nuclear iraniano. Segunda, o Irã apresentou o acordo de troca de combustível nuclear à Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA), cumprindo, portanto a primeira das obrigações assumidas com Brasil e Turquia. Trocando em miúdos, o Irã, cujo programa nuclear foi iniciado ainda na época do Xá - muito embora ele tenha sido alavancado nos últimos anos -, se compromete a enviar o urânio não enriquecido para a Turquia, recebendo em troca Urânio enriquecido a 20% do seu vizinho otomano - mais do que o suficiente para o uso pacífico, ainda insuficiente para fins militares, além de outras implicações.

O ponto central é que, como já colocado aqui, o Irã é uma potência energética. Portanto, em tese, ele não precisaria desenvolver tecnologia nuclear para suprir sua demanda por energia - que, ainda por cima, é razoavelmente baixa -, fato que suscitou sérias dúvidas na comunidade internacional. Evidentemente, dominar tal tecnologia é estratégico e pode tornar o país que o fizer em uma potência, seja pelas implicações pacíficas ou militares que decorre disso. As alegações do regime local sobre o assunto, sempre sinalizaram para que tal desenvolvimento seria voltado para fins pacíficos, o que nunca realmente ficou claro, ainda que a possibilidade de emprego militar da tecnologia nuclear sempre permaneceu como uma conjectura - uma boa conjectura, mas ainda uma conjectura.


A Revolução Islâmica de 1979 foi um momento de ruptura radical com os privilégios que o ocidente gozava naquele país, onde um movimento nacionalista, de inspiração fortemente religiosa, assumiu o poder depois do colapso de um regime autoritário com laços estreitos com as potências ocidentais. O ponto-chave é que, apesar dos americanos, historicamente, não serem o alvo preferido do furor nacionalista local - posto ocupado com certa folga pelos britânicos -, a invasão da embaixada americana, um evento particularmente doloroso no modo que seu deu - foram feitos reféns e o sequstrou durou 444 dias - faz com que a recíproca não seja verdadeira, em especial dos tecnocratas do Departamento de Estado em relação à Teerã.


Esse evento pôs a perder, de forma irrevogável, não apenas o Governo Carter, suas boas intenções e seus diplomatas liberais -, como também provocou mudanças profundas na forma dos EUA se relacionarem com o Oriente Médio, passando, desde então, a intervir mais diretamente, algo que ganhou um estímulo considerável com o aumento da demanda por petróleo, provocado pela manutenção de padrões de consumo insustentáveis da potência americana. Isso fez, por exemplo, com que o Governo Americano, descaradamente, apoiasse o regime totalitário de Saddam Hussein, dando-lhe apoio político e armas para que invadisse o vizinho, resultando numa guerra que ceifou mais de um milhão de vidas humanas ao longo de oito anos - ainda que Saddam tenha tido o claro apoio de outras nações, inclusive da União Soviética.


Também pesa o interesse estratégico de Israel. Àquele país, pouco interessa a existência de um Estado islâmico forte no Oriente Médio - seja num aspecto defensivo ou mesmo ofensivo, pois até as pedrinhas daquela região sabem que para o Estado de Israel, a melhor defesa sempre foi o ataque, seja nos momentos em que isso foi ou não necessário. O País sempre teve interesse não apenas em se manter, a despeito da vantajosa decisão da ONU que lhe criou e ainda dividiu de modo mais favorável para ele as terras da Palestina, como também em se expandir, como se percebe pela maneira como as vitórias nas seguidas guerras que se travaram naquela região provam.


É evidente que pesam inúmeras outras questões sobre esse assunto, que eu pretendo explanar melhor mais adiante - a necessidade de sobrevivência dos judeus, a validade ou não da via sionista, as ameças e ataques que ele já sofreram etc -, mas o ponto que é Israel nunca deixou de ser uma nação beligerante e nos momentos em que não esteve travando combates pelo seu interesse, esteve defendendo claramente os interesses americanos na região - e no mundo, como recentemente provado pelo diário britânico The Guardian, Israel além de ser a maior potência militar da região, ainda possui armas nucleares e sua participação na Guerra Fria do lado dos americanos foi tão intensa que ele quase vendeu armas nucleares para o regime do Apartheid.


Não há qualquer "equilíbrio de forças" no Oriente Médio e não interessa nem para os americanos, ciosos pelo controle das poderosas reservas energéticas da região, nem para Israel, que algum novo agente se fortaleça. Interessa muito menos que esse agente seja o Irã, justamente, o maior país da região. Por outro lado, para as demais potências, se não interessa para ninguém que o Irã construa armas nucleares - ou tenha a possibilidade de -, também é de valia que o país esteja suficientemente fraco para que seja invadido pelos EUA ou por Israel ou que uma nova guerra seja deflagrada na região.


O problema, claro, é a legitimidade na interlocução, os russos tentaram, mas a política do Kremlin peca no movimento pendular, variando entre a paranóia de ver a disseminação de armamento nuclear no seu quintal e o de assistir uma nova invasão americana na região. Os chineses, que, por ora, fazem o mesmo e não querem bater de frente com o interesse americano. Eis aí que entrou o Brasil, um agente economicamente poderoso, militarmente inofensivo e com um complexo de relações ao redor do mundo ao mesmo tempo ampla e profunda - fortalecido durante o atual Governo. Entra também a Turquia, um gigantesco país islâmico com um economia relevante e forças armadas modernas.


Ademais, existe outro aspecto do programa nuclear iraniano muito pouco explorado: Ele é o elemento de união de um país politicamente fraturado, no qual boa parte dos habitantes se ressente da falta de liberdades individuais imposta pelo regime dos aiatolás, mas, ao mesmo tempo, ainda expõe a ferida causada por anos de ingerência das potências ocidentais - e o trauma da guerra contra o Iraque - em seu território, portanto, é consensual na sociedade iraniana que o Governo não deve interromper seu programa nuclear.


