sábado, 11 de julho de 2009

A Tuitada de Beluzzo

Depois de demitir Luxemburgo da forma que bem sabemos, a diretoria palmeirense continuou enfiando os pés pelas mãos e se superou: A negociação para trazer Muricy foi ridícula e a revelação que as coisas melaram via tuitada do Beluzzo não merece comentário. Em futebol não se anuncia de véspera o nome de fulano ou sicrano que se quer contratar porque se der algo errado na negociação, o peso é enorme - além, claro, de que no caso de contratação de treinadores, se o nome X não aceitar, fica difícil trazer outra pessoa, afinal, quem quer assumir um clube com o rótulo de Plano B logo de cara? Insisto, a diretoria verde demitiu Luxemburgo no pior momento possível e da pior forma possível - os dirigentes mais corneteiros tiveram seu ego ferido com a questão Keirrison; os dirigentes mais burocratões aproveitaram a deixa para fazer um ajuste financeiro com uma lógica meio duvidosa. O andamento das coisas só confirma a minha tese de que o problema ali transcende jogadores ou comissão técnica, é uma coisa muito mais profunda mesmo. No momento, eu tô mais pela efetivação do Jorginho com braçadeira de Capitão firme no braço de Marcos - fazendo a função de técnico em campo - e bola frente.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

O Tempo

O futuro do passado que se anuncia é maravilhoso.
O futuro do presente que se delineia é a catástrofe, a aniquilação, o juízo final.
O futuro do futuro não existe, é o som escuro e a imagem fria da morte.
O passado do futuro é agora.
O passado do presente é terno e alvissareiro.
O passado do passado é o princípio e a fonte – arché.
O presente do passado é falso, enganoso, mas sedutor.
O presente do presente é pessimista, ressentido e amargo.
O presente do futuro é o eterno porvir.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Crise na China: A questão uighur

A questão do impacto da Crise Mundial na China já foi debatida neste blog há algum tempo. Basicamente, os recentes acontecimentos na economia mundial, principalmente aqueles que tocam a economia americana, trazem à baila a necessidade do país se voltar para dentro - o que fatalmente se materializaria em alguns anos, mas foi adiantado por conta da conjuntura. O modelo econômico pós-78 que consagrou o Socialismo de Mercado que dependia da associação da economia chinesa com o capital privado externo para criar um modelo industrial exportador - e assim se viabilizar - está chegando próximo ao seu esgotamento.

A burocracia "comunista" protagonizou nos últimos trinta anos um dos mais brutais avanços capitalistas da história da humanidade, marcado por uma violenta exploração do Trabalho pelo Capital expressa, por sua vez, numa violenta e crescente concentração de renda. A China, na nova divisão internacional do trabalho, se tornou o bairro industrial do mundo, num momento em que as nações centrais capitalistas se desindustrializam; é para lá que vão as matérias-primas de país latino-americanos, africanos e asiáticos para serem processados e exportados para EUA, UE e Japão - e o que sobrar, para o resto.

A China passou a ser uma espécie de fígado do mundo. Também fez com que o país tivesse um formidável crescimento econômico que, no entanto, se concentrou nas mãos da burocracia que manteve e mantêm a classe trabalhadora sob regime de trabalhos praticamente forçados, dando-lhe algumas concessões para manter a Hegemonia. Graças ao braço forte da estrutura militar-policialesca de sempre conjugada com a alienação em relação à produção causada pelo fato da produção estar apenas em curso pelo país - o que faz com que os trabalhadores não tenham uma ideia exata do valor do quanto realmente produzem -, o sistema se manteve com abalos relativamente pequenos. O fato é que até o momento a conjugação de controle estatal com algum desenvolvimento material pareceu compensar para o povo a desigualdade social e os problemas ambientais - o que, convenhamos, não é incomum para nós ocidentais, no entanto, a distância da cultura chinesa para a nossa nos permite ver com mais clareza esse processo.

