quinta-feira, 27 de maio de 2010

Serra versus Bolívia no Notícias Frias

Todo dia subo a ladeira da Monte Alegre rumo à PUC, morto de sono, repetindo automaticamente o caminho que faço há dois anos e meio - para depois ser automatizado na sala de aula. Sobre o que se passa entre o momento que eu acordo e o que eu chego na sala de aula, lembro muito pouco, só sei que eu chego. Eis que a minha rotina segura, repetitiva e previsível começou a mudar a partir dessa última segunda, quando fui abordado por uma mola tentando me entregar um calhamaço de papel, creio que um jornal, numa lamentável bolsa plástica cor de rosa. Acordei no susto. Era mesmo um jornal. Era uma Folha de São Paulo. Sim, os Frias realizaram uma reforma cosmética no seu principal produto e agora cismaram de distribuir ele nos portões de inocentes universidades...

Desde segunda, passei a fazer o meu bom e velho trajeto paranoicamente, na esperança de me desviar do pelotão de distribuidores de jornal. Pelo menos assim eu consigo me livrar de começar o mal o dia, ainda que uns pobres coitados insones acabem aceitando aquela porcaria e deixem a gloriosa emporcalhada por aquele pasquim. Qual não foi a minha surpresa quando eu vi a droga da edição de hoje no chão e me deparei com a manchete, baseada em uma declaração de José Serra feita à Rádio Globo do Rio, na qual o ex-governador paulista e candidato à Presidência acusou o Estado boliviano de ser cúmplice no tráfico de cocaína. Bizarro. Não sei se a Folha achou isso bacana ou só achou que isso ia fazer vender jornal. Pouco importa, o assunto aqui deixa de ser o ridículo da propaganda do ditabrandesco diário e passa a ser Serra - o candidato que o referido jornal apóia cinicamente há anos. Não à toa, Serra foi chamado de o exterminador da política externa brasileira. 

Honestamente, não lembro de um candidato com postura tão desequilibrada sobre a política externa quanto ele. Se há um ponto que é consenso no mundo, seja na boa imprensa internacional, em praticamente todas as correntes do PT e até em boa parte das tendências do PSOL, é que a Política de Relações Exteriores brasileira é boa. Não, não há como negar que grande parte das conquistas econômicas e políticas do Brasil nos últimos anos se devem à Política de Relações Exteriores empreendida pelo atual Governo, capitaneada pelo excepcional Celso Amorim - e com a inestimável participação de Samuel Pinheiro Guimarães e Marco Aurélio Garcia - que transformou uma potência regional, escrava dos ditâmes de Washington, em um interlocutor capaz de ser ouvido e visto como legítimo por Washington, Moscou, Caracas, Teerã, Paris, Londres e Pequim ao mesmo tempo.

Essas conquistas vão da geopolítica até o comércio exterior. Testemunhamos desde a ampliação brutal das exportações com a penetração do país nos mercados da África, do Oriente Médio e da China até atitudes inequívocas e efetivas na direção da tão sonhada integração sulamericana, um processo iniciado em Sarney e abortado pelos "governos" subsequentes, muito embora seja meta constitucional. Que faz Serra diante disso? Faz acusações sem provas a um Estado soberano vizinho. Não, o problema não é que Serra tem uma má política para a área, mas sim que ele simplesmente que tem ideias tão claras e certas sobre Política de Relações Exteriores quanto Sarah Palin tinha sobre a reforma no sistema de saúde de seu país nas últimas eleições americanas. Serra não é ruim, é nocivo para o país - e o mesmo vale para o pseudo-jornal que na mais é que seu panfleto eleitoral.  


2 comentários:

  1. Como o Serra pretende ser presidente com essa postura beligerante? Eu não entendo. Se for eleito, já começa com um monte de adversários externos. Chega a ser inacreditável. E o comentário dele sobre as camisinhas chinesas? Lamentável.

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  2. Não dá para entender mesmo, Marcelão, o cara é muito limitado mesmo...

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