A crise provocada pelas tensões internas e externas, deixam o Governo de Teerã num verdadeiro impasse. No momento, aceitar a proposta otomano-brasileira é conveniente porque ao mesmo tempo em que enfraquece Washington, que fez uma proposta parecida, refutada de imediato, dá força a turcos e brasileiros, ex-títeres da política externa americana, legitimando-os como interlocutores de alto-nível - especialmente o Brasil, uma das peças-chave nos planos de reforma do sistema mundo que visam a construção de uma ordem multipolar. O discurso brasileiro pela paz é poderosíssimo, pois ele apela ao pathos de uma humanidade desejosa de tranquilidade e pega o discurso belicoso no contra-pé na medida em que ele usa a prerrogativa da luta pela paz como elemento legitimador - como percebemos claramente no discurso americano, onde a guerra é vendida sempre como um mal necessário para a conquista da paz. Em suma, além de Lula ser legitimado pelos seus admiradores europeus, seja por princípios ou interesses imediatos, por outro, ele se torna um interlocutor difícil de deslegitimar, afinal, como e por qual motivo alguém iria bater em um arauto da paz?


O ponto é que tanto os aiatolás quanto os americanos estão em xeque. Se os primeiros terão de dar provas de confiança para a comunidade internacional, sob pena de ficarem definitivamente isolados e caírem, os segundos perderam o álibi tão cômodo para os interesses que sequestraram o seu Departamento de Estado, fazendo com que a mandatária daquele órgão, que disputou prévias tão acirradas com o atual Presidente daquele país a ponto de mais parecerem rivais de partidos opostos, mostre sua verdadeira face e exponha a política externa contraditória e renitente do seu suposto chefe, o atual Nobel da Paz, Barack Obama.

domingo, 23 de maio de 2010

Terceira Rodada do Brasileirão

Dez notinhas sobre o Brasileirão:

1. No apagar das luzes do Palestra Itália, o Palmeiras bateu o Grêmio por 4x2, provando que tem um bom elenco, capaz de jogar de igual para e igual - e até vencer - os melhores do futebol brasileiro, o que se é bom por um lado, por outro, atenta para a triste realidade de que sua crise não está no elenco, mas sim enquanto clube - o que torna tudo mais difícil. Por outro lado, o belo time do Grêmio é um dos favoritos ao título, jogou um tanto abatido pela eliminação na Copa do Brasil, mas precisa corrigir seus problemas defensivos para se recuperar no torneio.

2. O Corinthians bateu o Fluminense de Muricy, que dessa vez jogou bem, por 1x0. O time paulista chegou a liderança do torneio com 100% de aproveitamento, muito embora, ainda não tenha encantado. Por ora, o Tricolor Carioca segue mal, sob o comando de Muricy foram 4 derrotas e apenas uma vitória, mas é preciso considerar que já se nota alguma evolução.

3. No jogo de maior diferença de gols da rodada, o Botafogo, que iniciou bem o torneio, bateu por 3x0 o rebaixável Goiás de Leão. O Botafogo se mostrou um time com os nervos à flor da pele e precisa corrigir uma série de coisas, por outro lado, Leão segue ladeira abaixo na carreira e seus times parecem um reflexo de si mesmo: Afoito e com a paranoia edipiana de jamais assumir suas próprias culpas.

4. O São Paulo bateu o Inter por 2x0 nas prévias da semi da Libertadores. Estranhamente, os treinadores optaram por entrar com os times praticamente titulares. A verdade é que o Inter dormiu e o São Paulo desandou a jogar bola depois de um ano de futebol morno - agora, a reação do time é impressionante: Liderado por Hernanes que marcou os dois gols hoje, Fernandão que chegou incendiando o time, Dagoberto que voltou a jogar bola e Marlos que finalmente parece pegou o ritmo da coisa. Não dá, no entanto, para tirar esse jogo como parâmetro para o jogo das quartas de final da Libertadores, mas que ele nos mostrou boas pistas, sem dúvida. Ainda assim, não mudo minha aposta.

5. O Santos foi até Goiás e bateu o Atlético local. Aparentemente, a equipe goiana depois do segundo jogo da semi da Copa do Brasil sentiu o peso de jogar entre os grandes e caiu de produção. O Santos prossegue somando seus pontinhos.

6. O Atlético-MG, depois da bisonha e inexplicável derrota para o Prudente, bateu seu xará paranaense por 3x1. O Atlético-PR é um bom candidato para o rebaixamento.

7. O Ceará, que tem um dos times mais modestos da Séria A, bateu o Vitória, finalista da Copa do Brasil, e segue somando pontos que lhe serão úteis mais adiante, mas nada leva a crer numa grande campanha dele. O Vitória está concentrado na Copa do Brasil, que decidirá contra o poderoso Santos, e deve fazer um bom torneio.

8. O Avaí não teve muitas dificuldades para bater o fraco Vasco do estreiante Celso Roth. Dos times médios, é o que tem mais chance de surpreender. O Vasco se bobear, cai de novo.

9. O Flamengo bateu o bisonho Prudente e conseguiu sua primeira vitória, algo importante para um time que irá começar um período de reformulações.

10. O Guarani quase conseguiu bater o Cruzeiro, quase. A raposa empatou no finzinho. Os mineiros, quando superarem a eliminação na Libertadores, entram fortes na briga pelo título.

Datafolha: Day After

Como é de costume, me presto a analisar aqui as coisas com um certo distanciamento de tempo. O fato político de ontem foi a divulgação do resultado da pesquisa Datafolha mostrando o empate entre Dilma e Serra, depois da petista, supostamente ter subido 7 pontos e o tucano ter caído 5. Como é sabido, a última pesquisa do mesmo instituto apontava para uma vantagem serrista de 12 pontos percentuais, uma tendência que claramente contraduzia os demais institutos e, pior, foi justamente o Datafolha, às vésperas do lançamento da candidatura de Serra, que começou a apresentar pesquisas que, no duro, eram pontos fora da curva, incongruentes, inclusive, com sua própria pesquisa espontânea, que demonstrava a liderança de Dilma nos mesmo níveis dos demais institutos.

