domingo, 4 de outubro de 2009

O Futuro do PSDB, do Serrismo e de um improvável PSB


Ultimamente, três coisas têm me inquietado profundamente na política nacional: Os rumos do PSDB no país, o fenômeno do Serrismo e essas - aparentemente estranhas - movimentações que estão ocorrendo no até então irrelevante PSB paulista. Então, resolvi fazer esse post para tentar levantar algumas questões, pontuar outras tantas e tentar relacionar o que está acontecendo por meio de uma análise conjuntural do complexo sistema político-partidário brasileiro.

O PSDB e Serra

Qualquer pessoa que acompanha o noticiário político-partidário nacional com mínima assiduidade sabe o quanto José Serra quer ser Presidente da República. Por sua vez, qualquer pessoa que conheça a história do governador paulista sabe o quanto ele quer isso desde os anos 60. É curioso, no entanto, pensar sobre o quanto esse desejo de poder de um único interfere na existência e no funcionamento do PSDB, uma das maiores agremiações nacionais - e também o partido que dentre os grandes sempre foi o que mais refletiu uma certa esquizofrenia ideológica: O PT nasceu com o propósito de ocupar um espaço bem claro na esquerda - a confusão ideológica só veio depois por aquelas bandas -; o DEM nunca teve dúvidas sobre o que defende e que tipo de país ele deseja; o PMDB é uma artificialidade criada pela Ditadura e desde o momento em que nasceu já carregava a natureza cacofônica que hoje beira o irracional.


Peguemos os fins dos anos 80: Enquanto uma ala tucana se encantou com a boa nova do Consenso de Washington como fizeram FHC - maquiavelicamente - e Covas - de forma mais ética -, outra ala se colocava na posição de uma terceiravia desenvolvimentista que servisse de opção à visão social-democrata radical do PT dos fins dos anos 80 e ao Atraso representado pelas oligarquias - e nesse grupo se destacavam o próprio Serra além Bresser. A primeira ala saiu na frente e ganhou as brigas inciais como há de se perceber pelas candidaturas à presidência de Covas em 89 e de FHC em 94 assim como a própria forma que o Plano Real foi conduzido em seus primórdios - à contragosto de Serra que ainda assim se manteve ocupando posições tecnocráticas nesse sistema (chegando a ponto de bloquear dentro do Partido o então neoliberal fervoroso Ciro Gomes).

Oito anos de Governo FHC e Serra sai como candidato à Presidência em 2002. Durante a campanha acrescenta mais um grande atropelamento político no seu currículo: O esmagamento da candidatura Roseana Sarney por vias pouco usuais. No entanto, arca com o ônus do fracasso econômico do governo FHC, da crise em que o país se encontrava e com a força do novo petismo nascido na Carta ao Povo Brasileiro. Jogando da maneira que lhe é peculiar, acaba suplantando as candidaturas Garotinho e Ciro, chega ao segundo turno, mas é derrotado por Lula. Tudo isso para ressucitar dois anos mais tarde ao se eleger prefeito de São Paulo - na medida que soube explorar eleitoralmente muito bem algumas debilidades do Governo Marta, para depois abandonar a prefeitura um ano depois para concorrer para o Governo do estado de São Paulo e vencer um PT desorganizado e rachado cujo candidato era Mercadante.

O Serrismo e o PSDB

A vitória de Serra para governador marca o ponto do nascimento do Serrismo. Serra passa a se dedicar dia e noite para 2010, aparelhando a máquina do partido, construindo estrategemas contra seus adversários internos e articulando uma aliança peculiar com a mídia corporativa nacional para assim ter a massa muscular suficiente para poder peitar a gigantesca popularidade de Lula. Seu governo é um assombro; como acentua frequentemente Luís Nassif, não há secretários, não há coadjuvantes, tudo é uma peça de marketing em torno do nome e da figura do governador. Isso chega a um patamar perigoso quando da sabotagem da candidatura de seu correligionário Geraldo Alckmin nas eleições municipais da Capital em 2008; Serra elege o Demista Kassab, seu vice na prefeitura simplesmente para marcar posição dentro de seu partido. Daí em diante, se intensificam as manobras para bloquear a candidatura de seu correligionário, o governador mineiro Aécio Neves - em um verdadeiro jogo de vale tudo nas entranhas do partido.


