segunda-feira, 22 de junho de 2009

Algumas ponderações sobre o Irã

(Foto retirada daqui)

Nesses últimos dias a situação no Irã literalmente pegou pegou fogo. A causa? Uma suposta - e provável - "fraude" nas "eleições" presidenciais que deu na vitória de Mahmoud Ahmedinejad, candidato "conservador" sobre o "reformista" Mir Houssein Moussavi. Obviamente, manipulações políticas de toda ordem se esgueiram por detrás da reação de Moussavi e dos protestos populares que se espalharam pelo país, mas uma coisa não pode ser negada: Dizer que houve fraude na contagem de votos é uma grande brincadeira; o Irã é uma Teocracia e as eleições por lá são fraudes por si mesmas, haja vista que o dono do poder é o poderoso clero do país. No fundo, todos os candidatos são candidatos da ordem, uns mais radicais, outros menos, mais todos muito parecidos.

As origens disso, no entanto, remontam à distante década de 50 quando os serviços secretos britânico e americano desfenestraram o líder nacionalista laico Mahmoud Mossadegh e desenharam uma ditadura comandada pelo Xá que, entre outras coisas, se alinhou automaticamente com os interesses ocidentais. O Xá prendeu, torturou e esmagou a oposição e a saída política por via laica e democrática foi irremediavelmente inviabilizada. A queda dessa ditadura iria, no entanto, se desenhar por vias inesperadas para os mandatários à época: Duas gerações inteiras de iranianos foram enfiadas nas mesquitas, o que fortaleceu o clero e marcou a derrubada da ditadura do Xá por meio de um golpe de Estado realizado por fundamentalistas em 79. O Irã saiu de um anacrônico absolutismo para cair nas redes de uma Teocracia.

A ordem posterior a 79 jogou o país de encontro ao ocidentalismo: De repente a justa luta contra o imperialismo ocidental foi colocada no mesmo balaio da censura e, sim senhores, das perseguições aos políticos progressistas, intelectuais e artistas. Não houve Revolução, apenas uma violenta reação sobre reação no Irã. Isso custou caro para o país por conta do pesado ônus sobre sua sociedade. Logo depois, os americanos, por meio de seu então títere, Saddam Hussein, moveram uma guerra sangrenta contra o país no início dos anos 80. Obviamente, incomodava aos americanos a perda de influência no Irã e não as violações aos direitos humanos ali cometidas.

A história iraniana prossegue até o governo do moderado Khatami que buscou uma aproximação com o Ocidente nos anos 90, sendo humilhado e escanteado. Eis aí que se abrem as portas para Ahmadinejad vencer e adotar uma política radical contra os EUA, investir no programa espacial e nuclear com a ajuda dos russos e ainda construir uma ornitorríntica aliança contra Israel - que envolve desde a ditadura aluíta da Síria até o Hizbollah, o mais curioso, no entanto, é que ela funcionou, pelo menos na mais recente Guerra do Líbano, mais uma das desastrosas incursões israelenses pelo Oriente Médio.

Ahmadinejad se torna uma ameaça, não pela sua política desastrosa para os direitos humanos ou pela violência do regime, mas sim pela ameaça que passou a representar aos interesses ocidentais no que toca o controle estratégico da região. O argumento da falta de democracia, claro, não é só conveniente como também é politicamente correto, fosse ele verdadeiro, não seria possíveis relações EUA-Arábia Saudita - só para constar, o absolutismo saudita é dúzias de vezes mais radical que a teocracia islâmica.

Com a reeleição provavelmente fraudulenta do presidente iraniano, protestos explodem no país inteiro, mesmo com o apoio do Aiotolá Ali Khamenei, as coisas não esfriam, muito pelo contrário; o conservador e igualmente teocrata Moussavi parte para a ofensiva e as coisas estouram. Agora, a narrativa do ocidente aponta para um suposto reformismo de Moussavi frente ao fundamentalismo de Ahmadinejad. Seria isso verdadeiro ou, simplesmente, o reformismo em questão não é apenas o fundamentalismo mais conveniente para os interesses ocidentais?