Quando do primeiro ponto fora da curva do Datafolha, o Sensus e o Vox Populi registravam empate técnico entre os candidatos. Em um primeiro poderia-se dizer que alguém errou, depois, com uma nova série de pesquisas demonstrando a mesma contradição, só era possível que alguém estivesse mentindo e, assim, começou uma guerra de acusações, com uma pressão imensa sendo jogada sobre o Sensus e o Vox Populi - institutos desprovidos de um meio de comunicação próprio, ao contrário do Datafolha, para conseguirem se debater publicamente de igual para igual. Ao mesmo tempo em que isso acontecia, o Eduardo Guimarães e o pessoal do Movimento dos Sem Mídia entraram com uma ação no Ministério Público pedindo a investigação das pesquisas eleitorais pela PF. 

Acusações de um lado, acusações de outro, talvez a perspectiva fosse essa mesmo: Institutos demonstrando resultados diferentes até as eleições - o que geraria uma tensão absurdamente grande até lá. Ainda assim, os dados do Datafolha eram inexplicáveis, depois de meses registrando uma leve e constante queda de Serra e uma ascenção vigorosa de Dilma, ele passou a apresentar uma curva diferente sem ter acontecido nenhum fato novo relevante para tanto. As últimas pesquisas do Sensus e Vox Populi, inclusive, demonstraram que Dilma ultrapassou Serra. De repente, de uma penada só, aparece o Datafolha de ontem com uma pesquisa mostrando uma incrível variação de Serra para baixo e Dilma para cima.

Ao passo em que isso acontece, surge uma argumentação recorrente e aparentemente coordenada nas páginas da Folha: Dilma cresceu por conta da propaganda fora do tempo na qual Lula aparece ao lado de sua ex-ministra. Como se Serra não tivesse super-exposto, como se não tivesse feito propaganda da Sabesp pelo país inteiro. Evidentemente, todo o movimento da pesquisa estranha do Datafolha, a forma como os demais institutos foram atacados nas páginas da própria Folha de São Paulo e a maneira como o recuo se deu com a tese da responsabilização do crescimento de Dilma por conta de "trapaça" - ecoando pela edição inteira de ontem -, é tudo mera coincidência.

Em suma, nada de novo sob o Sol. A Folha perdeu o prumo já não é de hoje. O episódio da Ditabranda foi emblemático, um divisor de águas numa escalada que, no entanto, não começou ali. A Folha foi o jornal que mais colaborou com a Ditadura em si, apesar da família Frias ter colaborada menos do que os Mesquita com o Golpe de 64. O problema é que o velho Frias movia seu produto para o lado em que o vento apontava e nisso ele era bom, de repente, a reformulação que ele promoveu no jornal nos ano 80, jogou todo os ônus de colaboracionismo para o Estadão. Nos anos 90, ainda que com o apoio ao tucanato, nunca faltaram páginas para os petistas porque qualquer iniciados na brasilianística sabia que o telhado do projeto de FHC era de vidro. 

O erro está com Otavinho, o menino que quis fazer o vento em vez de segui-lo: Ele conseguiu acabar de uma vez só tanto com aquela ideia do jornal que ouvia "os dois lados" - transformando seu jornal em um panfleto serrista - e, ao mesmo tempo, trouxe à tona os esqueletos guardados no armário, que estavam ali, vejam só, desde os anos de chumbo. Agora, foi a vez de destruir a reputação do Datafolha, um instituto consagrado ao longo dos anos 80 e 90. A direção atual da Folha conseguiu a proeza que uma geração inteira de esquerdistas, muitos deles estranhamente entusiastas daquele jornal, não conseguiu.

Por outro lado, resta a tristeza quanto aos rumos da jovem - e quem sabe pretensa - democracia brasileira, cujo debate público se resume atualmente à guerra de pesquisas. Dilma representa uma continuidade de um projeto que conseguiu ter mais prós do que contras, diferentemente de todos os outros que lhe antecederam - um projeto que, suspeito, ainda conseguirá fazer o mesmo pelos próximos quatro anos, depois, depende de sua reinvenção -, enquanto Serra representa o desequilíbrio de uma oposição perdida, que não sabe se quer se assumir como a continuidade ou como o arauto do antipovismo - ainda que, na prática, seja a segunda opção mesmo. O PV está rachado e a candidatura Marina não consegue pautar o que quer - o que não sei exatamente se seria bom. No PSOL, Heloísa Helena conseguiu provocar danos demais ao partido, o que enfraqueceu a própria posição de um Plínio de Arruda Sampaio em estabelecer-se como um contraponto produtivo à esquerda - ainda que em termos projetivos, evidentemente, não havia esperança alguma quanto a isso. Por ora, é o que temos.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Irã e a Grécia

foram protagonistas de muitas das mais espetaculares batalhas do Mundo Antigo. Certamente, a vitória dos helênicos unidos contra os persas foi um dos elementos que determinaram o que o mundo é hoje. A civilização ocidental - essa mesma que desembocou na cultura global - deve sua essência aos helênicos, muito embora reneguemos boa parte da nossa herança persa. Hoje, ambos os países, muito longe da glória do passado, vivem às voltas com crises horríveis. 

A Grécia é uma das vitimas da expectativa frustrada do Projeto Europeu - e hoje é apontada como culpada por sua desgraça, seguindo a sorte triste que lhe acompanha há séculos, seja pelo domínio turco ou pela sua independência frustrada, sempre sendo uma marionete nas mãos das potências europeias, seja por falta de escolha ou por falta de coragem dos seus líderes. A política de "ajustes" defendida pelos intelectuais do sistema passa pelo crivo do aumento da dependência do país e pela punição dos trabalhadores, uma "resolução" por meio do velho arrocho - tão conhecido por nós brasileiros - e não por reformas sistêmicas.