O governo Serra, por sua vez, não avança nos direitos sociais: A saúde e a educação pública do estado permancem indo mal; há uma preocupação muito grande com o equilíbrio das contas do estado, mas medidas pertecentes aos distantes anos 90 são empregadas tendo como resultado uma estagnação do avanço da eficiência do setor público no estado; a defensoria pública é criada, mas a sua estrutura é tão ruim que parece uma piada de mal gosto; a política para o ensino superior é desastrosa, como as intervenções absurdas na USP demonstram; o funcionalismo público está sucateado e não consegue exercer o seu trabalho. No entanto, é no que concerne os direitos individuais que ocorre o maior retrocesso: A intervenção policial na USP é um grande exemplo disso - assim como o uso de força policial militar contra os policiais civis grevistas - e, por outro lado, temos a punitivista e paranóide lei anti-fumo.

O Serrismo se afigura como uma doutrina personalista que obriga todo o PSDB girar em torno do governador paulista e assim garantir a realização de seu projeto político às custas da auto-sabotagem e de uma aproximação violenta com os setores mais arcaicos da direita do estado e do país. Qual o efeito prático que isso está gerando dentro do partido? Basicamente, existe cada vez mais uma dura animosidade contra Serra: Desde que o PSDB se tornou o partido hegemônico do estado de São Paulo no início dos anos 2000, não havia tantos focos de descontentamento. Geraldo Alckimin está a dar muxoxos pelos corredores e Aécio, que dificilmente será candidato a presidência, está aguardando o momento certo para dar o troco - as manobras de Serra para impedir sua candidatura, acreditem, já foram devidamente colocadas na geladeira.

O Fator PSB

A novidade disso tudo mesmo está no que houve com o PSB paulista e como isso se liga ao Serrismo. Quem conhece a política paulista sabe muito bem que o PSB daqui nunca teve nem sombra da força que ele tem no Nordeste. No entanto, ultimamente, tal partido recebeu filiações em massa de quadros com algum peso e que dado o seu posicionamento certamente estariam no próprio PSDB ou no DEM há cinco anos atrás. Vamos aos nomes:

1. Um desses nomes é Gabriel Chalita que recentemente saiu do PSDB e se filiou ao PSB. Vereador mais bem votado nas últimas eleições na Capital, ex-Secretário de Educação do estado, Professor de Filosofia do Direito na PUC-SP, Chalita era um dos nomes mais populares do partido e saiu pela porta dos fundos, reclamando falta de espaço no partido.

2.Outro fenômeno não menos interessante é que o ingresso do Presidente da FIESP, Paulo Skaf, na política-partidária finalmente aconteceu, mas acabou sendo por meio do PSB - convenhamos, não é todo dia que se vê
um Presidente de federação industrial entrando em um partido socialista.

3.Chegou-se a se ventilar também a possibilidade de Geraldo Alckimin também se filiar ao PSB, o que, no entanto, encontraria resistências no fato de que, bem ou mal, o referido partido pertence à base governista e ainda pesam certos resentimentos de Lula em relação ao ainda tucano por conta da recente campanha de 2006.

Nada disso é ocasional
. Não custa atentar para o fato de que o PSB é o partido de Ciro Gomes, político que já teve suas aspirações bloqueadas de forma severa pelo menos duas vezes por Serra; como já dito, uma nas entranhas do Governo FHC e outra quando foi candidato à Presidência em 2002. De lá para cá, Ciro foi ministro - e depois deputado - caninamente fiel a Lula, mas agora não deixará de executar o seu projeto próprio para apoiar Dilma. Se Lula levantou a bola para Ciro sair como candidato em São Paulo, pelo menos ele transferiu seu domicílio eleitoral do Ceará para o estado Bandeirante, mas não há de se duvidar que esse acréscimo de quadros no partido não surgem do nada assim como podem servir para vir lado a lado com a candidatura presidencial de Ciro com Chalita sendo o candidato para o Senador e Skaf disputando o governo.