O país, portanto, cumpriu sua função econômica para o triunfante capitalismo global com certo êxito; exportou deflação via produtos de baixo custo e ainda por cima usou parte dos seus excedentes obtidos para financiar os déficits americano, permitindo que aquele país vivesse muito além de suas capacidades produtivas. Isso acabou porque Bush conseguiu adiantar o esgotamento do modelo americano com seus erros geoestratégicos; os déficits americanos se tornaram infinanciáveis e o dólar deu sinais de fraqueza, o que afetou diretamente a China, queimando o valor real de suas reservas e provocando inflação graças a indexação cambial. Dessa forma, as recentes medidas de fortalecimento do mercado interno deverão, obrigatoriamente, sofrer aprofundamento.

No momento em que isso acontece, a verdade sobre a organização política vem à tona; para além da questão social, surge a questão étnica, afinal, estamos falando de um país profundamente heterogêneo etnicamente, um verdadeiro Império mantido graças a mão forte de um poder central que para além de se confundir com um Partido Hegemônico, também se confunde com uma etnia, o povo do norte. Tal como o Império Romano, a China tem seus cidadãos (os membros do partido), seus escravos (operários e camponeses) e seus bárbaros (os outros, como o mapa acima prova, dentre eles os uighurs). Mesmo que mais de 90% da população chinesa seja da
etnia Han, ela tem sua divisões internas e rivalidade internas, afinal, não há como esperar que um grupo com mais de um bilhão de integrantes seja homogêneo culturalmente.

Os protestos do
povo uighur, uma etnia altaica que reside no noroeste chinês - a área mais rica em petróleo do país -, é um retrato tanto da exclusão social que há na China contemporânea quanto da questão étnica que enfraquece o país enquanto Estado. Quando se vê um Estado reagindo com tamanha violência em relação a protestos populares, significa que a Hegemonia está em risco, afinal, quanto mais força é usada para valer determinações significa que a legitimidade do poder central para normatizar está enfraquecida.

A China vive uma situação de crise, o que, por definição, é uma situação ambígua: ao mesmo tempo em que a conjuntura mundial cria condições para que ela finalmente se construa para dentro e se efetive enquanto país, o que o conduzirá inexoravelmente para grandes mudanças políticas, por outro lado, existe o risco da burocracia jogar tudo no ralo, como aconteceu em vários momentos da história chinesa onde as elites governantes preferiram perder os dedos a ceder os anéis. Veremos. Eu ainda continuo acreditando em uma saída razoável no médio prazo.

post atualizado em 11/07/09 às 02:32

A Final Não Será Televisionada

Ontem, o Cruzeiro foi valente e arrancou um ótimo empate no jogo contra o Estudiantes na Argentina (oxo). Essa final juntou tanto a mística de um Brasil x Argentina quanto premiou as duas melhores equipes do torneio - que, coincidentemente, se encontravam no mesmo grupo na primeira fase. No entanto, a final não foi transmitida pela TV aberta. É injustificável que se esnobe uma final de Libertadores com finalista brasileiro. Preterir esse jogo em favor de uma partida adiada da nona rodada do Brasileiro, aí, já é um esculacho e demonstra a que ponto chegou a ditadura do eixo Rio-São Paulo no futebol. Lamentável.

P.S.: Vale a pena dar uma lida
no excelente post do Mauro Beting sobre o assunto.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Nazismo e Stalinismo: A Falsa Simetria













Há poucos dias, a Assembleia Parlamentar da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa aprovou
uma resolução que equiparou o Stalisnimo ao Nazismo. Trata-se de um erro grave que parte de uma premissa falsa e, no fim das contas, apenas relativiza o que foi o Nazismo - coincidência ou não, num momento em que ocorre uma ascenção de movimentos de extrema-direita no continente europeu.