O Irã, por sua vez, vive às voltas com a sombra da guerra. Como relatado aqui, o país está sob violenta pressão americana, não por conta de alguma manobra do ocidente iluminista contra o regime teocrático daquele país, mas por conta da fome voraz da potência americana, uma inerência de seu projeto suicida, imperialista e obscurantistas. Depois da genial manobra brasileira, acabaram-se os álibis de Washington e restou um rei nu: O motivo que só os inteligentes compreendiam era falso, o que temos é petróleo e uma tentativa maluca de tocar um keynesianismo de guerra fora de tempo e lugar, não por um contradição que um dia virá à tona, mas pelas condições materiais imediatas.

É aguardar para ver onde chega a insanidade do nosso tempo, se avançar um cadinho, estaremos fritos.

O Santos que Ninguém Pára e uma Semi Brasileira na Libertadores

Enquanto o mundo se vê às voltas com um crise tremenda, seja por conta desses colapsos econômicos - e, principalmente, o modo como eles estão sendo tratados - ou pelo temor de uma nova guerra de proporções gigantescas no Oriente Médio - mesmo depois do Brasil ter lhe arrancado o principal álibi dos americanos na questão iraniana -, falemos um pouco de futebol para manter habitual o cinismo. O Santos não me encanta muito. Não gosto muito desse elenco atual porque acho que ele ultrapassa o limite da irreverência e é, não raro, desrespeitoso mesmo. Por ora, é a equipe mais decisiva do Brasil, venceu o Paulistão batendo o São Paulo - que só resolveu jogar bola agora - e depois suando a camisa para bater o Santo André. Na Copa do Brasil, o time pegou duas das melhores equipes do futebol brasileiro atual e venceu: Atlético-MG e Grêmio fizeram belos jogos, mas mais do que engenho ou arte, talvez tenha lhes faltado sorte; agora o Santos pega o bom Vitória, mas deve levar mais essa caneca mesmo. Na Libertadores, o Flamengo foi valente, mas não deu contra La U, por outro lado, Fernandão fez o São Paulo jogar tudo o que não jogou durante o ano - e talvez com Ricardo Gomes - e levou do Cruzeiro. A surpresa mesmo fica por conta do Inter, que oscila bastante, mas foi o brasileiro que pegou as piores pedreiras na Libertadores, os argentinos Banfield e Estudiantes - o último atual campeão do torneio -, passou e chega a semi contra o São Paulo, um belo jogo sem dúvida - não arrisco prognóstico, o São Paulo, no papel, é melhor mesmo, mas só jogou bem contra o Cruzeiro durante todo o ano, o Inter é irregular, mas está se superando nessa Libertadores e se fosse para apostar, apostaria nos gaúchos...ganhe quem ganhar, terá um belo adversário pelo frente, afinal, Chivas e Universidad de Chile vai ser um jogão.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Acordo entre Brasil, Turquia e Irã

 (Lula, Ahmadinejad e Erdogan - foto retirada daqui)

Ontem, debatemos aqui a visita de Lula à Rússia enquanto ele partia para Teerã para se reunir com o premiê turco e os líderes iranianos - naquilo que era visto pela comunidade internacional como a "última chance de negociação com o Irã" em relação à politica daquele país no enriquecimento de urânio. Não é uma questão nada simples porque conjuga interesses e valores muito complexos e variados. O Irã, como já foi dito aqui, é uma teocracia islâmica, portanto, uma espécie de aristocracia na qual manda quem teria a capacidade de se interpretar as escrituras sagradas do Alcorão e dizer para os homens os desígnios de um Deus todo-poderoso que nunca erra. O líder supremo do Irã é o aitolah Ali Khamenei, mas as funções concernentes à liderança em relação aos assuntos "seculares" sejam, basicamente, realizadas por um Presidente, que é eleito mediante um processo de votação por parte dos habitantes razoavelmente parecido - no duro, o Presidente é o equivalente a um chefe-de-governo. 

Desrespeitos aos direitos humanos são frequentes e muitos deles permitidos pelo ordenamento jurídico local - há pena de morte, as mulheres ocupam sim posição de inferioridade, pode-se utilizar de argumentos relativistas no sentido de que "é a cultura deles", mas isso é facilmente questionável se levarmos em conta que são seres humanos, como eu ou você, que são enforcados, censurados e humilhados por aquele regime - e sim, enforcar, censurar e humilhar são violências em qualquer parte do planeta. A questão da religião, por sua vez, precisa ser enxergada pelo prisma da Razão, pela busca do que realmente é, de como ela serve como legitimação para um discurso de dominação política, onde, sob o fundamento de que quem em última instância manda são aqueles que podem conhecer de fato os desígnios de um certo Deus, justificam-se violências consideráveis.

Não menos importante do que isso é entender que o Irã é um grande produtor de petróleo, o ouro negro de nosso tempo, e como isso desperta a cobiça de grupos de interesses de certas potências que buscam encontrar álibis que justifiquem, quem sabe, uma invasão ali, para retomar os bons tempos em que as potências ocidentais faziam o que queriam naquele país - sim, a chamada "Revolução" Islâmica detonou com os direitos civis dos iranianos, mas, por outro lado, serviu para botar para correr seja potências exploradas ou grupos de interesse de certas potências, pois o processo imperialista é complexo, muitas vezes a exploração de outra unidade política por outra se dá por um projeto de Estado de um determinada comunidade, enquanto em dados momentos, isso é fruto de uma manipulação de determinados grupos. Não, meus caros, isso não é teoria da conspiração, basta olhar para o que aconteceu no Iraque, ali pertinho.

