sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Reflexões sobre as Olimpíadas no Rio de Janeiro

Como vocês já devem ter tomado conhecimento, o Rio de Janeiro sediará os Jogos Olímpicos de 2016. Evidentemente, essa conquista tem um peso muito grande e reflete o avanço da importância política brasileira no cenário internacional nos últimos anos - além de ter sido uma baita vitória do Governo Lula. No entanto, se as causas são essas, por outro lado, não consigo ver consequências tão positivas assim.

Em um primeiro momento, pelo que se transformou os Jogos Olímpicos do fim da Guerra Fria para cá; se eles foram retomados pelo Barão Pierre de Coubertin em um movimento assentado na importância do esporte como forma do engrandecimento humano - algo perfeitamente legítimo e interessante -, o avanço dos regimes totalitários os transformou em uma das arenas de disputa ideológica, o que perdurou durante a Guerra Fria com as Olímpiadas sendo um dos muitos campos onde os blocos socialista e capitalista se confrontavam.

Ainda assim, até aí o ideal de Coubertain não havia sido de um todo deformado, mas o fim da Guerra Fria se encarregou disso; mais e mais o esporte olímpico foi sendo descaracterizado pela escalada do capitalismo em uma versão não muito aprazível ao mesmo tempo em que assistimos o próprio fato dos Estados-nação passarem por um exaurimento ontológico. É nesse cenário, talvez um pouco pior, talvez um pouco melhor, que os Jogos Olímpicos serão realizados no Rio.

Em um segundo momento, temos a própria problemática brasileira; os jogos Pan-Americanos no Rio em 07 foram um fracasso; desde o gasto absurdo e misterioso até o resultado, más instalações, confusão etc não são o tipo da coisa que credenciam o Rio para realizar as Olimpíadas - no sentido técnico da coisa, já tendo em vista o próprio exaurimento do significado das Olimpíadas.

Para além da esfera esportiva brasileira, não há também como esquecer a questão urbanística; quais são os indicativos de que os Jogos Olímpicos não vão gerar políticas higienistas? Tenho bons amigos que militam em movimentos de moradia aqui em São Paulo e posso dizer, sem medo de errar, que a Copa do Mundo de 2014, por si só, já está tendo um impacto profundo no processo de gentrificação - desde a expulsão de pobres do centro até a ameaça à população favelada passando pelo fortalecimento da especulação imobiliária -, imagine só uma Olimpíada que, por definição, é um evento focado em uma única cidade - e a cidade em questão é, justamente, o Rio que pelo que me consta consegue ser um caos urbano pior até do que São Paulo.

Por essas e por outras, mantenho minhas barbas de molho.

4 comentários:

  1. Concordo com tudo que você disse, as Olimpíadas podem servir pra segregrar ainda mais a cidade, ainda mais que a maioria das competições serão realizadas em um bairro, a Barra da Tijuca, que já é por si só problemático.

    Sem contar a repressão policial que pode vir antes dos jogos, se antes do Pan massacraram algumas dezenas no Complexo do Alemão, imagina o que pode rolar agora que vai ser um evento muito maior.

    Agora, não vou negar, fiquei com os olhos marejados quando o Rio foi escolhido e com o discurso do Lula depois, por mais que tenha todos os problemas que você citou ainda assim é um símbolo importante do momento pelo qual o país passa, imagina só, se as Olimpíadas servirem para o Brasil como "passaporte" para o mundo desenvolvido, como foi com a Coréia do Sul ou com a Espanha?

    É sonhar demais? Claro que é, mas ainda faltam 7 anos e olha quanto o país mudou nesse mesmo período de tempo, desde que Lula assumiu. Sei que sou muito ingênuo mas tenho uma pontinha de esperança que alguma coisa de positiva saia disso tudo :)

    ResponderExcluir
  2. Anônimo,

    Pois é, esse paradoxo é tão desumanamente evidente - e cruel - que eu não pude deixar de pontua-lo. O fato disso ter sido conquistado no primeiro - e, por ora, único - governo de esquerda a administrar esse país é lapidar; imagine se era concebível há vinte anos atrás que o Brasil viesse a ter tamanha respeitabilidade na comunidade internacional? O que, no entanto, me desanima é o que se tornaram os Jogos Olímpicos, o histórico recente do Pan e os efeitos que a Copa já está gerando sobre o Brasil - mas, não sei, pode ser excesso de pessismismo da minha parte, talvez seja tudo uma questão de lutarmos para desenhar um futuro diferente, por mais que as evidências apontem para o contráro.

    abraços

    ResponderExcluir
  3. De fato existem efeitos positivos e negativos sobre a escolha do Rio como sede das Olimpíadas 2016. Porém os efeitos negativos não são obrigatórios, mas cabe aos com visão social não deixar que eles ocorram.

    ResponderExcluir
  4. Taquaral,

    A grande questão é até que ponto esses efeitos negativos podem ser evitados dado o significado atual dos Jogos Olímpicos além de - e não menos importante que - a própria situação do Rio de Janeiro conjugada à lógica de política urbanísitica que ainda impera no país - daí, a grande questão é como o cidadão com socialmente consciente ou mesmo os movimentos sociais podem interferir nisso e alterar esse processo.

    ResponderExcluir