O Nazismo é uma ideologia que deve ser banida porque rompe com um patamar mínimo civilizatório conquistado no Iluminismo. Seu objetivo é chegar na Utopia eugênica - na verdade, uma terrível distopia -, onde um Estado tecnocrático comandado por humanos geneticamente superiores - entenda-se, germânicos - mantêm as demais etnias - "raças", na sua concepção - em estado de permanente escravidão, matando, à priori, os grupos irremediavelmente incompatíveis com esse projeto. O fim perseguido pelo Nazismo, portanto, já é um crime em si mesmo e qualquer meio que venha a se empregado para atingi-lo será invariável e igualmente iníquo - e o termo crime aqui está sendo empregado no sentido de atentado a princípio ético fundamental para a convivência humana, portanto, vai além da mera concepção juspositivista.

O Stalinismo por sua vez, mais do que o período da ditadura de Josef Stálin a frente da URSS equivale a um fenômeno social e político além de uma forma anômala de socialismo. Ele persegue a construção de uma sociedade comunista por meios essencialmente autoritários e burocráticos, onde uma elite instalada nos gabinetes administraria técnica e cientificamente um capitalismo in vitro de onde seria tirada a mais-valia necessária para realizar as revoluções tecnológicas que levariam à conquista do Comunismo. Como tal elite decidiria de modo "científico", suas deliberações seriam inquestionáveis do ponto de vista político e as discussões se dariam dentro do Partido Único que se confundiria com o próprio Estado e com o Monopólio Econômico. À priori, ninguém seria exterminado e todos estariam incluídos no projeto desde que não ousassem discordar das diretrizes do Partido.

Desde o momento em que o extermínio prévio de determinados grupos não é premissa do Stalinismo - na medida em que o uso de extrema violência física pelo Estado é hipótese para o descumprimento das diretrizes -, estamos diante de uma ideologia extremista, autoritária e inviável, mas que não rompe com os parâmetros éticos mínimos estabelecidos pela tradição iluminista - o da busca de um sociedade justa por meio da inclusão de todos.

Estabelecer uma analogia entre os dois movimentos por conta do
pacto Molotov-Ribbentrop é inteiramente falso. Acordos táticos de natureza dissuasória como esse eram feitos aos montes pelas potências da época. Na prática, o pacto em questão foi uma maneira que ambos encontraram para ganhar tempo diante da guerra iminente, um jogo onde uma parte tentou enganar a outra - e pelo resultado do conflito, sabemos quem enganou quem no final. Se isso for o suficiente para igualar as duas ideologias, então o parlamentarismo britânico e o republicanismo francês deveriam ser equiparados ao Nazismo também.

Mas a palavra-chave aqui é mesmo dissuasão; como lembrado no início do post, a Europa vive um momento preocupante. Quando se compara algum movimento com o Nazismo, se esconde uma perigosa ideia por detrás: A relativização do próprio Nazismo. É um raciocínio tortuoso, mas funciona assim: Se o Nazismo e o Stalinismo são mesma coisa, pode-se jogar o Nazismo na vala comum do (felizmente) finado Stalinismo e assim estar livre para criar uma nova forma de regime da extrema-direita, isento da reprovação ética prévia da sociedade e pronto para fazer o seu papel de - em meio ao vácuo intelectual, político e econômico da Europa contemporânea - achar os bodes expiatórios do momento e, numa jogada desesperada, salvar o capitalismo local.

É um momento político muito perigoso onde encontramos dois pontos interessantes e assustadores: O primeiro toca às direitas moderadas do pós-guerra, signatárias de algum compromisso social, pouco a pouco se desarticulam, pois suas políticas dependiam do apoio intensivo de Washington, algo impensável nos dias atuais seja pela queda na importância estratégica da Europa ou pela própria crise americana; o segundo diz respeito às esquerdas do continente, onde os social-democratas ignoraram os fatores materiais que eram as bases reais do welfare state e agora se veem perdidos, enquanto os comunistas caíram na cantilena do Stalinismo e há vinte anos se veem perdidos. É em meio a essa crise de Hegemonia, onde as esquerdas não conseguem atuar politicamente, que o capitalismo europeu começa a articular novas saídas para a sua sobrevivência e, não custa lembrar, elas não são nem um pouco bizarras.