A política de enriquecimento de urânio por parte do Irã nos últimos anos despertou um certo temor na comunidade internacional. Basicamente, um grande exportador de energia como o Irã não teria lá muitos motivos para produzir energia nuclear que não fossem bélicos. A preocupação, claro, não é moral, ao contrário, é imoral, pois visa a manutenção do (des)equilíbrio de forças, na pior das hipóteses, àquilo que concerne à posse de uma tecnologia estratégica que serve tanto para produzir energia com alto rendimento, quanto desenvolver poderosos armamentos. No jogo das potências, mesmo uma Rússia, que não tem interesse algum em ver um Irã fraco por conta da posição estratégica que ele ocupa no Oriente Médio, não fica satisfeita em conceber a reles possibilidade de um Irã com armas nucleares ou com tecnologia de ponta. Por outro lado, um Irã com armas nucleares seria um país cuja invasão seria impossível, mas um Irã desenvolvendo energia nuclear, seja para que for, é um belo álibi para que os EUA arrumem o motivo necessário para irem à desforra que planejam desde a queda do- uma guerra de proporções catastróficas, longe de ser do interesse do povo americano que resta inerte enquanto o seu sistema política está dominado por grupos de interesses específicos capazes de tudo.

É dentro desse cenário complexo ao extremo que entra o Brasil. Graças à política externa independente recém-inaugurada por essas bandas, o país resolveu expandir seus tentáculos diplomáticos pelo mundo, atuando de acordo com interesses políticos e econômicos imediatos conjugados com determinados princípios positivados em sua Constituição que orientam a política de relações exteriores a seguir determinados ditâmes, que, em última instância equivale a dizer que temos de pensar numa articulação de longo prazo, de que temos de considerar nosso interesse enquanto brasileiros, mas também o nosso interesse enquanto seres humanos na manutenção da nossa vida sobre a terra. A política externa com Lula ganhou musculatura, seguindo um viés fortemente pacífico e crente na via do diálogo, ainda que relativize, em muitos casos, infrações aos direitos humanos de aliados. De qualquer modo, a compatibilização entre os interesses de curto e longo prazo não deixa de ser boa.

Chegamos ao Irã e ontem. A Turquia enquanto um dos países islâmicos mais desenvolvidos do mundo não poderia deixar de ser um dos interlocutores do encontro. O Brasil, enquanto potência emergente, democrática e um dos poucos países que não apenas optou por manter a via do diálogo com o Irã como também soube fazê-lo, idem. Ali, estava a chance de resolver um impasse bem claro: Há variados interesses  ao redor do globo que querem uma guerra no Irã, outros que não querem um Irã nuclear, mas não conseguem ver o diálogo mais como possível, outros, como nós, a quem a guerra simplesmente não interessa porque se trata de uma irracionalidade destinada apenas a abalar um mundo já instável. Brasil e Turquia eram do time que buscava evitar essa guerra e conseguiram, ontem, um acordo histórico com o Irã. Ambos se apresentaram nas negociações como duas partes dispostas ao diálogo com os iranianos, uma das poucas ao redor do mundo, e foram hábeis em convencerem os líderes iranianos de que ofereciariam um proposta razoável mediante a qual sanções mais duras da comunidade internacional não seriam empregadas - e de que essas não seriam, certamente, ameaças, mas sim o início de uma escalada para a invasão do país.

Que pode fazer o Irã? Simplesmente ignorar brasileiros e turcos, acabarem isolados e ser invadido? Imediatamente, boatos tentando desqualificar Brasil e Turquia foram plantados na imprensa internacional. Inclusive de que pretendiam construir armas nucleares. Ou de que tudo não passa de um engôdo dos líderes iranianos no intuito de ganhar tempo. O ponto é que a primeira hipótese exclui-se rapidamente: Trata-se de um evidente factóide destinado a deslegitimar as partes negociantes. O segundo é improvável, mas não impossível: os líderes iranianos realmente poderiam fazer isso, mas só o fariam se realmente tivessem informações seguras de que a invasão do país é iminente e, portanto, a única saída seria construir armamentos nucleares mesmo - isso, ressalte-se, é pouco provável porque neste momento, cumprir o acordo com turcos e brasileiros esvazia o sentido dos rufar dos tambores de guerra americanos e fortalece dois fundamentais aliados no campo internacional. Seja como for, esse foi o maior gesto da diplomacia brasileira em todos os tempos, dando um passo adiante na formação de uma comunidade internacional realmente funcional muito maior do que o que o golpe hondurenho fez recuar no projeto de integração do continente americano, não sei dizer se evitamos a guerra no Irã, mas certamente a impedimos nesse momentos e a atrasamos fortemente -, espero que o suficiente para que ela não aconteça. Ainda há muita água para rolar, mas Lula conseguiu a maior vitória de seu Governo ontem.

domingo, 16 de maio de 2010

Brasil, sua Política Externa e suas Eleições

 (Lula e Medvedev, foto retirada daqui)

O Presidente Lula fez duas importantíssimas viagens diplomáticas, a primeira para a Rússia e a segunda para o Irã, ao mesmo tempo em que, no Brasil, sua candidata, Dilma Rousseff, ultrapassava o oposicionista José Serra. Mesmo que diretamente os dois acontecimentos não se liguem, a relação entre eles é óbvia: Como já dito aqui, a maior diferença que repousa entre PT e PSDB - e, acreditem, não é pequena nem pouco relevante - trata-se da visão de política de relações exteriores que tais agremiações possuem.

No caso das relações russo-brasileiras, desde o bizarro rompimento das relações com a antiga União Soviética, movido pelos interesses americanos, o Brasil se manteve distante de Moscou. Mesmo com o nascimento da moderna Federação Russa, a posição brasileira se manteve tacanhamente americanista - como nos atesta os anos FHC, onde para além de algumas tratativas pró-forma, não se buscou qualquer espécie de parceria efetiva, principalmente por conta da concepção atlantista de política de relações exteriores.

A Rússia, por outro lado, sempre esteve intimidada em tentar qualquer coisa para essas bandas por conta da manutenção da lógica da Guerra Fria, onde mesmo que não houvesse algum impedimento estratégico, tendia-se a respeitar "o quintal" do Outro - e o gigante do norte errou fragorosamente ao insistir numa política de mão pesada de superpotência quando, na verdade, a dinâmica das relações internacionais já permitia uma nova espécie de interação entre os Estados nos anos 90 ao mesmo tempo em que ele não deveria mais pensar ou agir como a superpotência que, a bem da verdade, já não era mais desde os anos 80. 