Esse blog tem um postura clara, Moussavi é uma demagogo e está usando seu próprio povo não apenas como massa de manobra, mas também como escudo humano - e à serviço de quem lhe pagar mais -, enquanto Ahmadinejad é um monstro, mas um monstro que surgiu pela mais livre e espontânea opção americana. A única saída viável para o Irã, portanto, envolve Democracia, Laicidade e, especialmente, resistência ao imperialismo - que sob nenhum aspecto se confunde com infrações aos direitos humanos.

P.S. 1: O debate sobre a questão iraniana rendeu um excelente debate lá no blog do João Villaverde.
P.S. 2: O Tsavkko está fazendo uma cobertura muito interessante sobre a questão.

19 comentários:

  1. Hugo, a questão da laicidade é um problema. Eu conheço muçulmanos e muçulmanas que não são laicos, porém são progressistas. Os muçulmanos, em sua maioria, não querem Estado Laico e sim um Estado justo, democrático, sem imposições, progressista. No mais, concordo, Mousavi tem uma história de conservadorismo clara, não é o líder, o messias, é um aproveitador na hora e lugar certo, diferente do Karoubi ou do Khatami.

    MAs é um momento crucial. Veja que os manifestantes gritam "Allah u akbar", eles são religiosos, mas querem tolerância e liberdade. Querem a religião livre e aberta e não a dos aiatolás e suas burkas. Querem Montazeri, progressistas.

    É curioso analisar um país muçulmano olhando de fora, caímos muito no orientalismo...

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  2. Olha Raphael,

    Eu não concordo com o que você escreveu em seu blog, no link apontado pelo Hugo.

    O artigo do Paul Craig Roberts traz informações importantes sobre o interesse ocidental no Irã, que você descarta a priori.

    O mundo de fato não é mais o da Guerra Fria, mas desde o fim dela as intervenções imperialistas não cessaram. Muito pelo contrário.

    Ou você também acha que o Miguel do Rosário também integra a 'esquerda anacrônica'? Como já lá comentei, temo que esse crise leve à mais uma 'guerra de libertação' no oriente médio. Isso é ser anacrônico?

    Dizer um 'peraí' frente à cobertura internacional dos fatos não significa 'afanar' para o lado da teocracia iraniana. O último governo iraniano que poderia se aproximar ideologicamente com a esquerda foi o do Mossadegh, e olhe lá.

    Como você próprio diz: 'É curioso analisar um país muçulmano olhando de fora, caímos muito no orientalismo...' - portanto, não dá pra ter certeza de nada.

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  3. Raphael,que fique claro uma coisa: Quando falo em Laicidade, me refiro à separação entre religião e política e ao direito das pessoas professarem os mais diferentes credos - inclusive a ortodoxa religião conhecida como ateísmo.

    Não é proibir ninguém de ser nada, mas simplesmente trazer a questão da religião para o espaço individual - se é que isso é possível. Para mim, isso é um ponto imprescindível para a Democracia.

    abração;

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  4. Luis Henrique,

    Como você linkou esse post por aqui? Socialize esse conhecimento, eu estou tentando fazer isso há dias e não consigo. Sim, eu sei, eu sou um grande e velho macaco bugio na Internet.

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  5. Oi Hugo,

    É simples:

    <a href="www.link.qualquer">Texto do link</a>

    Eu também não tenho muita experiência em HTML, só o basicão que se pode aprender num tutorial como este.

    Como é que você faz os links no blog? É automático?

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  6. Hugo,

    Seu artigo está muito bom, especialmente porque você "pontua" muito bem as questões que desenvolve, como, por exemplo, quando fala de democracias no Oriente Médio e as relações das nações com os EUA e lembra que a situação da Arábia Saudita é incomparavelmente pior que o Irã. E de fato é.