P.S.: Há um artigo muito interessante de
Slavoj Zizek sobre a questão que foi publicada na edição nº 12 do Sopro.





terça-feira, 7 de julho de 2009

Um Pouco de Brasil

Como nós estamos acompanhando, a tragédia hondurenha acontece bem no momento em que os movimentos sociais latino-americanos conseguiram, pela primeira vez na História, alguma participação mais efetiva na política local, gerando algum grau de representatividade. É paradoxal, mas também expõe feridas ainda não cicatrizadas em praticamente todos os países do continente, seja por revelar alguns pontos, quanto por nos fazer ver coisas que estavam passando desapercebidas diante dessa evolução política.

Relacionando isso com a nossa Terra Brasilis, temos aqui um país onde a desigualdade social vem caindo desde a nova ordem representada pela Lei Maior de 1988 e apesar das atribulações desnecessárias dos anos 90, temos tido uma evolução notável no campo econômico durante o governo do atual presidente, em especial, nos primeiros dois anos de seu segundo mandato, onde o país cresceu gerando emprego, renda e com a desigualdade caindo. A política externa brasileira, pela primeira vez na história, deixa de lado a cerimônia do beija-mão em Washington para articular algo no campo externo. Foi tão bom quanto poderia ser? Não, mas não deixa, sob aspecto algum, de ser digno de nota.

O ponto nevrálgico dessa conversa é jogar uma luz num certo quarto escuro que, não raro, passa desapercebido: Para além dos avanços nos direitos civis e nos direitos sociais, essa nova ordem conseguiu equilibrar de modo razoável as relações de poder? Sendo mais claro, a Constituição de 1988 conseguiu regulamentar de modo eficiente o complexo sistema de pesos e contra-pesos que um país do tamanho do Brasil, seja no âmbito dos três poderes ou dos entes federados, necessita? Eu creio que não.

Não é incomum cairmos no vazio da análise desconectada de cada escândalo político nacional. Em cada um deles, elegemos nossos vilões e nossos heróis, mas ignoramos a inconveniente verdade de que isso é sistêmico e surgiu por culpa de boa parte das atuais grandes forças políticas do país, todas já atuantes nos fins dos anos 80.

O sistema eleitoral e a organização partidária pós-88 legou uma sistema político-partidário irremediavelmente condenado à inépcia, o que se revela, à priori, na disfuncionalidade do Poder Legislativo e desemboca praticamente em um Governo de Gabinete, onde o Presidente, via Medidas Provisórias, vai legislando de acordo com a correlação de forças do momento e dos conselhos de seus tecnocratas.

Se os anos 90 são marcados pelo avanço do centralismo presidencialista e a adequação das normas constitucionais referentes à Ordem Social e Econômica do país ao Consenso de Washington, os anos 00 são marcados, mais precisamente em 2004, pela chamada
mini-reforma do Judiciário e a consequente guinada desse poder - e também pela movimentação política em torno da transformção do STF de mera quarta instância em, pouco a pouco, um Tribunal Constitucional, o que encontra amparo com o advento das súmulas vinculantes instituídas na mesma reforma.

Hoje, temos um Legislativo que se tornou mero campo de luta entre as forças partidárias, enquanto o Judiciário e o Executivo travam uma verdadeira luta de esgrima pela hegemônia. De um lado, as Medidas Provisórias - o provisório eterno, se o capitalismo, como alguns dizem, trata-se de um estado de exceção permanente, então a nossa prática não chega a ser incoerente em si -, do outro, as Súmulas Vinculantes - que não são lei, mas tem força de lei, portanto, são apenas força como concordaria o Professor
Willis Guerra.

A guinada de Gilmar Mendes não é mera coincidência nesse cenário. Não é o juíz mau que surge para atormentar nossa proto-democracia tardia, mas sim uma figura que vem e se instala numa falha sistêmica que ele enxerga e compreende bem. A chamada crise no Senado, não é mero acaso: Primeiro, ela só virou crise no momento em que o moralismo seletivo do neoudenismo nacional achou que era oportuno, segundo, é um problema estrutural, tanto pela estrutura bicameral brasileira ser uma cópia do modelo estadunidense, quanto pelo fato de ser uma consequência natural da fragmentariedade esquizofrênica do nosso sistema partidário - querem maior exemplo disso que o nosso PMDB?

