sexta-feira, 1 de maio de 2009
Primeiro de Maio
é o Dia Internacional do Trabalhador. Ele se refere ao grande movimento operário de 1886 - cujo foco principal foi Chicago. Puxada pela AIT (Associação Internacional do Trabalho), a reivindicação central dizia respeito, pasmem, ao turno de oito de horas de trabalho. Os manifestantes foram massacrados na Praça Haymarket e os líderes do movimento foram presos e passaram por um julgamento burlesco no qual foram condenados a penas que variaram na condenação de alguns à morte, de outros à prisão perpétua ou a penas de quinze anos. Seis anos mais tarde, os que tiveram a sorte de ter sido presos foram indultados. O congresso americano, diga-se, até aprovou a bendita jornada de oito horas.
O Primeiro de Maio tornou-se um símbolo para a luta operária e passou a ser comemorado pelo mundo. Paradoxalmente, nos EUA dos tempos do marcatismo, o Primeiro de Maio deixou de ser comemorado como Dia do Trabalhador por conta de suas origens, digamos, esquerdistas - e também pelo seu significado muito forte nos países socialistas. O Labor Day deles é comemorado na primeira segunda-feira de Setembro.
Hoje, pelo Brasil, teremos certamente um sem número de mobilizações cujo caráter festivo destoa em demasia do verdadeiro significado do dia. As centrais sindicais, em grande parte, medem forças entre si. Fora isso, temos o componente da Crise. Esse ano, por certo, há mais desempregados do que no Primeiro de Maio do ano passado. No Brasil, geramos muitos empregos até o fatídico Dezembro do ano passado. Ainda passamos ao largo da situação de alguns países, mas a situação aqui também apresenta nuvens negras - não obstante as habituais, presença fixa no nosso cenário desde os anos 90.
Creio que o momento histórico em que vivemos suscita uma reflexão interessante; o modo que a humanidade se organiza para produzir, estruturada no taylorismo, fordismo e, depois, no toyotismo é intrinsecamente fracassada. O reflexo delas nas superestruras é desastroso. Não custa dizer, aliás, que isso foi um das causas da queda do bloco socialista; as revoluções no leste da Europa não foram capazes de inovar nesse sentido, bebeu-se na fonte do taylorismo e sob grande corporação estatal, o resultado foi uma grande não-Revolução. Como diria Chomsky, apostaram num modelo que valorizava mais o controle do que a eficiência produtiva. Não há nada mais anti-marxista que a China 'socialista' de hoje e há poucas coisas mais capitalistas do que seu partido comunista.
Entre os países capitalistas, que são quase a totalidade dos países do globo, a situação varia do desastre na África, na super exploração na maior parte da Ásia, no descalabro que é a Rússia pós-soviética - onde praticamente não há legislação trabalhista. Temos as ricas economias centrais, em especial a Europa, onde as condições trabalhistas lentamente se degeneram por meio de fenômenos como a terceirização ou pela migração de grande parte do setor produtivo para a China e para a Ásia. O único diferencial disso tudo são os países sul-americanos, que depois de terem descido ao fundo do poço nos anos 90, se recuperam sob o comando de líderes populares, mas ainda assim, a situação passa longe do mínimo aceitável.
Reitero, o fato é que nosso modelo de organização é desastroso. Qualquer grupo que se julgue revolucionário ou reformista, mais do que pensar na tomada do Estado - e nesse sentido não há como negar a competência dos movimentos de inspiração Leninista -, devem pensar no "e depois ? ", em suma, como organizar a cadeia produtiva para não cair na falácia Stalinista, que condena, irremediavelmente, as coisas a voltarem a ser o que eram antes - como anteviu Trotsky - e como se concretizou de maneira tão pungente no Leste Europeu e na Rússia.
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É triste constatar que o Primeiro de Maio virou dia de ir à praça concorrer a prêmios e assistir a shows de duplas sertanejas e grupos de axé e de funk. Panis et circensis.
ResponderExcluirConcordo, Maurício, é inteiramente lamentável - vide os eventos da Força Sindical...
ResponderExcluirHugo e Maurício,
ResponderExcluirCompartilho com vocês o mesmo sentimento.
