terça-feira, 28 de junho de 2011

Capita vs.Tostão: A Questão da Pensão dos Campeões Mundiais

Tostão e C.A. Torres
Há alguns anos atrás, o então Presidente Lula prometeu uma pensão aos campeões mundiais de futebol. Hoje, ela tornou-se uma proposta concreta e está prestes de passar por votação no Senado. Não só, ela já acende polêmicas, mesmo no meio seleto dos campeões mundiais, como podemos ver pelas acusações pesadas de Carlos Alberto Torres - capitão do Tri e favorável à medida - feitas contra seu ex-companheiro de Seleção - e contrário a ela -, o hoje médico e colunista esportivo Tostão. A contenda em questão traz à baila uma série de questões sobre a condição do jogador de futebol na nossa sociedade e, ainda, qual a responsabilidade do Estado em relação a eles. O futebol é uma parte importante da cultura nacional, mas jogadores não são mitos, são gente de carne e osso.  

A promessa de Lula faz sentido, muitos dos nossos ex-campeões restam em asilos, onde se encontram, não raro, doentes e desemparados. Mas também pode-se argumentar que a medida é insuficiente. Por que não algum tipo de aposentadoria para todos os ex-jogadores da Seleção? E a questão da aposentadoria de jogadores de futebol e atletas de um modo geral? Sim, pois sua carreira, via de regra, é curta, o que os obriga a arranjarem uma nova profissão no auge da vida adulta, o que nem sempre dá certo. Jogadores de futebol, especialmente, nem sempre reagem bem ao final da carreira: uma hora são astros, nem que seja de uma cidade do interior, mas num passe de mágica, não são mais nada. Isso, ao mais tardar, aos quarenta anos de idade.

Alguns jogadores recomeçam suas vidas em outras áreas com o pé de meia que fizeram, outros nem isso conseguiram fazer - a vida média de um jogador de futebol brasileiro está longe do glamour dos grandes campeonatos -, existem aqueles que continuam no mundo do futebol como treinadores, empresários e afins, mas muitos terminam deprimidos, no alcoolismo, perdidos. Somos uma pátria de chuteiras, não de coturnos, portanto, a síndrome do veterano aqui não se refere à guerra, mas sim a uma peculiar versão sua, domesticada e contida nas quatro linhas do gramado. 

Sim, o Capita errou feio ao se referir a Tostão da maneira belicosa que fez, rotulando-o com adjetivos de toda sorte - justo Tostão, sujeito tão pacato e educado -. mas será que ele estaria errado? Quer dizer, embora se entenda que a proposta de Lula, por si só, seja insuficiente, será que isso exclui a sua implementação? Ou deveríamos, em nome de uma ética maior e transcendente, abrir mão de uma medida boa, pois se não dá para fazer tudo agora, temos de nos contentar com nada? Cá entendemos que não é bem por aí, ainda mais quando se tratam de vidas. Há quem não precise de ajuda, então que abra mão e doe o dinheiro, mas não é possível ser contra direitos para o grupo ao qual pertence em nome da sua condição privada. 

Argumentar que isso é "dinheiro público" também não nos parece um bom caminho, afinal, isso não oneraria de forma relevante o erário público: tanto se esvai, por que não gastar um pouco com nossos velhos campeões? Além do mais, o dinheiro, meus caros, sempre é público. Longe de ser excluído de pronto, a pensão para ex-campeões mundiais de futebol é justa e pode ser, ainda por cima, instrumentalizada no debate sobre a aposentadoria de ex-atletas de um modo geral - desde que tenha quem o faça, é claro, se ficarmos às voltas com os muxoxos de sempre, nunca saíremos do lugar.