É também nas zonas mais escuras dessa quarto escuro onde se misturam empresários, jornalistas, políticos e juízes
nas mais torpes negociações.

É a análise dessa contradição superestrutural interna - assim como a própria e sempre indispensável análise da dinâmica econômica - que não podemos perder de vista para não sucumbirmos ao contínuo plano B e não perdermos os poucos e parcos avanços que conquistamos.

domingo, 5 de julho de 2009

Honduras e a Sociedade do Espetáculo

Hoje, domingo, por volta das quatro (horário de Brasília), o presidente legítimo de Honduras, Manuel Zelaya partiu de Washington em uma aeronave acompanhado de sua chanceler, do Presidente* da Assembleia Geral da ONU e de mais algumas pessoas. Chegaria ao aeroporto de Tegucigalpa às oito.

Eu estava lendo um pouco e por volta das sete entrei no
twitter, achei umas imagens da Telesur via #Honduras e passei a aguardar o pouso. O exército hondurenho já cercava o aeroporto isolando os apoiadores de Zelaya ao mesmo tempo em que, lentamente, ocupava a pista. Os militares abriram fogo contra a multidão e mataram, pelas informações do momento, duas pessoas.

As imagens que eu via me provocavam um sensação estranha. Já tinha visto alguns vídeos de Honduras antes, mas aquela imagem que a reportagem da Telesur fazia do aeroporto dava a impressão que Tegucigalpa era uma cidadezinha do interior brasileiro, fosse por sua pequenina pista de pouso ou por suas serrinhas. Coexistia na imagem algo de incrivelmente provinciano com universal - mas um universal tão nosso...

Pois bem, lá estava eu com meus olhos na pequena telinha, mirando fixo no horizonte hondurenho. Sentia um misto de fascínio e de medo, essa situação hondurenha não me cansa de assustar e de me surpreender a cada minuto. De repente, o aviãozinho de Zelaya aparece. As tropas se mantêm em prontidão no solo. Atrás da repórter da Telesur, apareciam alguns manifestantes pró-Zelaya estranhamente efusivos. O avião contorna e não pousa. O comandante rapidamente se comunica com a Telesur e fala que foi ameaçado de abate. Hugo Chávez também é entrevistado. Depois Zelaya, não sei se ainda no avião ou quando já estava em terra firme na Nicarágua.

O golpe se desenrola; de tão aparentemente clássico no princípio, ele vai se tornando o mais agudo anacronismo da política latino-americana desde sempre - se é que o tempo faz algum sentido nessa ocasião; da reprovação diplomática rápida, unânime e dura da comunidade internacional - de todas as letrinhas que você pode imaginar - até o quixotesco voo de Zelaya em sua jornada cristã parece ter passado uma eternidade -quase como numa materialização de algum conto do realismo mágico latino-americano.

Os golpistas, mesmo diante da reprovação diplomática que ia de Washington até Moscou passando por Brasília e Pequim, não retrocederam. Depois de schmittiamente terem resolvido o problema Zelaya, goebbelianamente começaram a repetir a mentira que contaram para dar o golpe, tanto para si mesmos quanto para uma civilizada, cosmopolitíssima e candidíssima comunidade internacional que planejou a volta triunfal de Zelaya sem antes ter removido o tiranete - no mais puro sentido etimológico da palavra - local.

O absurdo sucede o absurdo e o faz em forma de espetáculo. Não é incomum em nossa época, só não precisava ser tão cruel.


*Atualização de 06/07 às 00:29: Na verdade, o nome do cargo ocupado por Miguel d'Escoto é Presidente da Assembleia Geral da ONU e não "Secretário Geral". Desculpem.

