Sim, chamar o debate de ontem de morno, é elogio - não que eu teça loas à oratória ou à retórica, embora também não as despreze de um todo nem deixe de considerar que o buraco é mais embaixo: Não se debatem ideias e quando alguém se arrisca, faz isso errado. Dilma fez o seu papel, jogou com prudência numa eleição na qual só perderia caso se comprometesse, embora pudesse avançar mais, mesmo discursivamente à luz do atual projeto. Serra foi inexpressivo e terá dificuldades para ter mais do que 25% dos votos válidos - quando eu pensava que seu piso era de pelo menos uns 30%. Marina, que foi mal na Band, bem no UOL-TUCA e na Canção Nova, ontem foi novamente mal - e sua campanha prossegue modorrenta. Plínio poderia pautar o debate à esquerda, mas insiste em debater por um prisma idealista - quem não quer uma educação pública de qualidade? Mas daí a esvaziar isso propondo um acordo público que iria destinar 10% do PIB para educação é ilusório; não administramos bem nem o que gastamos, por que propor uma realocação gigantesca que ele mesmo sabe que não é possível dadas as atuais condições objetivas? Há quem veja isso como pautar de forma radical uma eleição morna e conservadora, eu vejo como desperdício de uma oportunidade de ouro de provar que não é só possível - como também é necessário - pautar uma agenda realista que aprofunde mais - e mais rápido - as mudanças neste país - claro que para tanto é necessário sair do casulo e aceitar que os avanços do Brasil nos últimos oito anos não são fruto de um bem executado discurso petista. Sem querer fazer analogias com o nobre esporte bretão - mas já fazendo, porque aqui isso cabe -, é o mesmo que jogar pra torcida, dando bons dribles para o lado e fazendo embaixadinhas no meio de campo. O Partido dos Trabalhadores segue, quase incólume, sua trajetória de solidão na esquerda democrática (a de verdade) - e a julgar pelos dados, ele chegará a um controle gigantesco das instituições no que se seguirá ao 03 de Outubro.
Grandes avaliações surgem. A de Mino Carta, de quem não raro discordo, é precisa: Querem transformar Serra no bode-expiatório da derrota. É uma bela - porém terrivelmente disfuncional - forma de racionalizar a porrada eleitoral que o PSDB está por tomar, tamanha que o partido corre sérios riscos de ter de repensar - bem, já era hora - sua própria função nessa maravilha chamada sistema político-partidário nacional - e não há como pensar no real tamanho do estrago que se anuncia no horizonte dos caminhos que o PSDB escolheu trilhar sem ler essa baita análise da Maria Inês Nassif - texto maravilhoso, lucidez impressionante - no Valor. Aliás, falando na Valor, agora lendo o blog do nosso João Villaverde, topei com um belo texto sobre a questão da segurança pública em São Paulo, o que na verdade caminha numa zona cinzenta que o texto da Maria Inês deixa, não por equívoco, mas porque ela deixa essa questão em aberto: O PSDB ainda continua cotado nas eleições estaduais de São Paulo (o que, claro, não muda seu processo enfraquecimento, até porque Dilma está para ganhar aqui), mas o que se esconderia por detrás desse fenômeno? É mais ou menos aquilo que nós temos debatido por aqui já há algum tempo, São Paulo é o estado mais rico e populoso da Federação, embora tenha sido a sede da fundação do PT, é daqui que a direita nacional - ou com força nacional - se organiza, portanto, discutir suas contradições, como a própria questão da criminalidade - e de como as pessoas se relacionam com ela - é um fio interessante para desmantelar um novelo que diz respeito a todo Brasil.
É hora de nos mantermos atentos, um novo Brasil está surgindo e mais do que nunca é necessário analisa-lo. Não é mais questão de pensar se Dilma continuará o que Lula fez - o que é, na verdade, o grande debate dessa eleição, aliás -, mas de saber que nem mesmo se Lula pudesse continuar no cargo, ele poderia continuar fazendo o que fez; as demandas que se anunciam são outras, é hora do ajuste fino e para isso é necessário entender mais do que nunca o país; por ora, muito embora o PT tenha uma esfera de cognição econômica e social pequena - como a maioria dos partidos pelo mundo -, ela é enormemente maior do que a de seus adversários.
P.S.: Aliás, para quem quiser ler um belo texto sobre a intersecção mídia-política, vá até ao blog da Flávia Cera, não deixe de ler "Sobre o 'Espião de Dilma'", seguramente, é um dos melhores textos escrito nos últimos dias na blogosfera.
Discordo de sua visão do Plínio, o achei extremamente propositivo neste debate. Sua idéia de aluguéis compulsórios foi a melhor do debate.
ResponderExcluirLeu minha análise?:=)
http://tsavkko.blogspot.com/2010/09/o-debate-redetv-folha-de-sao-paulo.html
Ainda não a li, meu velho, mas vou lá dar uma olhadinha. Sobre a ideia dos aluguéis compulsórios, me pareceu razoável, embora tenha dúvidas quanto a sua viabilidade também. Creio que na questão de moradia, não tem meio-termo mesmo, é questão de repensar a política habitacional criando meios efetivos de construção de casas junto com uma política de urbanismo efetiva - e criar meios práticos para fazer valer o princípio constitucional da função social da propriedade, é necessário expropriar edifícios e apartamentos abandonados, pois eles não preenchem os elementos de validade da própria propriedade privada; mas aquilo que tem um uso regular durante o ano, não pode necessariamente virar alvo de aluguéis "compulsórios", pois aí não é uma coisa nem outra. Creio, por exemplo, que alguns apontamentos que o Ivan Valente fez sobre o Minha Casa, Minha Vida são até propositivos.
ResponderExcluirabração
Meu caro Hugo,
ResponderExcluirA televisão tem, de fato, uma linguagem superficial. Assim é na cobertura esportiva, jornalística, nas novelas e nos programas de auditório. É assim porque é mídia de massa.
Em eleições passadas, talvez os debates tivessem mais valor. Atualmente, com a internet, que, apesar de ser mais uma guerra de torcidas, nos permite aprofundar nas discussões que envolvem a campanha.
No entanto, os debates ainda são os únicos encontros presenciais entre os candidatos. A gente não precisa ter a ilusão de que eles vão se aprofundar nos temas que interessam ao eleitorado. São mais um chamarisco para a mobilização e o conhecimento das campanhas.
Por estarem na mídia de massa, os debates jamais se aprofundarão como queremos. Serão sempre mornos, mas fazem parte do jogo e a gente não os pode desprezar.
Grande abraço.
Paulo,
ResponderExcluirNão, a televisão não é o meu meio de comunicação favorito, mas mesmo assim, o debate poderia ter sido melhor - formal e materialmente -, isso, não sei se tem muito a ver com a Internet, mas sim com o modo como se desenharam as candidaturas e o perfil dos candidatos. Pena.
abraços