    Obrigado pelo link. O debate é quente e tem mais coisa no ar.

    Essa questão da laicidade que você levantou, por exemplo, é discutível quanto ao Irã (sempre em comparação histórica com o próprio Irã-Pérsia e com os outros países da região): há mais respeito às liberdades individuais e à diferença étnica religiosa.

    Por volta de 15% da população iraniana referem-se a judeus. Outros tantos são católicos. Há espaço democrático para novas tecnologias (não agora, é claro), que é algo crucial para uma democracia do século XXI, como discutíamos tempos atrás.

    A questão da Revolução é outro debate central -- que tivemos lá no Blog -- e que você desenvolveu melhor aqui. Entendo seu ponto, afinal, sua análise de "reação sobre reação" faz sentido. Mas insisto numa visão mais abrangente, se aproveitando do processo histórico mesmo, que é o fato da Revolução Islâmica ter rompido com um projeto de país e ter estabelecido outro. Há cerceamento para os candidatos? Sim, conforme você citou no texto. Para ser aceito como candidato a presidência seu nome tem de passar pelo crivo do Conselho de Guardiães, que segue a doutrina original do Islã.

    Caro Raphael,

    Li o link apontado pelo Hugo no post e tendo a concordar com o que disse o Luis Henrique.

    Aliás, nessa questão toda, desqualificar coberturas é uma forma importante de análise, mas muito restritivo.

    A mídia tradicional, assentada nos jornais, nas televisões e rádios, do mundo ocidental, em sua maioria, faz a cobertura que faria de qualquer jeito: procura desqualificar Ahmadinejad e se utiliza de Mousavi, que se utiliza do povo, que se utiliza da mídia ocidental num processo que se retro-alimenta. Do outro lado, os espaços francamente de esquerda, procuram de todas as formas encontrar os braços dos serviços de inteligência dos muy amigos de sempre, isto é, Estados Unidos, Inglaterra e Israel.

    Cada um, a sua maneira, tem sua parcela de razão, ignorando os interesses ideológicos e financeiros (especialmente no caso dos meios tradicionais ocidentais). Mas todos cometem erros. Ficar apontando e criticando um lado (como você fez no caso da cobertura da esquerda) acaba perdendo a crítica e a análise mais importante.

    Forte abraços a todos

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  7. Luis Henrique

    Nos posts é automático, mas eu sabia fazer esse tipo de linkagem, só que aparentemente ele dava errado por aqui. Devia estar digitando algo errado. Valeu.

    João,

    Obrigado, de fato, trata-se de uma questão muito complexa. Sobre a Laicidade, é isso mesmo, não é um horizonte muito distante para o Irã - deixou de ser em algum ponto dos anos 70 quando a repressão do Xá eliminou qualquer possibilidade não fundamentalista de derruba do regine, mas até os anos 60, ela existia.

    A minha implicância com o movimento de 79 é, justamente, o fato de que eu não conseguiria classificar a classe que ascendeu ao poder como classe revolucionária, muito pelo contrário; os revolucionários de verdade morreram aos montes nas masmorras do regime do mesmo modo que morriam duranta a ditadura do Xá. Não podemos confundir qualquer fenômeno de massas com uma Revolução.

    Ademais, o post do Raphael que eu linkei é em certos pontos uma antítese ao meu e, em outros, bastante convergente. Coloquei ele aqui porque um polemista inverterado como eu não resiste a esse tipo de provocação.

    abraços coletivos ;-)

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  8. Luiz, busquei responder a estas questões em novo post:

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  9. É, não consigo colocar links, de qualquer forma, tentei responder em um novo post hoje à essas questões, Luis.

    Eu acho risível a idéia de que a CIA financiou e armou tudo isso. Não é crível. Milhares, em alguns casos milhões de jovens que são claramente reformistas, nas ruas, vários mortos e a eleição claramente fraudada?