De tal forma, da relação entre o liberalismo anacrônico de Yeltsin e do atlantismo estéril de FHC pouco ou nada se produziu na relação bilateral entre os países. As coisas começar apenas a mudar com a ascenção de Putin na Rússia e de Lula no Brasil. A Rússia vai largando mão, aos poucos, de uma megalomania burra e começa a agir mais concretamente no seu fortalecimento concreto enquanto potência enquanto o Brasil larga o eixo Atlântico e resolve desbravar mares nunca dantes navegados.

A aproximação entre os dois começa a se dar por meio do heterogêneo BRIC, grupo que também reúne China e Índia, e vai se consolidando aos poucos, graças a coincidências como o malogro da tentativa de reaproximação entre Moscou e Pequim, principalmente com os chineses dando um chapéu nos russos no campo militar, as políticas chavistas em favor de uma aproximação dos russos para a região e o fortalecimento econômico que ambos os grupos políticos promoveram internamente em seus países.

Da viagem realizada essa semana por Lula para Moscou, resultaram enormes avanços na relação entre os dois países: O sistema dos vistos de entrada para russos e brasileiros será extinto a partir de 7 de Junho deste ano, os brasileiros serão convidados para integrar o desenvolvimento do Sistema Glonass - alternativa russa para o americano Sistema GPS - assim como o inúmeros acordos na área de cooperação militar foram realizados.

Os acordos de cooperação militar entre os dois merece um parágrafo a parte: Os russos viram-se traídos pela China, sua maior importadora de material bélico, que simplesmente clonou armamentos seus, abalando consideravelmente a relação econômico-política retomada nos anos 90, depois de décadas de tensão na relação sino-soviéticas. Por outro lado, a Rússia se saiu bem na parceria com a Índia, sua tradicional aliada, no bem-sucedido desenvolvimento dos jatos de quinta geração Pak-Fa, projeto que o Governo brasileiro não quis integrar nos anos 90, pelos sobreditos motivos.

As garantias que o Governo brasileiro ofereceu em relação ao respeito à propriedade intelectual bélica russa têm um impacto muito grande sobre o intercâmbio entre os países nessa área. Isso tranquiliza vários setores do Governo russo que temiam sofrer do Brasil o mesmo golpe que tomaram da China, permitindo que os países interajam nessa área onde são perfeitamente complementares: A Rússia precisa vender armamento e o Brasil precisa de material pesado e de qualidade - ainda que os problemas estratégicos do sistema de defesa brasileiros passem muito além disso.

No caso iraniano, temos um quadro muito mais complexo. O país do Oriente Médio trata-se de uma teocracia que desrespeita sim os direitos humanos e sufoca liberdades individuais ao mesmo tempo em que sofre pressões imensas de governos ocidentais que usam o legítimo discurso pró-democracia como forma de justificar uma pressão que, na verdade, expressa os interesses de certos grupos econômicos por conta do bom e velho petróleo, combustível fóssil em relação ao qual o Irã se constitui em um dos maiores produtores do mundo. Pesa ainda o fato dos iranianos estarem desenvolvendo sua tecnologia nuclear e ainda representarem um empecilho estratégico para Israel, fiel aliado dos mesmos interesses naquela região do globo.

Dentro desse cenário, o Brasil assumiu uma postura independente de negociação e de diálogo com Teerã que irrita os americanos - sim, aqueles mesmos que tiveram aquela participação suspeita no golpe em Honduras - e tangencia uma linha muito perigosa - e tênue - que separa a simples realização das necessidades táticas do Brasil (além do cumprimento do imperativo da manutenção do diálogo) da anuência com infrações claras aos direitos humanos, que nem pelo fato de serem utilizadas como álibi, deixam de ser reais, o que fere o interesse estratégico do Brasil que depende do fortalecimento da Democracia no mundo.

Evidentemente, é muito mais fácil para o Brasil negociar com a Rússia, que apesar dos pesares é uma democracia pró-forma - que sofreu inegáveis avanços nos direitos sociais durante os anos Putin, muito embora os recuos nos direitos civis possa coloca-los a perder -, do que com o Irã. Não despropositadamente o constituinte de 88 colocou na nossa Lei Maior uma série de princípios acerca da atuação do Brasil no plano externo sobre a defesa da democracia e a prevalência dos direitos humanos, que devem ser compatibilizados com as necessidades táticas imediatas - e, acreditem, não é uma compatibilização fácil de se fazer, ainda que ousadia demonstrada apenas reforce um considerável amadurecimento. Seja como for, o Brasil mais e mais vai mostrando ao mundo que não é a mesma nação subserviente e irrelevante no debate interncional de outrora, ao mesmo tempo em que, internamente, decide se quer continuar a seguir esse caminho ou se quer voltar a ser o que era.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

As decisões da Copa do Brasil e da Libertadores

Finda a semana, gostei do que eu vi do futebol durante o meio de semana. Grêmio x Santos foi um espetáculo, coisa linda de ver, mas acho que o golzinho de Robinho no final fará muita diferença na Vila Belmiro, no jogo da volta - seja como for, o Grêmio é uma das raríssimas equipes brasileiras da atualidade a ser capaz de infligir dor no poderoso Santos. Continuo achando, no entanto, que são muito bobas as afirmações de que Dunga errou ao não levar Ganso e Neymar: Não dá para um treinador jogar quatro anos de trabalho convocar jogadores que surgiram recentemente para uma Copa do Mundo; evidentemente, eles nos serão muito úteis num futuro próximo, mas o momento não é agora, seja por coerência gerencial ou por prudência tática, ambos poderiam ser facilmente queimados caso não fossem bem. Por outro lado, o quarteto gremista formado por Douglas, Hugo, Jonas e Borges ainda dará bastante caldo no decorrer da temporada, ainda mais pela competência de Silas como treinador. A vitória do esforçado Atlético-GO sobre o Vitória não me convenceu, para mim os baianos devem reverter o placar na Bahia. Pela Libertadores, o São Paulo jogou sua melhor partida da era Ricardo Gomes e superou um Cruzeiro que se no papel não lhe é superior, na prática vinha jogando bem melhor. A derrota do Flamengo para La U foi esperada, infelizmente. A vitória do Inter sobre o poderoso Estudiantes foi bonita, suada, mas talvez demasiadamente magra - mas valeu por não ter tomado gol em casa. 