Administrativas

Como você deve ter percebido, andei dando uma mexida no visual do blog. Mantive basicamente as mesmas cores de antes, mas saiu o Son of Moto e entrou o Thisaway.

Também aderi ao Twitter (pois é...). Quem quiser me encontrar lá é
@hugoalbuquerque.

É isso, aguardo opiniões.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A Eterna Espera

("O Arsenal, Frida Kahlo distribuindo armas", de Diego Rivera. Retirado daqui)

No primeiro post sobre Honduras, terminei o texto com um "as próximas horas serão decisivas", mas elas estão sendo também intermináveis - pior, elas parecem atemporais; é como se estivéssemos no momento zero da explosão de uma bomba e a nossa vida passasse bem em frente aos nossos olhos.

Alguns bibliólogos dizem que Marcos escreveu o seu evangelho na época da destruição do templo e por isso escrevia num estilo apressado, quase como se estivesse a esperar notícias. Entendo o que é isso agora assim como entendo o que o velho
Antônio Abujamra sempre repetiu: A esperança destruiu a América Latina - e não me venham com histórias como "devemos buscar a esperança do verbo esperancear", esperança é de esperar mesmo e quando nos rendemos a ela, acabamos nos deparando com o velho pesadelo como num eterno retorno, restando esperar que ele acabe. O que eu quero dizer com isso? Quero que o medo finalmente vença a esperança entre os democratas do continente porque é o sincero e terrível medo que move o Homem, talvez pelofato do outro lado tanto temer, ele consiga quase sempre o quer.

O momento em que vivemos é paradoxal; os países Latino-Americanos sempre se viram às voltas com uma Oligarquia ao pior estilo colonial que só lutou pela Independência para se livrar dos decadentes império ibéricos e que, no fim das contas, se arrependeu disso; a vida do oligarca latino-americano médio dos fins do século 19º era marcada por uma inquietude profunda na alma: Ele era parte de uma elite colonial sem metrópole, um carrasco sem tribunal de exceção, um capitão-do-mato sem Casa Grande. A expansão econômica, política e militar dos EUA após a sua Guerra Civil acabou sendo a solução fantástica para esse problema, apesar das idiossincrasias do imperialismo americano.

A Questão Social da América Latina sempre se travou em bases muito diferentes da que havia na Europa; cá nunca houve o confronto que lá se viu. Na Europa, a Revolução Burguesa se manifestou em sua primeira etapa como o extermínio definitivo do passado medieval e na segundo como a busca por um presente atemporal - onde suas leis, materializadas em
códigos mágicos seriam definitivos e marcariam o fim da História, muito antes de Fukuyama; em oposição a isso surgia o clamor da massa operária e camponesa que em sua dor e em sua determinação lutava por um futuro, o que fez muitos dos filhos dessa mesma burguesia se darem conta de um lamento muito maior: O grito feroz da História. Era, no fim das contas, o atemporal presente condenado, já de início, a ser um profundo passado lutando contra a História. Por aqui não. Os Oligarcas latino-americanos nunca tiveram o impulso de destruir o passado, sempre se assentaram nele se apropriando dos elementos convenientes do Liberalismo e, depois no Fascismo; cá a luta sempre foi entre o profundo passado e a busca débil por um futuro por parte de uma massa camponesa ainda em vias de ser absorvida pela indústria.

Os oligarcas latino-americanos se viram, no decorrer da História, em tardia desvantagem, mas tinham ao seu lado o leviatã americano que soube como poucos projetar para fora a sua efervecência interna e assim se desvencilhar das eternas rupturas. O Nazismo, inclusive, acabou sendo muito caro para a oligarquia local na medida em que, ao mesmo tempo em que exibiam suas constituições liberais ou até pós-liberais, por outro lado, mantinham no horizonte visível o seu próprio
artigo 48 do Weimar de forma consuetudinária: Se a ordem real fosse ameaçada, as Forças Armadas seriam utilizadas como a ferramenta necessária para impor a exceção sobre a qual eles decidiram. Tal exceção, no entanto, dizia respeito ao desmontar da metafísica ordem formal das coisas, das parcas e atrofiadas instituições que se aparentavam com as de um Estado Burguês e que freiavam , em certa medida, a intensidade da violência da perene exceção econômica.