    Se isso é a CIA então ela deve ser Deus pq faz eras que não acertam nada!

    E nem vejo o porque, o Mousavi não é quem eles gostariam.

    João:

    DEvemos levar em conta que não estamos tratando só da "mídia comum". A maior fonte de informação é a internet, os blogs, os próprios jovens e até a TV estatal iraniana nos mostra o que acontece e não podemos acusá-la de defender os manifestantes!

    O próprio Conselho de Guardiães reconhece que houve fraude, a TV estatal mostra os jovens mortos, milhões nas ruas em protesto. Nem ela mostra o suposto outro lado.

    Eu sou o primeiro a acusar a grande mídia mas ela está passando informações mais dos que estão lá, dos jovens, do que de seu próprio pessoal.

    O link do Luiz tem um ponto interessante:

    "Ahmadinejad foi eleito democraticamente em sufrágio universal. Alguém contestou a primeira eleição? Não, né? Ora, um presidente eleito uma vez com enorme vantagem sobre o adversário pode ser eleito uma segunda sobre outro concorrente. Se houve fraude, as instituições iranianas irão dizer. Não é grupinho de Twitter com alguns milhares de seguidores que decide eleição num país com 70 milhões de pessoas."

    Oras, eu já postei diversos argumentos que mostram como é praticamente impossível que ahmadinejad tivesse ganho a quantidade de votos que ganhou. Fosse por 3-5%, beleza, mas é irreal a vitória dele junto À minorias que o odeiam, em grandes cidades e com tamanha vantagem. E o artigo está atrasado, o Conselho reconheceu fraudes, tanto que irá recontar míseros 10%.

    E eu nada tenho contra Ahmadinejad, podes ver no meu blog que já até elogiei algumas posições dele. Discordo na questão da repressão Às liberdades e a negação ao holocausto mas os demais posicionamentos dele quanto À Israel? Assino embaixo.

    Se os EUA e afins desqualificam Ahmadinejad - concordo que fazem - também não tem pra que "qualificar" Mousavi.

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  10. Oi Raphael,

    Eu já acho que não é 'praticamente impossível' a vitória de Ahmadinejad por uma boa margem. Mesmo as informações que chegam pela internet, nos blogs, etc, são contraditórias.

    E os EUA, Israel tem sim motivos para qualificar Mousavi. Senão, jamais veríamos os adjetivos 'reformista' ou 'moderado' que sempre acompanham seu nome na Reuters, na BBC. E o resto da imprensa mundial simplesmente copia.

    Faz um bom tempo que o Irã é um incômodo para as potências ocidentais e, mesmo que a crise política iraniana não tenha sido 'orquestrada' assim, elas se aproveitam dela e botam mais lenha na fogueira.

    Reitero: quanto mais tempo durar o tumulto político no Irã, maiores serão as chances da gente ver mais uma 'guerra de libertação' no oriente médio.

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  11. Luis:

    Os dados comprovam. O Conselho de Guardiães reconheceu fraudes em 50 cidades. É a ponta do Iceberg. Em alguns casos 140% da população de algumas cidades votou. Isso é um padrão, imagina quantos votos não saíram daí.

    Analistas concordam com duas coisas:

    1. Com votação grande, Ahmadinejad dificilmente venceria

    2. Era impossível o Ahmadinejad vencer nas regiões onde a maioria étnica não era a Farsi (Persa), no máximo excetuando a região Mazenderani.

    Além disso pode-se ver que a contagem dos votos foi em velocidade estratosféria, a resposta das autoridades foi descabia, quase como se com medo de incitar os protestos que aconteceram, porque todos sabem que houve fraude.

    Ahmadinejad venceu em grandes cidades e entre as minorias. Não tem precedente, ele venceu em Tabriz, cidade de maioria Azerbaijani (etnia do Mousavi) e grande cidade!

