domingo, 5 de junho de 2011

Eleições Peruanas

Humala em comício
Hoje, uma das mais disputadas eleições dos últimos anos será disputada: trata-se do segundo turno das eleições peruanas, que colocará frente a frente o líder nacionalista de esquerda Ollanta Humala contra Keiko Fujimori, a filha e herdeira política do ex-tiranete direitista Alberto Fujimori. Os dois estão em empate técnico, com pequena vantagem para Ollanta segundo as últimas pesquisas, depois de um primeiro turno extremamente disputado (no qual cinco candidatos tinham chances de vencer), passaram adiante justamente eles, que são os candidatos mais distantes do centro, o que ilustra a polarização política que vive a sociedade peruana - que passou batida em relação aos bons ventos da mudança que atravessaram a América Latina nos últimos anos e, hoje, se encontra entre um misto do temor da elite e da velha classe média em entrar na onda e a profunda ansiedade da plebe em finalmente poder experimenta-la. É evidente que boa parte da sociedade peruana não compartilha mais de uma visão semelhante a de Keiko, mas ela se avizinha como a tábua de salvação do velho modo de vida local - o que justificaria o voto nela como mal menor. Interessa muito pouco aos EUA a vitória de um novo governo esquerdista na região, sobretudo porque a vitória de Keiko seria a oportunidade de ter um governo fraco e suscetível à integralidade de sua política na região. Humala, por sua vez, é tratado erroneamente como "chavista", enquanto tanto ele quanto Chávez são, em grande medida, velasquistas repaginados: ambos representam uma visão nacionalista popular, que apesar de certos rompantes autoritários, pensa em combinar uma forte doutrina autonomista com uma doutrina social robusta, algo como um peronismo militarizado. E quando falo em Velasquismo, me refiro imediatamente ao ex-líder peruano Juan Velasco, que governou depois de um golpe de Estado, mantendo-se alinhado lateralmente à antiga União Soviética em plena Guerra Fria (1968-75) e tendo o apoio de Cuba - essa peculiar aliança e a incapacidade construir instituições levou à radicalização de parte da esquerda para o maoísmo (bastante presente no país desde os anos 50) com o Sendero Luminoso que, inclusive, era anti-cubano, e que acabou servindo como álibi para a direita do país legitimar suas políticas autoritárias, incluso aí o velho Fujimori. Depois de décadas de guerra civil, terrorismo de Estado e radicalismo de grupos como Sendero - que Humala combateu no campo de batalha quando era militar -, a sociedade peruana saiu com feridas comparáveis apenas as da Colômbia. A aproximação de Humala ao Lulismo é bastante positiva porque incorpora definitivamente o compromisso democrático e o integracionismo latino-americano à sua agenda política - o que de certa maneira nunca esteve fora dela, apesar dos seus detratores dizerem (estrategicamente) o contrário. Hoje, o pleito que será disputado é uma versão moderna e mais tensa do que foi Lula x Collor no Brasil do fim dos anos 80. Lá, como cá, a vitória da velha direita seria um desastre tremendo. 

P.S.: E o nobel de literatura Vargas Llosa, ex-esquerdista, que nos últimos anos assumiu uma postura liberal que, no fim das contas, não passa de mero anti-esquerdismo pueril com tons elitistas, resolver fazer finalmente algo que preste em décadas: depois dos resmungos todos no primeiro turno, decidiu apoiar Humala e rompeu com o jornal para o qual escrevia, dada sua cobertura vergonhosamente panfletária pró-Keiko. Se até Vargas Llosa tomou uma atitude dessas, imagine só o tamanho do problema que estamos diante.

P.S. 2:  Ganhe quem ganhar, não terá maioria no Congresso e ainda terá o desafio de unir um país rachado. É claro que para o clã Fujimori isso não importa - como nunca importou - e uma vitória hoje seria vista como uma aprovação em referendo pró-fujimorismo, o que levaria ao perigo real de uma crise institucional.

5 comentários:

  1. Estou acompanhando tão mal a eleição peruana (shame on me!) que nem tinha visto esse apoio do Vargas Llosa. UFA. E pensar que, antes de ser liberal, ele tinha concorrido à presidência contra o próprio Fujimori...

    Torçamos, pois!

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  2. HWB, Antes disso ele era socialista, curtia Sartre assim como um certo sociólogo brasileiro que virou presidente - aliás, eu diria que Vargas Llosa é o FHC que deu errado, só que com mais talento (e mais ranço).

    abraço

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  3. Um hurrah tríplice! Viva el Peru, carajo!

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  4. Fala, Zanatta, bom vê-lo por aqui, e é isso mesmo Luis. Fiz um post a respeito da vitória acima.

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