6 comentários:

  1. Discordo completamente. Tostao foi perfeito, mais uma vez, em sua declaração.
    Dinheiro publico não é para essas coisas. O argumento de que muito se esvai é absurdo, o correto é que ele fosse aplicado de maneira a beneficiar a todos. utilizarmos esse raciocínio é mesmo que dizer que temos que agir na ilegalidade, sonegar, tentar tirar proveito já que eles roubam. Sabe-se que o correto é que aqueles que roubam deveriam ser punidos. O correto é a legalidade, a utilização do dinheiro publico para todos.
    Outro ponto, e as demais modalidades, e os artistas que divulgam a imagem do país? Aos futebolistas tudo, como já acontece, os demais que sem virem.
    Querem uma aposentadoria, todos tem direito, basta contribuir ao INSS ou realizar uma aposentadoria privada. Sou autônomo realizo as duas contribuições o jogador por ter carteira assinada tem a aposentadoria do INSS, que já existia na década de 70, se o valor atual é insuficiente ou se a pessoa nunca se interessou porque devo eu - nós - pagar o pato? Essa lei é mais um absurdo do tantos que vão se espalhando.

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  2. Anônimo,

    Não sei de onde você tirou essa analogia: eu estou defendendo uma mudança de Lei, não sonegação. Estou defendendo gasto de recursos com bem-estar de um segmento importante da sociedade que, ao contrário do que o senso comum leva a crer, não é nem um pouco privilegiado - mesmo os campeões mundiais em vários casos, que apesar de, em média, estarem melhor do que os demais jogadores de futebol, precisam do justo reconhecimento para não terminarem a vida em condições precárias. Ademais, premia-los ainda por cima é justo pelo que eles fizeram, não é diferencia-los contra à sociedade, mas diferencia-los entre a sociedade.

    E não adianta voltar no "e as outras modalidades?" ou "e aquilo?", como eu deixei bem claro no post, é evidente que uma coisa não exclui a outra - se formos nos basear nessa lógica, não faremos mais nada porque sempre haverá um "e aquilo?" ou um "e aquilo outro?".

    Planos de aposentadoria privada, meu caro, não suprem a existência de um sistema previdenciário público, apenas o complementa; contribuições sociais são cobradas dos rendimentos de cidadãos e empresas para o pagamento de aposentadorias e pensões para velhos e inválidos, pois isso é um problema social e não individual: o mercado de empresas privadas não só não é suficiente para garantir a segurança necessária para as operações previdenciárias - calcule quanto tempo leva para se aposentar e quanto tempo uma empresa dessas vive em média - como também, veja só, a existência de remunerações pagas pelo condomínio social para aqueles que não conseguem mais auferir renda se justifica pelo fato que reduz quase a zero a chance de contingentes grandes não ficarem desamparados na velhice ou invalidez, o que, se acontecer, é um problema cujas consequências afetam negativamente a vida de todos - pesquise como era o mundo no século 19º ou como o sistema previdenciário privado do Chile faliu há poucos anos atrás.

    Não, a lógica do "nós é que vamos pagar o pato" não passa de absurdismo egocêntrico: Não somos seres que dependem unicamente de nós, dependemos da vida em comunidade com nossos semelhantes para sobreviver, o que equivale, por si só, em um enorme bônus, portanto, temos de arcar com ônus disso; isso não é "pagar o pato", mas sim retribuir aos nossos velhos o que eles já nos deram. Se acha que não precisa arcar com isso por esses motivos, vá viver no meio do deserto.

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  3. Seria possível postar os links para as declarações feitas por Tostão e o Carlos Alberto?

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  4. Por favor, desconsidere o meu pedido, verifiquei que vc postou o link solicitado.

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  5. Hugo, por que não a CBF deveria pagar uma aposentadoria adicional?

    Tudo mais me parece de um casuísmo absurdo...

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  6. Anônimo,

    Eu concordo que a CBF tem responsabilidade moral nisso tudo, mas ela não é o Estado, portanto, não tem responsabilidade jurídico-constitucional em relação ao bem-estar das pessoas. Concordo com Tostão quando ele diz que uma medida dessas não deve ser só para os campeões mundiais, mas entendo que essa proposição não exclui a medida em questão.

    abraços

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