domingo, 5 de setembro de 2010

O Rescaldo do Dossiê e mais PSDB

Bem, em um primeiro momento, a poeira da fábula do envolvimento da equipe de Dilma na quebra de sigilo fiscal começa a baixar sem mal ter subido. Nada mudou na corrida Presidencial. Entre as próprias hostes tucanas, mesmo entre aqueles que compraram a tese de Serra, a história do pedido de impugnação de Dilma não pegou bem: Para esses setores, denunciar a ameaça que eles entendem que o PT representa às liberdades individuais não se confunde com o uso eleitoral disso, impugnando uma candidata com mais de 50% das intenções de votos válidos segundo as últimas pesquisas, até pelas fragilidades das provas que apontam para sua participação. Em outros setores da direita - que é tucana por pragmatismo e não por vontade - , muito embora a briga como PT seja vista praticamente como um vale tudo, a atitude serrista foi vista com ressalvas: Em seu íntimo, para eles, criar um fato novo para impedir que uma candidatura morta-viva não morra por inteira durante a reta final da campanha, mesmo que seja de forma absolutamente forçada, seria válido, o que não dava para é para superestimar esse fato propondo uma impugnação, o que poderia ser visto como oportunismo pelos eleitores que precisam ser disputados. Só para a extrema-direita, para quem Serra é o "comunista menos pior"do pleito - e o melhor mesmo seria matar Dilma ou coisa que o valha -, o que aconteceu está dentro do normal.


Se isso não colou para boa parte dos setores que menos compreenderam e compreendem o Brasil atual, então temos um péssimo factóide. Todas as pesquisas pós-escândalo apontam para a manutenção do quadro eleitoral. Para os ideólogos tucanos, o momento é outro, é o de fazer controle de danos em 03 de Outubro para, daí, repensar o partido e mantê-lo viável para daqui a quatro anos. Os alvos são impedir o crescimento de Mercadante ao longo do mês para garantir a trincheira paulista, fazer o mesmo no Paraná, focar na eleição de deputados promissores, pensar nos termos do acordo que terá de ser feito em torno da figura pessoal de Aécio Neves. A carreira política de Serra encontrará seu desfecho que um mês, a menos que ele promova a virada mais espetacular da história política nacional - e esse eventual término pouco terá a ver com sua idade e muito mais com o ressentimento que os descaminhos de sua candidatura provocou nos grupos que o apoiaram dentro e fora do partido nos últimos anos. Serra está por sua própria conta neste momento. 


A palavra refundação, inimaginável dentro do PSDB há dois meses atrás, torna-se realidade. O problema central é: O que o PSDB é e o que ele quer ser? Há uma dissonância cognitiva entre como os líderes tucanos querem que o partido seja visto e o que eles querem fazer da sua agremiação: É público e notório que as lideranças tucanas ficam furiosas quando os petistas os colocam à direita - mas não há clareza se é porque eles consideram que essa forma de antagonismo não existe mais ou porque não se veem nesse campo do espectro -, ao mesmo tempo em que também existe uma visível indisposição em se aproximar realmente de sindicatos e movimentos sociais e, mais ainda, de se posicionar em favor de suas demandas. O militante médio do partido, via de regra, prefere se rotular como uma simpática ave da fauna nacional do que se dizer "social-democrata", ainda que desconheça o significado desse termo e, pior, frequentemente se ponha contra a Social-Democracia quando debate política. O que fazer com o legado de FHC é outra encruzilhada em que se encontra o partido, ao mesmo tempo em que o ex-Presidente é simplesmente escondido do seu Programa eleitoral nacional, também não há vontade de fazer autocrítica aos pontos negativos do seu governo - item no qual até o PT se sai melhor, comos e viu pela performace de Dilma no debate da UOL no Tuca.


Hoje, uma vitória de Serra dependeria de uma bala de prata, uma acusação absurda que colasse ou um desastre total e completo. Por si, propositivamente, a campanha Serra não tem mais nada a oferecer numa eleição onde a vitória da oposição dependeria de propostas - e propostas muito boas. Por outro lado, mesmo que isso acontecesse, a própria viabilidade de um Governo Serra estaria claramente em risco por tudo que ficou claro durante a campanha - e pelo que ele conseguiu piorar durante ela. O futuro do Partido passa pelo que eu julgo a resolução da contradição em termos que o partido sempre se mostrou, ou se assume como direita ou deixa de sê-lo, senão corre o risco de sumir em alguns anos - e dependendo do que for, nem mesmo o carisma de Aécio será capaz de, por si só, salva-lo.


Atualização de 06/09 às 15:18: O Vermelho publicou um texto que vale muito a pena ser lido sobre o assunto.

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