terça-feira, 31 de maio de 2011

Terras Bandeirantes: Crises, Greves etc

Greve dos transportes na Paris de 1891
Há muito o que se falar nesses dias sobre o que se passa cá  em terras bandeirantes - e pouco tempo para tanto. Sim, foi muito bem sucedida a Marcha da Liberdade, realizada no último sábado na Avenida Paulista, enquanto os dois grandes partidos políticos ruminavam suas discórdias internas; de um lado, o PT segue arcando com a tragédia anunciada de Palocci, do outro, o PSDB em sua catastrófica convenção nacional, no qual pela enésima vez não conseguiu enterrar Serra  - e ambos os problemas, como sacou de maneira agudamente perspicaz Rudá Ricci, se relacionam com a fissura central do Brasil, a saber, o velho problema da integração de São Paulo com o resto do país, o que não raro, por uma série de motivos, produz belos solavancos; e isso porque  mesmo que os dois grandes sejam partidos paulistas, eles possuem a mais forte tendência modernizadora vista em partidos importantes na nossa história, mas que por uma série de motivos não conseguiram superar essa problemática que chegou a extremos como em 1932 (do lado tucano, paulistas não conseguem dialogar com mineiros e nordestinos; do lado petista, os velhos políticos bandeirantes do partido da estrela esbarram em velhas práticas políticas locais). Pior ainda, os tucanos paulistas seguem divididos entre o grupo de Serra e Alckmin, sendo que a ala do último, que detém o controle do governo do estado atualmente, sonha com 2014, à sombra da megalomania de seu rival local e dos eternos problemas de Aécio Neves - ora fortalecido pela Convenção Nacional, mas longe de ser aclamado ainda -; enquanto isso, o governo Alckmin, que conta com uma leniência considerável da mídia - algo que certamente nenhum governo petista dispõe ou disporá tão cedo -, encontra-se imerso na mais profunda letargia em seus primeiros cinco meses: agora, a falta de flexibilidade e o gerenciamento pífio dos serviços públicos - sobretudo a inércia na reposição salarial dos funcionários públicos ligados a áreas essenciais -, pode levar a uma temporada de greves em massa com paralisação do metrô, da linha de trens metropolitanos e da Sabesp (companhia de tratamento de água). Em suma, um governo que já nasceu morto como o de Alckmin pode descambar para uma crise gravíssima rapidamente, ainda mais no que toca ao transporte público, gerido aqui por outro secretário-tragédia-anunciada, um velho conhecido, Saulo de Castro Abreu Filho, secretário de segurança pública nos tempos da crise do PCC. Olho em São Paulo, olho do furacão.


P.S.: Aos incautos: os ferroviários cessarão suas atividades na zero hora de amanhã. Preparam-se.


atualização de 01/06 às 21:15: hoje, pararam os trens que vão para a zona leste - e rolará amanhã assembleia geral dos metroviários, o que vai ser fundamental; embora os trens de subúrbio percorram áreas maiores, o metrô é essencial para o funcionamento do núcleo duro da metrópole, se ele parar, pára a cidade. Também arrebentou uma greve nas empresas de ônibus do ABC.


atualização de 02/06 às 15:55: hoje parou tudo em São Paulo. Chega a ser inacreditável a incapacidade negocial do governo Alckmin. E essa gente ainda pensa que consegue governar o Brasil.

8 comentários:

  1. A face política da cannabisfobia

    O Supremo Tribunal Federal deve se posicionar em breve acerca da legalidade das Marchas da Maconha no país. A questão já deixou de envolver apenas a estupidez repressiva antidrogas. A tentativa de sabotar o debate chegou a níveis insuportáveis, que exigem uma mobilização imediata dos organismos representativos da sociedade.

    Já é absurdo que os organizadores da Marcha tenham de maquiar suas justas reivindicações com a defesa de preceitos constitucionais que protegem até os piores fascistas. Mas vê-los apanhar da polícia e ser arrastados a camburões mesmo quando apelam para as liberdades de expressão e reunião ultrapassa qualquer limite aceitável numa democracia.

    Agora a mídia liberal poderia comprovar sua aspiração republicana investigando a tropa de choque do autoritarismo que atua no Congresso, no Ministério Público e no Tribunal de Justiça com o evidente objetivo de criminalizar uma plataforma apoiada por especialistas de diversas áreas. Também a chamada blogosfera “progressista” faria justiça aos seus alegados princípios se rompesse o estranho silêncio que mantém diante do problema. E a esquerda precisa assumir uma posição inequívoca sobre o tema antes que oportunistas se apropriem da paternidade dessa evolução histórica inevitável.

    Há quem diga que tudo isso é irrelevante, coisa de maconheiro vagabundo. Pois então do que essas pessoas têm tanto medo? Que uma passeata boba e inofensiva chacoalhe os alicerces da tradição, da família e dos bons costumes? Que o exercício da liberdade contagie setores crescentes da população e inicie uma epidemia de civismo? Ou que todos caiam em si e finalmente repudiem a escalada conservadora em gestação?

    http://guilhermescalzilli.blogspot.com/

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  2. vai ter slut walk, a despeito do detalhezinho que os outros slut walk pelo mundo estão acontecendo em países quentinhos, é interessante que vai ocorrer esse sábado em SP, reflexo do lado cosmopolita (enfim, um lado razoavelmente bom daqui) na era dos protestos chamados pela internet, que se espalham pelo globo em velocidade incrível!

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  3. Guilherme, Concordo bastante, só tenho algum medo da judicialização desse debate, com o STF entrando no meio - de algo que já é problemático nos tribunais -, pois, aqui nos deparamos com a fissura fundamental disso, que chamamos de Estado de Direito: como os tribunais, aqueles órgão dotados de jurisdição - isto é, do poder de dizer o direito -, podem permitir ou mesmo gerar políticas tirânicas por meio do estado de exceção que eles podem criar - por conta da natureza de sua própria atividade. Ademais, achei a "marcha da liberdade" uma boa sacada e uma bela resposta, útil para o momento atual.

    abraços

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  4. O que é muito bom, aliás, não, Celião?

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  5. hora, portanto, de pedalar. Às bicicletas, que é sobre duas rodas que se faz revolução.

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  6. Sim, a ampliação do sistema de ciclovias de São Paulo seria importante, Lucas, o problema aqui, no entanto, é que estamos falando de uma paralisação de linhas de trem que deslocam grandes contingentes por distâncias de, aproximadamente, 50 Km.

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  7. quem falou de "ciclovias".

    Falei de hoje, como não tem trem, experimentar pedalar - da forma que deve ser, e é, em 2/3 da situação: compartilhando espaço com automóveis em vias de baixa velocidade (até 40km/h).

    E a questão, Hugo, é que tais distâncias urbanas de 50km não deveriam existir! Existem por especulação imobiliária, e tem como efeito colateral não apenas o aumento do custo energético, mas a sub-utilização de infraestrutura em centros antigos e expandidos, aumento de criminalidade urbana, etc etc.

    Já te falei antes: questões específicas de cidades nada, absolutamente nada, tem a ver com direita ou esquerda política. Jayme Lerner, PFL e ex-Arena, fez Curitiba - porque apesar de ser de direita, gosta de cidades e entende bem delas.

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  8. Eu concordo que essas distâncias não deveriam existir, Lucas, mas elas existem - graças ao modelo de cidade em relação ao qual Maluf foi um dos principais ideólogos e, hoje, Kassab resolveu ser continuador -; é a partir dessa realidade que temos de buscar soluções.

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