terça-feira, 19 de maio de 2009

A TV Cultura e o Início das Eleições

A TV Cultura de São Paulo era um ponto fora da curva no sistema televisivo brasileiro; mesmo sendo estatal, funcionava como uma legítima instituição pública, produzindo programas infantis de excelente qualidade e um jornalismo fora do esquemão da grande mídia televisiva - além de programas dos mais variados genêros. Claro, isso foi até meados dos anos 90 quando os tucanos assumiram o poder no estado. Foi aí que começou o sucateamento da TV, mas não sua descaracterização.

Covas, Alckimin e Lembo mantiveram uma política de comer pelas beiradas e desgastaram a Cultura, mas não tiveram coragem de destrui-la. Mesmo com a queda de qualidade, permaneci como telespectador fiel do jornalismo, do Provocações e do Roda Viva. Isso até a era Serra: Com a truculência que lhe é bem peculiar, o governador iniciou o processo de descaracterização da Cultura por meio de Paulo Markun, presidente da Fundação Padre Anchieta. Cabeças rolaram - Nassif que o diga -, o jornalismo foi descaracterizado, mudaram o Provocações milhares de vezes de horário escondendo-o e, o pior de tudo, passaram a utilizar o Roda Viva como uma marionete para a concretização de certos interesses políticos.

O episódio lamentável do Roda Viva onde o delegado Protógenes foi bombardeado e, logo depois, a edição em que Gilmar Mendes foi aclamado, ajudaram a explicar muito do que a Cultura se tornou e, sobretudo, qual era a posição real de Serra em relação ao episódio da Satiagraha - mas acima de tudo, foi a tragédia que sepultou o programa e afastou de vez meu interesse pela televisão brasileira. Larguei mão.

No entanto, quando as coisas vão mal, costumam ficar pior: Ontem, nosso amigo Marcelo Costa me informou que o entrevistado do Roda Viva foi alterado de última hora e o entrevistado passaria a ser o glorioso Senador tucano Álvaro Dias, uma das peças-chave dessa CPI burlesca da Petrobrás. Novamente, a Cultura aparece com um ás na manga de maneira tosca; enquanto o debate se desenrola, em vez de informar os seus espectadores sobre o que está acontecendo, ela dá voz a uma parte interessada na questão. Por que não um debate? Será que essa não foi um maneira muito óbvia de fazer política partidária? Pelo jeito a Cultura - ou o PSDB - mandou a sutileza às favas há muito tempo. O programa, claro, foi burlesco como era de se esperar.

O Fato é que 2010 está aí. Como ainda estamos em maio de 2009, já é certo que ela será a mais longa campanha presidencial da história do sufrágio universal no Brasil. Pior: Poderá ser também a campanha mais suja desde 88 e a julgar as táticas tucanas, já é possível antever quão danoso pode ser um eventual Governo Serra.

7 comentários:

  1. Poxa... só acompanhei a TV Cultura quando pequena, e apreciava muito a sua programação. uma pena que seu nível tenha caído a ponto de chegar ao lado dos outros canais, sempre com um fim político e/ou alienador. tbm já não assisto mais televisão, já tinha desistido dela e agradeço ao acaso de ela não querer mais funcionar ^^ agora só filmes em DVD ou VHS.

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  2. Olá, Indira, bacana ver você por aqui! Sim, sim, também compartilho do mesmo desalento. O pessoal da nossa geração teve a oportunidade de ver se materializar nos programas infantis da Cultura o contraponto ao que era veiculado na TV comercial - que, às custas de suas incontáveis loiras, sempre se voltou para enfiar a ideologia do consumismo nas crianças já desde muito cedo. Certamente, aqueles programas colaboraram para formar, hoje, adultos mais críticos ou, quem sabe, menos alienados. No entanto, hoje, tudo isso foi jogado pela janela, o que é grave.

    Minha TV tem mais ou menos a mesma serventia que a sua, mas muito em breve, creio que ela vá parar no lixo.

    beijão

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  3. talvez Hugo, por estas outras emissoras sempre terem tido uma audiência maior, que temos as pessoas que temos hj pelo mundo, os adultos que não sabem educar seus filhos, que não têm limites e não sabem impo-lo, que não vêem diferença entre trabalhar por dinheiro ou por prazer, enfim... por inúmeras coisas... pois sempre "assistiram como é bonito de ser", e seguem este padrão fielmente...

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  4. Hugo,

    O mesmo partido que bateu contra a criação da TV Brasil sob o argumento de ela serviria a interesses ideológigos do governo trata a sua TV pública como isso mesmo, um instrumento ideológico a serviço dos interessee do partido e de seus aliados.

    Ainda não estou a ponto de jogar minha TV no lixo, mas sua utilidade se resume aos parcos minutos que fico diante dela na semana. Isso mesmo, na semana. Praticamente não assisto TV.

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  5. Eduardo,

    Bem lembrado, isso daí é só uma parte do joguinho sujo que se trava pela disputa do poder no Brasil dos nossos dias. O PSDB não está preocupado apenas em impedir a criação de uma TV que sirva a eventuais interesses ideológicos do governo, ele faz isso ao mesmo tempo em que aparelha o que ele tem em suas mãos - o estatal e também o privado.

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  6. Nossa Hugo, você relatou exatamente o que me fez parar de acompanhar o Provocações: o horário maluco e mutante.

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  7. Luis,

    O horário maluco, mutante e deliberadamente alterado várias vezes nos últimos tempos. O Provocações é, certamente, um dos melhores programas criados na TV brasileira em muitos, muitíssimos anos. A forma como ele foi jogado para lá e para cá na grade da Cultura recentemente não é à toa. Por enquanto, ele é o único programa crítico e relevante que existe por ali. Não conseguiram tira-lo do ar ainda, mas já deram uma "escondidinha" nele.

    abraços

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