Ao precisar recorrer a estes artifícios para atrair público, as centrais sindicais só demonstram o quanto estão divorciadas dos interesses dos trabalhadores. Além de concordar que o atual modelo econômico/produtivo está falido, também estendo esse julgamento ao modelo sindical, pelo menos no que toca ao Brasil.
Parece que a crise econômica deu certa força aos sindicatos, que a muito tempo não recebiam tantas filiações. Mas esse crescimento não se deve a nenhuma mudança na atuação dos sindicatos e sim ao medo do desemprego e da vulnerabilidade na hora de negociar salário e outros direitos. É natural que o trabalhador procure alguma segurança no sindicato em tempos de incerteza com este, mas não acredito que esta tendência vá se manter caso a economia venha a reajir e o medo do desemprego diminua.
Eduardo,
ResponderExcluirHá uma crise muito profunda nos sindicatos pelo mundo mesmo. Eles deixaram de ser capazes de resolver os problemas dos trabalhadores. Quando se pensava numa Internacional Socialista no século 19º não era à toa. Mesmo naqueles tempos, já era impossível pensar que uma organização não-internacional pudesse resolver os problemas da classe proletária. Com o tempo ela foi desvirtuada e se tornou meramente um palco para a disputa pelo poder na URSS até perder completamente a representatividade junto aos trabalhadores.
Os sidicalismo erigido no Mundo Ocidental no século 20º foi construído à sombra dos Estados Nacionais e foi assim, na conjuntura da Guerra Fria, que conseguiu avançar com as lutas trabalhistas. Veio a Globalização e o Capital internacional pôde, finalmente se livrar do invólucro nacional, enquanto isso organização políticas como os sindicatos se mantiveram restritos aos limites que a burguesia simplesmente pôs fim.
Por outro lado, a entrada de um sem-número de operários chineses representou mais um golpe nesse sistema. Centenas de milhões de trabalhadores que mantidos debaixo da mão de ferro de um Estado totalitário pseudo-socialista labutam quase como escravos deu um golpe mais forte ainda nisso daí.
Por aqui, o Governo Lula foi reimpulso para os sindicatos que depois do seu renascimento nos anos 70, atravessaram uma fase de refluxo nos anos 90. Ainda assim, vejo nesse últimos tempos um reaparecimento de um sindicalismo peleguista que quase conseguimos superar. Peguemos as centrais sindicais, a Força Sindical é uma aberração, mas a CUT que teve uma origem muito interessante - e uma participação muito relevante nas lutas trabalhistas no Brasil das últimas décadas -, hoje é uma organização pior do que antes porque caiu na falácia de apoiar o Governo Lula de maneira não crítica.
O atual aumento dos trabalhadores sindicalizados, portanto, deve ser por isso mesmo: Medo da Crise Mundial. Não que seja negativo, afinal, mais trabalhadores sindicalizados nunca é ruim, mas só se tornará necessariamente bom se isso operar mudanças de rumos nos horizontes sindicais.
Hugo, eu ia escrever um texto sobre o 1o. de Maio em meu blog, mas o que você escreveu ficou tão bom, que eu o reproduzi, concedendo-lhe os devidos créditos, em meu blog, e postei o link para acessar ao seu texto.
ResponderExcluirSe tiver algum problema quanto a isso, é só dizer, ok?
Abraço
http://guerrilheirodoentardecer.blogspot.com/
Muito pelo contrário, Marcos, pode reproduzir numa boa - eu quero mais é espalhar O Descurvo por aí mesmo...
ResponderExcluirabração ;-)
Hugo,
ResponderExcluirEssa é uma oportunidade que os sindicatos não deveriam perder. Nunca fui sindicalizado, nem tive vontade de ser. E por um só motivo: Não me senti representado por nenhum deles em nenhum momento da minha vida profissional.
Caro Hugo
ResponderExcluirFolgo em saber que tem agora um blog! E dos bons!
Já está em meus favoritos.
um grande abraço do amigo
Pyotr
Grande Pyotr,
ResponderExcluirSim, criei esse espaço há pouco mais de três meses para tentar lançar minha própria visão sobre as coisas e conversar com os amigos. Sinta-se sempre à vontade para colocar os seus valiosos apontamentos nesta Casa.
abração.