E assim segue a História da América Latina, com os Estados Unidos servindo como o fiel da balança na tensa correlação de forças entre o passado e futuro em um presente esgarçado e esgarçando-se. Essa mesma História sofre um violento revés com a lenta e ignorada contração do Leviatã Americano. O fiel da balança começar a pesar cada vez menos e os movimentos sociais do continente geram, das mais variadas formas, forças partidárias capazes de se usar da liberdade eleitoral criada na esteira do suposto Fim da História.

O avanço da Democracia em sentido material, mesmo com seus reveses, tem se materializado com uma estabilidade econômica ímpar e com o fim da fracionariedade nas relações internacionais dentro do Continente; se antes éramos uma miríade de pecinhas unidas pela influência americana, hoje se desenha uma solidariedade latino-americana por meio de uma série de organizações comerciais e políticas no continente - com os EUA, inclusive, tendo de aceitar tal conjutura por conta de seu próprio momento.

Eis o paradoxo: No mesmo momento em que esse processo está em curso, ocorre o golpe na pequena e empobrecida Honduras e o oligarquismo latino-americano volta a revelar sua face medievalista que sabe como ninguém fazer uso tanto do liberalismo quanto do fascismo quando lhe convém; neste momento, estamos diante de um reflexo extemporâneo do fascismo que, pasmem, nunca deixou de ser visto enquanto hipótese aplicável; é um anacronismo que denuncia o nosso próprio anacronismo e prova o quanto estamos - ainda - à beira do abismo - e esse mesmo abismo, ao ser encarado em sua profunda obscuridade e obscura profundidade, nos olha de volta sorrindo.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

O Ressurgimento das Vivandeiras

Eu, na minha inocência, achava que elas já estavam mais mortas que a minha querida tataravó, mas eis que elas ressurgem nessa semana. Bastou um golpe, um único golpizinho, lá num pequeno e distante país da América Central para elas saírem da toca. São as vivandeiras, a classe mais repugnante da política nacional.

É muito fácil reconhecer uma delas; todas vibram quando acontece um golpe, todas buscam explicações lógicas para legitimar o golpe, ao serem questionadas, acusam o crítico de ser golpista e dizem que o golpe foi para proteger a Democracia (?!).

Elas enxergam o Brasil através da distante janela de seus belos apartamentinhos em Higienopólis ou na Barra, sempre movidas pelos nobres impulsos do seu baixo ventre; a política não deveria existir, bons eram os tempos em que todos estavam no seu devido lugar e ninguém reclamava - e se neguinho ousasse, ia pro tronco ver o que era bom.

Para elas, maravilhosos eram os anos 20 dos coronéis ou os anos 60 quando os militares botaram ordem na anarquia das duas décadas anteriores. O tempo em que vivemos não; é uma desgraça. Uma parte considerável de tudo que acontece - como pobres xexelentos com acesso à Internet, com bolsas em universidades de elite etc - é culpa do Lula, aquele presidente analfabeto. Bons tempos eram aqueles em que se podia chutar a porta e dizer em alto e bom som -protegidas por aqueles soldados altos, fortes e simpáticos - que a terra era quadrada.

Enquanto os segmentos progressistas da sociedade se veem às voltas com o desafio - e a necessidade - de efetivar e avançar a Democracia, lá estão elas, frustradas com o pouco que há e que lhes parece tanto.

Honduras acaba se tornando uma esperança. Uma Primavera de Praga ao avesso para pessoas avessas. Como seria bom fazer o mesmo aqui e ter Diogo Mainardi como Presidente, Reinaldo Azevedo como vice, Olavo de Carvalho como chefe de gabinete, Demétrio Magnoli na Integração Nacional, Marco Antônio Villa na Educação e, com uma forçadinha de barra, Bento XVI na Saúde.

Tristes trópicos, tão distópicos.