Hollande, pelo gerenciamento da dívida, contra Sarkô e Merkel |
E o governo Sarkozy, além disso, ainda é um prato cheio para a oposição. Ele possui todos os defeitos do governo Chirac com pouquíssimas de suas virtudes - leia-se: política externa, coisa que os franceses prezam muito, mas que Sarkô afundou com seu alinhamento automático aos Estados Unidos e sua postura tosca, ao lado de Angela Merkel, no gerenciamento da crise europeia.
A vitória de Hollande nas presidenciais poderia mudar a tônica da política europeia, pela possível saída da passividade artificial em que se encontram os franceses na atualidade. Nada indica que os socialistas, apesar de sua agenda rebaixada, irão à reboque dos alemães: aliás, os interessa salvar o Euro e eles sabem que, para tanto, precisam criar mecanismos de gerenciamento da dívida. Um debtfare?
Sarkozy não consegue vislumbrar isso, enquanto Merkel, em seus rompantes sub-thatcherianos, assume uma posição de austeridade sistemática como se soubesse o que está fazendo, mas não está: a primeira-ministra alemã fica entre a impossibilidade de largar mão do Euro e a paralisia de fugir dele (ambas as hipóteses exigem uma virtù que Merkel não tem). Embora o plano B de retomar o Marco Alemão acalme a líder germânica, os franceses não tem essa opção em relação ao seu finado Franco.
Um outro governo que não seja alinhando a Washington, como Sarkozy é, não interessa a Obama - e o atual mandatário francês é um pássaro raro em seu país, seja à direita ou à esquerda. Inclusive porque a tradicional política externa francesa é capaz de dizer não aos americanos, o que, caso se refira à desvalorização do Dólar sobre o Euro, pode fazer toda a diferença na crise atual.
Hollande, portanto, pode mudar o jogo não por lhe trazer algo novo, mas sim por ser um típico político francês de centro-esquerda - contando com uma historicamente atípica maioria no Senado para a centro-esquerda. Isso pressionará Merkel a mudar seus planos.
Mas a futurologia acaba no momento em que o Euro pode morrer, mesmo que queiram salva-lo, antes do novo mandato presidencial francês. E um agravamento da conjuntura russa, com severos impactos para o equilíbrio estratégico no Leste Europeu, Ásia Central e Oriente Médio não está descartado, simultaneamente a tudo isso.
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