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O Time de Dunga

honestamente, não tem muito brilho mesmo, é meio esquisito e não mantem qualquer grande empatia com o público brasileiro porque é constituído por uma série de jogadores que foram jogar na Europa ainda muito jovens. Essa escalação não é mesmo a reunião dos melhores jogadores do Brasil, mas talvez seja a melhor equipe que Dunga tenha conseguido montar - sim, não resta dúvida de que a Seleção de Dunga é um dos nossos times nacionais que mais tranquilamente chegou a uma Copa do Mundo. Fazendo um pequeno resgate histórico, em 94, Parreira tentou fazer a mesma coisa, montar o grupo que funcionasse da melhor forma enquanto conjunto, sem se preocupar necessariamente em estar reunindo os melhores, sofreu para chegar à Copa, mas foi campeão. Zagallo fez um meio-termo em 98, na época em que o campeão tinha vaga assegurada para a outra Copa, passamos quatro anos fazendo amistosos caça-niquéis e fizemos uma Copa medíocre, chegando na raça na Final, que perdemos de uma maneira hedionda. No quadriênio seguinte, Luxemburgo foi ridículo ao fazer convocações experimentais, afundou o time e Leão terminou por piorar a situação com sua postura patética; Felipão fez o que pôde e nos botou na Copa, levando a Taça à base de um futebol "de resultados", ainda que não necessariamente feio. Parreira volta, tenta de alguma maneira convocar os melhores e torna-los parte do melhor time, consegue fazer uma boa campanha no quadriênio pré-06, mas a campanha na Copa, com um verdadeiro Dream Team à disposição, foi o fim da picada. Dunga seguiu a fórmula de Parreira no quadriênio pré-94 com mais êxito e chegou à Copa fazendo uma campanha memorável. Digo mais, ele não errou em não levar Neymar ou Ganso, muito pelo contrário, ele apostou naqueles com quem vinha trabalhando e assim manteve a coerência. No meu humilde ponto de vista - e cada ponto de vista é visto de um ponto -,  o Brasil entra para disputar o título, muito embora a Copa que virá não pareça que vá empolgar tanto quanto poderia - ou deveria -, sinal dos tempos de um mundo globalizado no qual seleções nacionais fazem cada vez menos sentido.  

terça-feira, 11 de maio de 2010

Serra e a Autonomia do Banco Central

O NPTO levantou um debate interessante sobre a entrevista de Serra para Miriam Leitão, muito embora eu discorde de alguns pontos que ele colocou, não dá para não comentar o caso, que levanta bola para muita coisa importante para o futuro da condução da política econômica. Lá, o candidato da oposição trata de um ponto crucial, a política monetária e relação de uma eventual presidência sua com o Banco Central, o que revela alguns acertos em meio a uma visão mormente economicista de política, que parece ter dominado a cena política brasilieira de um anos para cá e é um câncer no PSDB - e de certa maneira polui um pouco a avaliação daquele arguto blogueiro.

Sobre a questão da autonomia do BC em si, não podemos nos esquecer que ele se trata de uma autarquia federal, portanto, ele tem autonomia administrativa, muito embora esteja debaixo do guarda-chuvas do Ministério da Fazenda. Evidentemente, o poder do Presidente da República sobre o BC é enorme por conta de uma distorção do próprio presidencialismo brasileiro - isto é, um problema do nosso sistema de freios e contra-pesos, nada específico. Mesmo Lula, ao manter Meirelles, agiu firmemente - quando você tem competência jurídica para decidir sobre algo conjugada com força política para tanto, não podemos falar em omissões, mas em ações de não-fazer, ou melhor, ação de manter. Em suma, Lula só não ficou dando pitacos no BC por opção polítca - seja vontade ou pelas contingências -, mas juridicamente poderia ter feito isso sim e tinha força política para tanto, nada de relevante mudou de FHC até ele e, portanto, se nada sistêmico for feito, se Serra ganhar e pensar - puder - diferente, as coisas mudarão mesmo.

Dentro daquilo que a Constituição Federal atual estabelece, pouco pode realmente ser feito. Poderíamos transformar o BC em ministério, mas ainda assim, ele estaria debaixo da vontade presidencial, ainda que se colocasse em pé de igualdade com a Fazenda. Outra opção seria transformar o BC numa "agência" - o termo é uma jabuticaba jurídica que remonta aos anos FHC, na verdade, elas são autarquias especiais - e criar mandatos que trespassassem os mandatos presidenciais, o rolo disso é que - não sem razão, mas aí é uma outra longa história -, mas se essa hipótese fosse possível, o BC teria de ser totalmente reformulado para que fosse garantido, na prática, que o processo de admissão e ascenção dos seus membros fosse rigorosamente meritocrático.

Pessoalmente, não tenho muitas ilusões. Na política não há espaços vazios e não há neutralidade onde há vida - especialmente vida humana -, e o BC sempre estaria submetido às forças reais de poder - não nos esqueçamos que a própria política, em si, é uma técnica -, portanto, não há soluções nem há iluminados que terão uma epifania e colocaram em prática uma espécie de solução universal. O BC precisa de mais republicanismo na sua forma de funcionar - sim, ele tem de deixar de ser uma porta-giratória mercado-governo -, mas não deve se perder de vista que ele deve estar submetido ao Estado Democrático de Direito - que para sobreviver no Brasil, necessita de uma urgente desconcentração de poder -; de forma prática - e na bucha -, quem mandará no BC nos próximos quatro anos será o Presidente mesmo, o que nós podemos decidir - enquanto nos organizamos para reivindicar uma reforma do Estado que passa, ao meu ver, pela sociedade civil - é quem estará naquela cadeira e, em especial, a quem ele serve.





