quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Novas Pensatas sobre a Disputa pelo Governo de São Paulo


(O Buraco do Metrô e a emergência da política de transporte -- Rodrigo Coca, Futura Press)

A campanha paulista segue em curso. Alckmin, depois de ter perdido bons pontos, foi covarde ao extremo no debate de anteontem contra Mercadante: Fugiu tanto do seu adversário que isso ficou claro para o público. Sua campanha é das mais horríveis que eu tenho notícia, ela varia entre uma cantilena de um programa estrambólico onde nossos sonhos irão se realizar nos próximos quatros anos que contrasta, curiosamente, com a argumentação de quem critica qualquer coisa o faz porque não gosta de São Paulo, afinal, tudo está bem - e só os anti-paulistas não veem. Isso beira o malufismo puro e simples. Qualquer análise minimamente ancorada na realidade não demorará a concluir que a educação pública de São Paulo está em grave crise, que a segurança está em conflito consigo mesma e quetais, todos ligados a uma política privatista que cobra pedágios absurdamente caros, assiste não só passivo a sobrecarga do sistema de metrô como toca projetos bizarros como a linha amarela - que liga nada a lugar nenhum ao mesmo tempo em que nos deu frutos como o célebre buraco do metrô, por exemplo. Isso sem falar no Rodoanel, ambicioso anel viário voltado para desobstruir o trânsito na capital e que tem o metro quadrado mais caro desde a construção do Palácio de Versailles. Ainda assim, Alckmin insiste em uma retórica do naipe "São Paulo ame-o ou deixe-o" ao invés de fazer uma autocrítica desses quinze anos de governo tucano-demista em São Paulo para colocar sua candidatura, ao menos, sobre bases racionais. Mercadante está enfrentando as agruras do PT ter construído sua candidatura para o Governo do estado com atraso, mas está se saindo bem. Sua atuação no debate de terça, por exemplo, foi primorosa. Debates produzem resultados inesperados e não têm grandes audiências - este, por exemplo, registrou 18 pontos, o que é um bom resultado para um debate - e, ainda que possam mais comprometer do que ajudar algum dos candidatos, nem por isso deixam de servir para criar algum efeito eleitoral.  Será um embate duro, mas como candidatos que crescem nos dias que antecedem as eleições costumam não parar de fazê-lo, a tendência é que aqui aconteça Segundo Turno mesmo. Meu voto em Mercadante é a expressão de que no momento, a única força capaz de produzir transformações é o PT, que sua figura pessoal é competente e, sobretudo, que existe uma urgência em cambiar os donos do poder no estado: Não, São Paulo não é, definitivamente, um lugar melhor para se viver do que era antes dos tucanos entrarem no poder.

4 comentários:

  1. Hugo, ontem no debate dos presidenciáveis se falou muito em metrô, transporte, etc.
    É fato que SP tem o melhor sistema de metrô do Brasil e o trânsito seja talvez dos piores problema em SP.

    Vi em algum lugar uma estatística comparando o metrô de SP com de outras metrópoles de mesmo tamanho, incluindo Cidade do México - com certeza -, e Santiago, acho.

    Vc tem informações a esse respeito? Um comparativo de SP com cidades de porte semelhante do primeiro e terceiro mundos na questão do metrô?

    Abraços.

    ResponderExcluir
  2. Adriano,

    A grande falácia tucana sobre o metrô é essa comparação ridícula com outros municípios brasileiros. A questão é que qualquer análise do metrô paulistano deve partir, antes de mais nada, da identificação da relação entre o tamanho do sistema metroviário local com a demanda de locomoção paulistana - e não de Rio Branco do Acre, Macapá, Natal ou qualquer outro município que fique a alguns milhares de quilômetros da Capital paulista.

    Feito isso, não há como tapar o Sol com uma peneira e dizer que o metrô paulistano atende a demanda. Nem ele, nem as linhas trem de superfície, tampouco o sistema de ônibus - o último ainda produz uma poluição danada. Sim, São Paulo tem muito trânsito, poluição oriunda de automóveis e uma rede de transporte pública horrível - sejam os ônibus os trens da CPTM, que deveriam pagar para os usuários, tamanha a baixa qualidade do serviço oferecido. Pior: O transporte para o interior é mais insuficiente ainda. É questão de possuir automóvel mesmo e pagar os pedágios abusivos que Serra nos legou.

    Evidentemente, o buraco é mais embaixo: A política industrial brasileira desde a JK até hoje padece do fetiche do automóvel, o depende de governos estaduais e municípios dispostos a abrir mão de uma política urbanística e viária racional. Governos estaduais e municipais de São Paulo sempre afirmaram essa política, mais ainda, construíram uma cidade não só opressiva como desumana: Os trabalhadores - logo, os pobres - estão escondidos. Isso cria um problema duplo que não existe nas demais capitais. Aqui, construiu-se uma cidade na qual trabalhadores rurais foram banidos pelos coroneis durante a Ditadura Militar para servirem de bucha de canhão dos capitães da indústria; os homens bons do regime, cuja personificação é a figura emblemática de Paulo Maluf estabeleceram uma lógica urbana absurda na qual boa parte dessa gente foi empurrada para morar nos confins do Inferno, tendo de se deslocar quase 50 km todo dia para seus empregos.

    O impacto disso sobre a economia é horrendo. O PSDB, em quinze anos de Governo, não apenas não mudou essa política como trabalhou duramente para o seu aprofundamento. Hoje, o custo econômico dessa organização viária é distribuído por toda cadeia produtiva, onerando-a, enquanto construtoras ganham rios de dinheiro com uma construção lenta e cara da Linha Amarela e do Rodoanel, concessionárias ganham rios de dinheiro nos pedágios e por aí vai. Esse é o quadro.

    abraços

    ResponderExcluir
  3. Hugo,

    Nesses dezesseis anos São Paulo não só não se tornou um estado melhor para se viver como vem piorando a cada ano. O PSDB no governo pode ser caracterizado como um eficiente administrador do caos. Nada de soluções, de grandes ideias, de ousadia, apenas mais do mesmo. Um puxadinho aqui, um pedágio novo ali, uma maquiada geral e pronto. O resultado é desastroso, e ainda tem gente capaz de elogiar.

    Domingo está quase ai, espero que a decisão vá para o segundo turno, as pesquisas indicam essa possibilidade, mas confesso que vou aguardar o resultado com um friozinho na barriga.

    ResponderExcluir
  4. Edu,

    Sem dúvida, "um eficiente administrador do caos" é uma definição que faz jus ao PSDB. A política dos caras se resume a comprar um balde novo para colocar embaixo da velha goteira de sempre. Estou com um friozinho danado na barriga também, mas quer saber de uma coisa? Eles também tão e não é pouco. Agora é usar nossos blogs, conversar com nossos amigos e vizinhos e torcer bastante.

    abração

    ResponderExcluir