segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Segundo Turno, Afinal

Batalha pelo simbólico em PoA: o Tatu da Coca e a privatização da cidade
As eleições municipais apresentaram poucas surpresas. Em geral, gestões bem-avaliadas venceram em primeiro turno com certa tranquilidade, o que nem sempre é positivo: é o gerencialismo que domina aqui e acolá, um certo comodismo mórbido com melhoras inerciais, dificilmente acompanhadas de qualquer perspectiva de urbanismo mais sofisticada, de direito à cidade. A crítica da esquerda, no entanto, precisa ir mais longe; de fato, esse gerencialismo urbano (que é conservador, mas não levanta bandeira nem deixa de incorporar certos maneirismos de esquerda) melhora em alguns aspectos a vida das pessoas, o desafio, portanto, é mostrar qual é a alternativa, construir um programa bem estruturado com tudo que se imagina de uma cidade liberta e viva e um sistema de propaganda suficiente -- é preciso atacar o tatu da coca-cola, mas também é preciso ir além. 

O consenso em torno de Fortunati, Lacerda, Paes foi exatamente isso. Só mudou, nos lugares  onde algo deu errado, como em Salvador e São Paulo -- onde talvez os projetos (ou dejetos, conforme se veja) que governaram a prefeitura nos últimos quatro anos precisavam, pela tensão de forças em seu interior, caminhar mais à direita. Justamente será em São Paulo e Salvador onde a velha oposição ao governo Lula irá confrontar o PT, onde o cenário está mais polarizado do que nas brigas quase consensuais entre facetas da base governista (e, por que não, do próprio Lulismo). ACM Neto é uma ameaça importante, apesar de isolado. Serra e Haddad -- que é ele, mas é Lula como poucos -- protagonizarão outro confronto importantíssimo. Em Belo Horizonte, é errado pensar numa vitória da velha oposição, mas de outra coisa: do tipo de oposição que Aécio Neves sonha em implementar, a despeito do PSDB paulista, que é a alternativa gerencial em parceria com o PSB de Eduardo Campos (isto é, dilmismo completamente sem esquerda, um horror sem dúvida) -- como também é igualmente errado, pelos mesmos motivos, pensar que o que houve no Recife, com a ascensão do PSB sobre o PT, não seja preocupante.

Serra e Haddad é confronto chave? Sim, é, aliás menos porque São Paulo é a maior cidade do Brasil e mais pelo singelo motivo que uma derrota de Serra é uma vitória de Aécio, e altera o panorama para 2014; derrotado, dificilmente a oposição ao PT nas próximas eleições gerais passará pelo PSDB paulista, o que muda substancialmente o jogo. Será Aécio o adversário e ponto final, a menos que tramem algo sórdido demais contra o governador mineiro. No plano municipal propriamente dito, Serra manteve o apoio entre as classes médias tradicionais do centro expandido, conquistou boa votação nos bairros da periferia próxima -- zona norte, zona leste --, mas ainda registra uma altíssima rejeição do público local pelo desastroso rumo da gestão Kassab, que é de responsabilidade sua -- e com a qual se mantém coligado via PSD. Haddad, por sua vez, é uma aposta de renovação do Lulismo por dentro. Um quadro jovem, com chances intelectuais e capacidade de atuação, em relação ao qual não resta dúvida que Lula espera muito dele, do contrário o teria abandonado em algum momento dessa eleição -- e, tão logo debateremos o Lulismo, mas se ele existe (e suspeitamos que sim), Haddad é uma possibilidade de sua manutenção e resolução à esquerda pelo seu histórico.

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