    MESMO que o Ahmadinejad vencesse, seria por uma margem muito pequena. 11 milhões de votos? É roubo descarado.

    Hugo: Ah sim, com este conceito de laicidade eu concordo!=)

    Luis de novo: Estes dados da New American Foundation são contraditórios com tudo que li até hoje. E a mobilização nas ruas demonstra isso. O voto em massa demonstra isso. Se tanta gente estava indecisa como o comparecimento foi recorde? Eles teriam simplesmente deixado de votar e não, em uma semana, decidido e ponto. É suspeito.

    No mais, o Mousavi É reformista, querendo ou não, tendo mudado de lado ou não. Talvez não tanto quanto muitos acreditem ou queiram acreditar, mas é mais reformista que o Ahmadinejad (claro) e tem o apoio da juventude e, acredita-se e acredito, maioria nos votos legais.

    Claro que a mídia ocidental se aproveita. Mas se aproveitar e daí a ter criado um factóide, é uma distância imensa, quase inalcansãvel.

    No mais, a "guerra de libertação" se houver, não vai derrubar o caráter islâmico do Irã, como pode-se ouvir pelos gritos de "Allah u akbar" nos telhados de Teerã. E, vença quem vencer, o programa nuclear será mantido. O Irã não vai virar "Bonzinho" para os EUA do dia pra noite, mude o que mudar por lá.

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  12. Luis e Raphael,

    Se me permitem um pitaco, eu apostaria em fraude sim na contagem dos votos. O que eu considero sobre isso tudo, no entanto, é que, independentemente do que tenha acontecido na apuração, essa eleição foi ontologicamente fraudulenta pela forma como foi estruturada. Não percamos do nosso horizonte visual que estamos falando de uma Teocracia.

    Quanto a Moussavi, eu também não consigo deixar de vê-lo como alguém que está se usando desse momento e sendo manipulado pelo interesse ocidental - ao mesmo tempo em que o manipula. Trata-se de um fenômeno que encontra um paralelo com duas figuras dos fins dos anos 80: O Yeltsin dos fins da União Soviética e o Zhao Ziyang da China pós-maoísta - ainda que o último tenha suas virtudes.

    abraços

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  13. Fraude houve, é comprovado pelo próprio governo. questão é saber o tamanho da fraude e até onde influenciou. Na minha opinião, mudou o resultado.

    quanto ao Mousavi, ele, como indivíduo, pode estar sendo usado, não o povo. A revolta é legítima.

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  14. Raphael,

    Pelo que aconteceu, provavelmente Ahmadinejad perdeu sim e a fraude na contagem mudou em muito as coisas - fraudes aconteceram nas eleições russas onde Putin e Medvedev se elegeram, mas como se tratou de uma mera fraude "por precaução", já que os candidatos provavelmente ganhariam mesmo, não houve tamanha movimentação. Aliás, no México, na última eleição presidencial, Lopéz Obrador deve ter vencido por muito pouco, foi roubado e por maiores que tenham sido os protestos, eles nem chegaram perto disso - faltou a mesma gradação no roubo e a intervenção de um potência estrangeira em seu favor.

    Ainda assim, eu considero que Moussavi está se aproveitando da situação, acendeu uma faísca e esperou os resultados previsíveis e favoráveis para si. Ele não é um homem contrário ao regime, é um homem do regime por conveniências políticas que pode, no entanto, coloca-lo à margem como os ex-burocratas soviéticos que se converteram em oligarcas. Esse tipo de revolta popular em paises ditatoriais não é novo, aliás, aconteceu na União Soviética e na China dos anos 80; em ambos os casos, havia um abalo em um regime inimigo dos EUA, um demagogo e uma credulidade política por grande povo que era um resíduo de anos de ausência de qualquer tipo de prática democrática.

    abraços

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  15. Li um artigo ha algumas horas mas esqueci de salvar que fazia um comentário curioso, o de que toda democracia liberal tem fraude, mas apenas para assegura realmente, dificilmente há mudança de resultado... Concordo até certo ponto, é fácil verificar em muitos casos, como o seu exemplo. Putin ganharia e ganhou, mas sempre é "bom" dar uma força aos números...

