Desde segunda, passei a fazer o meu bom e velho trajeto paranoicamente, na esperança de me desviar do pelotão de distribuidores de jornal. Pelo menos assim eu consigo me livrar de começar o mal o dia, ainda que uns pobres coitados insones acabem aceitando aquela porcaria e deixem a gloriosa emporcalhada por aquele pasquim. Qual não foi a minha surpresa quando eu vi a droga da edição de hoje no chão e me deparei com a manchete, baseada em uma declaração de José Serra feita à Rádio Globo do Rio, na qual o ex-governador paulista e candidato à Presidência acusou o Estado boliviano de ser cúmplice no tráfico de cocaína. Bizarro. Não sei se a Folha achou isso bacana ou só achou que isso ia fazer vender jornal. Pouco importa, o assunto aqui deixa de ser o ridículo da propaganda do ditabrandesco diário e passa a ser Serra - o candidato que o referido jornal apóia cinicamente há anos. Não à toa, Serra foi chamado de o exterminador da política externa brasileira.
Honestamente, não lembro de um candidato com postura tão desequilibrada sobre a política externa quanto ele. Se há um ponto que é consenso no mundo, seja na boa imprensa internacional, em praticamente todas as correntes do PT e até em boa parte das tendências do PSOL, é que a Política de Relações Exteriores brasileira é boa. Não, não há como negar que grande parte das conquistas econômicas e políticas do Brasil nos últimos anos se devem à Política de Relações Exteriores empreendida pelo atual Governo, capitaneada pelo excepcional Celso Amorim - e com a inestimável participação de Samuel Pinheiro Guimarães e Marco Aurélio Garcia - que transformou uma potência regional, escrava dos ditâmes de Washington, em um interlocutor capaz de ser ouvido e visto como legítimo por Washington, Moscou, Caracas, Teerã, Paris, Londres e Pequim ao mesmo tempo.
Essas conquistas vão da geopolítica até o comércio exterior. Testemunhamos desde a ampliação brutal das exportações com a penetração do país nos mercados da África, do Oriente Médio e da China até atitudes inequívocas e efetivas na direção da tão sonhada integração sulamericana, um processo iniciado em Sarney e abortado pelos "governos" subsequentes, muito embora seja meta constitucional. Que faz Serra diante disso? Faz acusações sem provas a um Estado soberano vizinho. Não, o problema não é que Serra tem uma má política para a área, mas sim que ele simplesmente que tem ideias tão claras e certas sobre Política de Relações Exteriores quanto Sarah Palin tinha sobre a reforma no sistema de saúde de seu país nas últimas eleições americanas. Serra não é ruim, é nocivo para o país - e o mesmo vale para o pseudo-jornal que na mais é que seu panfleto eleitoral.
Como o Serra pretende ser presidente com essa postura beligerante? Eu não entendo. Se for eleito, já começa com um monte de adversários externos. Chega a ser inacreditável. E o comentário dele sobre as camisinhas chinesas? Lamentável.
ResponderExcluirNão dá para entender mesmo, Marcelão, o cara é muito limitado mesmo...
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