Isso também marca um ponto de inflexão do partido, onde de esquerda clássica nos anos 80, um partido ônibus nos anos 90 - com alguma identidade de centro-esquerda no Nordeste -, agora ele se desenha como uma força de centro-direita em São Paulo em um movimento que decorre das contradições surgidas no interior do Partido por conta do Serrismo - as quais a esquerda do estado jamais soube aproveitar.


2010

É muito difícil antever o que vai acontecer ano que vem. A campanha, como sabemos, já começou no começou no início deste ano. O grande ponto é que o fator primordial para se ponderar o futuro do lulismo e do petismo já começa a se delinear: A grande pergunta era saber como o Governo Federal se comportaria diante da brutal Crise Econômica Mundial, haja vista que ele passou incólume por quase tudo que se pode imaginar em Política nos seis anos anteriores. Neste exato momento, Luís Inácio Lula da Silva conduz um Governo de centro-esquerda no qual se assistiu um profundo desgaste de seu partido, o PT, além de não ter conseguido executar de forma intrínseca a agenda reformista que assumiu na campanha de 2002, ainda assim, conseguiu encabeçar o primeiro Governo pós-88 a combinar evolução nos direitos individuis com políticas sociais que resultaram em efeitos benéficos - assim como reverteu a curva de estagnação econômica do país com um crescimento moderado combinado com queda dos indíces de desigualdade social.

No que concerne à Crise Mundial, o Brasil foi, de fato, um dos últimos a entrarem nela e será um dos primeiros a sair; a economia, diferentemente do que se colocava no começo do ano - exceto aqui, neste humilde blog e em mais alguns outros -, não cairá, mas se manterá próxima ao zero ou talvez até mesmo apresente um ligeiro crescimento. As vitórias do Governo na esferera internacional também são dignas de relevo.

Tudo isso representa um impulso muito forte na candidatura governista de Dilma Rousseff e, simultaneamente, joga mais pressão ainda sobre a candidatura Serra. O grande ponto é: Até onde Serra pode forçar ainda mais para vencer as eleições de 2010? Sim, até agora, o Governador paulista apostou em um duro jogo de bastitores, mas não conseguiu imprimir uma marca propositiva à sua candidatura. Se vencer, quanto isso irá custar politicamente e o quanto isso não poderá se converter numa vitória de pirro como no caso Yeda no RS? Se perder, poderá o PSDB suportar o ônus da derrota?
São as duas questões centrais que se desenham neste momento.

2 comentários:

  1. Aproveito o ensejo para comentar o quão estou chocado com a propaganda fascista que serra está fazendo nas dependências da CPTM e do Metrô de São Paulo. Este senhor abarrotou os murais dos trens e das estações com o seu "projeto expansão" do metrô. Há casos absudos como o de um mural na estação Paraíso que deve ter em média 40 metros quadrados com o slogan "Expansão", sem, obviamente, olvidar a enorme menção ao Governo de São Paulo. Serra está se aproveitando politicamente de uma obra que há quase uma década estava nos papéis, a qual ele tenta acelerar ao máximo para que possa usá-la na sua propaganda eleitoral. Ela está tão acelerada que alguns cuidados são relegados ao segundo plano, haja vista o desabamento das obras na linha amarela, no ano passado.
    Essas propagandas já me deixaram assustado, mas mais assustado ainda vai ser quando o povo souber que essas obras estão sendo financiadas com recursos do PAC, programa tão criticado pela direita pedante e burra brasileira.

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  2. Carlos,

    Pois é, meu velho. Acredite, tem coisa pior ainda: Andam fazendo propaganda da SABESP pelo país inteiro. O que tem a ver a SABESP com o Acre a não ser o fato de que o Governador de São Paulo quer ser Presidente e gostaria de ganhar uns votinhos? Esse episódio patético no metrô, só reforça o ridículo em que as coisas chegaram nessa candidatura.

    abração

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