    No caso do México faltou ao próprio povo mobilização. Desistiram rápido demais e depois esqueceram. E, convenhamos, situações um pouco diferentes, no Irã você vive uma situação de opressão absurda, sem comparações com o méxico, ao meu ver.

    E, novamente, não nego nem afirmo que Mousavi esteja sendo manipulado, se aproveitando e etc e no fim das contas acho que isso não importa. O povo vem protestando independente de Mousavi participar ou chamar, foi um gatilho para um movimento que vem sendo espontâneo.

    E, os regimes inimigos dos EUA acabaram sendo abalados muito mais por sua situação de opressão e repressão interna que necessária influência externa, vide a Praça da Paz Celestial e os protestos de hoje no Irã. Os regimes são despóticos, antidemocráticos e repressores, causa insatisfação e revolta.

    Mousavi foi o instrumento de uma revolta que está para estourar desde Khatami, só que Khatami ganhou. Não governou, por assim dizer, mas ganhou.

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  16. Hugo,

    Esta é a melhor análise sobre a questão iraniana que tive o prazer de ler, entre as muitas que consultei.

    Digo isso porque, além de ser das poucas que não cai nem na ilusão de que Moussavi representa alguma forma de "esquerdismo" (santa ingenuidade) nem na defesa pura e simples de Ahmmadinejad por conta da campanha contra ele movida pelos EUA e pela grande mídia internacional.

    Mais do que isso: a sua análise é das poucas - senão a única - que combina uma visão crítica e independente da situação atual à contextualização do histórico do imperialismo ocidental no Irã - fator sem o qual não se pode compreender de forma condizente a situação atual do país, mesmo porque este é retratado pela mídia como um povo de bárbaros (a não ser agora, quando, segundo essa mesma mídia, os "bárbaros" de repente viraram moderninhos e contestadores...).

    E pensar que, como ouvi de uma professora americana profundamente lamentosa, tudo seria diferente se os EUA tivessem apoiado Mossadegh...

    Um abraço,
    Maurício.

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  17. Raphael,

    A diferença reside justamente no fato de qual lado pertence o candidato derrotado no que toca à política internacional. Se Ahmadinejad tivesse sido solapado nas urnas, o que teria acontecido?

    Vamos pensar no seguinte: E se no caso mexicano, os EUA tivessem cismado de apoiar Obrador? Será que o povo não teria sido organizado melhor para resistir? E se João Goulart fosse pró-americano no Brasil dos ano 60?

    abração

    Maurício,

    Que bom que você gostou, era justamente essa ideia que eu gostaria de passar: Uma visão suficientemente crítica da situação a ponto de furar os sofismas da direita - os "bárbaros" de um minuto atrás passando a ser retratados como contestadores agora - que estão, no entanto, passando desapercebidos por certos setores da esquerda que fazem uma leitura ao meu ver equivocada do que houve no Irã em 79. Sem fazer isso, a queda em uma dicotomia falsa é líquida, certa e fatal.

    um abraço

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  18. Não acho que no México 'faltou mobilização' - houve passeatas de mais de 2 milhões de pessoas.

    Na mesma época, dezenas de mortos e feridos pela polícia e paramilitares em Oaxaca.

    A diferença entre o México e o Irã é que o primeiro não é nenhuma ameaça a Israel.

    Portanto, o que faltou no México foi notícia.

    Agora mesmo há tensão política em Honduras, houve tentativa de golpe, mas isso não interessa, também não vira notícia.

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  19. Esqueça o 'tentativa' no meu post anterior!

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