segunda-feira, 10 de maio de 2010

A Crise e a Grécia

A Crise Grega não é um mero acaso do destino. Nem fruto de um governo atrasado e corrupto. Trata-se de um reflexo dos erros gravissímos do projeto europeu conjugados com uma problemática particularmente grega, que serviu para agravar o quadro, mas certamente não provocou. Já dissertei aqui sobre a hipótese de como a implementação atabalhoada da moeda única no continente europeu estava destinado a provocar uma crise aguda nos países periféricos, o que, catalisado, pela crise mundial trouxe à baila alguns problemas latentes. A Grécia, apesar de toda sua história, é uma economia pequena, uma crise sua, isolada, não seria motivo para tanto pânico ou tamanha histeria, mobilização das principais economias e coisas do tipo. Ajudas financeiras por ajudar financeiras também não foram muita diferença no médio prazo se os rumos da União Europeia não forem corrigidos. O avanço de um direita pseudo-sofisticada pelo continente, que guarda muito bem no seu discurso bons toques de nacionalismo - e, por tabela, de xenofobia - numa estratégia bastante simples de promover ajustes duros aplelando para um binarismo amigo-inimigo, que uniria a nação, "num momento tão difícil de sacrifícios", enquanto a culpa é jogada na figura do Outro. A despeito de boas gambiarras e jeitinhos, nuvens negras pairam no horizonte europeu.

Cine Pipolítica II no 22 de Agosto

Sábado que vem tem mais um seção do Cinepipolítica no CA 22 de Agosto - Rua Monte Alegre n. 964, Perdizes, São Paulo-SP -, na PUC. Sábado passado debatemos o Charges Sangrentas, agora vamos debater Patriotas, documentário da mesma série, Por que Democracia?, uma produção da BBC de Londres com uma série de TV's pelo mundo tratando da problemática da Democracia ao redor do nosso planetinha - o documentário em questão trata da problemática da Democracia na Rússia contemporânea. É uma iniciativa modesta nossa, apesar dos pesares do movimento estudantil, em montar nossa pequena resistência contra o nosso tempo intempestivo. Se não tiverem nada para fazer, deem uma passada lá.

domingo, 9 de maio de 2010

O Início do Brasileirão 2010

Começou o nosso nacional. Vamos às dez notas sobre a rodada:

1. O Avaí meteu 6x1 no Prudente logo de cara. Não é fácil meter uma goleada dessas logo de cara e o resultado é uma afirmação do óbvio, o time de Santa Catarina tem tudo para repetir a boa campanha do ano passado e o Prudente, essa artificialidade produzida pelo futebol contemporâneo, tem tudo para cair.

2. Ainda que tenham entrado com mistões em campo e estejam mais preocupados com a Libertadores, a vitória do Cruzeiro por 2x1 sobre o Inter, em pleno Beira-Rio, é um bom prenuncio sobre que tipo de campanha os mineiros podem fazer. Ano passado, a Raposa só não levou o Nacional porque deixou de lado o torneio para disputar a Libertadores que acabou, infelizmente, perdendo na final. Se esse ano, o time que restar no nacional não procurar perder pontos, dá para brigar. O Inter, continua não me convencendo.

3. O mistão do Santos empatou por 3x3 com o Botafogo, campeão carioca, no Rio. O Peixe provou que tem elenco e conseguiu, mes mesmo desfigurado arrancar um empate contra um adversário valoroso, criando jogadas e jogando bonito. É bom ver esse tipo de equipe, jogando um futebol tão...brasileiro, coisa que depois dos anos de hegemonia do São Paulo, parecíamos ter perdido.

4. O Atlético-MG também confirmou que briga pelo título, um baita primeiro tempo contra o Vasco e um descanso natural na segunda etapa. O time carioca está longe de brigar por qualquer coisa de boa.

5. O Grêmio pegou outro semi-finalista da Copa do Brasil, o Atlético-GO, e arrancou fora um empate em zero. Os gaúchos ainda vão render bastante, os goianos poderão sim manter sua vaguinha na Série A e, quem sabe, abocanharem classificação para a Sul-Americana.

6. O Palmeiras bateu o Vitória no Palestra por 1x0; futebol modorrento de parte a parte e a demonstração de que muito embora tenha um bom elenco no papel, lhe falta personalidade. Os baianos estão com a cabeça na Copa do Brasil.

7. O Corinthians, assim como o rival verde, jogou um futebol morno e ganhou de 2x1 de um dos piores Atlético-PR dos últimos quinze anos.

8. Como mistões em campo, Flamengo e São Paulo empataram por 1x1, mas repetiram o futebol morno que seus times titulares vêm repetindo ao longo de 2010.

9. O Ceará bateu o Fluminense por 1x0. Terceiro jogo de Muricy treinando o tricolor e terceira derrota. Sinal amarelo nas laranjeiras.

10. Guarani 1x0 Goiás. Joguinho entre dois rebaixáveis.

sábado, 8 de maio de 2010

Spinoza e a Política

"Os filósofos concebem as emoções que se combatem entre si, como vícios em que os homens caem por erro próprio; é por isso que se habituaram a ridicularizá-los, deplorá-los, reprová-los ou, quando querem parecer mais morais, detestá-los. Julgam assim agir divinamente e elevar-se ao pedestal da sabedoria, prodigalizando-se toda espécie de louvores a uma natureza humana que em parte alguma existe, e atacando através dos seus discursos a que realmente existe. Concebem os homens, efetivamente, não tais como são, mas como eles próprios gostariam que fossem. Daí, por consequência, que quase todos, em vez de uma ética, hajam escrito uma sátira, e não tinham como sobre política vistas que possam ser postas em prática, devendo a política, tal como a concebem, ser tomada por quimera, ou como respeitando ao domínio da utopia da idade de ouro, isto é, um tempo em que nenhuma instituição era necessária."

Trecho do primeiro parágrafo do Tratado Político, obra inacabada de Spinoza, uma boa reflexão para o momento que vivemos.