PT e PSDB são os dois partidos que tem monopolizado, desde 1994, a disputa pela Presidência da República assim como têm feito enormes bancadas no Congresso Nacional - muito embora não cheguem a deter juntos a maioria das cadeiras do nosso parlamento, nem a maioria das prefeituras, e isso se deve tanto à dinâmica peculiar da política no Brasil profundo quanto ao próprio sistema eleitoral; ainda que o primeiro se interiorize cada vez mais, ambos são partidos urbanos, ligados às grandes universidades brasileiras - em especial as do Sudeste - e às demandas que surgiam nesses meios - em geral ligadas ao fim da ditadura - nos anos 80 e 90.
O PT surge de bases operárias, do novo sindicalismo, da Teologia da Libertação e de uma união entre inúmeros movimentos intelectuais de esquerda acadêmica, enquanto o PSDB nasce de grupos democratas-cristãos e de um grupo de políticos centristas que buscava se afirmar como uma terceira via entre a tentativa conservadora de minar os ganhos de 88 e o progressismo social da esquerda, em especial a do próprio partido da estrela. O andamento da disputa política brasileira tornou o PSDB uma espécie de receptáculo de teses pró-mercado que se popularizaram pelo Ocidente nos fins dos anos 70 aos anos 90, marcando uma redefinição da função do Estado. O PT se posicionou contra esse fenômeno, popular no início de sua aplicação, mas tal oposição, nos moldes que se deu, levou o partido de Lula a se tornar, mais e mais um partido mais parlamentar e institucional.
Se de um lado os desenvolvimentistas e os defensores do Estado Social perderam a briga interna no PSDB, por outro, os defensores de uma política basista e da democracia participativa voltada pela luta pró-direitos sociais foram perdendo a mesma briga dentro do PT - principalmente depois da Carta ao Povo Brasileiro. Claro, se de um lado o PSDB acabou perdendo completamente o seu potencial transformador, tornando-se arauto do idealismo livre-mercadista, alinhado com os interesses das potências ocidentais e representante de demandas facilmente circunscritas nas classes mais altas da nossa sociedade - e de determinadas regiões do país -, por outro lado, o PT acabou se transformando em um partido institucional, defensor do Estado grande - no sentido de uma atuação na economia permanente, visível e em prol do interesse nacional e público -, no construtor de políticas de desenvolvimento social referentes às demandas do Brasil profundo e, especialmente, na condução de uma política externa capaz de se mover para além do eixo atlantista.
O Governo Lula marca, no entanto, um movimento de condução de uma política mista entre intervenção e mercadismo no início para, depois, diante da necessidade de produzir crescimento, se voltar para uma política nacional-desenvolvimentista. As diferenças entre isso e o que o PSDB fez são visíveis, ainda que passe longe de ser uma relação contraditória. A grande diferença entre as duas agremiações hoje, sem sombra de dúvida, é o posicionamento delas em relação à Política Externa. Isso pode ser facilmente comprovado pelas recentes declarações do candidato tucano à Presidência da República, José Serra, sobre o Mercosul: "A união aduaneira é uma farsa, exceto quando serve para atrapalhar”. Isso reforça a mesma postura de oito anos atrás, quando Serra concorria contra Lula para a Presidência e enquanto o PT se posicionava claramente contra a ALCA - que vejam só que enorme coincidência, ela não saiu do papel -, o candidato tucano preferia se manter com um sorriso amarelo apoiando-a - ou o que dizer da postura da Geraldo Alckmin há quatro anos atrás que defendia o acordo.
Isso, meus caros, não é pouca coisa. No plano externo o atual governo obteve seus principais êxitos - que salvavam o país, mesmo quando ele tropeçava feio no plano interno, em certos momentos do primeiro mandato. O Brasil, pela primeira vez em décadas, soube trabalhar o cenário internacional, largou a dependência do eixo EUA-Europa para se aproximar dos demais países em desenvolvimento, consolidou a integração Sul-americana - que permanecia estancada desde os fins do governo Sarney -, finalmente se aproximou da China, da África e do Oriente Médio. Isso rendeu dividendos econômicos imediatos como a expansão das exportações e, ao mesmo tempo, tornou o Brasil um interlocutor de primeira grandeza no plano externo - não à toa, Lula ganhou o título da Time de líder mais influente do mundo em 2009.
A postura tucana, nos oito anos de Governo FHC, foram exatamente ao contrário disso, primeiro que o Brasil foi alinhado automaticamente aos interesses americanos, fatalmente acabaria aderindo ao projeto furado da ALCA - que se se alguém acha que daria certo, por favor, pesquise sobre o que aconteceu com as economias do México e do Canadá nos anos 90 com o NAFTA - e perdemos, por exemplo, de lucrar com o boom da economia chinesa dos meados dos anos 90. Em termos de atuação na América do Sul, não avançamos na integração econômica e mantivemos uma postura cínica em relação a governos do escopo de um Fujimori. Os únicos erros que FHC não cometeu, foi sua posição de rechaçar o golpe contra Chávez em 2002 - nem deixar a Venezuela desabastecida quando da greve dos petroleiros - bem como não apoiar ou colaborar diretamente com o plano americano de intervenção na Colômbia. De lá para cá, os tucanos não fizeram mea-culpa de nada nem acrescentaram nada de novo na sua forma de ver a política externa, muito pelo contrário, como provam as recentes declarações de Serra.
Propor mudanças na política externa é uma coisa, fazer insinuações que, no duro, implicam em jogar oito anos de conquistas na lata do lixo é uma prova de que o PSDB não amadureceu nada nos anos em que passou na oposição e não merece voltar para o Palácio do Planalto.
Grande Hugo.
ResponderExcluirPerfeito. Um dos poucos acertos de FHC em seu governo foi condenar o golpe contra Hugo Chávez. E a política externa atual é muito melhor que a anterior em todos os aspectos, econômicos ou políticos.
Abraços,
Marcelo.
Pois é, Marcelão, a política externa brasileira brasileira sempre costumou ser um cadinho mais progressista que a sua política interna, mas no governo FHC, assistimos a um mar de morosidade tanto em uma quanto em outra que poderia ter arruinado o nosso futuro. No momento em que Serra tece críticas à política externa de Lula, significa que o PSDB está completamente perdido nessa área e poderá nos pôr à perder.
ResponderExcluiraquele abraço